A mesma discussão denovo mais outra nova uma vez?
Privatizações em setores que não são competência comum do Estado, em geral, são boas.
O Brasil necessitou as privatizações pois a base estatal criada na época da ditadura para estimular o investimento em setores estratégicos estava demasiadamente assegurada pelo governo, o que fazia com que o serviço tendesse à má qualidade e o preço às alturas.
O problema é que a moldagem nacional da privatização razoavelmente forçada pelo estado caótico das empresas então estatais, o qual aparentemente nem sempre foi simplesmente o curso normal delas, o que as tornou muito baratas no momento de venda, e o governo não tratou de assegurar a ampla concorrência retirando boa parte da dificuldade de entrada no mercado que ele mesmo causa, o que gerou grandes oligopólios não naturais [os monopólios naturais estão fora da discussão*].
Pelo fato do governo não ter, antes mesmo da venda, ou ainda, emergencialmente, antes do fortalecimento das empresas, firmado leis e celebrado acordos para o mantenimento da concorrêna - há quem diga que foi proposital, para tornar as empresas mais atrativas no momento de venda - a reforma na situação atual torna-se difícil, pois, com o fortalecimento da iniciativa privada, os empresários conseguem fazer frente forte contra as políticas que tentam abrandar suas dominâncias, onde o Estado sempre é forçado a manter a lei protetora.
Tudo isso forma um grande círculo vicioso: o governo protege os empresários por eles não poderem competir com as empresas que ensejam entrar nos mercados (tanto nacionais novas, quanto estrangeiras tradicionais), que assim são justamente por não estarem espostos à ampla concorrência, e, se for do interesse do Estado acabar com o estado atual, seria necessária uma política gradualista ou de choque, o problema, respectivamente, é a possibilidade de regressão das políticas derivada de interesses difusos e a grande rejeição pública motivada pela perda de empregos e aumento da volatilidade do mercado, o que certamente acarreta na não (re)eleição de muitos políticos. Assim sendo, "politicamente" falando, não há saída para a situação atual.
Basicamente, se não fossem os interesses políticos, ou seja, se o interesse fosse voltado, efetivamente, para o povo, o mercado não estaria tão ruim, pois as vendas teriam sido feitas adequadamente ou, como não puderam assim serem feitas, as leis teriam sido corrigidas, independentemente dos efeitos colaterais na busca pela credibilidade política.
*Existem setores que são naturalmente monopolísticos, como transmissão residencial e comercial de energia, abastecimento de água e coleta de esgoto. Sim, estas empresas, basicamente, devem, necessitam, não podem não ser, monopólios.