Gustavo Conde é linguista, colunista do 247 e apresentador do Programa Pocket Show da Resistência Democrática pela TV 247.
Hoje, milhões de pessoas ficarão sem médico. Nenhuma é cubana
15 de Novembro de 2018
15 de Novembro de 2018
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O povo vai vencer no final, relaxem. O volume de besteiras dessa legião de extremistas é monumental. Eu discordo do Zé Dirceu. Acho que o Bolsonaro não dura. Acho que a base popular dele é frágil. E acho que pensar que isso é “salto-alto” é sofrência-rivotril.
As ondas vão e vêm.
Ao ouvir a música cubana, ontem, no luto pela destruição final do Programa Mais Médicos, fui tomado de uma esperança e tive renovadas as minhas forças de resistência.
Cuba é muito amor. Como o Brasil de Lula e da democracia.
Enseja preocupação, é claro. Cuba sufocou sua elite (foram todos para Miami), o que fez um bem enorme à sua população trabalhadora e a sua sanidade social.
Nós, brasileiros, somos conciliadores. Queremos "ensinar" a classe média limitada a ser gente.
Tarefa hercúlea.
E o que nós assistimos é um poder judiciário parasitado por essa concepção rudimentar de sociedade impregnada na cabecinha minion da playboyzada concurseira.
Eles não suportam o amor e talvez, por isso mesmo, nossa história seja diferente da de Cuba (e vai continuar sendo, ou: não pegaremos em armas para civilizar esses grotões elitistas da população videotizada).
Basta amar e oferecer o amor como elemento desconcertante de luta. Lula fez isso.
Com overdose de democracia, ele venceu a infâmia da nossa elite por 13 longos anos.
O povo trabalhador que se acha classe média, com sua burrice e violência, estancou o processo democrático, uma pena.
Mas, que disse que seria fácil?
A gente constrói de novo.
O ciclo é esse: a esquerda constrói (inclusive a riqueza material e intelectual) e a direita destrói.
A esquerda planta e a direita preda. A esquerda sonha e a direita urra. A esquerda ama e a direita odeia.
A palavra ‘elite’ se tornou pejorativa. A palavra ‘direita’ se tornou anti civilização. A palavra ‘esquerda’ tornou-se sinônimo de democracia. É inexorável e incontornável. É semântico. O massacre truculento que a direita produz no Brasil e no mundo lhe será tóxico linguística e simbolicamente.
Nem sempre foi assim, claro. A esquerda também passou por isso, com deslumbramentos e erros do passado.
Mas quem erra agora é a direta. E assim, caminharemos.
A despedida dos médicos cubanos que deram uma lição de amor e de medicina (a melhor do mundo) ativa essa memória da utopia, necessária, poderosa e revolucionária.
Ela nos faz lembrar que ainda temos brasileiros plenos de amor e de civilidade, prontos para dar uma resposta histórica ao surto de ódio que se alastrou pelo país.
Amar os cubanos, por toda a sua humanidade, nos lembra que é preciso também amar os brasileiros irmãos, aqueles que não se omitiram e nem se esconderam em meio ao ódio purulento de parte da nossa elite.
Somos maioria. Somos 70% do país (avalie-se o resultado eleitoral e a estatística é essa).
Como Cuba, faremos o nosso futuro, mas à nossa maneira: sem armas, mas com ideias poderosas que valem mil obuses.
E dentre todas as luzes que nos inspiram a continuar lutando em todos os sentidos e frentes, fica o meu agradecimento ao povo cubano, o povo mais feliz e orgulhoso das Américas, o povo que ama a si próprio, o povo que ama suas crianças, o povo que ama todas as pessoas do mundo – sentimento que os faz exportar sua excelência médica para todos os confins da civilização e da não civilização.
Hoje, milhões de pessoas ficarão sem médico. Nenhuma é cubana.
Foto: Araquém Alcântara.
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