Buckaroo Banzai, aproveito sua resposta anterior para tentar esclarecer uma dúvida que carrego há algum tempo.
Sabemos que houve o desenvolvimento do cérebro na espécie home sapiens que trouxe a capacidade de raciocínio e outras habilidades típicas que possuímos.
Muito bem. Para isso, foram necessários muitos e muitos anos de evolução.
A questão envolve as seguintes perguntas:
1 - A capacidade de uma espécie chegar à complexidade do raciocínio lógico e até mesmo o desenvolvimento de uma consciência como a entendemos (apesar de outros tópicos abordarem a enorme dificuldade em se chegar a um consenso sobre a definição de consciência) é variável que depende também do tempo?
Sim, necessariamente, por pouco que seja. Vai depender do "estado atual", da variação existente e possível no futuro, e do quanto os "passos" são adaptativos, e de "pura sorte" também.
Também vale a pena fazer a ressalva de que a consciência mais "polêmica" geralmente não é tanto no sentido de "inteligência", de termos a noção de "eu", etc, mas consciência no aspecto da "realidade virtual", da "aparência privada" que têm nossos sentidos e até pensamentos (e que comumente se supõe ser algo compartilhado com muitos animais; que pensar em como seria ser um gato, um rato ou uma mosca não é algo sem sentido, equiparável a se pensar em como seria ser uma pedra ou uma galáxia*), em contraste com estados e funções inconscientes, seja como "estar desmaiado" ou apenas funções realizadas sem ter qualquer "aparência" privada (como "visão cega", ou funções realizadas por computadores ou outros aparelhos que mais comumente julga-se não serem conscientes).
* embora hajam aqueles que supõem que talvez possa sim fazer sentido pensar que há algo "como ser uma pedra", bem como "como ser uma galáxia", ou "ser um país", não necessariamente todas essas "possibilidades" juntas.
2 - Se dermos muitos milhões de anos para o golfinho ou para os bonobos, um dia eles chegarão a um desenvolvimento do cérebro que permita a eles também pensarem e raciocinarem como os humanos?
Não há garantia de nada. Uma das poucas coisas que se salva desse tópico do que o docdeoz postou** são os trechos do SJ Gould nas linhas de que os humanos não são o "objetivo" da evolução, com todas as outras espécies, ao menos animais, "rumando" em direção a algo parecido.
O máximo que se pode dizer é que muito provavelmente não é impossível, e que até poderia não demorar "muitos milhões" de anos. Os humanos divergiram dos chimpanzés e bonobos apenas há algo entre 5-8 milhões de anos (com possíveis cenários mais complexos onde houve alguma hibridação até perto de apenas 1 milhão de anos). Para os golfinhos a coisa seria provavelmente mais complicada e é um exercício de ficção científica biológica "hard" pensar em como isso poderia se dar.
** Bem, na verdade, tirando as conclusões/interpretações dele, não deve haver nada de particularmente ruim. Fugindo da regra, ele fez apenas citações de material científico/não-criacionista mesmo, e sem um grande esforço de selecionar frases para forçar uma interpretação equivocada, no entanto sem que isso impedisse dele conseguir fazer interpretações bastante distantes do que é citado.
3 - Algumas espécies possuem alguns requisitos neurolinguísticos propícios ao desenvolvimento de inteligência, caso seja dado um tempo amplo para a total evolução dessa característica?
"Neurolinguístico" é o que chamam em inglês de "buzz word", sem muito sentido. O uso mais comum é algo meio nas linhas de hipnose e mensagens subliminares. Mas aqui acho que você quer dizer algo como "bases neurológicas para linguagem".
Bem, não sei muito disso. Lembro de ter visto notícia recente de que os chimpanzés têm a "área de Broca", ou seus "primórdios", mas também já vi bastante coisa bastante convincente sobre 99% das coisas de chimpanzés e gorilas que aprendem a usar linguagem de sinais serem só uma "ilusão", a "linguagem" inferida na verdade é pura invenção das pessoas que interagem com os animais. Algo meio como pais maravilhados com os balbucios de um bebê e interpretando frases mais complexas a partir dos gestos e da situação, mas pior. Acho que tem um caso, com um chimpanzé, que talvez se salvaria, mas não sei de detalhes.
De golfinhos eu sei menos ainda.
Ainda relevante a isso acho que existem perspectivas de que o cérebro (cérebro humano, talvez generalizando para muitos mamíferos) têm menos especializações que popularmente se supõe, que seria algo mais versátil e não precisaria ter sofrido uma seleção específica para a evolução de linguagem, mas linguagem eventualmente poderia ser inventada na medida que o cérebro se torna mais poderoso, por qualquer outra razão.
4 - A vida inteligente em outro planeta não seria justamente a consagração dessa ideia? Ou seja, uma outra espécie também apresentaria inteligência e raciocínio uma vez que teve tempo suficiente para evoluir dessa maneira. E não necessariamente seria derivada de um primata.
Bem, eu diria que é apenas "uma possibilidade".
5 - Caso não fosse um primata a evoluir para a vida inteligente aqui na Terra, poderia ter sido outra espécie de animal?
Poderia, ou poderia não acontecer com nenhuma, também.
Não podemos nos esquecer que esperar algumas décadas, ou dar séculos à espera desse desenvolvimento seria infantil. Refiro-me a milhões de anos.
A pergunta está diretamente relacionada à possibilidade de desenvolvimento da inteligência, raciocínio e consciência em outra espécie de animal. Seria possível, sendo dado o tempo necessário para a plena evolução desses atributos?
Se aconteceu com uma linhagem, seria possível acontecer com outra, tão menos improvável quanto mais proximamente aparentada for. Mas como disse antes, não há qualquer garantia. É algo como "dentes de sabre" e aqueles dentes gigantes das morsas. "Dentes de sabre" evoluíram diversas vezes em felinos, em parentes de felinos, e até em marsupiais. Mas acho que só as morsas chegaram àquele extremo. Com "milhões de anos", talvez apareçam uma ou outra morsa, mas talvez o aumento nos caninos nunca volte a bater esse recorde. O mesmo talvez se dê com cérebros.