A Rússia sozinha.
as invasões com anexação territorial da Ucrânia e da Geórgia (com governos locais fantoches de Moscovo);
Democracia à moda OTAN na Ucrânia“Histórica” visita de Stoltenberg, secretário-geral da OTAN, dias 21-22 de setembro à Ucrânia, onde participa (pela primeira vez na história das relações bilaterais), do Conselho de segurança nacional, sinal de um acordo para abertura de embaixada da OTAN em Kiev, e fará duas conferências de imprensa ao lado do presidente Poroshenko. Passo adiante decisivo na integração da Ucrânia na Aliança.
Pyotr Poroshenko, presidente da Ucrânia
Essa integração foi iniciada em 1991 quando, logo depois de tornar-se estado independente na sequência da desagregação da URSS, a Ucrânia passou a integrar o “Conselho de Cooperação norte-atlântico” e, em 1994, da “Parceria para a paz”. Em 1999, enquanto a OTAN demolia a Iugoslávia e englobava os primeiros países do ex-Pacto de Varsóvia (Polônia, República Tcheca e Hungria), foi aberto em Kiev o “Gabinete de ligação da OTAN” e formado um batalhão polonês-ucraniano para a operação de “manutenção da paz” pela OTAN no Kosovo. Em 2002, o presidente Kuchma declarou seu interesse em passar a integrar a OTAN. Em 2005, no quadro da “revolução laranja” (organizada e financiada por Washington através das “ONGs” especializadas e sustentada pelo oligarca Poroshenko), o presidente Iouchtchenko foi convidado à reunião da OTAN em Bruxelas.
Mas em 2010, o presidente novamente eleito Yanukovych anunciou que a adesão à OTAN não estava em sua agenda. Durante esse tempo, a OTAN teceu uma rede dentro das forças armadas ucranianas e arrastou para ela também grupos neonazistas (como o comprova documentação fotográfica de militantes da UNA-UNSO recebendo treinamento na Estônia, de instrutores da OTAN). Os neonazistas foram utilizados como força de assalto no putsch da Praça Maïdan que derrubou Yanukovych em fevereiro 2014, ao mesmo tempo em que o secretário-geral da OTAN intimava as forças armadas ucranianas para que “se mantivessem neutras”. Imediatamente depois da chegada de Poroshenko à presidência, a Ucrânia – como a OTAN declarou – passou a ser “estado soberano e independente, firmemente comprometido com a democracia e o direito”.
O quanto a Ucrânia é soberana e independente vê-se bem pela evidência de que Washington e Bruxelas nomeiam ministros: o ministério das Finanças foi confiado a Natalie Jaresko, cidadã norte-americana e funcionária do Departamento de Estado; o ministério do comércio e do desenvolvimento econômico, ao lituano Abromavicius, que prestou serviços a grupos bancários europeus; o ministério da Saúde a Kvitashvili, ex-ministro georgiano. Saakashvili, ex-presidente da Geórgia e homem de confiança de Washington, foi nomeado governador da região ucraniana de Odessa. E, para completar o quadro, Kiev confiou as próprias alfândegas a uma empresa privada britânica.
O quanto a Ucrânia é comprometida com a democracia e o direito está demonstrado na existência de batalhões neonazistas, autores de atrocidades contra civis de nacionalidade russa no leste da Ucrânia, que foram incorporados à Guarda Nacional e recebem treinamento de instrutores norte-americanos e britânicos. Também aparece bem demostrado no banimento do Partido Comunista da Ucrânia e da ideologia comunista, num clima de perseguição semelhante ao do surgimento do fascismo na Itália nos anos 1920s.
Para evitar testemunhos incômodos, Kiev decidiu, dia 17 de setembro, impedir a entrada no país de dezenas de jornalistas estrangeiros, dentre os quais três da BBC, qualificados de “ameaças à segurança nacional”.
A Ucrânia de Poroskenko – oligarca que enriqueceu com o saque de propriedades do Estado, cuja “sábia liderança” foi elogiada pelo primeiro-ministro Renzi – contribuirá também para promover a “segurança nacional” italiana, participando, como parceiro, em território italiano, do exercício Trident Juncture 2015 da OTAN.*****
Manlio Dinucci, Il Manifesto, Itália
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Ucrânia que não sai na mídia: Desde o início, Kiev optou pela violênciapublicado em 27 de julho de 2014 às 13:57
lia
O congressista Liashko (de boné) dá uma de robocop para mostrar serviço
21 de julho de 2014
Manipulando os fatos
A Anistia Internacional e a Guerra na Ucrânia
VLADISLAV GULEVICH, no Counterpunch
A Anistia Internacional divulgou recentemente um relatório de “virar o estômago” sobre a violência na Ucrânia do Leste (“Sequestros e Torturas no Leste da Ucrânia” – veja, por exemplo, a cobertura que a BBC deu ao relatório). De acordo com o documento, os atos de violência foram perpetrados primordialmente por grupos separatistas pró-Rússia.
O relatório da Anistia Internacional e sua conclusão a respeito da responsabilidade dos rebeldes pela maior parte da violência não se sustenta e tem pouca relação com a realidade. A violência na Ucrânia, em geral, não é analisada com propriedade e o relatório é bastante tendencioso.
Não são os rebeldes e sim o exército ucraniano e as forças pró-EuroMaidan [Nota do Viomundo: Movimento que derrubou o presidente constitucional da Ucrânia] os responsáveis pelos sequestros e abusos.Primeiramente, os rebeldes da Ucrânia do Leste contam com o apoio de quase 100% da população local. Eles não têm necessidade de cometer qualquer tipo de violência contra os locais. O exército ucraniano, ao contrário, é visto como um inimigo cruel e os soldados ucranianos sentem a animosidade dos locais.
Uma lógica simples questionaria se é o exército que tem sentido a necessidade de reprimir seus adversários locais usando da violência.
Ainda por cima, basta falar com qualquer um dos milhares de refugiados da Ucrânia do Oeste para ouvir histórias de métodos bárbaros usados pelo exército para quebrar a resistência, para qualquer um se convencer de que o exército ucraniano é responsável pela maioria dos sequestros e torturas.Em segundo lugar, é sabido que o EuroMaidan contava com o apoio de organizações neonazistas ucranianas.Depois do sucesso do EuroMaidan, seus líderes foram empossados na recém formada polícia e nos batalhões da Guarda Nacional (“Azov”, “Donbas”, etc.).
De tempos em tempos a mídia internacional fala do passado neonazista destas unidades militares ucranianas, mas na maior parte das vezes, esse fato é ocultado. É difícil esperar deste soldados algum respeito por direitos humanos ou o respeito a qualquer outro tipo de lei.Os fatos mostram que as autoridades do EuroMaidan iniciaram a campanha do terror imediatamente após derrubarem o governo, ou seja, bem antes do começo da guerra. A espiral de violência que se alastra agora na Ucrânia do Leste é a sequência do drama geopolítico chamado EuroMaidan.
Além disso, para observar toda a escala de violência na Ucrânia é preciso levantar informações sobre sequestros, torturas e outros abusos em todo o país e não somente na Ucrânia do Leste. E o período estudado deve ser mais extenso: é necessário levar em consideração toda a violência praticada desde a vitória do EuroMaidan e não somente o que aconteceu desde o começo das hostilidades.
Quando o novo governo pós-EuroMaidan foi formado ele desencadeou medidas repressivas sem precedentes que se tornaram mais e mais estritas e violentas. Policiais e suas famílias foram os primeiros alvos. Eles foram ameaçados anonimamente, seus apartamentos queimados e alguns policiais foram mortos.
Os policiais não foram os únicos perseguidos, mas qualquer pessoa conspicuamente leal ao governo anterior. Jornais inaceitáveis foram forçados a fechar, jornalistas independentes foram presos.
O movimento pró-europeu mais radical, “Right Sector”, promoveu a ideia de que “a revolução continua e vamos caçar os inimigos da revolução”.
Depois disso, ativistas civis foram submetidos a ataques brutais e os mais ativos deles foram presos.
Agora Kiev vai ainda mais longe. Seguindo o exemplo dos EUA no Iraque, as autoridades ucranianas estão produzindo um jogo de cartas com os rostos dos comandantes rebeldes e também com os rostos do jornalistas “errados”, para distribuir aos soldados na Ucrânia do Leste. O exército deve prendê-los ou matá-los.
Depois do EuroMaidan, a Ucrânia se tornou um país cheio de presos políticos. O número de jornalistas e escritores conhecidos que teve que escapar do país é grande: Alexander Chalenko, Rostislav Ishchenko, Vladimir Rogov, eu, e muitos outros.
Até mesmo grandes congressistas do parlamento ucraniano, como o político anti-EuroMaidan Oleg Tsarov, tiveram que deixar a Ucrânia ameaçados de prisão.
Antes de fugir, Tsarov foi atacado por um bando de ativistas do EuroMaidan e selvagemente espancado.
O vídeo do ataque e as imagens de Tsarov machucado, com as roupas rasgadas, foi exibido na TV. A casa dele em Dnepropetrovsk foi queimada por coquetéis molotov lançados por criminosos “desconhecidos” muito conhecidos.
Agora Tsarov dá assistência jurídica a oficiais de polícia e ativistas perseguidos pelas autoridades. De acordo com Tsarov, muitas pessoas estão sendo presas em toda a Ucrânia e as prisões estão se enchendo de presos políticos.
O último caso foi o da prisão de Alexander Samoylov, o vice-reitor da Universidade Internacional Eslavônia em Charkov. A foto de Samoylov espancado, com manchas escuras em torno dos olhos, está circulando na internet.
A violência contra rivais ideológicos se transformou em propaganda política para os políticos ucranianos que dão apoio ao EuroMaidan com o objetivo de dissuadir. Congressistas do conhecido partido xenofóbico e nacionalista Svoboda entraram à força no escritório do diretor do Canal Nacional de TV Ucraniano, o espancaram e o forçaram a pedir demissão. Eles não gostaram da maneira com que o canal de TV cobriu o conflito na Criméia entre Moscou e Kiev.
O congressista notório e conhecido do partido Radical, Oleg Liashko, é famoso por suas ações de relações públicas na zona de hostilidades. Ele quase sempre aparece por lá acompanhado de um grande número de guarda costas e demonstra sua atitude com relação à população da Ucrânia do Leste.
Existem vários vídeos que mostram Liashko humilhando seus adversários e ameaçando matá-los – como o vídeo em que Liashko e seus guarda costas forçaram rudemente um deputado local de Slawiansk a entregar o cargo e ameaçaram linchá-lo em praça pública – ou ameaçando jogá-lo na cadeia; como no vídeo em que Liashko interroga um homem de 68 anos com um saco na cabeça e ameaça mantê-lo na cadeia para o resto da vida.
Vale à pena mencionar que em março de 2014, um mês antes do começo das hostilidades entre Kiev e os rebeldes das províncias, quando ainda era possível dialogar, Liashko mandou prender um dos líderes da Ucrânia do Leste, Arsen Klinchaev.
Isso foi feito de forma rude e humilhante e Liashko participou pessoalmente da ação. Klinchaev foi preso em seu escritório e não com uma arma na mão, mas foi tratado como um terrorista perigoso.
No lugar do diálogo, Kiev escolheu a violência.
Vladislav Gulevich é jornalista ucraniano e analista politico. Ele fugiu para a Rússia recentemente e pode ser contatado no seguinte e-mail: kwonltd@rambler.ru.
http://www.viomundo.com.br/denuncias/ucrania-que-nao-sai-na-midia-desde-o-inicio-kiev-optou-pela-violencia.html