Cada religião ou filosofia adota um conceito ou definição de Deus. Quanto mais palavras nesta definição, mais distante.
Você, meu caro Fenrir, julga os fatos à luz da existência, ou não, claro, de um Deus aos moldes do Deus Bíblico e não existe pior do que aquele.
Típico Deus sobre o qual A. Einstein disse: Deus é criado pelas fraquezas humanas.
Diz você que existindo Deus pode-se fazer qualquer coisa e depois pedir perdão. Não seria o contrário, no caso de um Deus infinitamente justo: errou tem que pagar! Ou seja, este é o seu modo de conceituar Deus e por isto eu disse, cada religião tem uma visão de Deus.
Este Deus, quanto menos antropomórfico, seja, menos atributos tipicamente humanos, mais próximo de um modelo aceitável.
Não foi atoa que coloquei "certas representações dele" ai encima. Por mais antipatia que tenha de religião,
tenho que ser honesto e não enfiar tudo num mesmo balaio de gatos. Há outras concepções de deus tão
distintas desta quanto a galáxia de andrômeda da minha casa. Me ocorreu agora que beira o nonsense
usar o mesmo termo para designar ambas. Linguagem (e semântica) é coisa complicada.
Então tinha em mente o deus que nós, enquanto ocidentais, estamos habituados:
o da bíblia ou das chamadas religiões do livro, se calhar.
Ou melhor ainda, qualquer um que perdoe qualquer falta, conquanto o faltoso seja devoto dele, tenha fé nele...
Posso apostar que é altamente provável que quem pensa que "Se Deus não existe, tudo é permitido"
tem em mente um deus do tipo do que critico nas linhas aí acima.
Quem sabe "essas reais vítimas" não estão pagando agora o que fez, na outra ou outras?
Mesmo porque o que repete os mesmos erros em vidas sucessivas sofrem as consequências sem delongas ou adiamentos.
Nunca reparou como nosso mundo é triste e escandaloso?
Não acha que existe certa mão justiceira atuando longe da análise humana?
Que podem estar pagando? Claro que podem. A justiça, com ou sem falhas, existe para que?
E ainda que não seja feita justiça num ou noutro caso, tem o remorso, a culpa, a condenação do outro, o medo de ser pego,
de ser chamado a responsabilidade no futuro, de passar pelas mesmas aflições que eles mesmos afligiram aos outros...
Pois não dizem que quem tem mais horror de ser roubado é justamente o ladrão inveterado?
Então, a não ser em raros casos patológicos de sociopatia e afins, o próprio indivíduo acaba se punindo se
a justiça não o faz.
Você, como alguem que parece se interessar por psicologia/psicanalise bem sabe disso.
Então acha mesmo que há necessidade de invocar uma mão justiceira metafísica para castigar os faltosos?
Não será exatamente o contrário?
Quem não tem qualquer tipo de restrição aos instintos são mais prováveis de cometer os abusos que vemos
em nossa política hoje? Nenhum deles é verdadeiramente um crente. Se procuram demonstrar alguma religiosidade,
apenas usam a religião como rótulo, ou uma capa protetora. Na verdade não creem em nada do que pregam ou ouvem.
Aliás, é por isso que os céticos e ateus fogem das religiões: por causa dos falsos religiosos ou dos fanáticos
que precisam de uma religião, não importa qual.
Isso não é a falácia do escocês?
E um indivíduo que precisa de uma deidade a quem temer, suplicar ou pedir auxílio quando pisa na bola
não é nem sincero, nem honesto e nem maduro.
Tais coisas (faltas) não devem ser feitas por causa de um Deus que audita/pune/perdoa ou de um Karma,
mas porque, do ponto de vista ético-moral, são erradas, porque vivemos em sociedade e ninguem esta isolado
em uma redoma, tem prioridade sobre os demais ou tem poderes e vontade ilimitados. Até eu, misantrópico,
individualista e irreligioso que sou tenho que admitir isso: sua liberdade termina quando começa a minha e vice-versa
Acho que até mesmo um ultra-relativista moral teria que admitir que conceitos ético-morais de certo e errado
tem que existir ou não seria possível vida em comunidade... ou seja, nem que fosse por puro e simples
utilitarismo.
Ou o contrário. Se existe um Deus, justo e onisciente, "tou ferrado"... ah, mas inda bem isso não existe;
pelo menos não há qualquer evidência...
Continuo sustentando que é o contrário. Olhe a sua volta e veja em quais sociedades em deus
que perdoa/castiga faz mais sucesso, usando suas palavras, nesse mundo triste e escandaloso.
Leia um pouco de história e veja as atrocidades cometidas em nome de um deus que pune e perdoa..
Muitos devem ter pedido perdão (ou não) pelo que fizeram até fazerem de novo e pedirem perdão mais
uma vez, daí em diante.
Um ateu/descrente não tem esta ajuda para lidar com seus demònios pessoais, não tem nenhuma
mão justiceira para aliviar a carga dos seus problemas e etc.
Tem que conviver com o que fez e responder pelo que fez.
Ele não pode contar com o "se deus é por nós, quem é contra nós" dos crentes, não pode contar com perdão,
quitação karmica, ou auxilio de outros crentes da mesma denominação ou ajuda da própria denominação.
Só tem a si mesmo. Não pode contar nem mesmo com outros ateus/incréus, porque não existe nenhuma
"igreja", "templo" ou "denominação" que os congregue, acolha e proteja e estão cada um por si.
Nessa condições, quem está mais propício a sair por ai fazendo tudo o que vem a mente não importando
as consequências do ato?