E de que informação se dispõe quanto a isso?
Oligarquias e cartéis tem seus membros todos sempre em uma hierarquia rígida, não havendo flutuação de renda entre eles?
Ou mesmo entre as rendas de marajás na burocracia estatal ou capitalistas compadres?
Os tipos não se dividem em imobilidade descendente rígida-infalível e mobilidade descendente plena. Há um continuum entre eles. Mas dá para inferir que padrão pertence a quem quando se consegue distinguir não turvamente os dois tipos.
Nos países em que há mais algo da tríade obscura - rent-seeking, patrocínio político ou captura regulatória- , existem ferramentas de exploração autossustentáveis (embora não perfeitamente) e os poderosos tem mais chance de permanecerem ou se tornarem ainda mais poderosos; ademais, isso seria reforçado por forças concentrativas como o efeito "o-vencedor-leva-tudo" do Extremistão. Em países que conseguiram mais sucesso em se livrar desse círculo vicioso, a sorte desempenha um papel muito importante em deixar ninguém seguro no topo: ela tem grande poder para promover novatos ex-anões e derrubar gigantes. Isso foi explicado em detalhes por Taleb em A Lógica do Cisne Negro no capítulo 14, seção "Ninguém está seguro no Extremistão" e de forma menos detalhada por mim no tópico do CC "Como ficar rico em dez passos".
Se você supõe que o lado mais próximo do estado não absorvente é algo produzido tipicamente pela rent-seeklândia, o lado mais próximo do estado absorvente seria produzido tipicamente por quem? Pela sociedade que teve mais sucesso em se livrar da tríade obscura? Isso contraria a lógica guiada pelas observações já mencionadas. Um país com capitalismo com mercado relativamente desobstruído teria mais dificuldade de produzir estado absorvente. E o papel da sorte nos mercados explicaria isso.
Todas essas colocações teóricas não trazem qualquer informação direta sobre quanto os EUA estaria de fato no lado "bom" da coisa pela flutuação de renda dos mais ricos estar no padrão "bom" comparado a um ruim, ou com a França em particular estaria dentre os ruins. Desconfio que os EUA seja de longe um dos países onde mais é investido em lobby, e com maior captura regulatória.
Ao mesmo tempo, o quanto quer que a França seja de fato pior em mobilidade descendente daqueles no topo (o que nem necessariamente é medido pelo artigo citado por Taleb*), acho que essa não é a medida mais importante. Os estados maiores têm maior qualidade de vida, menor desigualdade, e menor mobilidade social de baixo para cima. Parece haver uma espécie de "desespero" ideológico em tentar afirmar uma dissociação completa em distribuição de riqueza e desenvolvimento/riqueza absoluta. Parece bem contra intuitivo que uma demanda efetiva maior não vá tender a ser correlacionada também com maior riqueza.
Novamente, mesmo que não haja uma correlação direta de causalidade, em algo parece necessariamente ser como correlação entre altura e peso. Você até pode ter pessoas extremamente altas e magras, e pesadas e baixas, mas em algum nível altura vai praticamente implicar em peso. De forma similar, maior riqueza ao todo deve em algum momento implicar em maiores chances de distribuição das mesmas, e esta deve ser um índice de saúde da economia. Devem ser exceções bem pouco "recomendáveis" economias onde há extrema riqueza concentrada de maneira extrema. Aliás, o Brasil-zil-zil já está entre os líderes nesse quesito.
* não só é limitado a renda individual/pessoa física, como despreza riqueza, e não sei o quanto não apresenta ainda essa flutuação de que falei inicialmente, os mais ricos sempre "no páreo", ainda que alternando.
http://money.cnn.com/2013/12/09/news/economy/america-economic-mobility/index.html
Growth spells last longer in more equal countries. A 10 percentile increase in equality (represented by a change in the Gini index value from 40 to 37) increases the expected length of a growth spell by 50 percent. Percentage changes in GDP growth spell length are shown as each factor moves from 50th to 60th percentile and all other factors are held constant. Income distribution is measured by the Gini coefficient.[31]
https://en.wikipedia.org/wiki/Gini_coefficient
É engraçado, se for verdade que os EUA são um dos países de maior lobby do mundo, então eles tem paradoxalmente os ricos lobistas mais bonzinhos ou incompetentes do mundo. Pois, além de deixarem os EUA como um dos países de maior liberdade econômica do mundo (talvez diminuída recentemente com Obama), defenderam coisas que permitiram mobilidade descendente lá maior do que na França e outros países europeus - e aqui menciono indicador de insegurança na permanência no topo do ranking do endinheiramento.
E, como já disse, correlação é um conceito que tem pouca ou nenhuma importância nesse domínio de distribuição escalável. Se você medir a correlação entre os pares de variáveis "escaláveis", tal medida provavelmente apresentará uma instabilidade grave; dependerá do período em que foi computada. Isso pode significar fracasso do teste de causalidade ou simplesmente erro de amostragem na cauda longa.
Isso não é o mesmo que tentar afirmar uma dissociação completa em duas ou mais variáveis de algum processo. Os dados exibidos simplesmente são insuficientes para corroborar qualquer coisa ou simplesmente a associação entre as variáveis mencionadas não tem importância para entendermos como chegamos até aqui e por que as desigualdades de desenvolvimento entre os países do mundo persistem.
Ah, claro. Desigualdade econômica é um índice de saúde da economia, sobretudo o coeficiente Gini. Fui na Wikipédia em português e vi dados interessantíssimos do Banco Mundial. Os avançadíssimos Bangladesh, Burundi, Níger e Afeganistão tem coeficiente Gini menor do que os paupérrimos e atrasados EUA, Hong Kong, Cingapura, Reino Unido e Suíça. Na Wikipedia (em inglês), outro dado interessante. O coeficiente Gini do Mundo, além de apresentar padrão de aumento no período 1820 a 2005 (*), tem um valor muito maior do que o da média dos seus países-componentes. Aberração similar foi mencionada por Taleb em relação a Europa/países europeus componentes no seu artigo do Medium. Algo que não causaria surpresa em quem desconfia dos métodos falhos usados.
* Ano/Coeficiente Gini do Mundo
1820 0.43
1850 0.53
1870 0.56
1913 0.61
1929 0.62
1950 0.64
1960 0.64
1980 0.66
2002 0.71
2005 0.68
Fonte:
https://en.wikipedia.org/wiki/Gini_coefficient