O que está por detrás da ideia de uma "moral divina objetiva"que ditaria que matar, mentir, roubar e comer casca de árvore é errado é, ou um ser sobrenatural, como o Sobrenatural de Almeida do Nelson Rodrigues ou muito prosaicamente apenas a natureza fazendo seus experimentos.
A natureza faz bicho que come de tudo e que come só bambu, criaturas gigantes como baleias e pequeninas como virus, seres que canibalizam a própria espécie, como tubarões, portanto que não tem moral divina objetiva, e outros que levam tão a sério não matar que são herbívoros, não matariam nem pra se alimentar. Outras criaturas mentem, se fingindo de mortas, hienas que roubam a caça dos leões, tudo em nome da adaptabilidade tão presente nas experimentações da natureza, e é claro, a natureza faz experimentos também com o homem, propondo a ele a ideia de associativismo, incitando-o a criar pactos sociais em prol de sua própria sobrevivência, pactos como, não matar, não roubar, nem mentir.
Mas o que resta ao homem então, sendo um dos campeões de adaptabilidade entre os seres vivos? Tanto sucesso adaptativo desenvolveu para si um poder cognoscivo ímpar, que nos momentos de ociosidade pode ter cobrado o seu preço, fazendo emergir das profundezas do tédio a sua criação mais pitoresca, a ignorante e convencida vaidade, e da vaidade, a vaidade das vaidades, a reivindicação para si da criação do Universo e consequentemente uma moral objetiva, divina, de que não pode matar, nem roubar nem mentir.