Voltando à questão da desigualdade social...
Artigo de Marcos Valley no site do Luis Nassif.
O planeta possui 7 bilhões de pessoas. Dados espantosos sobre a distribuição da riqueza:
1 - Qualquer pessoa que possua bens em valor total superior a R$ 8.600,00 (uma moto usada) possui mais riqueza do que 3 bilhões e 500 milhões de pessoas no mundo inteiro. Está na metade superior da posse de riquezas.
2- Quem possui bens em valor superior a 162 mil reais (uma casa simples em São Gonçalo, RJ) possui mais riqueza do que 6 bilhões e 300 milhões de pessoas. Pertence aos dez porcento mais ricos do mundo.
3- Quem tem bens em valor superior a um milhão e seiscentos mil reais (uma boa casa em Camboinhas, Niterói, RJ), possui mais riqueza do que 6 bilhões e 930 milhões de pessoas. Faz parte da fatia correspondente a um porcento da população mundial, mais rica do que os 99% restantes.
Conclusão: num planeta extremamente injusto, até as classe média e média alta são consideradas ricas. Apenas trinta e dois milhões de pessoas podem ser consideradas, de fato, ricas, sendo que 161 delas controlam cerca de 140 corporações que, por sua vez, dominam praticamente todo o sistema econômico e político do mundo. Esse é o sistema que defendemos com unhas e dentes?
Pode haver certa distorção neste cálculo de que o 1% detém 50% das riquezas. Porém, mesmo tomando literalmente
esta afirmação que pode ser simplista, constata-se que o grande e principal problema nem é a distribuição desigual
das riquezas.
Segundo dados do Banco Mundial o PIB do mundo é de US$50 trilhões.
http://www.worldbank.org/Mesmo se fosse possível uma distribuição perfeitamente igualitária dessa riqueza tal divisão resultaria em US$7.142 para cada habitante desse planeta. Ou um total de bens no valor de R$22.142,86 , aproximadamente, para cada pessoa.
Não se compra nem um barraco no morro do Vidigal com esse dinheiro.
Mesmo esse cálculo sendo demasiadamente simplista demonstra que a eliminação da desigualdade social através da distribuição de riquezas apenas teria o efeito de tornar a todos igualmente miseráveis.
No final das contas não é a desigualdade que importa tanto, mas a qualidade de vida dos que estão na base dessa pirâmide econômica. Só é possivel melhorar materialmente a vida dos mais pobres limitando-se o crescimento da população e buscando-se formas mais eficientes e renováveis de utilizar os recursos finitos que movimentam a economia, e também com políticas inteligentes e antecipadamente planejadas na gestão do bem estar social e do patrimônio público, assim como um necessário grau de regulação sobre a ação privada para que eta seja o menos possível predatória ao bem comum.
Digamos que, sem inflação, o Brasil consiga aumentar em 50% o salário mínimo. Um aumento de 50% na renda é muito desejável para qualquer pessoa em qualquer faixa salarial, mas para quem vive com um salário mínimo isto não se traduziria em melhora significativa de qualidade de vida. Mesmo com este aumento espetacular de renda a pessoa continuaria morando no mesmo lugar, com as mesmas péssimas condições, a mesma insegurança e impotência face a atual situação de violência urbana, a mesma tortura diária do transporte público para se deslocar de casa para o trabalho e do trabalho pra casa, continuaria penando no SUS porque esse aumento não é suficiente para um plano de saúde, com seus filhos na mesma escola pública, e assim por diante... A única diferença seria um maior poder de consumo, o que conta mesmo muito pouco para a qualidade de vida de uma pessoa.
Por outro lado, tomando como exemplo o desenvolvimento da região metropolitana do Rio de Janeiro nos últimos 50 anos, quando no início desse período já era prevista a industrialização do pais, tendo como consequência o fenômeno já conhecido de rápido crescimento dos centros urbanos com alta taxa de migração rural e ainda com a taxa elevada de natalidade do país na época, um planejamento adequado poderia ter evitado a ocupação desordenada de áreas de risco e de posterior dificil urbanização, remanejando-se a demanda populacional para a então desabitada e plana zona oeste ( onde os custos das desapropriações eram ainda irrisórios ) em subúrbios populares inteligentemente projetados e conectando-se com o centro urbano através de ligações ferroviárias que cortariam a então desabitada Barra da Tijuca.
Em suma, com planejamento as pessoas estariam vivendo muito melhor com a mesma renda, e sem as consequências que todos conhecem. Ao passo que com políticas públicas desastrosas mesmo uma melhora econômica se traduz com dificuldade em uma melhor qualidade de vida. Ainda, o que o estado teve que gastar nos últimos 50 anos por conta dos problemas gerados por esta falta de planejamento supera em muitas vezes o custo de projetos bem planejados. Por exemplo, uma linha de metrô está em construção para cortar a Barra da Tijuca. Será insuficiente e vai custar muito mais que várias linhas de superfície, quando estas poderiam ter sido realizadas sem dificuldade há 40, 50 anos...