O mais simples e sensato, se fosse próprio dos homens a simplicidade e a sensatez, seria desproblematizar a sexualidade.
Porque existem problemas que são reais e não temos escolha senão lidar com eles. Problemas como a violência, o trânsito, o planeta esquentando... essas coisas não desaparecem se ignoradas. Ao contrário, ignorar é pior.
Mas já existem tantos problemas reais que poderíamos deixar de nos ocupar com os imaginários.
É como se muitas pessoas tivessem o medo de que se não houver um padrão de comportamento sexual, isso, de alguma forma, desorganizaria toda a sociedade, tudo ficaria uma esbórnia, o caos se estabeleceria, toda a civilização em perigo.
Quando a gente vê aqueles filmes nacionais bisonhos da década de 70 existia esse mesmo terror sobre a sexualidade feminina. A mulher tinha que ser virgem, e isso tinha uma importância tão desproporcional e despropositada que a gente tem até dificuldade de entender, hoje, essa questão cultural, embora não esteja tão longe assim de nós no tempo. Não é algo distante como a escravidão, por exemplo.
Mas há algumas décadas parece que as pessoas acreditavam que se as moças começassem a não se casar mais virgens toda a estrutura social entraria em colapso, a sociedade se desintegraria. Chegava a ser cômica a paranóia e o exagero.
Há uma peça do Nelson Rodriguez em que a família, riquíssima, precisa comprar um marido para a filha porque deixou de ser virgem. A moça é linda, mas mesmo assim o melhor que o dinheiro consegue comprar é o boy da firma, de tão "desvalorizada" que a garota ficou. E a importância, a vergonha, a dimensão que isso tinha para a familia era surreal.
Estes são problemas imaginários. Todas as meninas hoje perdem a virgindade na adolescência e o mundo continua aí, nem melhor, nem pior por causa disso.