Eu sou a opinião que, de fato, é muito difícil senão impossível uma pessoa que viveu toda a sua vida seguindo uma orientação sexual passar para outra.
Acho parecido com o caso dos fumantes inveterados, que sofrem irresistível tentação de fumar.
Para o caso de uma pessoa adulta, claro.
Na adolescência, há a possibilidade de mudar a orientação sexual, e isso pode ser não tão próximo do impossível.
Portanto, depois de adulto e do estabelecimento de uma orientação definida, no caso homossexual, alguém dificilmente deixaria de ser gay.
Porém, como o fumante que é fumante, mas que gostaria de parar de fumar, o gay pode também querer parar de "exercer" a homossexualidade. Creio que ele sempre será tentado e sofrerá desejos homossexuais pelo resto da vida, ou seja, sempre será gay. Não conseguirá renunciar a essa condição.
Só que ele poderia ter direito a receber apoio e orientação para se manter longe do cigarro, ops, digo, do sexo igual ao seu. Afinal, trata-se de um gigantesco desafio que muitos não conseguiriam enfrentar sozinhos, sem um apoio consistente, não só da família e dos mais próximos como também de um profissional da área dos pensamentos, desejos, ambições, sentimentos, personalidade, ou seja, tudo a ver com o problema real que ele ora enfrenta.
Assim como o fumante tenta se manter afastado do cigarro, mesmo sofrendo tentações para voltar a um trago profundo, o indivíduo que quer "mudar de vida" pode, também, tentar se manter longe do sexo com alguém do seu mesmo lado. O profissional mais do que indicado para prestar esse apoio, orientação, oferecer técnicas e artifícios para se conseguir o intento é justamente o psicólogo. É a fome com a vontade de comer: o cara quer dar uma guinada na sua vida, quer mudar sua orientação sexual. Quem pode lhe prestar ajuda, apoio e orientação? Quem? Quem? O psicólogo.
Já o motivo que o faz querer essa mudança não vem ao caso. Seja religião, seja família, seja pressão social, seja ele mesmo doutrinado e convencido disso, seja o que for, não importa. Ele quer. Ele gostaria disso. Ele é autônomo e dono de seu corpo, de sua vida, de suas necessidades e motivos de felicidade pessoal. Ele almeja, ele aspira, ele deseja mudar sua atual orientação sexual.
Por que esse indivíduo seria privado de uma ajuda?
E mais: da melhor ajuda possível que viria de um profissional que investiga esses processos.
Por que proibir esse profissional de atuar, já que ele não foi o gatilho do processo? Ele não atraiu; ele foi procurado.
Para coibir a ação de charlatães, o que eu acho que o Conselho de Psicologia poderia fazer no máximo seria proibir psicólogos de fazerem propaganda desse tipo de tratamento. O psicólogo não poderia fazer anúncios e publicidade. Mas se ele for procurado no seu consultório para iniciar uma série de sessões no sentido de manter o paciente afastado do que ele pediu, mesmo que ele nunca deixe sua real natureza homossexual, qual o mal? O paciente pede por isso. O psicólogo pode fornecer isso. Qual o crime, qual o drama?
Reforço a ideia de que o motivo que levou o indivíduo a tomar a decisão não pertence a esse debate. Ele já decidiu, seja por qual motivo foi. O que ele quer agora é pôr em prática a abstinência da coisa. Que encontre o seu analista, psicólogo, terapeuta que o oriente com as ferramentas técnicas que possui e que sejam felizes, paciente e psicólogo. No final, o paciente sempre será gay, mas conseguirá realizar seu plano de não "exercer" essa orientação e se manter longe do sexo homossexual, por quais cargas d'água sejam o seu motivo.