Antes de mais nada, caro Pedro Reis, eu gostaria de dizer que eu acredito na sua boa fé.
Eu fico meio espantado também com o preciosismo jurídico que aparece nessas horas, como se, primeiro, as leis no Brasil fossem coisa séria e não fabricadas por quem apita o jogo. Como se superfaturamentos não fossem feitos legalmente, como se licitações não fossem fraudadas legalmente, como se... putz.
Anula-se o crime, notoriamente cometido, porque por causa de segundos uma lei qualquer foi descumprida.
Parece que nem mesmo do Brasil a gente tá falando.
Se nós formos capazes de analisar tudo isso imparcialmente podemos tirar nossas próprias conclusões sem precisar pensar com a mídia apertando os botões do controle remoto.
Concordo.
Mesmo não achando que "nossas próprias conclusões" sejam coisas equiparadas a "imparcialidade".
O(s) superfaturamento(s) existiu. Não só por parte do PT, não só por parte do governo federal, mas é uma prática quase institucionalizada nesse país desde os tempos das Capitanias Hereditárias. Está aí o Aécio Neves atolado até o pescoço em denúncias da sua gestão em Minas, está aí o propinoduto de São Paulo, o que aconteceu na gestão prévia no RJ, enfim... praticamente é impossível que uma banana sequer chegue na merenda escolar nesse país sem ser superfaturada.
Exato, sempre existiu. E existiu legalmente, inclusive, o que nos ensina que as leis são alteradas de acordo com quem paga/manda mais.
Daí, o que se segue, é um punhado de gente irritada por terem grampeado e divulgado ilegalmente, por questão de minutos, a presidente assumindo uma merda?
Não da.
Claro, isso em nada justifica a roubalheira dessa administração nem a do governo Lula. Quem roubou tem que ser processado, condenado. Se condenado, cumprir a pena.
A questão é pesar o quanto de toda essa articulação é do SEU interesse. Porque se é uma articulação corrupta então é óbvio que não vai combater a corrupção. Só se troca uma quadrilha por outra, e já são dois impeachments em uma democracia recente. Começa a se tornar um expediente alternativo a eleições para quem tem fome de poder.
Se corruptos/gente-suspeita/malditos-de-toda-sorte identificam e processam atos de corrupção de outros, os que foram identificados e processados tem que cair, não importa a agenda.
Um segundo e distinto problema é entender o porque de gente de mão-suja ainda escapar do alvo da justiça. Se é que acontece, porque vai ser muito difícil ter prova que valha qualquer coisa, nos orientando pelo preciosismo jurídico e a inerente trapalhada dos agentes públicos envolvidos nos processos investigatórios.
Isto é do SEU interesse?
Isto o que?
É isso que cada brasileiro deveria considerar sempre em primeiro lugar: o que é do meu interesse?
Me parece que é exatamente isso o que ocorre, sobretudo no Brasil, onde não há o senso de nação ou de coletivo, a não ser em ocasiões festivas.
Quando o Moro, sem justificativa legal e nem mesmo esperando obter nenhum resultado prático para o benefício do processo, obriga o Lula a um depoimento coercitivo para responder o que ele já havia respondido, para entregar documentos que já haviam sido entregues, me parece que o Moro está "jogando pra torcida". Criou-se um factóide para alimentar as manifestações que estavam próximas. Ora, eu me pergunto: será que este juiz está agindo por conta própria e com isenção? Se não for o caso estamos sendo bobos em integrar a torcida organizada de um corrupto, mesmo contra um outro corrupto.
Tudo bem suspeitar do juiz, mas atendo-nos à preciosidade das evidências e provas. O que te leva a afirmar que "criou-se um factóide
para alimentar as manifestações próximas"?
Se você não tem qualquer coisa legalmente produzida para atestar sua afirmação, você provavelmente incorre no mesmo erro que acusa o juiz de ter incorrido.
Tudo bem que não lhe é missão agir conforme um juiz, mas há algo aí que demonstre os problemas da vida "pragmática" e necessária fora da burocracia conivente à prática criminosa.
Se houve corrupção, e houve, que se apure. Que se processem e punam os envolvidos. Mas tudo isso pode ser feito com o instrumento da lei, sem casuísmos. Isto é do NOSSO interesse.
Nem sempre. Ou, até mesmo, raramente pode ser feito. Principalmente quando se sabe que essas leis, instrumentosas, são fabricadas e deformadas exatamente pelo pessoal que hoje é alvo delas.
Conforme já comentado por nós mesmos aqui, se conduz toda sorte de prática "do mal" sob a cobertura da lei aqui no Tupiquinistão.
O nosso interesse é uma cruzada geral, total e plena contra a corrupção endêmica nesse país, explorada por todos os partidos, inclusive estes que se coligaram ao PT para essa administração, receberam cargos e ministérios e agora tentam aproveitar o ensejo para puxar o tapete.
Nosso interesse não é atuar como marionetes nesse joguete político em que corruptos combatem corruptos por sua parte no botim da República.
Correto!
Ajustemos a nossa conduta, portanto, para permitir que a cruzada se dê.
Ora, se esperamos que o "estado podre" seja purificado e isso tem que ser feito pelo próprio estado... poxa... esperamos mesmo que isso se dê pelos mecanismos aprovados e executados pelo estado?
Haja ingenuidade.