Gostaria de uma descrição do cenário previsto por não-petistas como preferível com a saída antecipada de Temer. Contrastando com o que consideram mais provável de transcorrer se isso não ocorre.
Difícil fazer previsões. As coisas mudam a todo instante. Por isso mesmo prefiro ficar apenas com os fatos, com o que é revelado a cada dia, para não embarcar em teorias de conspiração.
Considerando o tipo de gente e magnitude do esquema investigado, suponho que a Lava Jato, a medida que avança, que entende melhor a complexidade da coisa, o papel de cada um, vai traçando melhor seu plano de ação, inclusive, para autoproteção. Tive a impressão que o foco mudou quando o poder mudou de mãos. Enquanto Dilma ocupava o cargo parece que o PT era muito mais bombardeado que qualquer outro. Todo dia tinha um fato novo sobre figuras ligadas ao partido. Foi Temer assumir, começaram surgir mais fatos ligados ao PMDB, a começar pelos áudios do Machado, derrubando ministros já na primeira ou segunda semana.
Se não for coincidência, deve haver um propósito - é quem está no poder que tem mais poder de fogo. Ou seja, pelo decorrer do fatos, estou supondo que a Lava Jato tenha uma estratégia de batalha, abrindo frentes de combate conforme a guerra vai se desenhando, atacando primeiro onde os riscos para a continuidade da operação são maiores. Acho difícil acreditar que tenha chegado tão longe por sorte, considerando o histórico de operações paralisadas anteriormente.
Então, voltando a sua questão, não sou capaz prever um cenário, apenas suponho que, se tudo não for parte de uma grande conspiração, maior que o próprio esquema, deve haver algum propósito para os últimos fatos, e não me parece que seja quebrar o país, barrar as reformas, muito menos proteger o PT. Acho que é mais caso de polícia do que de política. Infelizmente as duas coisas estão ligadas. Sempre que a polícia age a economia reage, a estabilidade é abalada. Contudo, não vejo outra solução para os nossos problemas. Sequer tenho certeza que há uma solução. Acho apenas que essa é nossa melhor oportunidade de tornar a corrupção sistêmica menos atrativa do que é hoje. Se ao final, se chegarmos lá, conseguirmos fazer com que tanto o setor público quanto o privado pensem duas vezes antes de embarcar em novos megaesquemas, temam serem descobertos, faremos um imenso avanço, sem precedentes. Para isso operações como a Lava Jato precisam prosperar e ser uma constante, contando com o apoio popular.
É mais fácil para mim, admito, a crise não me atingiu, posso me dar ao luxo de pensar com a cabeça, não preciso pensar com a barriga. Por isso tento tomar o máximo de cuidado, até com o que digo. Sei que muitos precisam se agarrar a qualquer fio de esperança, por mais frágil que seja. Nada do que foi feito até aqui nem do que vier a ser, ajustes fiscais, reformas diversas, muito necessários, se sustentarão se preservado o ambiente atual. E não adianta simplesmente renovar o quadro político. Humanos são corrompíveis. Novos esquemas, cada vez maiores, serão montados se a certeza de impunidade não for abalada.
E com tudo isso minha principal preocupação ainda é o PT. Só dormirei em paz quando esse risco for minimizado. E isso só vai acontecer se a Lava Jato prosperar. É questão de tempo e, infelizmente, o tempo corre contra justiça, o processo é lento, precisa contar com o apoio popular, com a paciência do povo, coisa que não temos, com a boa vontade das instâncias superiores, com a manutenção das prisões, com as delações, com os acordos, porque as provas nem sempre são materiais, simples de serem colhidas, não é o tipo de crime que deixa digitais, é muito mais sutil, mais ardiloso.
Fico em pânico que a opinião pública, ao menos nas redes, aparentemente não se dê conta que o maior beneficiado, caso as operações de combate à corrupção não prosperem, é o PT, pois diferente dos outros partidos, conta com uma militância fiel, movimentos sindicais e sociais diversos, enfim, todo uma estrutura para se reerguer rapidamente, embora o maior risco, no momento, aparentemente, pelo rumo atual das coisas, não venha do PT - pois já não é quem ocupa o poder.
Precisamos escapar da cilada de igualar os outros partidos ao PT, sem cair na cilada de subestimá-los, de duvidar do seu poder de estrago, de dissimulação, de artimanhas políticas. O bolivarianismo não é o único caminho para a venezuelização. Há um objetivo comum unindo direita, esquerda e centro - se safar da justiça, por que meios for - essa é a ideologia que vigora no momento. O resto é secundário.
Bom, é mais ou menos como enxergo o cenário. Espero ter conseguido me fazer entender.