Bolsonaro pode murchar na campanha presidencialPatrimônio não explicado, baixa inteligência emocional, pouco tempo de TV e campanha pobre de recursos tenderão a esvaziar a candidatura do deputado
O deputado Jair Bolsonaro acaba de comemorar 5 milhões de seguidores no Facebook. Além desse, outros fatores têm contribuído para colocá-lo em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência, a saber: as aparições frequentes na mídia, o discurso da segurança e a imagem que cultiva, de nome limpo.
Suas chances de ir para o segundo turno nas eleições de outubro dependem essencialmente da fragmentação de candidaturas como as de Geraldo Alckmin, Marina Silva, Henrique Meirelles, Rodrigo Maia, Álvaro Dias e até mesmo de Luciano Huck.
Nesse caso, a média de cada um desses nomes cairia. Nenhum deles iria para segundo turno, beneficiando os extremos: Lula (ou outro candidato do PT) e Bolsonaro. Foi assim nas eleições presidenciais de 1989 e nas eleições municipais do Rio de Janeiro em 2016.
Ocorre que Bolsonaro pode esvaziar-se por causa de suas fragilidades. Como ocorre em campanhas desse porte, à medida que o tempo passa, a vida pregressa do candidato é escrutinada pela imprensa.
Foi o que se viu com reportagens da Folha de S. Paulo e de outros veículos. A Folha mostrou que Bolsonaro e seus filhos acumularam patrimônio incompatível com os rendimentos ao longo de sua atividade parlamentar, mais de R$ 15 milhões.
A dificuldade de explicar essa evolução constituirá sério passivo eleitoral a ser explorado por seus adversários durante a campanha. É aqui que reside, provavelmente, a maior fragilidade de Bolsonaro, qual seja a forma como tem reagido às reportagens da Folha, quando aparenta ser dotado de baixa inteligência emocional.
Ora, a boa inteligência emocional, que permite reação serena a provocações e ataques pessoais, é fundamental para um político, particularmente se almeja ganhar a Presidência. Os olhos do país e de seus adversários estarão acesos em todo o país.
Bolsonaro deu prova da ausência dessa qualidade quando uma repórter da Folha o questinou sobre uso de auxílio moradia quando possuía imóvel residencial em Brasília.
“Como eu estava solteiro naquela época, esse dinheiro de auxílio-moradia eu usava pra comer gente, tá satisfeita agora ou não? Você tá satisfeita agora?”
Afora o passivo eleitoral e a baixa inteligência emocional – que tendem a ser seu calcanhar de Aquiles na campanha –, o deputado não contará com tempo de TV, que é essencial. Terá apenas alguns segundos no horário eleitoral. Sua campanha será pobre recursos, elemento crucial depois que se proibiu o financiamento de empresas privadas. O PSL terá uma parcela ínfima do Fundo Partidário criado no ano passado.
Não será surpresa, assim, se murcharem as preferências por Bolsonaro nos próximos meses, especialmente durante a campanha. Se assim for, mesmo fragmentado, o centro terá um candidato no segundo turno para disputar com o PT com chances de vitória.
Por Maílson da Nóbrega access_time 18 jan 2018, 14h33
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