Uma comparação que faço às vezes é que, em última análise, esse pessoal inverte o sentido original dos termos. Podemos discordar o quanto for, mas a origem dessa divisão é que, na Assembleia Nacional Francesa, os defensores da revolução eram a esquerda e os partidários do regime eram a direita. Isso é o pressuposto histórico da coisa toda.
Se o Ricardo Amorim analisasse a Revolução Francesa, ele iria concluir o oposto. Os que estavam a fim de diminuir o poder do Estado, reduzir impostos e descentralizar o poder, ele chamaria de direita. Os que eram partidários da elite burocrática nobre e viviam às custas de impostos pesados e vantagens políticas, ele chamaria de esquerda.
Se a definição de esquerda e direita de alguém inverte a única premissa totalmente consensual relacionada ao tema, significa que algo está muito errado.
O que "estragou" a definição original linear de "esquerda x direita" foi o socialismo. E a direita mundial tem uma doença grave chamado "Revisionismo histórico" com uma pitada enorme de Anacronismo histórico.
É uma definição claramente incompleta. Quase nenhuma das ideologias atuais pode ser adequadamente descrita apenas como "direita" ou "esquerda". O uso dessas palavras é mero recurso linguístico para simplificação grosseira, contando com a possibilidade de que o interlocutor tenha bagagem cultural para reconstruir as nuances quando ler ou ouvir a palavra.
Porém, seja o que for que signifiquem esquerda e direita, são algo que diferenciavam os revolucionários franceses dos partidários do regime. A maioria dos teóricos atuais acreditam que seja a tese de que a desigualdade social deve ser diminuída. É um fio condutor que une jacobinos, socialistas, comunistas, social-democratas e outras coisas que são consistentemente chamadas de esquerda, ao mesmo tempo que os separa de conservadorismo, laissez-faire, minarquismo, anarcocapitalismo, fascismo e outras coisas consistentemente chamadas de direita. Nenhuma outra característica distintiva consegue separar as ideologias de forma tão coerente com as noções que temos dela quanto essa. Podemos tentar várias: tamanho do Estado, liberdade econômica, liberdade civil, coletivismo, mas sempre vai falhar, com coisas amplamente posicionadas de um lado que acabam caindo do outro.
Mas a verdade é que são conceitos sempre simplificadores da realidade. A diferença entre um social-democrata e um comunista marxista, ambos de esquerda, pode ser maior do que entre um social-democrata e um liberal clássico.