Ainda estou para ver uma justificativa secular para posições antiaborto. Todas que eu vi tem um ranço, muitas vezes mal disfarçado, de ideais religiosos.
Existem diversas justificativas seculares para posições antiaborto, e a equalização delas com "ranço religioso" é apenas um julgamento de valor ultrassecularista. A noção da "Dignidade Inerente da Vida Humana" pode ser expressa tanto em linguagem confortavelmente religiosa quanto adequadamente secular ("É do interesse de qualquer indivíduo racional a continuidade de sua existência", em uma versão bastante encurtada dele).
Logo, como poderíamos considerar um feto sem sistema nervoso central totalmente formado um indivíduo sujeito de direitos, a ponto de colocar seus direitos acima dos direitos de uma pessoa já nascida, consciente e dotada de personalidade jurídica (a mãe)?]
É uma situação de conflito de interesses, na verdade, não de aborto estrito.
Certo, El Elyon.
Foi uma generalização muito forte de minha parte. Mas ainda assim é inegável que neste debate os que defendem uma posição antiaborto são, em sua amplíssima maioria, pessoas que nem sequer fazem o menor esforço para tecerem uma argumentação decente.
E eu lhe pergunto, você considera que as justificativas seculares antiaborto são boas e fortes o suficiente para que se mantenha essa política atual? Sinceramente eu acho que não são. Sim, elas são importantes no debate. Sim, em uma, improvável, discussão para definir como se daria a legalização do aborto na brazilonia essas opiniões serviriam não para justificar a manutenção da proibição, mas sim para afinar os mecanismos legais doque se pode e do que não se pode.
Sustentar a proibição com o argumento "É do interesse de qualquer indivíduo racional a continuidade de sua existência" soa um tanto hipócrita, face a quantidade de mulheres que têm graves problemas em decorrência de abortos ilegais, soa hipócrita face ao total e absoluto descaso do estado e da sociedade frente pobreza, desnutrição infantil e total ausência de condições dignas de vida que grande parte da população do mundo e do Brasil vive.
Tipo, é proibido uma mulher interromper sua gestação, mas foda-se ela e seu bebê no pós-parto.
Como foi dito o problema reside na definição de vida.
Se for estritamente proibido terminar uma vida e esse for o argumento principal dos antiaborto, deve-se, então estender esse argumento para todas as formas de vida animal e tornar o vegetarianismo obrigatório. Se o que estamos falando é da prioridade absoluta da vida HUMANA, deve-se então se definir o que diferencia a vida HUMANA do resto das formas de vida existente no planeta. E em uma sociedade verdadeiramente secular, qualquer que sejam as características que sejam apontadas, tem que ser aceito que é o cérebro que é a origem do que nós somos. Mesmo um religioso, que acha que somos um espírito e coisa e tal, não pode negar que sem cérebro o espírito não pode se manifestar, ou seja lá o que eles pensam.
Interromper a gestação antes que seja possível que o organismo possua geração e condução de potenciais sinápticos não é o mesmo que matar um ser humano. E, veja bem, o que se quer é o direito de interromper a gestação em um estágio tal que dá ampla margem de segurança, visto que mata-se, para fins alimentares, organismos com cérebro totalmente formado, sencientes, conscientes e capazes de se manter na natureza, ou seja, tem-se um respeito absoluto pela vida HUMANA.
E eugenia é uma coisa, o que se defende com a legalização do aborto é outra completamente diferente. Dizer que ao se aceitar o aborto deve-se conviver com a eugenia é grosseiro ao extremo. Eugenia é política de estado, aborto é opção pessoal.