Autor Tópico: Liberalismo  (Lida 25255 vezes)

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Offline JJ

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Re:Liberalismo
« Resposta #325 Online: 20 de Maio de 2018, 20:35:26 »
Redução do papel do Estado na economia sempre foi mito


Apesar de todas as manchetes sobre a volta do Estado à economia, ele nunca se retirou, e os EUA são o maior exemplo disso, afirma Linda Weiss, especialista em desenvolvimento e professora do Departamento de Governo e Relações Internacionais da Universidade de Sydney (Austrália).


Por Claudia Anutes, na Folha de S. Paulo


Weiss cita especificamente a política de inovação tecnológica americana, organizada por meio de encomendas da área militar do governo, como exemplo do que chama de "ativismo estatal" que nunca diminuiu nas economias mais ricas.


Weiss afirma que a China está adaptando o modelo americano para começar a produzir tecnologias próprias, e sugere que o Brasil estude o exemplo. Ela deu entrevista à Folha depois de participar, no Rio de Janeiro, de seminário no Instituto de Economia da UFRJ sobre Reposicionamentos Estratégicos, Políticas e Inovação em Tempo de Crise. Abaixo, os principais trechos.


FOLHA - A senhora diz que não é possível falar em volta do Estado à economia porque ele nunca foi embora. Pode explicar?


LINDA WEISS - A ideia predominante no debate sobre a globalização e a sua relação com as opções de política econômica é que o Estado foi posto numa camisa de força e recuou da economia.


Fez isso para atrair investimentos num mundo de capitais móveis. O melhor governo é o que reduz impostos e regulações. O Estado atua nas margens da economia, sem presença ativa e muito menos desenvolvimentista. Contesto essa ideia olhando para o que os Estados mais poderosos vêm fazendo.


FOLHA - E quais são os principais exemplos?


WEISS - O primeiro é o paradoxo de que a desregulamentação requer rerregulamentação. Por exemplo, o governo privatiza, mas acaba se tornando muito ativo na arena regulatória, criando agências.

Isso de certo modo aumentou o envolvimento do Estado, sem necessariamente passar pelas autoridades executivas, que têm que responder ao eleitorado.


FOLHA - Mas, no mercado financeiro, houve menos regulamentação, não?


WEISS - Houve uma opção por não regulamentar. Foi uma opção movida a razões nacionalistas, porque tanto o Reino Unido quanto os EUA viam o setor financeiro como o que liderava a projeção do seu poder na arena econômica internacional.

Com Wall Street de um lado e a City do outro, para eles fazia sentido ser liberais.

O Japão fez o mesmo, de modo diferente. Ao desregulamentarem o setor financeiro, os burocratas quiseram manter sua presença e escreveram as regras com esse objetivo, sem permitir mais autorregulamentação.

Além disso, há uma forma de ativismo que é a intervenção recorrente do Estado para resgatar o sistema bancário em crises. O que vemos hoje não é excepcional, é parte do padrão da internacionalização das finanças nos últimos 200 anos.


FOLHA - Que outros exemplos a senhora reuniu?


WEISS - Um fundamental é no campo da inovação e da tecnologia. Na OMC (Organização Mundial do Comércio), os Estados líderes escreveram normas que lhes dão margem para promover sua indústria nascente, ao mesmo tempo em que reduziram essa margem para países em desenvolvimento.


As regras da OMC permitem políticas de subsídio à ciência e tecnologia, que é a forma da indústria nascente nas chamadas economias de conhecimento intensivo.
Você vê intervenções muito focadas dos governos dos Estados Unidos, da Europa e do Japão no setor de alta tecnologia, incluindo comunicação e informação, novos materiais, novas energias. São áreas vistas como plataformas de sua prosperidade futura.


FOLHA - Como a senhora compararia o ativismo estatal nos EUA e na Europa com o na Ásia?


WEISS - Eu diria que o ativismo asiático está acima do radar, os países da região não se envergonham de mostrar que têm política industrial. As populações também apoiam o uso do poder do Estado na economia. No caso dos EUA, não há consenso sobre o ativismo estatal. Então, ele aparece abaixo do radar. A área que explica de onde vieram as inovações nos EUA, país que é líder em alta tecnologia, é a máquina de encomendas ligada ao setor militar.


Os EUA construíram um sistema formidável de inovação baseado no fato de responderem por 50% dos gastos militares mundiais. Dessa forma existe apoio popular e político, porque a linguagem usada é a da segurança nacional. Esse sistema de encomendas públicas de inovações é tão importante que os europeus agora estão vendo como podem adaptar a seu próprio setor civil. A China está fazendo a mesma coisa.


FOLHA - Como a China está seguindo o exemplo dos EUA?


WEISS - A China, por exemplo, quer desenvolver sua própria indústria de software e está usando encomendas de tecnologia para isso. Ela está definindo o que é uma empresa chinesa com base no "Buy American" [cláusula do pacote de estímulo econômico aprovado nos EUA no início deste ano].


Para o "Buy American", uma empresa americana tem pelo menos 50% de capital americano, está baseada nos EUA e usa trabalhadores americanos. Essa é a definição que os chineses estão usando em sua estratégia de compras governamentais, com o objetivo de construir sua própria indústria de alta tecnologia. [No Brasil, a emenda constitucional nº 6 acabou em 1995 com a distinção entre empresas de capital nacional e capital estrangeiro].


FOLHA - Apesar do ativismo estatal, o Estado de bem-estar social diminuiu?


WEISS - Quando olhamos os números da OCDE [Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, que reúne cerca de 30 países industrializados], vemos que o Estado previdenciário na verdade cresceu.


O gasto total aumentou em média de 26% para 40% do PIB entre 1965 e 2006. E o componente social desse gasto aumentou de 15% para 22% em 30 anos. Houve reestruturações no destino do dinheiro, mas não declínio.


FOL
HA - Mas o Estado como produtor recuou, não?

WEISS - Sim, claro. Mas é enganoso ver isso como enfraquecimento do Estado. Quando os serviços eram públicos, qual era o papel do Estado, afinal?
Mandar contas de luz e gás?

Não era exatamente um ator no sentido do desenvolvimento.


FOLHA - A resistência que vemos hoje nos EUA ao envolvimento estatal com o sistema de saúde não é paradoxal?


WEISS - Esse debate mostra que o sistema político americano não legitima um programa civil de tecnologia. O Programa de Tecnologia Avançada, civil, teve vida curta no governo Clinton [1993-2001] e recentemente perdeu seu orçamento.


É principalmente por meio do setor militar que são criadas estruturas híbridas, agências com função de investimento e que não são nem puramente públicas nem privadas em seu comportamento. Elas fazem essas encomendas de alta tecnologia.


FOLHA - E como os produtos chegam ao mercado civil?


WEISS - Não há uma cerca entre a Defesa e o setor civil. A CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA), por exemplo, tem seu próprio fundo de investimento e assume participações em empresas privadas. Financia tecnologia que é usada para objetivos militares, mas também tem que ser viável comercialmente.


FOLHA - Que observações a senhora fez sobre a posição do Brasil nesse debate?


WEISS - Foi interessante ouvir outro dia que a política industrial brasileira tem dois pontos problemáticos: a falta de uma política agressiva para a exportação de manufaturados e a política de compras governamentais, que não teria decolado.


Sugiro trazer o caso americano para debate no Brasil. As compras governamentais são um instrumento poderoso de desenvolvimento. O importante é separar as compras ordinárias, como papel e mobília, das encomendas de tecnologia, de algo que ainda não existe.


Nisso você estabelece uma competição entre quem pode produzir tal coisa e como o Estado pode ajudar. Não é só o governo dizendo como deve ser, mas há uma interação.
De um só programa americano, o Small Business Innovation Research Program, de onde vieram nomes como a Microsoft, centenas de firmas receberam financiamento. Não são somas grandes, poderiam ser US$ 750 mil, por exemplo, para levar a tecnologia da fase da ideia na cabeça ao protótipo.


O programa foi lançado em 1982, quando nos EUA temia-se perder a corrida tecnológica para Japão e Alemanha, e envolve muitas agências governamentais, incluindo o Instituto Nacional de Saúde -que faz encomendas ao setor farmacêutico e de biotecnologia-, a Nasa e a Defesa.


http://www.bresserpereira.org.br/view.asp?cod=3546



« Última modificação: 20 de Maio de 2018, 20:40:26 por JJ »

Offline JJ

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Re:Liberalismo
« Resposta #326 Online: 20 de Maio de 2018, 20:41:35 »

Destacando:


"A área que explica de onde vieram as inovações nos EUA, país que é líder em alta tecnologia, é a máquina de encomendas ligada ao setor militar."

Offline JJ

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Re:Liberalismo
« Resposta #327 Online: 20 de Maio de 2018, 20:54:20 »
E aqui um exemplo (entre muitos possíveis) onde bilhões de dólares do Estado americano interferem na economia e incentivam empresas de alta tecnologia:



SpaceX lança satélite espião para o governo dos EUA



O satélite NROL-76 foi colocado no espaço na manhã desta segunda-feira, após ter seu lançamento adiado por conta de um problema no sensor do foguete
Por Da redação access_time 2 maio 2017, 10h50 more_horiz



Foguete da SpaceX Falcon 9 durante lançamento no Cabo Canaveral, Flórida - 01/04/2017 (Joe Raedle/AFP)


A empresa americana SpaceX lançou ao espaço nesta segunda-feira um foguete Falcon 9, que colocará em órbita um satélite a serviço do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. O lançamento, que havia sido suspenso de última hora no domingo devido a um “problema no sensor”, ocorreu às 7h15 local (8h15, em Brasília) da manhã seguinte, em Cabo Cañaveral, localizado na Flórida, nos Estados Unidos.


O foguete carrega um satélite espião NROL-76, que será colocado em órbita a serviço do Escritório Nacional de Reconhecimento dos Estados Unidos (NRO, na sigla em inglês), um projeto que tem, entre outros objetivos, detectar “potenciais ameaças à segurança” dos Estados Unidos, “acompanhar terroristas” e “controlar de desenvolvimento de armas nucleares”, segundo o canal local WFTV9.



Aproximadamente 10 minutos depois do lançamento, a parte principal do foguete, que inclui os propulsores, retornou à Terra e aterrissou na base de Cabo Cañaveral. “A primeira fase do foguete tocou a superfície na Zona de Aterrissagem 1. Outro excelente dia para a SpaceX, foi algo bonito de se ver”, expressou o narrador na transmissão ao vivo de toda a operação”, disse o narrador durante a transmissão ao vivo do evento. A SpaceX já realizou várias experiências bem-sucedidas com lançamento de foguetes que retornam à Terra depois de lançar sua carga em órbita.


Carga secreta


Quanto ao satélite espião NROL-76, pouco se sabe. “Como um assunto de política e devido a sua classificação, o NRO não fornece informações sobre nossos contratos”, disse uma porta-voz da SpaceX à AFP.


Até agora, os Estados Unidos destinavam bilhões de dólares por ano à United Launch Alliance (ULA, na sigla em inglês), uma operação conjunta com os construtores de aeronaves Boeing e Lockheed Martin, para lançar os satélites do governo. Em 2014, a SpaceX criticou o fato de a Força Aérea americana empregar apenas a ULA, argumentando que confiavam em apenas uma empresa para lançamentos relacionados à segurança nacional.


A SpaceX foi contratada para enviar o NROL-76 “depois de uma concorrência”, disse a porta-voz da NRO, ressaltando não saber quando o contrato foi concedido. A companhia faz lançamentos regulares de naves não tripuladas rumo à Estação Espacial Internacional (ISS) e desenvolve uma cápsula que poderá levar pessoas à órbita no próximo ano.


O lançamento de uma carga militar secreta representa uma nova fase em contratos entre empresas privadas e o Pentágono. A SpaceX também tem contratos já fechados com a Força Aérea americana para lançamento e colocação de satélites de GPS na órbita terrestre.


https://veja.abril.com.br/ciencia/spacex-lanca-satelite-espiao-para-o-governo-dos-eua/



Offline JJ

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Re:Liberalismo
« Resposta #328 Online: 23 de Maio de 2018, 12:14:25 »
SPACEX, A MÃO BEM VISÍVEL DO ESTADO: US$ 5 BILHÕES SÓ EM SUBSÍDIO


O êxito da SpaceX não se deve apenas à iniciativa privada. Veja os detalhes governamentais por trás dos foguetes de Elon Musk.

Por Ricardo J. Camera  Última Atualização 12 de maio de 2018


A empresa privada de exploração espacial SpaceX, que invadiu os noticiários no dia 6 de fevereiro de 2018, lançou o foguete mais potente em operação, o Falcon Heavy [1]. Imediatamente os jornalistas e economistas liberais ovacionaram a SpaceX [2], a qual, supostamente, simboliza como o setor privado desponta sem as ingerências estatais. Ocorre, simplesmente, que isso não é verdade. Este pequeno artigo objetiva desmentir as falácias e simplismos em torno dessa questão.


Desta, é essencial conhecer o Henry Ford do século XXI, ou talvez, o Tony Stark da vida real. Elon Musk, fundador e CEO da SpaceX, visionário da colonização de Marte e uso das energias renováveis, nasceu na África do Sul. Desde novo, escrevia códigos de programação, e aos 17 anos mudou-se para o Canadá, onde estudou na Queen’s University. Dois anos mais tarde, com ideais empreendedores, mudou-se para os Estados Unidos. Cursou Física e Negócios na University of Pennsylvania. Logo depois, deixou o doutorado em Stanford para desenvolver startups do mundo digital. No final dos anos 1990, embolsou 307 milhões de dólares na venda de sua primeira empresa. Deste modo pôde criar a X.com, uma empresa de pagamentos online, que se fundiu com a Confinity, originando a PayPal. Em 2002, Elon Musk vende a PayPal à Ebay por 1,5 bilhão de dólares (SEEDHOUSE, 2013). Assim, com capacidade própria de investimento, crédito bancário a juros de 1,75% ao ano [3], venture capital abundante, acúmulo nacional de tecnologias e a organização e financiamento direto do governo dos Estados Unidos, surge a SpaceX.


Haja vista que esta discussão ocorre no âmbito do capitalismo e, portanto, sujeita às disputas de interpretação ideológica/teórica da economia política (GILPIN, 2002), a reação instintiva dos meios de comunicação de massa e dos politicólogos liberais (mainstream) apontam para a “liberdade econômica” como princípio e motivo do sucesso da SpaceX. Porque liberdade, nesses termos — quase determinista —, reduz a totalidade das relações sociais às leis do mercado e seu individualismo metodológico, de modo que a interferência do Estado Nacional é desnecessária, ou deve ser feita o mínimo possível, como afirmava Hayek (SAYAD, 2015; PRZEWORSKI, 1993). Dito isso, a primeira parte do artigo abordará, resumidamente, a questão histórica dessa matéria. Logo em seguida, retorna-se à elucidação do caso SpaceX.


A Longa Manus do Estado


Charles Bolden, da NASA, foi um aliado permanente da SpaceX durante todo o seu cargo. Fonte: Without NASA there would be no SpaceX and its brilliant boat landing.

Consequentemente, nos artigos A Sonda Voyager-1 invalida o discurso neoliberal de Meirelles e Governança Global e Hegemonia dos Estados Unidos, elucidou-se sobre o histórico do desenvolvimento americano moderno (eixo anglo-saxão), o qual está atrelado às decisões de Estado, tomadas no âmbito da 1ª e 2ª Guerra Mundial, bem como à geopolítica praticada ao longo e após a Guerra Fria. Com efeito, a competição interestatal na geopolítica internacional soldou os interesses do capital privado dos Estados Unidos com suas estratégias de disputa por poder por mercados e por territórios abundantes em matéria prima. Não é à toa que a institucionalidade estadunidense é postulada na triangulação entre a intenção direta dos governos de fomentar parques industriais privados (mission oriented — protegidos por patentes e embargos nacionais), os institutos públicos e privados de pesquisa, e universidades; estes, por sua vez, combinados com as encomendas governamentais — NASA, DARPA, NSA, Departamento de Defesa. (WHALLEN, 2014; CGEE, 2013). Dessa forma (resumidamente) originaram-se as grandes tecnologias do século XX e XXI, como produto e subproduto dessa intrincada teia. (GUIMARÃES, 1999).


Contudo, no setor aeroespacial, dominado pelos oligopólios americanos da Boeing, Loockheed Martins e Raytheon (grandes fornecedoras do governo e protegidas pelas políticas industriais), entre outras do ramo, historicamente competem com o poderio russo, chinês e europeu; de modo que se tornou financeiramente mais conveniente lançar os satélites americanos por meio dos lançadores russos, por exemplo. Além disso, desde 2004, o governo Bush decidiu segurar seu programa espacial até 2010, principalmente após o acidente do ônibus espacial Columbia, em 2003. Procurou-se, do mesmo modo, atualizar as diretrizes e tecnologias, em vista de revisar o papel que a NASA cumpriria no século XXI, e reerguer a hegemonia aeroespacial americana. Todavia, devido a atrasos, questões orçamentárias e afins, os Estados Unidos vêm dependendo da Roscosmos, agência espacial russa, para fazer o translado de seus astronautas entre a Estação Espacial Internacional e a Terra (NASA.GOV, 2012). O governo Obama, por outro lado, percebendo que o investimento neste setor é capaz de gerar grande desenvolvimento, crescimento econômico e empregos, e que a independência e poderio estadunidense deve ser assegurado nesse setor, reverteu, portanto, a morosidade anterior por meio de mudanças estruturais no portfólio da NASA. Só o programa Apollo (1961–1975), por exemplo, custou em valores atualizados 150 bilhões de dólares, e empregou 300 mil pessoas, daí a importância do investimento neste complexo. (SEEDHOUSE, 2013).


Se, historicamente, desde 1950, a NASA tem parceria sólida com o complexo industrial privado — cuja formação se deu justamente por causa dela (NASA, 2012), e cuja estratégia governamental operava essas grandes empresas privadas como instrumento de projeção nacional (FURTADO, 1978) — contemporaneamente, esse modelo político e econômico opera de modo semelhante. Eis que empresas como a Boeing, ou a SpaceX, entram no tabuleiro.


O Xadrez Espacial


A reestruturação da NASA, desde 2006, previu projetos como o Commercial Crew Program [Programa de Tripulação Comercial] — por meio do qual o foguete Falcon Heavy, da SpaceX, foi desenvolvido —, o Commercial Orbital Transportation Services program [Programa de Serviço de Transporte Orbital Comercial], o Commercial Crew & Cargo Program Office [Escritório de Tripulação Comercial e Programa de Cargueiro], o Commercial Crew Integrated Capability [Capacidade integrada de Tribulação Comercial], o Certification Products Contract [Contrato de Certificação de Produto].


Engenheiros da NASA e especialistas aeroespaciais trabalham junto às companhias para desenvolver sistemas de transporte de tripulação que podem, de modo seguro, confiável e de custo compatível, levar humanos a órbita baixa, incluindo a Estação Espacial Internacional, e retornar com segurança para a Terra […] (NASA, 2012).


Companhias interessadas estão livres para desenvolver os sistemas de transporte que elas pensem ser melhores para o serviço. Para as fases de contrato de desenvolvimento e certificação, cada companhia deve cumprir com o pré-requisitos da NASA […] (NASA, 2012).


A parceria permite aos engenheiros da NASA acompanhar o processo de desenvolvimento da companhia enquanto a expertise técnica da agência e recursos estão acessíveis à companhia […] (NASA, 2012).


A SpaceX é integrante do CCDev2, CCiCap, CPC e CCtCap, ou seja, as principais fases dos projetos, orçando, no caso desta empresa, 3,144 bilhões de dólares (NASA, 2012). Além disso, a SpaceX obteve valores superiores a 5,5 bilhões de dólares em contratos com as Forças Armadas e NASA (totalizando US$12 bilhões); bem como 4,9 bilhões de dólares somente em subsídios governamentais (NASA, 2012). Mark Spiegel, gerente do fundo de investimento Stanphyl Capital Patners, foi categórico: o suporte do governo é o escopo das empresas, de modo que sem ele, nada disso seria possível[4].



Num dos contratos de licitação entre a NASA e a SpaceX[5], não apenas as cláusulas secretas são flagrantes, mas as leis de segredo e embargo comercial da tecnologia e avionics estão dispostas, o que significa que a SpaceX não pode vender os segredos tecnológicos estadunidenses às empresas e países estrangeiros.


Cláusulas que estão sob segredo de Estado no contrato NASA-SpaceX


Também está previsto por contrato que as empresas terão acesso a todo o histórico e acúmulo tecnológicos da NASA, bem como à sua equipe técnica e gerencial. O Governo Federal, por seu turno, não apenas terá acesso aos projetos e instalações da empresa, como também arbitrará prazos, diretrizes, requisitos e os objetivos que os projetos seguirão (NASA, 2012).Tanto é que o próprio Elon Musk admitiu que o governo Americano não permite a contratação de mão de obra estrangeira para o complexo industrial da defesa, com medo da espionagem industrial


Para constar, essas questões de embargos significam na prática que os Estados Unidos podem barrar o intercâmbio comercial de produtos que tenham componentes tecnológicos de patente estadunidense, por meio do Arms Export Control Act e Export Administration Act [6]. Para exemplificar, observa-se o caso da Força Aérea Brasileira quando, em 2006, teve sua venda de 36 caças Super Tucanos para a Venezuela embargada pelos Estados Unidos, haja vista a tecnologia aviônica que os aviões utilizam, sobre a qual o Brasil é dependente [7]. Ou seja, o poder de arbítrio estadunidense transcende suas fronteiras.


A nova abordagem da NASA para a aquisição de serviços de transporte é uma extensão das políticas do governo dos Estados Unidos, o qual desencoraja a competição direta do governo com a indústria de manufatura ou prestadores de serviço do setor privado. Todavia, é claro que essa abordagem é possível apenas por causa dos investimentos anteriores feitos pela NASA e Departamento de Defesa, realizados ao longo de décadas de desenvolvimentos de sistemas de veículos de lançamento, processamento, tecnologias afins e componentes […] (NASA, 2012).


Conclusão


Essas informações são públicas. Elas estão presentes tanto nas bibliografias especializadas como nos arquivos oficiais de governos. Ao elucidar e sistematizar os detalhes, é perceptível como as decisões de Estado, referentes ao poder nacional, sua administração pública e a competição geopolítica e econômica internacional, está, por sua vez, organicamente atrelada aos capitais privados nacionais. É como se o Estado instrumentalizasse a empresa privada em detrimento de seus objetivos, na medida em que o complexo industrial não apenas lucra nesse processo, mas tem seus agentes permeando as decisões de governo, e vice-versa…


Como se constatou neste artigo, a SpaceX é um exemplo concreto de como funciona o capitalismo dos países desenvolvidos, em especial, o modus operandi da governança dos Estados Unidos. A SpaceX não é fruto (apenas e tão somente) da mente genial de Elon Musk, mas também da histórica estrutura política, tecnológica e econômica que o rodeia. Resta saber se os folhetins grosseiros e simplificados de liberalismo que vêm se espalhando pelo Brasil continuarão ignorando os fatos apresentados.


Referências:


[1] G1 – Falcon Heavy: por que o lançamento do foguete mais potente do mundo pela Space X é importante.
[2] Gazeta do Povo – LANÇAMENTO DA SPACEX, DE ELON MUSK, MOSTRA ABISMO ENTRE INICIATIVA PRIVADA E ESTADO.
[3] BBC – Fed mantém taxa de juros nos EUA.
[4] LA Times – Elon Musk’s growing empire is fueled by $4.9 billion in government subsidies.
[5] NASA – SpaceX Commercial Crew Transportation Capability Contract (CCtCap).
[6] U.S. Government – Overview of U.S. Export Control System.
[7] Geopolítica Brasileira e Relações Internacionais, Thiago Bonfada de Carvalho, 2010, FUNAG. Pg.58.

Bibliografia:

CARVALHO, Thiago Bonfada de. Geopolítica Brasileira e Relações Internacionais. Brasília, FUNAG, 2010.
CENTRO DE GESTÃO E ESTUDOS ESTRATÉGICOS. Dimensões Estratégicas do Desenvolvimento Brasileiro: As Fronteiras do conhecimento e da inovação: oportunidades, restrições e alternativas estratégicas para o Brasil. v.2, Brasília, DF, 2013.
FURTADO, Celso. A Hegemonia dos Estados Unidos e o Subdesenvolvimento da América Latina. 3ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
GILPIN, Robert. A Economia Política das Relações Internacionais. 1ª ed. Brasília. Universidade de Brasília, 2002.
GUIMARÃES, Samuel Pinheiro. 500 anos de Periferia – Uma contribuição ao estudo da política internacional. Porto Alegre: Ed. da Universidade, 1999.
HIRSCH, Jerry. http://www.latimes.com/business/la-fi-hy-musk-subsidies-20150531-story.html, Los Angeles, 2015.
NASA. Commercial Orbital Transportation Services – A New Era in Spaceflight, Rebecca Hackler, National Aeronautics and Space Administration Washington, DC, 2014.
NASA. NASA’s Strategic Direction and the Need for a National Consensus. THE NATIONAL ACADEMIES PRESS, Washington, D.C. 2012.
GUIMARÃES, Samuel Pinheiro. 500 anos de Periferia – Uma contribuição ao estudo da política internacional. Porto Alegre: Ed. da Universidade, 1999.
SAYAD, João. Dinheiro, dinheiro: inflação, desemprego, crises financeiras e bancos / João Sayad. 1a ed. São Paulo: Porfolio Penguin, 2015.
SEEDHOUSE, E. SpaceX: Making Commercial Spaceflight a Reality, Springer, New York, 2013.
SPACEX Commercial Crew Transportation Capability Contract (CCtCap) NNK14MA74C.
TAVARES, M.C. e Fiori, J.L. (1997) Poder e dinheiro, uma economia política da globalização. Petrópolis, Editora Vozes.
WHALEN, David J. The Origins of Satellite Communications, 1945-1965 (Smithsonian History of Aviation and Spaceflight Series), 2014.
« Última modificação: 23 de Maio de 2018, 12:21:58 por JJ »

Offline JJ

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Re:Liberalismo
« Resposta #329 Online: 23 de Maio de 2018, 12:17:48 »



Informações bastante interessantes,   que os novos  liberais brasileiros  ou não  sabem e são mesmo uns ignorantes, ou  omitem de forma conveniente.





Offline JJ

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Re:Liberalismo
« Resposta #330 Online: 23 de Maio de 2018, 12:20:26 »

Os Estados Unidos tem é muita e muita presença do  Estado  incentivando, investindo e interferindo direta e/ou  indiretamente  na economia e na ciência e tecnologia.


Muitos liberais brasileiros que negam isso ou são ignorantes ou são mentirosos.



« Última modificação: 23 de Maio de 2018, 13:47:21 por JJ »

Offline Gaúcho

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Re:Liberalismo
« Resposta #331 Online: 23 de Maio de 2018, 18:05:01 »
Bla bla bla. EUA continuam sendo uma das 20 economias mais livres do mundo.
"— A democracia em uma sociedade livre exige que os governados saibam o que fazem os governantes, mesmo quando estes buscam agir protegidos pelas sombras." Sérgio Moro

Offline JJ

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« Resposta #332 Online: 24 de Maio de 2018, 14:24:14 »

Carteis, postos e preços da gasolina - de quem realmente é a culpa pela forte alta?


Eis o fato: há muito governo na nossa gasolina


Os comentários irônicos seguiram todos na mesma linha: "Não me diga!"; "Só indícios?"; "Descobriu a América!" — tudo no sentido de fazer galhofa com a epifania dos órgãos públicos diante de algo que não seria novidade para ninguém.


De fato, é notório que o preço dos derivados do petróleo em nosso país varia muito pouco dentro da mesma unidade geográfica. Mais: os reajustes costumam ser aplicados de forma síncrona.


Tudo isso, inevitavelmente, induz o brasileiro médio a apressadamente concluir que tais fenômenos — ínfima diferença de preços e reajustes simultâneos — só ocorrem porque os proprietários dos postos burlam o sistema de concorrência e fazem um cartel entre eles, tabelando os valores a serem cobrados. Tal arranjo ímprobo entre eles ocorre, obviamente, em prejuízo aos consumidores.


O que nos leva à seguinte elucubração: ora, se esses comerciantes conseguem garantir maiores faturamentos por meio deste expediente (combinando preços), é de se imaginar que assim procedam também, por exemplo, os donos de padarias, mercados, armazéns e restaurantes — enfim, todos aqueles que comercializam produtos similares dentro do ramo alimentício. Correto?


Discordar desta hipótese equivaleria a afirmar que, por uma inexplicável coincidência, os empresários daquela atividade econômica em especial costumam ser menos honestos que todos os demais. Será que o odor de benzeno nos estabelecimentos onde abastecemos o carro perturba a moral dos indivíduos?


O que impediria quaisquer empreendedores de um mesmo setor da economia de adotar o mesmo suposto estratagema dos donos de postos de combustíveis — quem sabe até mesmo formando um grupo no Whatsapp e combinando que, a partir de amanhã, elevarão o preço de um determinado rol de produtos ou serviços em 10%?


Não é este o cenário que observamos, por certo.


As reais causas


Há duas explicações para esse comportamento dos preços praticados pelos postos de combustível.


A primeira — e mais importante — explicação para este fenômeno não está na ponta final do processo produtivo — a comercialização, a interação final com o cliente —, mas sim nas demais etapas do caminho que o petróleo percorre até chegar no seu tanque.


A cadeia produtiva dos combustíveis consiste basicamente de quatro estágios: exploração, refino, distribuição e, aí, sim, comercialização.


O problema que irá gerar, lá na frente, aquele aparente "comportamento desonesto" dos preços, encontra-se especialmente no segundo: a Petrobrás é dona de 13 das 17 refinarias do Brasil, respondendo por 98% do petróleo refinado (isto é, transformado em gasolina, diesel, etc.) no país.


O próprio presidente da Petrobras já veio a público confessar: "Não é bom para o País a Petrobras ter 100% de monopólio no refino".


E por que não há refinarias nacionais ou estrangeiras no país para concorrer com a Petrobras? Simples. Porque para abrir uma refinaria no país você tem de:


1) submeter-se a uma cornucópia de regulamentações impostas pela ANP, que regula tudo que diz respeito ao setor;


2) A ANP é uma burocracia enorme que possui, além de sua diretoria, uma secretaria executiva, 15 superintendências, 5 coordenadorias, 3 núcleos (Segurança Operacional, Fiscalização da Produção de Petróleo e Gás Natural, e Núcleo de Informática) e 3 centros (Relações com o Consumidor, Centro de Documentação e Informação, e Centro de Pesquisas e Análises Tecnológicas).


Montar uma refinaria significa ter de submeter a calhamaços regulatórios impostos por cada um desses departamentos, o que, por si só, já torna todo o processo financeiramente inviável.


3) Além da ANP, você tem de se submeter a calhamaços de regulamentações ambientais, trabalhistas e de segurança. O arranjo sempre foi montado exatamente para coibir a concorrência à Petrobras. Pode até ser que mude no futuro, mas não há qualquer indicação disso.


4) Além de tudo isso, estamos no Brasil, o que significa que você terá de "molhar a mão" de vários políticos e burocratas caso realmente queira conseguir alguma licença.


5) Finalmente, ainda que um empreendedor estivesse disposto a encarar tudo isso e realmente conseguisse abrir refinarias no país para concorrer com a Petrobras, o governo poderia simplesmente praticar política de controle de preços e reduzir artificialmente os preços cobrados pela Petrobras, o que garantiria a reserva de mercado da estatal e inviabilizaria todo o seu empreendimento, trazendo enormes prejuízos.


Essas são as consequências de se ter todo um setor controlado diretamente pelo estado: total insegurança jurídica.


Sendo assim, é simplesmente inviável surgirem novas refinarias.


Ou seja, como diria Carlos Drummond de Andrade, há uma pedra (o estado) no meio do caminho. Este monopólio estatal elimina a competição exatamente na fase de processamento, onde uma melhor produtividade (corte de custos e adoção de métodos mais eficazes) seria capaz de reduzir consideravelmente o preço final na bomba.


(Quanto à exploração, vale lembrar que o mercado nacional de petróleo ficou completamente fechado de 1953 a 1997, período em que a Petrobras deteve, por lei, o total monopólio do setor. A consequência inevitável é que, com a abertura do mercado após mais de 40 anos de monopólio, a Petrobras já havia se apossado das melhores reservas do país, não havendo espaço para a concorrência privada. Hoje, é quase que impossível alguém concorrer com a estatal. Embora o monopólio de jure não exista mais, o monopólio de fato continua praticamente intacto.)


Para se ter uma ideia mais clara do efeito nefasto deste obstáculo no meio da jornada, observe os aumentos registrados de julho de 2017 até o início de 2018 no preço da gasolina em cada um dos elos da cadeia econômica: nas refinarias, 30,03%[1]; nas distribuidoras, 19,24%; e nos postos, 16,78% (Fonte).


Ou seja, quanto mais a gasolina se afasta do governo e se aproxima do mercado, mais a concorrência vai fazendo seu "milagre": os postos repassaram, no período considerado, aproximadamente metade do aumento aplicado pela Petrobrás, o que reduziu de 22% para 14% a margem bruta média, percentual ainda pendente da quitação de custos como aluguel, água, luz e mão de obra.


E, considerando que, neste período, o governo mais que dobrou as alíquotas do PIS/COFINS sobre a gasolina, o repasse ocorrido nas bombas foi até baixo.


Os postos, obviamente, tiveram de segurar os repasses para espantar a clientela o mínimo possível (coisa que não tira o sono de gestores governamentais nem por um segundo). No entanto, os consumidores, naturalmente, direcionam sua indignação para aqueles com quem negociam diretamente.


Percebam que aí reside o porquê do reajuste simultâneo: as refinarias estatais, por dominarem quase 100% do refino, controlam uma espécie de "gatilho" do sistema de preços, que é repassado a partir de seu disparo — o que não ocorreria se diversos fornecedores diferentes atuassem concomitantemente, como é a regra na maioria dos setores da economia. Mas como vem tudo da mesma fonte, é de se esperar que o efeito se alastre de maneira uniforme.


E a interferência estatal na composição final do preço dos combustíveis não acaba por aí: além da forte participação da Petrobrás na exploração e, principalmente, no refino do petróleo, há pesadas regulamentações estatais tanto na distribuição quanto na comercialização, onerando os investimentos necessários para empreender na área e, consequentemente, formando oligopólios nestas atividades (leia-se: nicho concentrado nas mãos de poucos).


O que nos leva à segunda causa para o comportamento dos preços: sim, o setor de postos de combustível funciona, na prática, como uma reserva de mercado.


As pesadas regulamentações da ANP, além de tornarem proibitivo o surgimento de qualquer empresa que queira prospectar petróleo aqui no Brasil e nos vender, também garantem esse oligopólio do setor de postos de combustível. Como explicado neste artigo:


Não há nenhuma liberdade de entrada para qualquer concorrência neste ramo [postos de combustível].


Tente você abrir um posto de gasolina. Além de todas as imposições da ANP e de todos os papeis, taxas, cobranças, cartórios, filas, carimbos, licenças e encargos, há ainda toda uma cornucópia de regulamentações ambientais, trabalhistas e de segurança que fazem com que abrir um posto de combustíveis seja uma atividade quase que restrita aos ricos (ou a pessoas que possuem contatos junto ao governo).


Livre concorrência nesta área nunca existiu. Você só consegue se tornar dono de um posto de gasolina se o seu atual dono lhe passar o ponto. Apenas veja na sua própria cidade. Qual foi a última vez que você viu um posto de gasolina ser aberto em uma nova localidade? Praticamente nenhum posto quebra e nenhum posto novo surge.


E piora. Desde o ano 2000, há uma lei federal que proíbe a instalação de sistemas de autoatendimento nos postos de gasolina, como já ocorre em praticamente todos os países de primeiro mundo. Tanto na Europa quanto nos EUA não existem frentistas. No Brasil, o governo tornou essa profissão obrigatória (assim como trocador de ônibus), o que só encarece os custos de se ter um posto de combustível.


E, antes de lamentar pelo emprego dos frentistas, lembre-se da lição de Frédéric Bastiat: mais dinheiro sobrando no bolso de quem compra gasolina (quase todo mundo) significa mais consumo em outros segmentos, nos quais estas oportunidades de trabalho serão recuperadas (e este remanejo ocorrerá de forma tão menos traumática quanto mais flexível for a legislação trabalhista).


Conclusão


A Petrobras detém o monopólio do refino de petróleo, o que a permite estipular preços sem concorrência interna. Adicionalmente, os postos de combustível atuam em um setor fortemente regulado pelo governo: de um lado, as regulamentações restringem o surgimento da concorrência, o que é bom para os postos já estabelecidos; de outro, elas geram vários custos operacionais extremamente altos, o que é ruim para os postos.


Ambos os fatores empurram os preços para cima e, no final, quem é o real prejudicado é o consumidor.


Por isso, apontemos o dedo para os verdadeiros culpados pelo "cartel" do combustível: os governantes contrários à total abertura ao livre mercado desta atividade econômica, o que inclui a desregulamentação do setor de postos e a desestatização da Petrobrás (mas aí acabariam o aparelhamento e o loteamento de cargos para apadrinhados políticos).


Por fim, é o paroxismo da ironia o governo, o real protetor dos carteis, dizer que irá "combater os cartéis".


Retomando a manchete lá do início, é possível fazer uma releitura do enunciado levando em consideração o exposto aqui, propondo uma versão mais condizente com os fatos:


"Governo diz haver fortes indícios de manipulação de preços no setor, problema causado e mantido por ele mesmo"….


[1] A política do governo Dilma de congelar o preço dos combustíveis — obrigando a Petrobras a vender para as distribuidoras gasolina e diesel abaixo do preço pelo qual foram importados — destruiu o capital da estatal, causando um prejuízo de aproximadamente R$ 60 bilhões. (Valor este que é muito maior do que o desviado pela corrupção na estatal).


Para compensar este estrago e recompor o caixa da estatal, a atual diretoria da Petrobras teve de elevar os preços dos combustíveis, fazendo com que eles batessem recordes quase que diários. Esta é a causa dos seguidos aumentos observados nas refinarias.

___________________________________________________________ ____________________

Leia também:

Políticos erram e quem arca com as consequências somos nós

Há muito governo na nossa gasolina



https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2845




Offline Fernando Silva

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Re:Liberalismo
« Resposta #333 Online: 25 de Maio de 2018, 09:27:48 »
Citar
Em tempos de fact checking, tome nota:

1. Os juros da dívida não consomem metade do orçamento do governo federal.

2. Um salário de R$ 3.500 já é suficiente para colocar um brasileiro no topo da pirâmide social, entre os 10% mais ricos do país.

3. Não é possível criar riqueza apenas imprimindo dinheiro.

4. Não há socialismo na Escandinávia. Há o exato oposto: propriedade privada, livre comércio, rule of law e liberdades individuais. Segundo o Banco Mundial, a Dinamarca é o 3º país mais fácil do mundo para uma empresa privada fazer negócios (à frente dos Estados Unidos); a Noruega é o 8º, a Suécia é o 10º e a Finlândia é o 13º. O Brasil ocupa a posição 125 da lista. A Venezuela está em 188º - isto é socialismo.

5. O Brasil nunca esteve minimamente perto de ser um país "neoliberal". À exceção de Hungria e Polônia, há mais estatais em posse da União por aqui do que em qualquer outro país membro da OCDE, a organização que reúne as 35 nações que aceitam os princípios da economia de mercado (na lista estão todos os países da Escandinávia, a propósito).

6. Entre 2003 e 2015, os governos Lula e Dilma bancaram R$ 3,5 trilhões em subsídios para os empresários brasileiros, incríveis oito vezes mais do que governos "neoliberais" poderiam levantar se vendessem para a mesma iniciativa privada todas as 168 estatais e 109 subsidiárias (da União e dos estados) com potencial - especialmente legal - para serem privatizadas.

7. A ideia de que para um país enriquecer outro precisa empobrecer é uma espécie de terraplanismo na ciência econômica e já foi refutada há exatos 201 anos.

8. Entre 1994 e 2016, o Brasil viu o seu PIB per capita expandir 31%, enquanto a América Latina e o Caribe cresceram 37% e os demais países emergentes cresceram 152% no mesmo período. Os países membros da OCDE e os Estados Unidos, nações desenvolvidas, também exibiram um crescimento superior - de 42% e 46%, respectivamente. Ou seja: se o Brasil testemunhou um crescimento econômico nas últimas duas décadas, durante os governos de PSDB e PT, ele foi menor que a média mundial - e especialmente menor comparado aos países emergentes. Na prática nós perdemos uma janela de oportunidade.

9. De acordo com um estudo publicado por dois economistas do IPEA com um auditor da Receita Federal, a concentração de renda permaneceu estável no Brasil entre 2006 e 2012. Os autores concluíram que os coeficientes de Gini, usados para medir a desigualdade, alcançaram 0,696 (em 2006), 0,698 (em 2009) e 0,690 (em 2012). De acordo com outro estudo, feito pelo World Wealth and Income Database, a desigualdade de renda no Brasil não caiu entre 2001 e 2015. Na verdade, os 10% mais ricos da população aumentaram sua fatia na renda nacional de 54% para 55%, enquanto os 50% mais pobres ampliaram sua participação de 11% para 12% no período. Na prática, o crescimento econômico visto no país não surtiu impacto na redução da desigualdade: ele foi capturado principalmente pelos 10% mais ricos, que ficaram com 61,3% desse crescimento no período, enquanto a metade mais pobre da população apreendeu apenas 21,8% desses ganhos.

10. Há inegavelmente um rombo na previdência social brasileira. E ele aumenta a nossa desigualdade. Considerando os últimos 15 anos, o déficit do sistema de previdência social do setor público somou R$ 1,3 trilhão para quase 1 milhão de pessoas, enquanto o déficit do INSS somou R$ 450 bilhões para 29 milhões de aposentados. Na prática, o gasto com 980 mil funcionários públicos é igual ao de todo o INSS. Vale destacar que o gasto com previdência no Brasil não é apenas o mais alto entre os países de população jovem, nós também gastamos mais que o dobro de países desenvolvidos com a previdência dos funcionários públicos. Esta é uma bomba-relógio que estourará mais cedo ou mais tarde no seu colo. E há uma boa chance de você ainda não ter sido bem informado sobre isso.
https://www.facebook.com/operfildorodrigo/posts/10155857002606596

Offline JJ

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Re:Liberalismo
« Resposta #334 Online: 25 de Maio de 2018, 10:17:40 »



4. Não há socialismo na Escandinávia. Há o exato oposto: propriedade privada, livre comércio, rule of law e liberdades individuais. Segundo o Banco Mundial, a Dinamarca é o 3º país mais fácil do mundo para uma empresa privada fazer negócios (à frente dos Estados Unidos); a Noruega é o 8º, a Suécia é o 10º e a Finlândia é o 13º. O Brasil ocupa a posição 125 da lista. A Venezuela está em 188º - isto é socialismo.





Os 10 países onde mais se paga imposto de renda


Com taxa de 27,5%, Brasil é o 55º entre 96 países observados pela KPMG
Por Beatriz Olivon access_time 13 set 2016, 16h23 - Publicado em 26 out 2012, 11h29


https://exame.abril.com.br/economia/os-dez-paises-onde-mais-se-paga-imposto-de-renda/


3. 3. Dinamarca – 55,4%

9. 9. Finlândia – 49,2%


Suécia 58,2 %

Muitos brasileiros acham que é o nosso, mas a Suécia é o país onde a alíquota máxima do imposto de renda (IR) para pessoa física é a mais alta do mundo. Os suecos que ganham bem entregam para o governo até 58,2% dos seus rendimentos. No Brasil a taxa máxima está em 27,5%, um patamar baixo se comparado ao de nações desenvolvidas e, até mesmo, de países vizinhos como o Chile (45%).


https://mundoestranho.abril.com.br/cultura/qual-e-o-imposto-de-renda-mais-caro-do-mundo/



Offline JJ

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Re:Liberalismo
« Resposta #335 Online: 25 de Maio de 2018, 10:24:42 »
Em tempos de fact checking, tome nota:

1. Os juros da dívida não consomem metade do orçamento do governo federal.



Juros e amortização da dívida consumirão 42% do orçamento da União em 2013



Enquanto aos servidores e aos aposentados restarão as sobras do orçamento, numa reposição que, aparentemente, não cobrirá sequer a inflação da primeira parcela, em 2013, questiona Maria Lúcia Fattorelli, Auditora Fiscal da Receita Federal*. Leia, a seguir, a íntegra da entrevista concedida a redação do Jornal do Judiciário.


Jornal do Judiciário: A PLOA de 2013 indica um valor de R$ 900 bilhões para pagamento dos juros da dívida e amortizações. Quanto isso significa em percentuais no valor total do Orçamento?


Maria Lúcia: Considerando que o valor total do Orçamento/2013 apresentado pelo Executivo é de R$ 2 trilhões e 140 bilhões, a parcela destinada ao pagamento de juros e amortizações da dívida deverá consumir nada menos que 42% de todos os valores arrecadados com tributos e com a emissão de novos títulos da dívida. Em 2011, os juros e amortizações da dívida consumiram R$ 705 bilhões. Em 2012, até a presente data (11/10/2012), já foram efetivamente pagos R$ 707 bilhões em juros e amortizações da dívida, ou seja, em pouco mais de 10 meses já superamos o gasto total do ano passado, conforme demonstra o quadro abaixo.


A crescente destinação de recursos para a dívida decorre do fato de que estamos emitindo dívida para pagar juros. É por isso que apesar dos volumosos pagamentos a dívida não para de crescer: no primeiro semestre de 2012, a dívida interna alcançou R$ 2,74 trilhões e a Externa US$ 416 bilhões. Somadas, já superam 3 trilhões e meio de reais. E o mais grave é que tal dívida nunca foi auditada, como manda a Constituição, e a recente CPI da Dívida Pública [1] revelou diversos indícios de ilegalidade e ilegitimidade dessas dívidas, cuja principal contrapartida tem sido a incidência de juros sobre juros e outros mecanismos meramente financeiros.

Além disso, existe um grave problema de contabilidade e transparência em relação aos gastos com a dívida. Dos R$ 900 bilhões do Orçamento/2013 reservados para o pagamento da dívida, o governo divulga que R$ 608 bilhões se referem ao chamado "refinanciamento" ou "rolagem", anunciados como se fossem referentes ao pagamento de amortizações (ou seja, ao principal) da dívida por meio da emissão de novos títulos da dívida.

Segundo analistas conservadores, o valor classificado sob a rubrica refinanciamento ou rolagem da dívida não deveria ser considerado como gasto, pois representaria apenas o pagamento do principal da dívida por meio da emissão de nova dívida (ou seja, uma mera troca de dívida velha por dívida nova).

Na realidade, as investigações técnicas realizadas pela recente CPI da Dívida Pública comprovaram que grande parte dos juros pagos tem sido apropriado indevidamente como se fosse "refinanciamento" ou "rolagem". Isso tem acontecido devido ao fracionamento indevido do montante dos juros nominais em duas partes: uma que corresponde à atualização monetária calculada de acordo com o IGP-M e outra que excede essa atualização, considerada como juros reais. Uma vez que, pela contabilidade oficial, a rubrica pagamento de juros contempla apenas os "juros reais", ou seja, os juros que excedem a atualização monetária medida pelo IGP-M, essa parcela dos juros nominais que corresponde à atualização monetária tem sido considerada como se fosse amortização ou rolagem.


Esse fracionamento dos juros e a classificação de grande parte dos juros como se fossem amortizações tem gerado uma grave distorção, porque, de acordo com a Constituição, despesas correntes como é o caso dos juros nominais não podem ser pagas mediante emissão de dívida. O texto constitucional visou prevenir o crescimento desenfreado da dívida decorrente da incidência de juros sobre juros. A partir do momento em que se contabiliza a atualização monetária como amortização ou refinanciamento, percebe-se uma clara burla a essa determinação constitucional. A dívida pública passa a crescer, então, de forma descontrolada, levando o governo a contingenciar o orçamento das áreas sociais.


Dessa forma, dentro daqueles R$ 608 bilhões está incluída grande parte dos juros nominais da dívida pública. É por isso que temos destinado quase a metade do orçamento anualmente para o pagamento de juros e amortizações e a dívida não para de crescer.



https://sintrajud-sp.jusbrasil.com.br/noticias/100124358/juros-e-amortizacao-da-divida-consumirao-42-do-orcamento-da-uniao-em-2013




Offline JJ

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« Resposta #336 Online: 25 de Maio de 2018, 10:26:12 »


Parece que uma parte da direita brasileira tem um forte compromisso com acobertar e proteger  o  mercado  financeiro e os banqueiros.



Offline Fernando Silva

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« Resposta #337 Online: 25 de Maio de 2018, 10:34:44 »
Parece que uma parte da direita brasileira tem um forte compromisso com acobertar e proteger  o  mercado  financeiro e os banqueiros.
Talvez porque se oponha a qualquer tentativa de controlar e estatizar a economia.

Talvez em reação à frase "O que é roubar um banco diante da fundação de um banco?"

Offline -Huxley-

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« Resposta #338 Online: 25 de Maio de 2018, 10:44:45 »
Em tempos de fact checking, tome nota:

1. Os juros da dívida não consomem metade do orçamento do governo federal.



Juros e amortização da dívida consumirão 42% do orçamento da União em 2013



Enquanto aos servidores e aos aposentados restarão as sobras do orçamento, numa reposição que, aparentemente, não cobrirá sequer a inflação da primeira parcela, em 2013, questiona Maria Lúcia Fattorelli, Auditora Fiscal da Receita Federal*. Leia, a seguir, a íntegra da entrevista concedida a redação do Jornal do Judiciário.


Jornal do Judiciário: A PLOA de 2013 indica um valor de R$ 900 bilhões para pagamento dos juros da dívida e amortizações. Quanto isso significa em percentuais no valor total do Orçamento?


Maria Lúcia: Considerando que o valor total do Orçamento/2013 apresentado pelo Executivo é de R$ 2 trilhões e 140 bilhões, a parcela destinada ao pagamento de juros e amortizações da dívida deverá consumir nada menos que 42% de todos os valores arrecadados com tributos e com a emissão de novos títulos da dívida. Em 2011, os juros e amortizações da dívida consumiram R$ 705 bilhões. Em 2012, até a presente data (11/10/2012), já foram efetivamente pagos R$ 707 bilhões em juros e amortizações da dívida, ou seja, em pouco mais de 10 meses já superamos o gasto total do ano passado, conforme demonstra o quadro abaixo.


A crescente destinação de recursos para a dívida decorre do fato de que estamos emitindo dívida para pagar juros. É por isso que apesar dos volumosos pagamentos a dívida não para de crescer: no primeiro semestre de 2012, a dívida interna alcançou R$ 2,74 trilhões e a Externa US$ 416 bilhões. Somadas, já superam 3 trilhões e meio de reais. E o mais grave é que tal dívida nunca foi auditada, como manda a Constituição, e a recente CPI da Dívida Pública [1] revelou diversos indícios de ilegalidade e ilegitimidade dessas dívidas, cuja principal contrapartida tem sido a incidência de juros sobre juros e outros mecanismos meramente financeiros.

Além disso, existe um grave problema de contabilidade e transparência em relação aos gastos com a dívida. Dos R$ 900 bilhões do Orçamento/2013 reservados para o pagamento da dívida, o governo divulga que R$ 608 bilhões se referem ao chamado "refinanciamento" ou "rolagem", anunciados como se fossem referentes ao pagamento de amortizações (ou seja, ao principal) da dívida por meio da emissão de novos títulos da dívida.

Segundo analistas conservadores, o valor classificado sob a rubrica refinanciamento ou rolagem da dívida não deveria ser considerado como gasto, pois representaria apenas o pagamento do principal da dívida por meio da emissão de nova dívida (ou seja, uma mera troca de dívida velha por dívida nova).

Na realidade, as investigações técnicas realizadas pela recente CPI da Dívida Pública comprovaram que grande parte dos juros pagos tem sido apropriado indevidamente como se fosse "refinanciamento" ou "rolagem". Isso tem acontecido devido ao fracionamento indevido do montante dos juros nominais em duas partes: uma que corresponde à atualização monetária calculada de acordo com o IGP-M e outra que excede essa atualização, considerada como juros reais. Uma vez que, pela contabilidade oficial, a rubrica pagamento de juros contempla apenas os "juros reais", ou seja, os juros que excedem a atualização monetária medida pelo IGP-M, essa parcela dos juros nominais que corresponde à atualização monetária tem sido considerada como se fosse amortização ou rolagem.


Esse fracionamento dos juros e a classificação de grande parte dos juros como se fossem amortizações tem gerado uma grave distorção, porque, de acordo com a Constituição, despesas correntes como é o caso dos juros nominais não podem ser pagas mediante emissão de dívida. O texto constitucional visou prevenir o crescimento desenfreado da dívida decorrente da incidência de juros sobre juros. A partir do momento em que se contabiliza a atualização monetária como amortização ou refinanciamento, percebe-se uma clara burla a essa determinação constitucional. A dívida pública passa a crescer, então, de forma descontrolada, levando o governo a contingenciar o orçamento das áreas sociais.


Dessa forma, dentro daqueles R$ 608 bilhões está incluída grande parte dos juros nominais da dívida pública. É por isso que temos destinado quase a metade do orçamento anualmente para o pagamento de juros e amortizações e a dívida não para de crescer.



https://sintrajud-sp.jusbrasil.com.br/noticias/100124358/juros-e-amortizacao-da-divida-consumirao-42-do-orcamento-da-uniao-em-2013





MENTIRA DESLAVADA. Juros consomem 13% dos impostos:
https://ocontraditorio.com/ocontraditorio/nao-os-juros-nao-comem-metade-dos-impostos/

E, ademais...
« Última modificação: 25 de Maio de 2018, 10:56:50 por -Huxley- »

Offline -Huxley-

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Re:Liberalismo
« Resposta #339 Online: 25 de Maio de 2018, 10:47:09 »
...Amortização não "consome" orçamento público. Negar isso é de uma ignorância ímpar em contabilidade social.
« Última modificação: 25 de Maio de 2018, 10:57:13 por -Huxley- »

Offline -Huxley-

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Re:Liberalismo
« Resposta #340 Online: 25 de Maio de 2018, 10:49:53 »

Offline JJ

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« Resposta #341 Online: 25 de Maio de 2018, 15:15:52 »
Isso é alguma piada ?


Há décadas que os cortes no orçamento e a DRU, os quais retiram dinheiro da saúde, da educação, da segurança, da ciência, da infraestrutura, etc,  se dão justamente  por causa da necessidade de fazer superávit primário para pagar os juros dessa porcaria. 

E também a desconfiança e os juros  elevados tem bastante a ver com a falta de superávit primário dos últimos anos.



Offline JJ

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« Resposta #342 Online: 25 de Maio de 2018, 15:20:10 »


Realmente não entendo essa apologia e acobertamento que  pessoas comuns (que não são donos de bancos) dedicam ao setor financeiro e aos seus barões. 

Offline Geotecton

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Re:Liberalismo
« Resposta #343 Online: 25 de Maio de 2018, 17:26:17 »
Realmente não entendo essa apologia e acobertamento que  pessoas comuns (que não são donos de bancos) dedicam ao setor financeiro e aos seus barões. 

Realmente não entendo essa apologia e acobertamento que pessoas supostamente informadas, dedicam aos que só promovem desinformação a serviço de castas de funcionários públicos e de outros que vivem às custas do Tesouro Nacional.
Foto USGS

Offline Geotecton

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Re:Liberalismo
« Resposta #344 Online: 25 de Maio de 2018, 17:40:06 »
Realmente não entendo essa apologia e acobertamento que  pessoas comuns (que não são donos de bancos) dedicam ao setor financeiro e aos seus barões. 

As dívidas (todas) foram contratadas pelos representantes dos entes públicos (eleitos ou concursados ou indicados), e assim sendo tem validade jurídica, a menos que se demonstre (com evidências) que houve alguma irregularidade, que tornem nulos cada um dos contratos.

Parte significativa da dívida foi contratada para pagar benesses dos que vivem no (ou do) estado brasileiro, incluindo alguns dos hipócritas que bradam "contra o pagamento de juros extorsivos".

E, para deixar claro, não tenho dúvida que os banqueiros foram muito beneficiados com isto e, provavelmente, com outros esquemas legalizados, como o de redução de impostos. Possivelmente houve (e há) contratos com algum spread, que foi revertido para a campanha de políticos.

Então, eu apoio uma auditoria da dívida, desde que todos os que foram beneficiados pelo dinheiro emprestado, devolvam os respectivos valores e que os 'terceiros de boa-fé' (os emprestadores de dinheiro via títulos públicos) não sejam prejudicados.
Foto USGS

Offline -Huxley-

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Re:Liberalismo
« Resposta #345 Online: 25 de Maio de 2018, 20:17:31 »
Isso é alguma piada ?


Há décadas que os cortes no orçamento e a DRU, os quais retiram dinheiro da saúde, da educação, da segurança, da ciência, da infraestrutura, etc,  se dão justamente  por causa da necessidade de fazer superávit primário para pagar os juros dessa porcaria. 

E também a desconfiança e os juros  elevados tem bastante a ver com a falta de superávit primário dos últimos anos.


Despesa de juros reduz patrimômio, mas Amortização NÃO reduz patrimônio. Como dito no último artigo que linkei, "se pago amortizações com meu dinheiro, dívida e ativos se reduzem no mesmo valor, de forma que meu patrimônio não se altera". Qual parte você não entendeu aqui?

Há "arrocho fiscal neoliberal" com corte em gasto público? Que corte em gasto público? Eis um exemplo de como o tal "corte de gasto público" devido a despesa com juros é  uma farsa, uma vez que gasto público primário é gasto que exclui despesas com juros da dívida pública:



Fonte: Blog Mão Visível de Alexandre Schwartsman...  do artigo "Nanismo estatal e outras tolices" http://maovisivel.blogspot.com.br/2009/01/nanismo-estatal-e-outras-tolices.html 

Citação de: Alexandre Schwartsman
Há quem atribua tal desempenho à austeridade fiscal, principalmente por parte do governo federal. Isso é falso: como divulgado ontem, o consumo do setor público se manteve virtualmente inalterado (R$ 361 bilhões agora contra R$ 365 bilhões no início de 2014). Outras medidas de gastos, no caso do governo federal, incluindo despesas como pagamentos de aposentadorias e pensões, mostram aumento do dispêndio, jamais queda.

Só mesmo apreciável contorcionismo mental poderia atribuir ao ajuste fiscal, sequer iniciado, a queda vertiginosa da atividade econômica, iniciada ainda em 2014.

Fonte: http://maovisivel.blogspot.com.br/2017/03/sete-anos-em-tres.html (Blog Mão Visível em 2017)
« Última modificação: 25 de Maio de 2018, 20:21:38 por -Huxley- »

Offline Geotecton

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Re:Liberalismo
« Resposta #346 Online: 25 de Maio de 2018, 20:27:04 »
A explicação do Alexandre Schwartsman mostra quão pérfido é o carater destes petistas.
Foto USGS

Offline JJ

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Re:Liberalismo
« Resposta #347 Online: 27 de Maio de 2018, 09:20:32 »


... E os caminhoneiros pensaram que aquilo seria bom para eles




Caminhoneiros de todo o Brasil estão, há mais de uma semana, bloqueando estradas em vários estados do país em sinal de protesto contra algumas políticas do governo.
Com essa greve, várias cidades estão sendo severamente afetadas, pois toda a cadeia de suprimentos foi quebrada.


No Paraná, há cidades em que o litro da gasolina está sendo vendido a R$ 7.  No oeste e no sudoeste do Paraná, indústrias suspenderam a coleta de leite e o abate de aves.  Sem alternativas de desvio para seguir viagem, cargas de alimentos e insumos estão estragando em vários pontos de bloqueio nas estradas do sul do país. Fornecedores de frutas reclamam ainda das perdas com saques de cargas nas barreiras.


A operação do porto de Paranaguá, principal terminal de exportação de produtos agrícolas do país, também é prejudicada por causa dos protestos.


Em Santa Catarina, cirurgias foram canceladas em dois hospitais do oeste do estado por falta de medicamentos, que não chegaram devido à falta de transporte.  Também no oeste, falta gasolina em 90% dos postos de combustíveis da região. A coleta de leite foi suspensa e algumas indústrias pararam a produção.


Em São Paulo, houve redução de entrega de frutas na Companhia de Entreposto e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp). Já foi registrada queda de 10% na entrada de caminhões carregados de frutas, como a maçã, pêra e melancia, vindas da região Sul do Brasil.


Em Minas Gerais, a produção da Fiat foi afetada.  Segundo a empresa, devido à falta de peças que não foram entregues, não é possível retomar a produção, e turnos foram suspensos. No Centro-Oeste do estado está faltando gasolina.  Na mesorregião do Triângulo Mineiro e do Alto Paranaíba, há filas nos postos de combustíveis. Na quarta-feira, chegou a faltar combustível em estabelecimentos dos dois municípios.  Na Ceasa (Centrais de Abastecimento de MG), a oferta de alimentos caiu e os preços subiram, em média, 7,8%.


No Rio Grande do Sul, diversos setores produtivos estão afetados. Indústrias de laticínios e frigoríficos estão com produção reduzida por falta de matéria-prima.  Os supermercados afirmam que podem faltar produtos nas prateleiras.  Um caminhoneiro que tentou passar por um trecho interditado foi apedrejado na cabeça e está respirando por aparelhos.  Seu caminhão capotou e sua carga (avaliada em R$ 35 mil) foi saqueada.


Já o Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do estado (Sindilat-RS) afirma que, se o bloqueio continuar, em um ou dois dias faltará leite no mercado.  Adicionalmente, o maior frigorífico de suínos do estado suspendeu as atividades na manhã de quarta-feira e 3 mil animais deixarão de ser abatidos.


No Mato Grosso, nada menos que dez trechos das BRs 364, 163 e 070 continuavam bloqueados até ontem.  Os caminhoneiros tentam impedir, há quase uma semana, que os veículos de cargas façam o escoamento da produção agrícola.  Os caminhões com combustíveis seguem presos em bloqueios e, nesta quarta-feira, postos de combustíveis amanheceram fechados em cidades do norte do estado.


No Mato Grosso do Sul, veículos com carga perecível e de combustíveis estão sendo bloqueados.


O que querem


O objetivo do protesto dos caminhoneiros é bastante difuso.  Como não há uma liderança específica coordenando todo o movimento, não é possível saber exatamente qual é a lista de exigências.  Mas é possível identificar pelo menos três pedidos claros:


1) Redução do preço do diesel;


2) revisão da Lei 12.619, conhecida como Lei do Descanso, que obriga o caminhoneiro a repousar 11 horas em um prazo de 24 horas e parar por uma hora de refeição.  Os caminhoneiros querem apenas 8 horas de descanso. (Quanto mais horas obrigatórias de repouso, menos eles ganham por mês).


3) aumento do valor do frete;


Sobre reduzir o preço do diesel, que é controlado pelo governo, não há a menor chance de isso acontecer.  Com o balancete destroçado pela corrupção e desesperada para aumentar seu fluxo de caixa, a Petrobras (leia-se: o governo) resolveu apenas jogar a fatura para o consumidor brasileiro.  Em um momento em que os preços do petróleo e seus derivados estão em queda no mundo inteiro, no Brasil estão em alta acentuada, graças à corrupção da estatal monopolista.


Sobre a Lei do Descanso, caso ela não seja revisada, haverá um forte impacto sobre a produtividade e sobre os custos, principalmente em decorrência de uma redução do número de viagens.  Será necessário um redimensionamento na quantidade de motoristas para manter os prazos de entrega, principalmente nas viagens de média e longa distância.  Em tese, novas contratações seriam necessárias, mas isso não será tarefa fácil, pois atualmente o país já vive um grande déficit de motoristas, estimado em cerca de 160 mil profissionais.


O governo simplesmente está desconsiderando as particularidades do país: o tempo perdido nas barreiras fiscais, as péssimas condições das estradas, e os engarrafamentos das cidades.  Com estradas cheias, esburacadas, sem sinalização e sem acostamento, é quase impossível os caminhoneiros desenvolverem uma velocidade padrão e constante que permita se enquadrarem dentro da nova legislação. Viagens que já são demoradas irão se prolongar ainda mais dentro dessa lei.


Uma coisa é impor essas regras na Europa, onde há autoestradas civilizadas, a distância entre as cidades de um mesmo país é muito menor, e há diversas alternativas de transporte (trens são extremamente comuns).  Outra coisa é fazer isso no Brasil, país de dimensões continentais, repleto de estradas inacabadas e precárias, com amplos gargalos na infraestrutura.  Além do maior dispêndio de horas, tanto o empresário quanto o caminhoneiro autônomo terão de arcar com esses custos adicionais gerados exclusivamente pela inépcia e incompetência estatal.  Esses custos mais altos não serão suportados somente pelas empresas do setor; eles terão de ser repassados para o consumidor.


Por último, sobre aumentar o valor do frete, é aí que as coisas ficam extremamente interessantes.


As consequências não-premeditadas das ajudas estatais


Assim como qualquer empreendimento, o transporte rodoviário no Brasil lida com vários custos.


No caso de um caminhoneiro autônomo, ele tem de arcar com o seguro do caminhão, com o IPVA e com o seguro obrigatório, com o combustível, com os pneus, com os lubrificantes, com a manutenção, com o pedágio, com os eventuais danos causados por estradas ruins, e com as eventuais avarias do veículo. (No caso de uma transportadora, além de todos os itens acima, ela também tem de pagar o salário do caminhoneiro e dos seus funcionários.)


Os custos de todos esses itens subiram, e muito, ao longo dos últimos 4 anos.  Em decorrência do súbito enfraquecimento do real perante (quase) todas as moedas do mundo, os preços de todos esses bens e serviços dispararam.  No que tange a moedas, não há muito segredo.  Se uma moeda enfraquece, todos os preços mensurados por ela sobem.  E dado que nos últimos 4 anos o real se esfacelou — desvalorizou-se quase 50% em relação ao dólar —, a carestia vivenciada por todos nós, e pelos caminhoneiros, é inevitável.


Só que, no caso dos caminhoneiros e das transportadoras, houve um ingrediente especial, quase que irônico: por causa de políticas do governo criadas justamente com o intuito de ajudá-los, hoje eles estão em situação delicada.  Seus custos dispararam, mas suas receitas diminuíram.


Para entender o que houve, veja esse trecho revelador dessa reportagem (negrito meu):


Segundo a Associação dos Transportadores de Cargas de Mato Grosso (ATC), a redução do valor pago pelo frete entre a safra 2013/14 e a safra 2014/15 foi de aproximadamente 25%.


O diretor executivo a ATC, Miguel Mendes, cita exemplos de preços de frete reduzidos de municípios do Médio-norte de Mato Grosso até o porto de Santos (SP). Partindo de Sorriso, o frete passou de R$ 315 em 2014 para R$ 235 em 2015; de Lucas do Rio Verde, passou de R$ 300 em 2014 para R$ 220 em 2015.


Mendes afirma que o maior número de caminhões disponíveis para o frete foi o principal fator responsável pela queda no preço da atividade, já que muitos empresários e motoristas autônomos conseguiram adquirir seu veículo de carga pelo financiamento do BNDES.


[...]

[...] o empresário Édio Moreira de Castro, tem 60 caminhões atualmente, mas no ano passado sua frota era composta por 80 caminhões. Em uma conta rápida, ele calcula que está tendo prejuízo de cerca de R$ 453 por viagem caso faça um frete de Lucas do Rio Verde para Rondonópolis, com um caminhão de 7 eixos cobrando R$ 70 por tonelada.


Castro aguarda agora uma resposta do governo sobre as reivindicações. "Minha vontade é de vender todos os caminhões, porque do jeito que está a atividade fica inviável, estamos tendo prejuízo e assim vamos à falência", diz.


Trata-se de um perfeito exemplo prático daquilo que a teoria econômica sempre enfatiza: estímulos e benefícios artificiais geram efeitos aparentemente benéficos no curto prazo, mas cobram um preço caro no longo prazo.


Permita-me ser mais claro: o BNDES, por meio de um programa chamado Procaminhoneiro, financia, a juros bem abaixo da SELIC, a compra de caminhões por parte de caminhoneiros autônomos, de empresários individuais e de empresas individuais.  Atualmente, os juros são de 9% ao ano, com prazos de financiamento de até 96 meses, incluída a carência de 6 meses.  No entanto, nos anos de 2010 a 2013, os juros variavam entre módicos 2,5% a até no máximo 7%.


Esses juros baixos, aliados a todos os estímulos dados pelo governo, impulsionaram uma farta compra de caminhões.


O gráfico abaixo mostra os números das vendas mensais de caminhões no Brasil.  Veja como as vendas disparam justamente entre 2010 e 2013:


cewolf.png


Fonte: Banco Central


Muito bem.


Isso é positivo, não?  Afinal, mais caminhões, mais transportes, mais concorrência entre as transportadoras, menores os preços do frete.


O problema é que esse é apenas um lado da história.  Se tudo terminasse aqui, seria ótimo.  Só que, infelizmente, há o outro lado, e as consequências não são boas.


A encrenca começa com a maneira como o BNDES arranja esse dinheiro para emprestar barato aos caminhoneiros e aos empresários.


Originalmente, os recursos do BNDES eram oriundos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador — fundo destinado a custear o seguro-desemprego e o abono salarial).  E os fundos do FAT advêm das arrecadações do PIS e do PASEP.  Sob esse arranjo, o BNDES era uma máquina de redistribuir recursos, mas não era inerentemente inflacionário, pois ele não criava dinheiro.


O problema é que essa matriz, já ruim, foi alterada para pior a partir de 2009.  Se antes o BNDES se financiava exclusivamente via impostos, agora ele passou a se financiar também via endividamento do Tesouro, o que significa que ele se financia via inflação monetária.


Funciona assim: como o BNDES não tem todo o dinheiro necessário para fazer todos os empréstimos que o governo quer conceder a seus empresários e grupos favoritos, o Tesouro começou a emitir títulos da dívida com o intuito de arrecadar esse dinheiro para complementar os empréstimos.


E quem compra esses títulos?  Majoritariamente, o sistema bancário.  Como ele compra?  Criando dinheiro do nada, pois opera com reservas fracionárias.  Ou seja, a atual forma de financiamento do BNDES é inerentemente inflacionária.  Ela aumenta a quantidade de dinheiro na economia.


O gráfico a seguir mostra a evolução dos empréstimos do BNDES, atualmente com um saldo de R$ 638 bilhões.  Observe a guinada ocorrida em meados de 2009, quando essa nova modalidade foi implantada.


bndes1.png


Evolução dos empréstimos concedidos pelo BNDES. A linha vermelha (que foi descontinuada em 2013) representa a soma da linha azul (empresas) com a linha verde (pessoas físicas).


Portanto, além de aumentar o endividamento do governo, este mecanismo utilizado pelo Tesouro para financiar o BNDES também aumenta a quantidade de dinheiro na economia.  E, como mostra o gráfico acima, desde 2009, o BNDES já jogou mais de R$ 400 bilhões na economia.


(Todos os bancos estatais em conjunto despejaram na economia, nesse mesmo intervalo de tempo, R$ 1,100 trilhão, o que significa que apenas o BNDES responde por quase 40% desse valor).


Além de ter causado uma grande inflação monetária — algo que, por si só, pressiona a carestia —, esse mecanismo de financiamento do BNDES, via endividamento do Tesouro, também ajudou a deteriorar o quadro fiscal do governo.  A dívida bruta está em 63,4% do PIB.  (Para que se tenha uma ideia, no final de 2013, a dívida bruta do Brasil estava em 56,7% do PIB.)


Esse valor da dívida bruta — mais ainda, essa tendência —, além de ameaçar o grau de investimento (investment grade) conferido ao país pela Standard & Poor's, ajudou a acelerar a depreciação do real, o que turbinou ainda mais a inflação de preços.


Portanto, eis o roteiro trágico:


1) o BNDES, com o intuito de estimular a economia, estimular os caminhoneiros, e ajudar o setor de veículos pesados, decidiu conceder empréstimos baratos para que indivíduos autônomos e também transportadoras comprassem caminhões a juros baixos e a várias prestações;


2) ato contínuo, a quantidade de caminhões em circulação aumentou, bem como o número de caminhoneiros autônomos, o que gerou mais concorrência para as transportadoras e para os caminhoneiros autônomos já estabelecidos.  Os preços dos fretes caíram;


3) esses empréstimos concedidos pelo BNDES foram feitos por meio de endividamento do Tesouro, o que deteriorou a situação fiscal do governo (elevou a dívida bruta), e ainda aumentou a quantidade de dinheiro na economia;


4) ambos os efeitos acima desvalorizaram o real e geraram carestia generalizada;


5) como consequência dessa carestia generalizada, os custos operacionais das transportadoras e dos caminhoneiros autônomos dispararam, mas a maior concorrência no setor — gerada pela maior quantidade de caminhões — impediu um que os custos fossem repassados para o preço do frete, que continuou caindo;


6) a subida do preço do diesel terminou por empurrar de vez o setor à bancarrota


7) com custos crescentes, receitas em queda e total inviabilidade operacional, os caminhoneiros resolveram protestar.


Conclusão: uma medida intervencionista que foi criada com o intuito de ajudar um setor acabou deixando-o próximo da insolvência.


Isso vale de lição para todo e qualquer setor da economia, e também para aqueles que defendem intervenções, subsídios e ajudas estatais a determinados setores: uma aparente benesse governamental pode gerar a própria bancarrota do beneficiado.



https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2040




Offline Buckaroo Banzai

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Re:Liberalismo
« Resposta #348 Online: 27 de Maio de 2018, 12:45:04 »
Bla bla bla. EUA continuam sendo uma das 20 economias mais livres do mundo.

Deve ser o país mais rico com mais problemas/áreas de IDH de terceiro mundo.

A coisa não deve melhorar com a aceleração da captura regulatória (apesar desta talvez poder ser embalada como "liberdade econômica") e outras bandidagens.

<a href="https://www.youtube.com/v/swKA0hAMufU" target="_blank" class="new_win">https://www.youtube.com/v/swKA0hAMufU</a>

Citar
[...] “You have someone who was in the middle of the fraud era of DeVry now in charge of enforcing a rule that was designed to do precisely what has just been done to DeVry: to better regulate them and monitor them,” said Tressie McMillan Cottom, an assistant professor of sociology at Virginia Commonwealth University and expert on for-profit colleges.  [...]
https://www.theatlantic.com/education/archive/2017/08/julian-schmoke-for-profit-colleges/538578/

https://www.npr.org/2017/08/16/543876454/in-trumps-government-the-regulated-have-become-the-regulators

Offline JJ

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Re:Liberalismo
« Resposta #349 Online: 05 de Junho de 2018, 11:26:57 »
A mentirinha que contam para nossos pequenos Liberais, por Rogério Maestri


RDMAESTRI


Por Rogério Maestri


Há uma mentirinha que contam para os menininhos liberais brasileiros e os pobrezinhos inocentes úteis ficam repetindo na rede com a maior inocência possível. Qual é? Que não existem estatais nos USA.


Os nossos jovens liberais gostam de citar os USA como um país isento de estatais e inclusive o pessoal de esquerda compra esta informação errada e ficam tentando justificar as estatais brasileiras por outro lado.


Mas vamos então levar uma luz neste assunto.


Primeiro, sendo os Estados Unidos um país com uma federação forte, praticamente as obras feitas pelo governo federal são poucas, ficando assuntos executivos reservados aos estados e municípios.


Segundo, mesmo os USA sendo uma federação forte o governo federal tem suas estatais, e não são pequenas, são imensas, logo vamos citar algumas mostrando que a intervenção no mercado do governo é forte e vigorosa.


AMTRAK – Em vários filmes norte-americanos aparecem pessoas tomando os trens desta companhia, mas ninguém sabe que ela é uma ESTATAL e o que seria um crime no Brasil uma ESTATAL DEFICITÁRIA. Esta estatal foi criada em 1971 para operar o transporte de passageiros por trem e possui atualmente 34.200km de via férrea própria, opera 300 trens por dia e transporta anualmente 31,2 milhões de passageiros por ano (2012).


Foi criada porque as empresas privadas não queriam transportar mais passageiros por ser deficitário, mas diferentemente que no Brasil, o governo Nixon criou a empresa que continua a ser subsidiada até hoje.


Export–Import Bank of the United States - Banco (ou agência) com objetivo de subsidiar exportações Norte-Americanas, inclusive com linhas especiais de crédito para pequenas empresas. Ou seja, enquanto aqui os direitistas recriminam o financiamento a exportação do BNDES lá eles tem até banco para isto.


Farm Credit System – Não é somente um banco que subsidia a agricultura nos Estados Unidos, é todo um sistema de crédito que financia 191 BILHÕES de dólares por ano neste sistema (tem outros). De novo, enquanto querem privatizar o BB para acabar com o crédito agrícola, nos USA eles tem vários sistemas que fazem isto com dinheiro do governo.


Tennessee Valley Authority – Uma das maiores geradoras e distribuidoras de energia elétrica dos Estados Unidos, gera anualmente 35.000 MW/ano (sexto lugar), se somássemos mais a energia gerada pelo U.S. Army Corps of Engineers (21.900MW/ano) e U.S. Bureau of Reclamation (15.000MW/ano), o governo federal norte-americano seria o maior gerador de energia do pais, ficando bem acima do maior grupo privado a Duke Energy (57.000 mW/ano). Além de hidrelétricas a TVA possui geração a carvão, gás e eólicas.


Estão citadas aqui somente algumas das maiores empresas estatais Federais Norte-americanas, porém existem empresas estatais Estaduais e Municipais, um exemplo das Estatais Estaduais é a Alaska Railroad.


O que se vê claramente que toda aquela história dos Estados Unidos não ter empresas públicas é uma grande mentira, pois além destas outras há as que são análogas as empresas de Economia Mista no Brasil, com ações na bolsa e tudo mais.



https://jornalggn.com.br/blog/rdmaestri/a-mentirinha-que-contam-para-nossos-pequenos-liberais-por-rogerio-maestri



 

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