O “SUCESSO” DA ALEMANHA OCIDENTALEm reação à modinha anarcocapitalista, alguns adolescentes resolveram inventar uma modinha “ordoliberal”. É a galera do “vamos ser sensatos e moderados”. “Veja bem, economia de mercado é bom, mas o Estado tem que botar alguns limites”. O exemplo dessas pessoas é a Alemanha do pós-SGM. Segundo eles, a Alemanha era e é ordoliberal, e, portanto, a Alemanha é uma maravilha econômica!
Tudo balela. Ordoliberalismo não é nenhum tipo de meio termo. É fundamentalmente liberalismo hayekiano com supervisão estatal. E tampouco foi o ordoliberalismo o responsável pela reconstrução e subsequente prosperidade da Alemanha. A realidade é muito diferente.
Ao fim da segunda guerra mundial a dívida externa da Alemanha era de 40% do PIB e a dívida interna era de 300% do PIB. Sim, o país estava afundado em dívidas, além de devastado. Inicialmente, para os Aliados, isso estava ótimo. O objetivo inicial era o desmonte total da indústria alemã para transformar o país em mero exportador de commodities, de terceiro mundo, para todos os efeitos.
Só que começou a Guerra Fria. E então se iniciou a disputa entre bloco ocidental e bloco oriental. Parte dessa disputa operava no âmbito da propaganda. Vender o seu modelo para o vizinho como o melhor modelo. E a Alemanha estava ali, no meio do caminho. Até cortado no meio. A Alemanha Oriental era a vitrine do comunismo para o Ocidente. A Alemanha Ocidental era a vitrine do capitalismo para o Oriente.
Assim sendo, era fundamental que a Alemanha Ocidental fosse o país mais estável e próspero possível. Até porque, os EUA estavam apavorados com a possibilidade de revoluções na Europa Ocidental por causa da força dos movimentos sindicais e organizações de esquerda em vários desses países.
Então o que foi feito? Plano Marshall. O equivalente a 14.5 bilhões de dólares foi para a Alemanha. Uma quantia boa (à época do Adenauer o Plano Marshall equivalia a 4% do PIB), mas não foi isso que reconstruiu a Alemanha. O que reconstruiu a Alemanha foram os outros “detalhes” do Plano Marshal. [10]
Fundamentalmente, o “alívio da dívida”. Aproximadamente 90% da dívida pública alemã foi descartada. Parte considerável das reparações, ainda, foi adiada sem prazo e nunca foi paga. Enquanto os outros países europeus, em sua maioria, “largaram” afundados em dívidas que somavam até 200% do PIB, a Alemanha tinha só 20% de seu PIB comprometido por conta da dívida.
Isso significa que o Estado alemão dispunha de recursos muito mais amplos para investir, aplicar e criar benefícios. Além desse sumiço na dívida pública, os credores ainda aceitaram receber o dinheiro em marco alemão, que à época não valia quase nada. Foi imposto um TETO (!) para o pagamento da dívida equivalendo a 5% do valor das exportações (!), um limite para a cobrança de juros (!) e os outros países europeus ainda firmaram compromisso de comprar produtos alemães sempre que possível para auxiliar a recuperação de sua indústria.
Em outras palavras: a Usurocracia Internacional Capitalista abriu uma brecha, soltou a Alemanha de seus grilhões financeiros porque era fundamental que a Alemanha Ocidental desse certo (do outro lado, a URSS também fez todo o possível pela Alemanha Oriental, de modo que é unânime que esse era o melhor país do Pacto de Varsóvia para se viver).
Tirando isso, a Alemanha Ocidental também investiu na manipulação cambial, mantendo por um bom tempo o marco extremamente desvalorizado, de modo a facilitar exportações e dificultar importações. Mesma tática utilizada pelo Japão até hoje. Só que isso é medida protecionista (extremamente sacana) bruta, totalmente por fora de qualquer “liberalismo hayekiano”. [11]
Um terceiro fator fundamental é também fruto do “totalitarismo” e nada tem a ver com qualquer “ordoliberalismo”. Fruto da herança econômica do Terceiro Reich e especialmente dos últimos anos do governo e do ministro Albert Speer; a relação Estado-empresa estava perfeitamente ajustada para a máxima eficiência produtiva. Era uma relação refinada e apurada, imposta pelas necessidades do esforço de guerra, que só é imaginável dentro do totalitarismo e de uma semi-planificação. E a Alemanha Ocidental herdou esse afinamento Estado-empresa, sem os aparatos totalitários anteriores.
Em suma, cancelamento da dívida, adiamento eterno do pagamento de reparações (menos para Israel, judeus, ciganos, etc., claro), teto para gastos anuais com dívida e juros da dívida, teto para incidência de juros da dívida pública, mercado para bens industriais garantido, manipulação cambial, herança econômica totalitária de sincronia Estado-empresa. [12]
E o “ordoliberalismo” nisso tudo? Não existe! Depois de um tempo, aliás, o ordoliberalismo passou a perder influência teórica e hoje está centrado mesmo na Universidade de Freiburg.
http://coletivolute.org/2017/08/destruindo-as-mentiras-liberais-sobre-os-pais-com-alto-idh.html