Todo o problema está nessa dificuldade endógena que o ser humano tem em aceitar qualquer realidade que teime em contradizer seus preconceitos ideológicos.
Alguém chega para um comunista e mostra que o marxismo fracassou em 30 países e não prosperou em nenhum. Mas não é realidade suficiente para ele.
Aquelas fotos do Chico Xavier posando do lado de uma vigarista que foi presa com a mala das roupas do fantasma... fazem algum espírita enxergar a realidade?
Mostra um fóssil de dinossauro pra ver se o criacionista aceita a realidade.
Deixe uma bigorna cair no pé do terraplanista... nem isso faz ele acreditar na gravidade.
De todos estes experimentos, o que eu mais gostaria de fazer é o da bigorna. Todavia, por razões de ordem prática, vou substitui-lo por um teste equivalente: pedir a alguém que acredite no resultado dessa intervenção que leia a notícia de jornal abaixo...
Ocupação do Complexo da Maré contará com 9 mil homens do Exército, triplo do efetivo que ocupou o Alemão.
A ocupação do Complexo da Maré vai contar com o triplo do efetivo utilizado pelas Forças Armadas para entrar no Complexo do Alemão, em 2010. Com 129 mil moradores, segundo dados do IBGE — 60 mil a mais que o Alemão — a Maré vai ser ocupada por 9 mil homens do Exército até novembro, para quando está programada a instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Ontem, o governador Sérgio Cabral confirmou, como o EXTRA havia antecipado no último sábado, que pediu ajuda do governo federal para ocupar a Maré, após os últimos ataques do tráfico em regiões com UPPs. A unidade da maré vai contar com 1.500 policiais, que serão formados ao longo do ano.
— Fiz um pedido formal para a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) na Maré. Na prática, as Forças Armadas vão atuar, por um determinado período, na ocupação do complexo, uma área estratégica para o Rio — contou Cabral, após sair de uma reunião com o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo e com a cúpula das Forças Armadas.
O secretário de Segurança José Mariano Beltrame, entretanto, afirmou que a ocupação da Maré, que vive uma disputa entre duas facções do tráfico diferentes e uma milícia, não tem ligação direta com os ataques às UPPs, realizados pela facção que ocupa o Complexo do Alemão e da Penha.
— A ocupação da Maré é uma resposta que vamos dar para o tráfico. Estamos mostrando que não vamos tolerar esses ataques covardes e essas mortes de policiais. Vamos avançar e mostrar que estamos no caminho certo — afirmou.
A cúpula das facções que ocupam a Maré, entretanto, não vai estar mais lá quando o Exército entrar nas favelas. Informações da Inteligência da Polícia Civil revelam que Jorge Luiz Moura Barbosa, o Alvarenga, chefe do tráfico das favelas Nova Holanda e Parque União, já saiu da Maré por conta das operações do Bope na região. Hoje, ele está, junto com outros integrantes da cúpula da facção que estão em liberdade, como Bruno Eduardo da Silva Procópio, o Piná, chefe do tráfico da Vila Cruzeiro, nos morros da Coruja e do Caramujo, em Niterói.
Já o destino de Marcelo Santos das Dores, o Menor P, que comanda o tráfico em nove comunidades do complexo e tem 50 fuzis a sua disposição, não é certo. A facção a qual pertence ainda não perdeu territórios para UPPs. Entretanto, após a ocupação, o QG da quadrilha deverá ser o bairro de Senador Camará, onde a facção já ocupa as favelas da Vila Aliança e da Coreia.
"Estamos no caminho certo", garantia o secretário de segurança. Contudo a ocupação não terminou em novembro conforme o planejado: somente 14 meses, 23,5 mil soldados e R$300 milhões depois o exército se retirava da Maré devolvendo o território para as mesmas facções, que agora estavam ainda mais fortes do que antes.
"Devolver" não foi exatamente o caso, porque elas nunca saíram de lá e continuaram administrando lucrativamente seus negócios.
Sempre se disse que a Maré era a principal porta de entrada de armas e drogas no Rio de Janeiro. Faz sentido porque o complexo de favelas se estende do aeroporto internacional até a zona portuária, limitado pela baía e pelas 3 principais vias de acesso da cidade: Av. Brasil e linhas amarela e vermelha. O empenho das várias facções em se estabelecer nesse território também reforçava a tese.
Porém, ou isso nunca foi verdade, ou a presença maciça do exército em uma área de menos de 10km², não serviu de empecilho para que o crime organizado no Rio continuasse a ser fartamente abastecido. Durante todo o período de ocupação armas e drogas continuaram chegando como nunca.
De quem é a fantasia: de acadêmicos que enxergam que esse tipo de ação foi inócuo para o combate ao crime em uma área menor que 1% da região metropolitana, ou de quem acha que essa intervenção agora, abrangendo todo o estado, pode produzir resultados?
Os especialistas só estão mostrando a realidade, mas os fanáticos não vão aceitar. Vão fazer como os terraplanistas, marxistas, criacionistas... vão apelar. Dizer que "ah, não deu certo porque o militar não pode atirar em bandido", que "a culpa é dos direitos humanos"...
De novo não adianta mostrar o que é real: a polícia desse estado é uma das que mais mata no mundo, e se respeitar direitos fosse o problema, então o RJ deveria ser mais pacífico que um convento de Carmelitas.
A presença daqueles membros
das facções, que eram continuamente
perseguidos pelas Forças policiais,
e a proximidade da Copa do
Mundo de Futebol13 fizeram com que
o ano de 2013 e o início de 2014 fossem
bastante conturbados na região,
com a ocorrência de muitos conflitos
armados. No período, ocorreram as
mortes de nove moradores, devido a
um ato de vingança dos policiais, em
função da morte de um sargento do
BOPE, numa operação local. Aquela
lamentável morte gerou uma ação
sangrenta, com muitas violações de
direitos de quem reside na Maré14,
[...]
A mobilização
fez com que, pela primeira vez
na história da Maré, a Delegacia de
Homicídios entrasse na favela para
realizar perícias nos locais onde as
mortes aconteceram16. Até o encerramento
desta publicação, após mais de
três anos do episódio, as investigações
apontavam que oito vitimados foram
mortos por, pretensamente, resistirem
à ação policial. Isso significa dizer que
essas pessoas foram consideradas provocadoras
das suas próprias mortes,
num contexto de confronto com a polícia.
Sobre o nono morador, comprovadamente
trabalhador e morto a sangue
frio, até agora nenhum policial foi
levado a julgamento ou mesmo indiciado
como réu.
Assim é a realidade, e não como o eleitor de Bolsonaro vê.
Mas eu é que não vou bancar essa intervenção. Porque vivo aqui e esse estado não tem dinheiro: já raparam o cofre. O RJ não tá podendo pagar nem cafezinho, não paga nem a própria polícia, não vai pagar intervenção federal.
Vocês aí é que vão pagar. Alguém tem que pagar porque essa operação não vai sair de graça. E como dinheiro também não tá sobrando no governo federal, esse recurso tem que ser tirado de algum outro lugar: alguma escola vai ficar sem professor, alguma criança vai ficar sem merenda, alguém vai deixar de receber bolsa família, alguma estrada vai continuar esburacada... pro exército poder ficar brincando de desfile de 7 de setembro no Rio de Janeiro.