Buckaroo está confundindo teorias científicas com categorias conceituais. Visão de significado baseado em teoria científica é apenas UMA das visões do significado das categorias conceituais. Só que a maioria dos significados encontrados na linguagem não derivam de teorias científicas. Elas derivam de características definidoras ou de protótipos, que também apresentam critérios. Tais critérios estão implícitos no comportamento das pessoas e na arte social. Não existe absolutamente nada de inferioridade de significado só porque não há teorias científicas nas visões dos significados. Aliás, MUITAS teorias científicas de certas disciplinas (sobretudo das ciências sociais) não passam de lixo ou pseudociência, então essa ideia de superioridade dos significados das categorias conceituais baseado em teorias científicas é coisa de nerd platonizado.
Na minha opinião os dois têm um pouco de razão.
Mas você tem 15% de razão enquanto o Banzai tem 87% de razão. E essa conta fecha em 100% porque o Sergiomgbr com seu folclórico non sense contribui com menos 2% de razão.
Você tem razão quando diz que não é a Academia que define o significado das palavras, mas o uso. O Banzai está certo em relação ao resto.
Vamos rebobinar até o princípio e entender de onde surgiram os termos "esquerda" e "direita".
É bastante conhecido que a origem remonta à Revolução Francesa, com esquerda sendo usado para apelidar os jacobinos enquanto a direita eram os girondinos. Por ironia, nessa época, a conotação dada a esquerda-direita se aproximava do revisionismo proposto pelo Mises e oportunisticamente aproveitado - com adaptações - pela atual extrema-direita, alt-rights, olavianos e afins. Porque os jacobinos eram mais estatólatras centralizadores enquanto os girondinos tendiam para o liberalismo.
E esta era precisamente a diferença mais marcante entre estes dois grupos. Porém os jacobinos acabaram se tornando os mais radicais, tendo sido estes os responsáveis pela maioria das cabeças que rolaram na França. Então o termo "esquerda", PELO USO, passou a ser sinônimo de radicalismo e quando irrompem os movimentos marxistas estes são vistos como radicais e passam a ser rotulados como "esquerda". Mas não por questionarem o status quo ou assumirem a defesa dos menos favorecidos, mas por prometerem uma revolução sangrenta semelhante ao que havia feito o jacobinismo.
Então foi o uso, e não uma definição acadêmica, que consagrou essa mudança de conotação: por um período as pessoas entendiam por direita quem defendia a manutenção do status quo ou mesmo mudanças mais pacíficas, enquanto esquerda designava o pessoal que queria pôr fogo em tudo.
E novamente foi o uso que gradativamente resignificou esquerda e direita, quando esquerda passou a ser sinônimo de marxismo que se opunha à direita, o sistema capitalista. Porque nesse momento não havia ainda um "degradé" ideológico, era praticamente comunistas e anarquistas de um lado contra a burguesia capitalista do outro. Mas esse degradé começa a se formar, com a revolução russa sendo responsável por desencadear uma série de conquistas e concessões aos trabalhadores nos países capitalistas, até como uma forma de prevenção ao comunismo. Logo surgem os social democratas e também a reação mais enfática ao comunismo: a extrema-direita.
Consequentemente, e pelo uso, esquerda passa a significar uma tendência a propostas igualitárias, protetivas, enquanto ser de direita era caminhar na direção oposta e defender uma sociedade basicamente meritocrática e competitiva.
Isso é o que a gente entende por esquerda e direita hoje, e embora o mundo atualmente seja muito complexo para ser tudo "preto no branco", é esse conceito um tanto frouxo do que vem a ser direita e esquerda que se utiliza para classificar o PSTU como à esquerda do PT e este à esquerda do PSDB. Também os democratas como a esquerda nos Estados Unidos e o partido republicano a direita. Le Pen direita na França em relação ao Macron, e etc, etc, etc...
Aí é que os argumentos do Huxley se contradizem. Porque ele reconhece que é o uso que consagra a linguagem mas não percebe que quando o Sr. Mises tira do bolso - ou da cartola - uma reclassificação ideológica para nazismo, ele está indo exatamente contra o uso consagrado da linguagem, do que se entende consensualmente por esquerda e recorrendo a ilusionismo retórico. Ele redefiniu por conta própria o estatismo autoritário como sendo a característica definidora, quando nunca foi isso!
Colocando de maneira bem simples, pra ficar claro, isto é tão imbecil quanto o Bolsonaro dizer que "nunca houve ditadura no Brasil porque havia direito de ir e vir e ditadura é o cerceamento do direito de ir e vir". Quer dizer, este gênio da ciência política que é o Bolsonaro redefiniu o que todo mundo entende por ditadura, que é o fim do estado de direito, a impossibilidade do povo escolher representantes, a proibição da livre expressão do pensamento e instauração de censura prévia e institucionalizada, para ser só "cerceamento do ir e vir". Isso é tão brilhante e maravilhoso que não só o regime militar deixou de ser uma ditadura, como a Alemanha nazista e a Itália fascista agora não são mais ditaduras. Porque havia nestes países facilidades para "ir e vir" equivalentes. Editem todos os livros de História: o Estado Novo de Vargas deixou de ser ditadura! E olha que maravilha, Bolsonaro ainda acabou com a ditadura na Venezuela e nem precisou derrubar o Maduro. Porque lá todo mundo pode ir e vir tanto é que mais de 3 milhões já se foram... Avisem ao Trump: ele já pode suspender as sanções e o bloqueio.
É patético! E ainda tem gente que compra estes sofismas de quinta categoria.