Acho meio estarrecedor como os principais e "gravíssimos" problemas seriam auto-promoção e aceleração no processo de justiça. Não tem nem como comparar com corrupção e lavagem de dinheiro, mas o chamam de "ladrão." Ou até de "juiz ladrão," levando a analogia de política e futebol às últimas conseqüências, reclamam de não se dar maior chance, através de apuração menos rigorosa dos fatos, a um dos "times," o réu; o terrível juiz então "roubou" a favor do time do interesse público. "Olha só, o juiz deu dica para o atacante de onde fazer gol, como pode? O processo de investigação criminal não deve ser remediado, aquilo que o atacante do Interesse Público FC vê por conta própria é só o que ele pode fazer, senão aumenta as chances do Réu FC tomar gol!"
E ainda tem aqueles mais diretos, "e se você fosse criminoso, iria gostar de um juiz reduzindo as chances de sair impune se fosse culpado?"
Lembro por acaso de comentários no sentido de que seria melhor postergar julgamentos do mensalão para não atrapalhar as eleições.
Além de toda as ilegalidades que ele cometeu no processo, que são gravíssimas porque é um agente do Estado cujo trabalho é defender a lei,
É uma exigência seletiva, estratégica, esta de "defender a lei" de forma que tenha faltado em fazer.
Está priorizando um rigor processual em aspectos que em última não implicam na fabricação fraudulenta da culpa de alguém que violou a lei*, em detrimento da eficiência do processo investigativo que trará evidência relevante a violações de lei incontestavelmente maiores, não meramente obediência cega a ritos processuais.
A conduta de "defesa da lei" desejada pelos defensores de Lula é então uma que calha de beneficiar a violação da lei, em crimes cometidos contra o bem público.
É simplesmente irresponsável que a discussão de qualquer impropriedade na linha dessas já averiguadas ou alegadas não dê as coisas as devidas dimensões, fazendo parecer com que o maior "crime" (se é que configuraria crime) é o do juiz e não os do réu.
O ladrão roubou o dinheiro público, o juiz deu a dica ao promotor de onde poderia haver prova (real), isso então é "roubar," e fazemos de conta que o criminoso é o juiz e o ladrão é inocente coitadinho, vítima do sistema que encontra provas verdadeiras contra ele de maneira tecnicamente indevida, quando o ideal seria não ter isso e ele se safar, que malvado esse juiz, que inaceitável essa atrocidade.
* ainda que argumentavelmente, haja indício ou certeza de estar poupando alguns de investigação, ao menos momentaneamente -- o que pode ser sim aceitável, se permitir um resultado melhor no final, do que com a união de mais forças contrárias à operação policial. Porém é problemático.
tem ainda o fato mais grave de todos, que é ter se beneficiado pessoalmente do julgamento que ele mesmo presidiu. Não falta muito para descobrirmos qual vantagem financeira Moro levou ou levaria nisso tudo, porque eu duvido muito que ele tenha se sujado tanto somente pelo próprio projeto de poder.
Se algo análogo, talvez até mais "grave", levasse a impeachment/cassação/prisão de um hipotético presidente por associação a gangues assassinas e a outros tipos de crimes, eu acharia isso simplesmente ótimo. Se o juiz ou procuradores ainda tivessem tido nisso algum ganho pessoal, se vissem nisso oportunidade, não muda nada, bom para eles.
Suspeição de incriminação fraudulenta é outra coisa distinta.
Idealmente, claro, nada disso aconteceria, até porque daria a eventuais defensores fanáticos desse hipotético presidente a oportunidade de explorar o mesmo purismo legal para o benefício do criminoso. Mas entre isso e a certeza da pizza, isso.
Mas "aposto" que os defensores de Lula, infinitamente mais nobres que eu, também bravamente protestariam contra os mesmos desvios de protocolo que porventura levassem a se encontrar provas suficientes para essas condenações. O purismo legal acima de tudo!
Se bem que os 2 bi que o lavajatismo queria garfar da indenização da BR, já dava uma pista disso tudo. Mas acho bem curioso essa tentativa de medir a corrupção do Moro como sendo menor que a corrupção que ele julgou, chegamos no ponto da competição pra ver quem é menos corrupto?
"Sim," crimes/desvios não têm todos a gravidade igual. Daí vem a "dosimetria" das eventuais penas, quando aplicáveis. Acho que geralmente quem quer igualar tudo sem distinção de grau ou de qualidade deve ter algum interesse bastante questionável nessa ladainha.