Reclame com Popper, que é filósofo, inclusive.
Quem propôs a idéia já não faz mais diferença se a idéia existe. O que tem que ser reclamado, se é que tem, é a idéia. Você disse que segundo a idéia (deduzo que seja aceita) tudo aquilo que não pode ser minimamente verificado (físico) não é falseável e citou o caso de deus, que é algo que só pode ser percebido pela razão (deus é uma idéia), mas não pelos sentidos com ou sem tecnologia auxiliar.
Muito bem, esquecendo deus, mas partindo desse pressuposto, todas as coisas que podem ser percebidas apenas pela razão, mas não pelos sentidos com ou sem tecnologia auxiliar, não pode ser falseáveis.
Se considerarmos o modelo cósmico de um Universo que se contrai e se expande no tempo estamos considerando a eternidade. Se considerarmos um Universo em expansão a partir do Big Bang, estamos considerando um começo, mas não um fim, e portanto, a infinidade.
Acontece que eternidade e infinidade não são falseáveis, pois não possuem formas que podem ser percebidas ou submetidas a experimentos. Isso significa que estamos partindo de pressupostos que podem ser falsos, mas não são falseáveis. E se não são teorias, são modelos e hipóteses aceitos pela Ciência, que possuem a mesma característica que não permite aceitar deus como modelo ou hipótese para o universo – a infalseabilidade. Se eu afirmo que o infinito e o eterno existem, como falsear minha afirmação, se são invisíveis, inodoros, incolores, insípidos, impalpáveis etc?
Substantivo abstrato é uma abstração. Não é uma teoria científica. Você está confundindo as coisas.
Não estou confundindo, estou questionando: por que hipóteses ou modelos feitos em cima de abstrações que não podem ser falseáveis são “válidos”?
Que coisas? Dê nome aos bois.
As coisas acima mencionadas, tipo a lógica.
A lógica, por exemplo, não possui condições minimamente “verificáveis” de aspecto físico, está condicionada ao plano intelectual (é uma abstração) e portanto não pode ser falseável.
E o que é a razão e os sentimentos senão uma série reações eletroquímicas?
A “aceleração” do carro, por exemplo, é gerada pelo motor através da queima de combustível (reação química), mas a aceleração não é o mesmo que a queima, é o produto da reação.
Existe algo que comprove que a razão e os sentimentos são reações eletroquímicas ou tudo que sabemos comprovadamente e tudo que ainda não sabemos “pode também” sugerir que são apenas produtos dessas reações?
Existe forma de falsear a afirmação de que a razão seja uma reação eletroquímica, se tudo que percebemos são as reações, mas não a própria razão que também é insípida, incolor, inodora (...)?
Invertendo a situação, poderíamos dizer que a aceleração é uma reação química e não uma força gerada por essa reação?
Foi a mente humana quem criou isso. E estamos aprendendo e conhecendo os mecanismos que possibilitaram isso. Ainda não sabemos tudo.
Nem tudo que a mente cria pode ser fisicamente verificável, portanto, nem tudo que a mente cria, pode ser falseável. Entre tudo aquilo que não pode ser falseável, devido sua própria condição de abstração, que critério a Ciência usa para definir o que é assunto de Ciência e o que é assunto de Filosofia e que “método científico” utiliza para embasar isso?
O que não é assunto da ciência? A lógica e razão são oriundas de processos cerebrais. Ainda não sabemos precisamente como.
Estou partindo do pressuposto apresentado de “não verificável”. A lógica possui atributos que podem ser fisicamente verificáveis, para que possa ser falseada? Observar processos cerebrais equivale a dizer que estamos observando a lógica? Fisicamente falando, partindo do pressuposto de “verificável” a lógica existe ou é apenas uma idéia que não pode ser percebida por tato, olfato, paladar, visão e audição? Não é sobre as coisas que não podem ser captadas pelos sentidos que estamos falando?
Só não podemos ficar tentados a enfiar um deus ou algo sobrenatural no meio.
Não estou tentada a enfiar nada no meio, estou tentada a saber como é que coisas sobrenaturais como infinidade e eternidade estão no meio. Estou tentada a saber como é que uma Ciência que só pode lidar com dados materiais e fisicamente verificáveis pode se utilizar de “idéias” que não podem ser submetidas ao método científico, isso, é claro, partindo do pressuposto de “falseabilidade”.
Não estou entendendo aonde você quer chegar com esse papo...
Estou querendo chegar ao perfeito entendimento e "emprego" de falseabilidade. Se apenas o que pode ser observado é matéria de Ciência, temos que parar nas reações eletroquímicas, porque a partir daí é questão de filosofia. O raciocínio, como fruto do cérebro e suas reações é algo inverificável, materialmente falando. Podemos palpar o raciocínio? Podemos ver o raciocínio? Podemos cheirar o raciocínio? Podemos ouvir o raciocínio? Podemos degustar o raciocínio?
Observando as reações eletroquímicas a Ciência pode chegar à mesma conclusão que observando a queima de combustível: há produção. O que é observado é a “fonte” e as “reações” dessa fonte – “o produto” é apenas dedução dos efeitos que causa. Não percebemos a aceleração pelos sentidos, mas apenas como é produzida (reações) e seus efeitos sobre o objeto (movimento). O mesmo se passa com o raciocínio, não o percebemos pelos sentidos, apenas como é produzido (reações) e seu efeito sobre o homem (idéias).
E se foi a luta pela sobrevivência que aprimorou a nosa espécie e possibilitou que ela alcançasse por si mesma os mecanismos de entendimento da natureza?
“Se” é algo que não existe. Pois um crente pode alegar que “se” deus existe blá blá blá(...). Trabalhamos com fatos e o fato é que todas as espécies desenvolvem habilidades físicas para sobreviver, mas o homem, extraordinariamente, desenvolveu habilidade intelectual. O homem evoluiu do macaco, até aí tudo bem, mas isso não explica porque o macaco não evoluiu, sendo anterior ao homem e vivendo no mesmo espaço físico. E também não explica porque o macaco não se extinguiu com a evolução para a condição de homem. E também não explica porque o chipanzé, por exemplo, com 95% de semelhança física, não desenvolveu o raciocínio apurado, capaz de calcular, filosofar, inventar, deduzir.
Todas as outras espécies vivas mostram que não é necessário raciocínio para perpetuar, mas apenas habilidades físicas. E as que não desenvolvem essas habilidades se extinguem. Os primatas com toda sua semelhança, mostram que o raciocínio não é necessário a perpetuação dos primatas. Se a Navalha de Ockham tivesse aplicação nesse caso, o homem teria desenvolvido habilidades semelhantes a dos macacos ou simplesmente se extinguido, como tantas outras espécies. Mas por algum estranho mistério, em vez de pegar o caminho mais simples, como tudo na natureza, o homem pegou o caminho mais complexo.
E qual outro plano senão o material?
O intelectual - o raciocínio – essa ferramenta excepcional que somente o “sapiens” possui e cria coisas que não existem para compor sua “realidade”, como a fantasia, a imaginação, os mitos, as lendas, o sobrenatural, o metafísico. Ou tudo isso não faz parte da “realidade” humana?
Luz, diga logo o quer propor, sem meias palavras, vamos lá.
Quero propor que em vez de ficarmos questionando apenas coisas banais como mitos, lendas e religiões, ocupemos melhor nosso tempo questionando a Ciência, suas limitações, suas falhas, suas lacunas como propôs Sagan. Não temos que apoiar cegamente o que a Ciência diz ou faz e nem temos que defendê-la. Não temos que ser convenientes a ela, nós temos que ser a pedra do sapato, testar seus limites, exigir explicações e provas, cobrar, vigiar e fazer parte.
A Ciência não é uma vaca “sagrada”, ela é uma vaca “leiteira”. E nós não somos hindus, nós somos céticos – deveríamos duvidar e escarafunchar os mínimos detalhes de todas as explicações que nos apresenta, mas por algum estranho mistério, tudo aquilo que carrega uma credencial “científica” é adorado como uma “verdade revelada”.
Quem não acredita numa possibilidade que não está “comprovadamente” descartada matou uma dúvida sem precisar de comprovação. Temos que assumir nossa realidade: “eu sou o homo sapiens” e não o macaco do laboratório do homo sapiens científico. Eu proponho que invertamos as posições e coloquemos essa Ciência que existe para servir ao homem como cobaia de nossas investigações.