Acho que se um dia alguém olhar dentro da cabeça do JJ vai encontrar vários compartimentos que não se comunicam. Na Psiquiatria também é conhecido como transtorno das múltiplas personalidades.
Esse surpreendente fundamentalismo bíblico é só uma das 53 personalidades dele.
Mas eu prefiro que seja um transtorno psiquiátrico do que trollagem, porque a minha intuição me diz que vou ficar horas escrevendo esse "post" que inicio...
Pois leio essas coisas e não me aguento. Fico aqui a balançar a cabeça em desespero, mas com a certeza de que encerrar de uma vez por todas essa discussão é só uma questão de devida paciência, de pôr todos os pingos no is.
É isso que tentarei fazer agora, sistematicamente. Mas se estiver perdendo meu tempo para trollagem vou ficar muito p... da vida.
Vamos por partes mas sem rodeios: só pessoas mal intencionadas ou que sofreram lavagem cerebral em alguma igreja questionam algo tão gritantemente óbvio como a montanha de evidências do fato da evolução. Mal intencionado você não é, então se não for trollagem é porque você está cheio dessas minhocas de criacionismo na cabeça.
Nesse caso há duas questões bem distintas que precisam ser analisadas:
1 - Gênesis é um relato da origem da Terra e da vida nesse planeta?
2 - A Teoria da Evolução é um conjunto de hipóteses a respeito da diversidade da vida com imenso poder explicativo?
Antes de tudo temos que perceber que são questões diferentes, porque os criacionistas induzem suas vítimas a achar que se a T.E. for refutada Gênesis estará automaticamente provado.
Claro que provar Gênesis refuta a T.E., mas refutar a T.E. não prova Gênesis.
A primeira é bem fácil: o relato bíblico está irremediavelmente descartado. Toda a realidade está em desacordo com a fábula criacionista. Portanto rejeitar a T.E. não vai ajudar em nada a aceitar Jesus como seu único salvador.
Agora que nos livramos dos antolhos da religião podemos examinar com lucidez se a evolução é ou não um fato, ou se a teoria dá realmente "um enorme salto indutivo". Mas antes de discutir a teoria vamos mostrar o fato da evolução.
Imagine que te deram uma caixa de papelão e ao abri-la você descobre centenas de pecinhas coloridas, cada uma com um recorte diferente. Juntando as peças, no início com muita dificuldade, vai surgindo aos poucos uma bela imagem da basílica de São Pedro, até que ao encaixar a última peça você obtém a imagem inteira em um painel completo. Você então, por ser pessoa dotada de muita perspicácia, conclui que o que tinha dentro da caixa era um quebra-cabeças desmontado.
Mas aí chega aquele seu primo ( aquele que sofreu um acidente de parto e faltou oxigêneo no cérebro por alguns minutos ) e diz: "Quê isso cara, você está dando um enorme salto indutivo. Em 1º lugar você não estava lá pra ver quando e se recortaram a fotografia. Não, não, não, são muitas suposições! Ninguém me convence que cada pecinha não teve uma origem diferente. Talvez 500 pessoas diferentes, em diferentes lugares, tenham lambuzado um borrão de tinta em sua peça e todas elas foram por acaso parar nessa caixa. Aí você juntou como quis e por isso montou acidentalmente essa imagem perfeita, com todos os mínimos detalhes, de uma basílica."
Como você refutaria o
arjumento, digo, o argumento do seu primo?
Tudo que você pode dizer é que aquilo ser um brinquedo quebra-cabeças é um fato além de qualquer dúvida razoável.
Agora, por favor, observe a figura que já foi lhe apresentada em outro tópico:
Nessa disposição de fósseis que é encontrada em estratos geológicos ao redor do mundo, temos uma linha do tempo. Percorrendo-a não vemos outra coisa senão a evolução da diversidade da vida na Terra. A estratigrafia conta a história da evolução como se alguém a tivesse escrito em um livro. E como eu já chamei antes a atenção, essa história só faria sentido, só poderia ter acontecido, se a sequência estratigráfica fosse exatamente esta que se verifica na realidade.
Na figura vemos uma classificação de 13 períodos. Talvez o número te surpreenda, mas é possível rearranjar 13 camadas de 6.227.020.800 maneiras diferentes. Seis bilhões, duzentos e vinte e sete milhões, vinte mil e oitocentas maneiras diferentes! Apenas uma entre estas bilhões de possibilidades confirmaria o fato da evolução e é exatamente esta a sequência que os paleontólogos encontram. Mas Darwin sequer teve conhecimento dessa linha do tempo impressa nas rochas pois eram conhecidos um número muito menor de fósseis, e mesmo assim pôde inferir o fato da evolução através de inúmeras outras evidências que convergiam todas para uma mesma conclusão.
Logo, o nosso
"imenso salto indutivo" consiste em perceber que; ou estamos montando um imenso quebra-cabeças com milhões de peças encaixando-se perfeitamente, ou estamos sendo iludidos por uma colossal coincidência
ENTRE um conjunto fantasiado de hipóteses sem nenhuma relação com fatos E uma infinidade de aspectos da realidade que parecem confirmar as hipóteses. Com o detalhe importante que muitos destes aspectos sequer eram conhecidos quando estas hipóteses puderam ser formuladas.
Mas não acaba aí não!
Os fósseis não apenas confirmam temporalmente a hipótese de evolução mas também com a sua distribuição espacial.
Imagine que se encontrasse um fóssil que poderia ser de um ancestral próximo do canguru, mas esse fóssil tivesse sido achado na América do Sul. Este fato não poderia ser usado como evidência que o canguru evoluiu de outras espécies porque paleontólogos teriam que forçar muito a barra para imaginar que há milhões de anos um animal terrestre nadou da Argentina até a Austrália.
Porém os fósseis são encontrados não apenas em uma sequência cronológica condizente com a hipótese de evolução, como também estão sempre nos lugares certos. E ninguém acha fóssil de ancestral PRÓXIMO de canguru senão na Oceania.
Ou é o quebra-cabeças sendo montado, ou o quê?
Todos os fósseis de primatas que poderiam ter ancestral comum com nossa espécie, ou foram encontrados na África, ou em lugares para onde seus ancestrais poderiam ter migrado a partir da África. Mas bastaria encontrar um fóssil de Australopitechus afarensis nas Américas e toda a hipótese de evolução escoaria pelo ralo.
Observe atentamente o seguinte diagrama e note que este só é possível como hipótese porque tanto as datações destes fósseis como a distribuição geográfica de seus achados é coerente com a hipótese.
Perceba então que a possibilidade de encontrar-se evidências que refutem a evolução ( caso fosse uma falsa hipótese ) seria infinitamente maior que a chance de só encontrar evidências que pareçam confirmar hipóteses sem fundamento. E a raciocínios lógicos inquestionáveis como este, você está chamando de "imenso salto indutivo".
Mas não acaba aí não...
Agora vamos examinar o esquema ilustrado na figura abaixo:
Esta é representação artística de uma árvore filogenética que "SUPOSTAMENTE" exibiria as relações de parentesco entre as diversas formas de vida existentes e que já existiram. A tecnologia de sequenciamento de DNA facilita enormemente a determinação da relação entre as formas de vida atuais, mas antes mesmo dessa tecnologia já era possível montar uma árvore filogenética estudando-se o registro fóssil, relações morfológicas, etc... Mas quando foi possível o sequenciamento de DNA este apenas confirmou na maior parte a filogenia já inferida através de outras evidências.
Grande coincidência ou peças de um imenso quebra-cabeças sendo encaixadas pela Biologia?
Por exemplo, já se postulava que o chimpanzé era a espécie atualmente existente mais próxima da nossa. O sequenciamento de DNA confirmou que esta é a espécie ainda existente com a maior similaridade genética com o Homo Sapiens.
E claro, graus de relação também entre outras espécies foram em geral confirmados pelo DNA. Coincidência?
Mas não acabou não.
O sequenciamento de DNA propiciou descobertas interessantíssimas. Se houve de fato evolução então tudo indicava que o chimpanzé fosse nosso parente mais próximo. Pois surge a possibilidade de comparar DNAs e eis que coincidentemente esta espécie tem a maior similaridade genética com a nossa. Daí os cientistas fuçam um pouco mais e descobrem que apenas duas espécies de mamíferos não são capazes de sintetizar vitamina C. Adivinhe quais são...
Pois é, nós e os chimpanzés.
Mas por quê não sintetizamos essa vitamina? Porque uma mutação aleatória no DNA nos tirou essa capacidade. Ao comparar os DNAs verifica-se que a MESMA mutação é encontrada na espécie do chimpanzé e também na nossa.
Seria um "imenso salto indutivo" supor que na verdade esta mutação ocorreu em um ancestral comum de ambas as espécies? Ou você prefere imaginar que não há relação de parentesco e a mesma mutação, a
MESMÍSSIMA MUTAÇÃO, ocorreu em dois momentos diferentes. Uma vez a um ancestral qualquer do chimpanzé e outra vez a um outro ancestral qualquer do Homo Sapiens?
A
MESMÍSSIMA mutação, o que seria uma possibilidade muito menor que o deputado Onaireves ganhar 200 vezes seguidas na Megasena.
Mas pensa que acabou? Ainda não.
Já ouviu falar de assinaturas de infecções retrovirais? É interessante conhecer porque isto é o mais próximo que uma prova da Biologia poderá chegar de um teorema matemático. Tipo assim, se isto não te convencer sobre ancestralidade comum o Teorema de Pitágoras também não vai te convencer que o quadrado da hipotenusa é a soma dos quadrados dos catetos.
Um retrovírus não tem DNA, tem RNA. Esse organismo não pode se replicar independentemente, precisa de uma célula hospedeira onde ele insere uma cópia de seu RNA em qualquer lugar no DNA da célula, obrigando-a a produzir cópias deste vírus. A célula, se sobreviver a infecção, fica com uma cópia desse RNA no seu DNA: isso é chamado de assinatura da infecção por retrovírus.
Imagine se esta célula for um gameta ( óvulo ou espermatozóide ) e sobreviva a infecção e ainda por cima, por acaso, se torne responsável por gerar um novo ser vivo. Este ser vivo e toda a sua descendência irá carregar em seu próprio DNA a assinatura desta ancestral infecção por um retrovírus. A chance de uma tal coincidência é quase zero, mas como há bilhões de anos existe uma infinidade de seres vivos no planeta, e as infecções por vírus ocorrem aos montes há bilhões de anos, de vez em quando esta coincidência acontece.
Foi isso que pesquisadores descobriram mais ou menos recentemente examinando DNAs de várias espécies: assinaturas de ERVs.
É óbvio o fato da ancestralidade comum, é óbvio que evolução ocorreu e ocorre. E a espécie que possui o maior número de assinaturas de ERVs em comum com a nossa não poderia ser outra senão o chimpanzé.
Ocorrer uma assinatura de ERV já é um evento raríssimo, além disso um retrovírus tem ao acaso cerca de 4 bilhões de diferentes possibilidades de posições para inserir seu RNA. Logo já seria uma inaceitável coincidência algum ancestral de todos os chimpanzés apresentar uma mesma assinatura de ERV que algum ancestral de todos os seres humanos,
CASO ESTE ANCESTRAL COMUM NÃO FOSSE EXATAMENTE O MESMO INDIVÍDUO.
Porém o mais incrível é não apenas encontrar-se a mesma assinatura mas também constatar que elas estão exatamente no mesmo locus no DNA!!! Não, isso não é o mais incrível. Impressionante é que temos em comum com os chimpanzés mais de uma ASSINATURA.
E todas exatamente na mesma posição do DNA!
E não pára por aí: dá pra construir árvores filogenéticas só rastreando assinaturas de ERVs nos DNAs das várias espécies. Tão fácil como em um jogo de ligar pontinhos.
Deduzir que ancestrais comuns transmitiram as mesmas assinaturas a diversas espécies que se originaram a partir de suas descendências não é um "imenso salto indutivo". Só uma pessoa muito burra ou muito doida não veria a lógica disso.