Há algum tempo eu votaria a opção "Sim, para determinados casos"... Mas, hoje, sou absolutamente contra qualquer pena de morte; também sou contra a prisão perpétua. Sem exceções; sou contra a pena de morte para o Maníaco do Parque, para Hitler, contra a pena de morte até (acreditem ou não) para George W. Bush.
Vou começar com uma citação de Cesare Beccaria: "A soberania e as leis não são mais do que a soma das pequenas porções de liberdade que cada um cedeu à sociedade. Representam a vontade geral, resultado da união das vontades particulares. Mas, quem já pensou em dar a outros homens o direito de tirar-lhe a vida? Será o caso de supor que, no sacrifício que faz de uma pequena parte de sua liberdade, tenha cada indivíduo querido arriscar a própria existência, o mais precioso de todos os bens?".
Este é meu primeiro argumento, talvez o mais egoísta de todos: Eu não endosso a "Cláusula" do "Contrato Social" que atente contra minha própria vida, por mais hediondo que seja o crime que eventualmente eu pratique. Ademais, ninguém está livre (seja-se culpado ou inocente) de fazer uma "grande merda" e ir parar num tribunal que julgará se o réu tem ou não o direito de continuar vivendo; ninguém entrega(ria) a ninguém o direito de fazer tal escolha. Mas este argumento é ínfimo diante dos demais...
Há poucos séculos, um "grupinho" de "rebeldes" derramou seu próprio sangue em nome de alguns ideais (parabéns aos que lembraram da Revolução Francesa!)... Não vou dar uma aula de história aqui; vou direto ao ponto:
Graças a essa galerinha, hoje temos o direito de não sermos queimados em fogueiras só porque discordamos da Satânica Igreja Católica Apostólica Romana... Claro que eles não lutaram só por isso... Cabeças rolaram para consquistar a igualdade dos homens perante a lei... Cabeças rolaram para não haver uma "religião oficial do Estado"... cabeças rolaram em nome do direito à propriedade; em nome da república; em nome da democracia...
Os meus heróis - nossos mártires - morreram, melhor dizendo, deram sua vidas para que hoje nós tenhamos o direito de viver... Mas, antes de falar em "direito de viver" (parece que algumas pessoas não dão muita importância a tal conquista), quero falar num outro direito conquistado à custa de muito sangue e sacrifício:
"A lei só deve estabelecer as penas estritas e evidentemente necessárias(...)" (Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, VIII). A isso se chama "Princípio da necessidade/eficácia da pena". Ora, todo crime carece da imposição de uma sanção capaz de puni-lo de forma que não mais se cometa ou se queira cometê-lo.
Faz algum sentido punir o jogador de futebol que tomou seu segundo cartão vermelho com a pena de não poder participar de partidas de baseball profissional? Faz algum sentido punir um motorista por uma infração de trânsito rodoviário com a pena de não mais poder pilotar caças à jato? Tais sanções são eficazes/necessárias?
A pena de morte é eficaz/necessária como pena em si? Muitos podem argumentar positivamente de alguma forma quanto a isto. Mas, para se responder de maneira satisfatória a esta indagação, ou seja, para saber se uma pena é necessária/eficaz deve-se analisar os dois pólos da prevenção penal.
No pólo mais importante: a pena de morte é eficaz para impedir que se cometam crimes? (pergunta retórica)
Independente disso, há outra questão de maior relevância: a pena de morte (juntamente com a prisão perpétua) é a que possui o maior fator criminógeno. Por "fator criminógeno" entende-se a motivação para o cometimento de outros crimes, ou a desmotivação para evitar cometer mais crimes; ou seja, para o criminoso que se vê na possibilidade de ser condenado à sanção capital não há qualquer motivo para o arrependimento, não há qualquer estímulo para o desejo da volta ao convívio social. Num exemplo plausível, tal possibilidade de condenação impele o criminoso a eliminar qualquer um que se ponha em seu caminho; qualquer policial que tente prendê-lo; qualquer um que ameace denunciá-lo.
...
Voltando ao "direito de viver", também temos: "Toda pessoa tem direito à vida (...)" (Declaração Universal dos Direitos Humanos, Artigo III). Esta foi escrita com a tinta da caneta dos pacificadores, ao contrário da primeira declaração, escrita com o sangue dos mártires.
Quem rasgar este artigo está rasgando todos os outros direitos conquistados... E que volte o "Tribunal da Santa Inquisição"!
Para mim, a instituição da pena de morte é um retrocesso à Idade das Trevas, das "fogueiras santas"...
...
Mas, e o que fazer com o maníaco do parque, com Hitler, com George W. Bush?
Minha proposta: Colônias Penais de Trabalho e Educação. Os criminosos trabalhariam para a sociedade... plantariam; colheriam; construiriam escolas; movimentariam a economia... Estudariam... Profissionalizar-se-iam...
Dar-se-ia o básico para sobreviver a todos os presos (os que quisessem e os que não quisessem trabalhar). Quem quisesse um franguinho assado, uma pelada aos fins de semana, o direito a visitas íntimas, enfim, teria de conquistar com trabalho e títulos.
A pena não seria "anos de detenção/reclusão"; seria "anos de trabalho".
Construir um modelo social dentro do sistema penitenciário (uma utopia distante, mas nada difícil de alcançar).
Saudações.