Viagra
Depois que Tio Valentim separou-se da Tia Jacobina, a carola, trouxe trapos e trouxas para Blumenau, onde alugou um quartinho na esquina da Rua Bahia com a Benjamin Constant. Manhoso, conseguiu emprego de motorista na prefeitura. Comprou um celular (faz a maior mala) e de vez em quando vem aqui em casa para bater um papo. Ontem apareceu de surpresa, esbaforido, e com uma conversa meio diferente:
– Me empresta 100 reais?
– Tá louco, tio?! Onde é que vou arranjar essa grana agora?
– Lembra da Neuza, o mulherão de quem falei no outro dia?
– Sei. O que tem ela?
– Ficou de passar lá em casa hoje à noite.
– Mas não era isso que o tio queria?
– Era. O problema é que ela... é que eu... Ô meu sobrinho, a Neuza é a maior potranca. E eu... esse cavalo velho que você vê... eu não sou mais o mesmo... Os 100 reais são...
– Pra comprar Viagra. Acho que entendi o drama.
Comovido com a triste sina do Tio Valentim, arrumei os 100 reais e saí com ele para adquirir o remédio. Tarefa difícil. Como o estoque estava esgotado nas farmácias que visitamos, recorremos ao mercado negro. Viagra e similares também são vendidos em certos botecos, boates, restaurantes e salões de beleza. Pragmático, o tio resolveu dispensar a cartelinha com quatro unidades e, pelo mesmo valor, comprou 20 pílulas de Pramil, o verdinho contrabandeado do Paraguai.
– Oh, Deus, a que ponto cheguei.
– Não esquenta, tio. Vá pra casa e tome um desses comprimidos. A tal Neuza deve estar a caminho.
Tio Valentim foi. Só que cometeu a maior loucura. Morto de ansiedade, em vez de tomar apenas uma pílula, entornou logo o pacote e, com a ajuda de um copo d’água, engoliu todas as 200!
***
À meia-noite, curioso, liguei para o celular dele. Queria saber se tudo correu bem.
– E aí, tio? O remedinho funcionou?
– Maravilha. Sete vezes, já.
– Sete? Ô louco! E a Neuza?
– Não sei. Ela ainda não chegou.