Autor Tópico: Fora da caridade não há salvação  (Lida 12514 vezes)

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Offline Cyrix

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Re: Fora da caridade não há salvação
« Resposta #25 Online: 29 de Outubro de 2006, 16:36:17 »
Porque será que o altruísmo puro e deinteressado evoluiu nos humanos , mas não nos animais? Fica ainda este mistério.

Em termos. Além do já comentado altruísmo entre outras espécies, nosso altruísmo está longe de ser puro ou desinteressado. Ele está permeado por "nepotismo", no sentido em que somos mais solidário com quem temos laços de sangue. Uma pergunta simples: se em meio a uma tragédia (um incêndio, por exemplo) alguém estivesse na condição de salvar um filho seu ou três crianças desconhecidas (não podendo salvar as quatro de uma vez), o que achas que maioria escolheria?

Se for visto de um ângulo estritamente biológico, é difícil que um ajuntamento aberto evolua para uma sociedade plenamente altruísta, por um simples motivo: sempre haverá a intromissão "aproveitadores" que se darão bem com o esforço alheio e terão mais chances de passar seus genes adiante.

A experiência dos kibutzin (fazendas coletivas) israelenses teve sérios problemas porque muitos deles se tornaram "paraíso de parasitas". Experiências feitas com jogos que simulam fundos de investimento mostraram que são mais viáveis aqueles em que os maiores investidores podem impor punições ao participantes que pouco arriscam, ao contrário dos fundos que dividem os lucros de forma homogênea e prejuízo de forma individual.  Estes acabam se degenerando e, no final, ninguém investe mais nada; ou porque já não investia desde o começo ou porque não quer sustentar ineptos.
« Última modificação: 29 de Outubro de 2006, 16:41:09 por Cyrix »
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Offline Douglas

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Re: Fora da caridade não há salvação
« Resposta #26 Online: 29 de Outubro de 2006, 17:00:08 »
O altruísmo pode ser verificado cientificamente?

Se possível, como?
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Offline Cyrix

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Re: Fora da caridade não há salvação
« Resposta #27 Online: 29 de Outubro de 2006, 17:27:40 »
O altruísmo pode ser verificado cientificamente?

Se possível, como?
Há dois experimentos bem no post anterior ao seu: um experimento social (com grande número de variáveis e controle ruim, mas ainda assim um experimento) e outro de simulação.
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Tarcísio

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Re: Fora da caridade não há salvação
« Resposta #28 Online: 29 de Outubro de 2006, 17:36:33 »
Não se faz nada que não se julga interessante.

rizk

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Re: Fora da caridade não há salvação
« Resposta #29 Online: 29 de Outubro de 2006, 17:41:46 »
Que é teoria dos jogos e em que ela pode ajudar nesse assunto?

Offline Luis Dantas

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Re: Fora da caridade não há salvação
« Resposta #30 Online: 29 de Outubro de 2006, 17:47:38 »
Faz tempo que não recomendo "How Are We to Live?" do Peter Singer.  É um bom livro sobre o assunto.  Há alguns links na Wikipedia.
Wiki experimental | http://luisdantas.zip.net
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Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Offline Cyrix

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Re: Fora da caridade não há salvação
« Resposta #31 Online: 29 de Outubro de 2006, 17:56:50 »
Que é teoria dos jogos e em que ela pode ajudar nesse assunto?
Está mais para economia comportamental do que simples abstração. As simulações são feitas com participantes reais. Mostram que há condições para um comportamento cooperativo evoluir caso haja recompensas para quem se esforça mais e punições para quem se esquiva.
Este fenômeno foi independentemente documentado por psicólogos sociais, que o denominam social loafing (algo como "malandragem social"). Quando as pessoas fazem parte de um grupo, puxam a corda com menos força no cabo-de-guerra, aplaudem com menos entusiasmo e apresentam menos idéias em uma sessão de brainstorming; a menos que pensem que suas contribuições ao esforço do grupo estão sendo monitoradas.
« Última modificação: 29 de Outubro de 2006, 17:59:53 por Cyrix »
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Tarcísio

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Re: Fora da caridade não há salvação
« Resposta #32 Online: 29 de Outubro de 2006, 21:16:40 »
Faz tempo que não recomendo "How Are We to Live?" do Peter Singer.  É um bom livro sobre o assunto.  Há alguns links na Wikipedia.

AHEhhehaHeAHEhAH!

rizk

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Re: Fora da caridade não há salvação
« Resposta #33 Online: 29 de Outubro de 2006, 21:22:05 »
AHEhhehaHeAHEhAH!
Olha o trollismo COMPANHEIRO.

Tarcísio

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Re: Fora da caridade não há salvação
« Resposta #34 Online: 29 de Outubro de 2006, 21:32:28 »
Ele recomenda de cinco em cinco tópicos o livro, já me indicou umas duas vezes no msn, qual o mal de achar graça? :P

É... agora me preocupei.

Luiz você achou que agi como troll ou reconheceu que eu achei graça pelo "Faz tempo que não recomendo "How Are We to Live?" do Peter Singer."?
« Última modificação: 29 de Outubro de 2006, 21:34:32 por Tarcísio »

rizk

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Re: Fora da caridade não há salvação
« Resposta #35 Online: 29 de Outubro de 2006, 22:03:11 »
Poxa, vc tem que se explicar, senão eu me confundo.

Se bem que eu pensei nisso tbm, ele só fala do Peter Singer :lol:

Offline Luis Dantas

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Re: Fora da caridade não há salvação
« Resposta #36 Online: 29 de Outubro de 2006, 22:05:03 »
Percepção é algo muito pessoal, companheiros...
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Offline Leafar

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Re: Fora da caridade não há salvação
« Resposta #37 Online: 29 de Outubro de 2006, 22:09:16 »
Citação de: Atheist
Pois é... Uma prova bioquímica do que eu já havia comentado em outros posts, de que a doação não passa de egoísmo.
Nada melhor que um dicionário para dirimir dúvidas a respeito do significado das palavras:

Egoísmo, s. m. Amor-próprio excessivo, que leva o indivíduo a olhar só para seus interesses, com desprezo dos alheios.

Altruísmo, s. m. Amor ao próximo; filantropia. (Antôn.: egoísmo) (Do fr. altruiste)

Filantropia, s. f. Altruísmo; amor à humanidade.

Pelas explicações acima, podemos ver que o Altruísmo não exclui necessariamente o amor-próprio.  O que inviabiliza o altruísmo é o amor-próprio excessivo, que só pensa em si com desprezo aos outros.  Eu posso ser altruísta pleno e ao mesmo tempo desejar para mim a mesma felicidade que proporciono a outros.  Eu posso ser altruísta pleno e ao mesmo tempo desejar ter a satisfação pelo bem que faço.  Esse sentimento não inviabiliza o altruísmo.

O que caracteriza o altruísta completo é pensar no próximo antes de pensar em si.  Ele preocupa-se com a felicidade do próximo em primeiro lugar e com a sua felicidade em segundo lugar.  Ele deseja que ninguém tenha que ser infeliz, mas se alguém tiver que o ser, que seja ele antes do próximo.  É aquele que se satisfaz pelo bem que faz, mas não faz o bem simplesmente por causa dessa satisfação, porque aquele que busca apenas a satisfação pode perfeitamente procurar outros meios, como os já citados no artigo (drogas, sexo, dinheiro, etc...).  O altruísta completo busca a satisfação pessoal, com certeza, mas por meio da caridade em primeiro lugar e os outros métodos (se houverem) em segundo lugar.  O altruísta completo pratica a caridade quando surge ou quando cria a oportunidade, mesmo quando não vê nenhuma possibilidade de recompensa e, muitas vezes, até quando o bem que faz possa lhe resultar em certo prejuízo moral ou material.  Mas não é hipócrita e não deixa de fazer a caridade simplesmente porque pode pegar mal lucrar material e/ou moralmente.  É certo que ele sabe antes que a satisfação íntima é a sua maior e melhor recompensa, mas não deixa de ser um altruísta pleno por causa do desejo dessa satisfação, pois, como já disse, o altruísmo não exclui o amor-próprio.

Já o que caracteriza o altruísta incompleto é o fato de pensar no próximo depois de pensar em si mesmo.  Ele preocupa-se com a sua felicidade em primeiro lugar e com a do próximo em segundo lugar.  Ele deseja que ninguém tenha que ser infeliz, mas se alguém tiver que o ser, que não seja ele em primeiro lugar.  É aquele que se satisfaz pelo bem que faz, e essa satisfação é a sua maior motivação, geralmente com o interesse de fazer algum marketing pessoal.  O altruísta incompleto geralmente não busca a caridade como meio principal de satisfação íntima, e geralmente a faz porque se sente na obrigação de demonstrar perante os homens que faz alguma coisa de bom.  Sempre faz caridade quando vê que pode lucrar material ou moralmente.  Se ele vê que não há possibilidade de alguma recompensa, pode ou não criar oportunidades de fazer a caridade, e pode ou não fazê-la quando surge naturalmente a oportunidade.  Mas se perceber que pode lhe resultar em algum prejuízo moral ou material, então é que nunca fará a caridade.  Considera a satisfação íntima uma boa recompensa, mas não a maior recompensa.  O altruísta incompleto não é necessariamente egoísta, pois pensa no próximo, ainda que antes pense em si mesmo.  O altruísta incompleto propriamente dito não seria capaz de passar por sobre o próximo quando se visse em prejuízo.

Já o egoísta, que é o oposto do altruísta, não se interessa pela felicidade do próximo, nem mesmo em segundo lugar.  Para ele tanto faz se o outro é feliz ou não e não move uma palha para ajudar ninguém, a menos que possa ganhar alguma coisa com isso.  O egoísta não sente satisfação com a felicidade do próximo: ele lhe é indiferente.  Se se sente prejudicado, vai até as últimas conseqüências para levar vantagem, ainda que seja para trapacear e jogar sujo com o próximo.

Com essas reflexões, caro Atheist, quis tentar demonstrar que ainda que se buscasse a satisfação íntima proveniente da caridade, isso não caracterizaria o egoísmo, pois o egoísta nunca encontra satisfação na caridade e, portanto, o argumento é falso.  O egoísta, quando faz a caridade é por obrigação ou interesses e, provavelmente, não haveria a liberação da tal da dopamina do prazer.  E também quis demonstrar que o amor próprio não inviabiliza o altruísmo pleno. :ok:

Citar
Com este dilema em suas mentes, os pesquisadores foram capazes de examinar o que acontecia na cabeça de cada participante enquanto realizavam decisões baseadas em critérios morais. A parte do cérebro ativada quando uma doação acontecia seria o centro de recompensa do cérebro --o caminho mesolímbico--, responsável por liberar dopamina, uma mediadora da euforia associada ao sexo, dinheiro, comida e drogas, afirma a reportagem.
Pelo que entendi, parece que então teríamos a chave da solução definitiva para os problemas dos excessos com drogas, sexo, alimentação e dinheiro.  Seria só substitui-los pela prática da caridade.  Como ninguém pensou nisso antes?

Opa!!!  Ninguém pensou, não...  A máxima principal da DE é a mesma do título desse tópico.  Ela foi usada pela primeira vez há quase 150 anos no Evangelho segundo o Espiritismo, em substituição das máximas "Fora da Igreja não há salvação" e "Fora da Verdade não há salvação", e, pasmem, por causa dela somos taxados às vezes de seita demoníaca.  Eu já vi e ouvi, com esses meus olhos e ouvidos que a terra ainda há de comer, num canal evangélico (Rede Gênesis), num filme americano de teor evangélico (não me lembro o nome), um ator dizendo, mais ou menos assim: "não acreditem nessas estórias inventadas por Satanás de que basta fazer a caridade para ser salvo.  Isso é mentira do demônio para enganar vocês.  A única coisa que salva é aceitar Jesus Cristo como único e exclusivo salvador.  Não é preciso mais nada!"  Mas, entretanto, continuamos afirmando, há quase 150 anos, que a única maneira suficiente para se ser salvo é praticar a caridade.  Nada mais.  Como vê, nos adiantamos à ciência com relação a esta descoberta.

Não discordo da veracidade dos resultados do estudo.  Mas discordo das conclusões que foram tiradas nesse fórum a partir dele.

Aliás, tocando no assunto, fica uma pergunta aos entendidos (eu sou leigo no assunto).  Já que a satisfação obtida com a caridade libera dopamina, será que poderíamos ter uma overdose de dopamina em função da prática da caridade?  Não me recordo de que alguma vez algum grande altruísta (considerado) tivesse sofrido uma overdose.  Em sendo verdadeira essa hipótese, imagino até as manchetes nos jornais: "Altruísta fulano de tal foi internado nesta madrugada por distribuir mais de 20 cobertores para mendigos nas ruas de São Paulo...", e após, a receita médica dizendo: "Sr. Fulano de tal: evite distribuir muitos cobertores numa única noite.  Limite-os a 5 ou 10 no máximo, por segurança."  Será que chega a esse ponto? :?:

Um abraço a todos.
« Última modificação: 29 de Outubro de 2006, 22:11:56 por leafar »
"Ide com a onda que nos arrasta; necessitamos do movimento, que é vida, ao passo que vós nos apresentais a imobilidade, que é a morte.... Queremos lançar-nos à vida, porquanto os séculos vindouros, que divisamos, têm horror à morte." (Obras Póstumas - Allan Kardec).

visite: http://conviccao-espirita.blogspot.com/2013/08/apresentacao-deste-blog.html

Offline Huxley

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Re: Fora da caridade não há salvação
« Resposta #38 Online: 29 de Outubro de 2006, 22:23:54 »
Porque será que o altruísmo puro e deinteressado evoluiu nos humanos , mas não nos animais? Fica ainda este mistério.

Em termos. Além do já comentado altruísmo entre outras espécies, nosso altruísmo está longe de ser puro ou desinteressado. Ele está permeado por "nepotismo", no sentido em que somos mais solidário com quem temos laços de sangue. Uma pergunta simples: se em meio a uma tragédia (um incêndio, por exemplo) alguém estivesse na condição de salvar um filho seu ou três crianças desconhecidas (não podendo salvar as quatro de uma vez), o que achas que maioria escolheria?

Se for visto de um ângulo estritamente biológico, é difícil que um ajuntamento aberto evolua para uma sociedade plenamente altruísta, por um simples motivo: sempre haverá a intromissão "aproveitadores" que se darão bem com o esforço alheio e terão mais chances de passar seus genes adiante.

A experiência dos kibutzin (fazendas coletivas) israelenses teve sérios problemas porque muitos deles se tornaram "paraíso de parasitas". Experiências feitas com jogos que simulam fundos de investimento mostraram que são mais viáveis aqueles em que os maiores investidores podem impor punições ao participantes que pouco arriscam, ao contrário dos fundos que dividem os lucros de forma homogênea e prejuízo de forma individual. Estes acabam se degenerando e, no final, ninguém investe mais nada; ou porque já não investia desde o começo ou porque não quer sustentar ineptos.

Acredito que haja sim, o altruísmo puro e desinteressado.Por acaso, os doadores de sangue não fazem parte deste grupo?

Quanto a pergunta "se em meio a uma tragédia (um incêndio, por exemplo) alguém estivesse na condição de salvar um filho seu ou três crianças desconhecidas (não podendo salvar as quatro de uma vez), o que achas que maioria escolheria?", eu posso respoder.Nesse caso, esse nepotismo é um egoísmo disfarçado, porque aumenta exclusivamente a aptidão inclusiva (a habilidade de querer passar adiante os genes dos genomas parecidos que o seu).O fato que o altruísmo evoluiu , não quer dizer que o egoísmo tenha que se extinguir.O que houve foi só um aumento da variabilidade de comportamento e também um balanceamento de egoísmo/altruísmo conforme a situação.

Se existisse uma seleção direcional nas populações convergindo para uma única característica e/ ou comportamento não existiria a variabilidade genética, e consequentemente a evolução.Todos estariam no fenótipo ótimo que deixaria mais descendentes em qualquer situação.

Por isso, acho que o altruísmo humano ainda permanece um mistério.Há tentativas boas para explicar, mas que ainda não foram testadas empiricamente.Como este:


Trecho de "O Poder do Meme" de Susan Blckmore.

"3 Por que nós somos tão gentis com os outros?

Claro que nós não somos sempre gentis com os outros, mas a cooperação humana e o altruísmo são coisas misteriosas - a despeito dos tremendos avanços feitos na compreensão das seleção de grupo e conveniência inclusiva, altruísmo recíproco e estratégias evolucionárias estáveis (veja e.g. Wright, 1994; Ridley, 1996). As sociedades humanas exibem muito mais cooperação do que é típico das sociedades de vertebrados, e nós cooperamos com os não-relativos em uma larga escala (Richerson e Boyd, 1992). Como Cronin o pôs, a moralidade humana "apresenta um desafio óbvio para a teoria Darwiniana" (Cronin, 1991, p 325).

Todos podem pensar provavelmente nos seus exemplos favoritos. Richard Dawkins (1989 p 230) chama a doação de sangue de "um genuíno caso de altruísmo puro e desinteressado". Eu fico mais impressionada pela caridade de dar às pessoas em países distantes que provavelmente compartilham tão poucos dos nossos genes quanto qualquer outra pessoa na terra e que nós provavelmente nunca iremos conhecer. E por que nós devolvemos carteiras achadas na rua, resgatamos animais selvagens machucados, suportamos companhias eco-amigas ou reciclamos nossas garrafas? Por que tantas pessoas querem ser pobres enfermeiras e conselheiras com péssimos salários, assistentes sociais e psicoterapeutas, quando elas poderiam viver em casas maiores, atrair companheiros mais ricos, e ter mais crianças se elas fossem banqueiras, corretoras ou advogadas?

Muitas pessoas acreditam que tudo isso deve finalmente ser explicado em termos de vantagem biológica. Talvez será, mas eu ofereço uma alternativa a ser considerada; a teoria memética do altruísmo. Nós podemos usar nossa tática, agora, familiar.

Imagine um mundo cheio de cérebros, e muito mais memes do que existem lares. Que memes são mais prováveis de acharem um lar seguro e serem passados adiante?

Imagine o tipo de meme que encoraja o seu hospedeiro a ser amigável e gentil. Ele poderia ser um para dar boas festas, para ser generoso com a geleia de laranja deita em casa, ou apenas estar preparado para gastar tempo escutando às mágoas de um amigo. Agora compare isso com os memes para ser antipático e pão-duro - nunca cozinhando jantares para as pessoas ou pagando drinks, e recusando a gastar seu tempo ouvindo os outros. Qual irá se disseminar mais rapidanente?

O primeiro tipo, claro. As pessoas gostam de ser gentis com as pessoas. Então aqueles que abrigam muitos memes amigáveis irão gastar mais memes com os outros e Ter mais chances de disseminar seus memes. Em conseqüência muitos de nós iremos acabar abrigando muitos memes para sermos gentis com os outros.

Uma maneira mais simples de dizer isso:- as pessoas que são altruísticas irão, em média, disseminar mais memes. Então qualquer meme que prospere em pessoas altruísticas é mais provável de disseminar - incluindo os memes para ser altruísta.

Você pode desejar desafiar qualquer um dos passos acima. É portanto animador aprender com os muitos experimentos de psicologia social, que as pessoas são mais suscetíveis a adotar idéias de pessoas que elas gostam (Eagly e Chaiken, 1984). Se isso é uma causa ou é uma conseqüência do argumento acima é algo debatível. Seria mais interessante se fatos psicológicos como estes, ou outros tais como a dissonância cognitiva, ou a necessidade de auto-estima, pudessem ser derivados simplesmente de princípios meméticos - mas esse é um tópico para outra hora!

Por enquanto nós devemos considerar se a idéia é ou não testável. Ela prediz que as pessoas deveriam agir de maneiras que beneficiem a disseminação de seus memes mesmo à um certo custo a si mesmas. Nós estamos acostumados em comprar informação útil, e com anunciantes comprando seus meios até a mente das pessoas com o propósito de vender produtos, mas essa teoria prediz que pessoas irão pagar (ou trabalhar) simplesmente para disseminar os memes que elas carregam - porque os memes as forçam. Missionários e Testemunhas de Jeová parece que o fazem.

Muitos aspectos da persuasão e da conversão em causas podem acabar envolvendo altruísmo dirigido por memes. Altruísmo é mais outro tipo de truque memético que as religiões (aqueles complexos de memes mais poderosos) tem explorado. Quase todas elas prosperam ao fazer seus membros trabalharem para elas e acreditar que eles estão fazendo o bem.

Claro, ser generoso é caro. Sempre existirá pressão contra isso, e se os memes puderem achar estratégias alternativas para disseminar, eles irão. Por exemplo, pessoas poderosas podem ser capazes de disseminar memes sem ser altruístas! Entretanto, isso não muda o argumento básico - que o altruísmo dissemina memes.

Você pode ter percebido que o tema principal em todos esses argumentos é que os memes podem agir em oposição ao interesse dos genes. Pensar o tempo todo pode não usar muita energia mas deve custar algo. Pensar é certamente dispendioso, como qualquer um que tenha estado totalmente exausto ou seriamente doente iria atestar. E, claro, qualquer ato altruísta é, por definição, custoso para o autor.

Eu diria que isso é exatamente o que nós deveríamos esperar se os memes são verdadeiros replicadores. Eles não se preocupam com os genes ou as criaturas que os genes criaram. O único interesse deles é a auto-propagação. Então se eles puderem se propagar ao roubar recursos dos genes, eles o farão.

No próximo exemplo nós veremos os memes forçando a mão dos genes de uma forma muito mais dramática. "

Link: http://www.dantas.com/realidadebr/textos/meme.htm
  


« Última modificação: 29 de Outubro de 2006, 22:31:16 por Huxley »
"A coisa mais importante da vida é saber o que é importante". Otto Milo

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Offline HSette

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Re: Fora da caridade não há salvação
« Resposta #39 Online: 29 de Outubro de 2006, 22:37:06 »
Acho exagerado falar em "puro e desinteressado".

Há sempre um ganho, ainda que abstrato e subjetivo, na motivação.
E o agente tem perfeita consciência disso.
Sou doador de sangue há tempos, e o faço, basicamente, porque isso faz-me sentir bem comigo mesmo. E garanto que isso ocorre com todos.
"Eu sei que o Homem Invisível está aqui!"
"Por quê?"
"Porque não estou vendo ele!"

Chaves

Offline Zaratustra

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Re: Fora da caridade não há salvação
« Resposta #40 Online: 29 de Outubro de 2006, 22:47:32 »
Gente, tudo faz parte de um sistema chamado sistema límbico.

Sistema Límbico é a parte do cérebro que fica acima do Hipotálamo. Ele é responsável por todas os nossos sentimentos e emoções. Inclusive, a falta deste é que não deixa um jacaré, por exemplo, sair andando por aí afirmando que ele é a melhor espécie de todas.

O Sistema límbico é responsável pela criação, inclusive, de reações consideradas "sobre-humanas". É quando as pessoas acreditam tanto em uma certa coisa que o sistema límbico começa a reagir de uma forma diferente. Considera-se que algumas pessoas desenvolveram a arte da cura através deste sistema. Existem casos de pessoas que se curaram do câncer apenas acreditando que já estavam curadas.

Então é mais ou menos assim que funciona: a pessoa acredita tanto que a caridade fará ela ir para um bom lugar depois da morte ou que fará as coisas melhorarem durante o seu cotidiano, ou qualquer que seja a reação desta pessoa, que o cérebro libera substâncias que a deixam mais tranqüilas, como a dopamina.

Não tem nada a ver com ética. É só o cérebro trabalhando.

Abs.

P.S: Sistema límbico está em http://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_L%C3%ADmbico
"Todo isolamento é um erro. Assim fala o rebanho."

Offline Luis Dantas

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Re: Fora da caridade não há salvação
« Resposta #41 Online: 29 de Outubro de 2006, 22:52:49 »
Engraçado ver o Huxley citar um texto que acabei hospedando quase por acidente. :)
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Offline Cyrix

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Re: Fora da caridade não há salvação
« Resposta #42 Online: 29 de Outubro de 2006, 23:23:44 »
Citação de: Huxley
Acredito que haja sim, o altruísmo puro e desinteressado.Por acaso, os doadores de sangue não fazem parte deste grupo?
Eu dôo sangue por "dever cívico" ou a sensação de estar "fazendo algo certo", mas não sinto nenhuma gratificação pessoal ou descarga de dopamina. Alguns exibem o curativo no braço ou guardam o carteirinha de doador na carteira. Em forma de aprovação do grupo, eles obtém algum retorno, sim.

Citação de: Huxley
Quanto a pergunta "se em meio a uma tragédia (um incêndio, por exemplo) alguém estivesse na condição de salvar um filho seu ou três crianças desconhecidas (não podendo salvar as quatro de uma vez), o que achas que maioria escolheria?", eu posso respoder.Nesse caso, esse nepotismo é um egoísmo disfarçado, porque aumenta exclusivamente a aptidão inclusiva (a habilidade de querer passar adiante os genes dos genomas parecidos que o seu).O fato que o altruísmo evoluiu , não quer dizer que o egoísmo tenha que se extinguir.O que houve foi só um aumento da variabilidade de comportamento e também um balanceamento de egoísmo/altruísmo conforme a situação.

Não, você não respondeu nada. Quem você salvaria? Eu salvaria meu filho e você? O caso é extremo, mas é só uma exemplificação de como somos mais propensos auxiliar aqueles que consideramos "um dos nossos" do que "estranhos". O grupo mais básico é a família, clã. Depois tribo e nação. Os nazistas souberam manipular esta característica deturpando noções de seleção de grupo. Aí vc pode querer puxar um gancho para o reducionismo dos genes de novo, mas então o que vc chama de empatia pelo semelhante pode apenas ser um efeito colateral de uma programação para auxiliar os que lhe são realmente (geneticamente) próximos. Descascando o altruísmo, acharás o egoísmo de novo :lol: Religiões tentam mais ou menos isto: transformar a humanidade numa grande família (nem sempre abrindo mão de mecanismos de recompensa/punição, que são úteis).

Citação de: Huxley
Se existisse uma seleção direcional nas populações convergindo para uma única característica e/ ou comportamento não existiria a variabilidade genética, e consequentemente a evolução.Todos estariam no fenótipo ótimo que deixaria mais descendentes em qualquer situação.

Impressionante como sai criticando sem prestar atenção no que eu escrevi:

Citação de: eu mesmo
Se for visto de um ângulo estritamente biológico, é difícil que um ajuntamento aberto evolua para uma sociedade plenamente altruísta, por um simples motivo: sempre haverá a intromissão "aproveitadores" que se darão bem com o esforço alheio e terão mais chances de passar seus genes adiante.

Não somos grupos isolados. A presença dos aproveitadores mantém a variabilidade que vc tanto clama.

Citar
Por isso, acho que o altruísmo humano ainda permanece um mistério.Há tentativas boas para explicar, mas que ainda não foram testadas empiricamente.
Dei dois exemplos de testes. Alguma coisa pode se deduzir, sim.
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Offline HSette

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Re: Fora da caridade não há salvação
« Resposta #43 Online: 29 de Outubro de 2006, 23:37:11 »
Citar
ou a sensação de estar "fazendo algo certo"

E isso pode ser visto como uma forma de compensação.
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Chaves

Offline Dr. Manhattan

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Re: Fora da caridade não há salvação
« Resposta #44 Online: 30 de Outubro de 2006, 07:04:10 »
Com essas reflexões, caro Atheist, quis tentar demonstrar que ainda que se buscasse a satisfação íntima proveniente da caridade, isso não caracterizaria o egoísmo, pois o egoísta nunca encontra satisfação na caridade e, portanto, o argumento é falso.  O egoísta, quando faz a caridade é por obrigação ou interesses e, provavelmente, não haveria a liberação da tal da dopamina do prazer.  E também quis demonstrar que o amor próprio não inviabiliza o altruísmo pleno. :ok:


Leafar, concordo com as linhas gerais do seu argumento acima. E penso também que ele não contradiz os resultados dos estudos, mas mais abaixo percebi que você puxou um espantalho:

Pelo que entendi, parece que então teríamos a chave da solução definitiva para os problemas dos excessos com drogas, sexo, alimentação e dinheiro.  Seria só substitui-los pela prática da caridade.  Como ninguém pensou nisso antes?

Eu posso pensar em várias razões para isso, por exemplo: o estudo fala da liberação de dopamia, mas não lembro de ele ter falado da intensidade do efeito. Pode ser que o efeito seja muito mais fraco do que o da dopamina liberada por outras atividades. Aliás, acredito que o fervor religioso também libere substâncias que causam prazer. Nesse caso, não é de se surpreender que tantas religiões proibam o alcool e coloquem restrições ao sexo: é uma forma de diminuir a competição química no cérebro dos crentes!

Aliás, tocando no assunto, fica uma pergunta aos entendidos (eu sou leigo no assunto).  Já que a satisfação obtida com a caridade libera dopamina, será que poderíamos ter uma overdose de dopamina em função da prática da caridade? 

Acho (embora algum especialista aqui possa me desmentir) que uma overdose não pode acontecer pelo simples motivo de a substância ser produzida no próprio cérebro. É por isso que ninguem tem overdose de endorfinas depois de praticar um esporte. Por outro lado, talvez a pessoa possa ficar viciada em caridade. Acho que isso pode ser mais comum do que pensamos. E quanto às substâncias associadas ao fervor religioso, temos o exemplos dos "êxtases" dos santos, que embora não sejam uma overdose, certamente são uma "strongdose"  :)
You and I are all as much continuous with the physical universe as a wave is continuous with the ocean.

Alan Watts

Offline Huxley

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Re: Fora da caridade não há salvação
« Resposta #45 Online: 30 de Outubro de 2006, 13:21:12 »
Eu li o texto do Cyrix com muita pressa e fiz o mesmo na resposta.Agora que reli, posso responder direito.


Eu dôo sangue por "dever cívico" ou a sensação de estar "fazendo algo certo", mas não sinto nenhuma gratificação pessoal ou descarga de dopamina. Alguns exibem o curativo no braço ou guardam o carteirinha de doador na carteira. Em forma de aprovação do grupo, eles obtém algum retorno, sim.

Acho que o custo comparado ao benefício da atitude "vejam como eu sou bonzinho" é pífia e pode ser desprezada.Se esse caso não for suficiente, tem o caso doação anônima a instituições de caridade, que é sem dúvida um altruísmo puro.

Não, você não respondeu nada. Quem você salvaria? Eu salvaria meu filho e você? O caso é extremo, mas é só uma exemplificação de como somos mais propensos auxiliar aqueles que consideramos "um dos nossos" do que "estranhos". O grupo mais básico é a família, clã. Depois tribo e nação. Os nazistas souberam manipular esta característica deturpando noções de seleção de grupo. Aí vc pode querer puxar um gancho para o reducionismo dos genes de novo, mas então o que vc chama de empatia pelo semelhante pode apenas ser um efeito colateral de uma programação para auxiliar os que lhe são realmente (geneticamente) próximos. Descascando o altruísmo, acharás o egoísmo de novo :lol: Religiões tentam mais ou menos isto: transformar a humanidade numa grande família (nem sempre abrindo mão de mecanismos de recompensa/punição, que são úteis).

Ah, ok.Eu justifiquei a resposta, mas não explicitei a resposta.A resposta é "salvaria meu filho".Mesmo assim e pensando melhor, acho que o reducionismo genético não vale a pena neste caso.Se você perceber, entre um filho adotivo que você conhece há muito tempo e três filhos biológicos recém-descobertos, a maioria escolheria o primeiro.Acho que o que vale mesmo foi o desenvolvimento de valores abstratos pelo cérebro humano.Tipo se as pessoas ganham signifcado na vida, defendendo incondicionalmente quem ama, acho que isso tende a evoluir.

Só lembrando que a seleção de grupo nunca foi detectada em animais.Se existisse, imagine aí.Seria leão defendendo gato por pertencer os felinos ou leopardos defendendo os vizinhos de sua região.Voltarei a falar mais disso adiante.

Dei dois exemplos de testes. Alguma coisa pode se deduzir, sim.


Acho que a teoria dos jogos (que é até motivo de piadas entre os economistas, por não conseguir dá conta do número de estratégias utilizadas pelos oligopolistas em relação a sua política de preços) só explica os pactos mutuamente benéficos/egoístas, mas não o altruísmo puro e desinteressado. Veja que este tipo de coisa já é explicada pela biologia evolutiva.Veja, este trecho de Introdução a Biologia Evolutiva de Chris Colby:

"Muitos comportamentos parecem ser altruístas. Biólogos, no entanto, podem demonstrar que esses comportamentos são apenas aparentemente altruístas. Cooperar ou ajudar outros organismos é muitas vezes a estratégia mais egoísta de um animal. Isso é chamado altruísmo recíproco. Um bom exemplo disso são os morcegos vampiros compartilharem sangue. Desses morcegos, os sortudos o suficiente para achar uma refeição irão muitas vezes dividir uma parte dela com um morcego que não teve sucesso, regurgitando algum sangue em sua boca. Os biólogos descobriram que esses morcegos formam alianças com parceiros e ajudam uns aos outros quando em necessidade. Se descobrem que um morcego é um “trapaceiro”, (ele aceita sangue quando tem fome, mas nunca divide quando é o parceiro que está faminto) seu parceiro irá abandoná-lo. Então os morcegos não estão ajudando uns aos outros altruisticamente; eles fazem pactos mutuamente benéficos."

http://www.biociencia.org/option=com_content&task=view&id=102&Itemid=83

De qualquer forma, parece que as pessoas simplesmente adquiriram valores abstratos através de mecanismos meméticos lamarckianos, como diria a Blackmore.
« Última modificação: 30 de Outubro de 2006, 13:22:57 por Huxley »
"A coisa mais importante da vida é saber o que é importante". Otto Milo

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Offline Cyrix

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Re: Fora da caridade não há salvação
« Resposta #46 Online: 30 de Outubro de 2006, 14:42:59 »
Citação de: Huxley
Acho que o custo comparado ao benefício da atitude "vejam como eu sou bonzinho" é pífia e pode ser desprezada.Se esse caso não for suficiente, tem o caso doação anônima a instituições de caridade, que é sem dúvida um altruísmo puro.
Mais um pouco e caímos na retórica

Citação de: Huxley
Só lembrando que a seleção de grupo nunca foi detectada em animais.Se existisse, imagine aí.Seria leão defendendo gato por pertencer os felinos ou leopardos defendendo os vizinhos de sua região.Voltarei a falar mais disso adiante.
Nada a ver. Aí já seria colaboração entre espécies. Quer um exemplo do mundo natural: Chimpanzés brigando por territórios e engedrandos ataques a machos de um bando rival.


Citação de: Huxley
Acho que a teoria dos jogos (que é até motivo de piadas entre os economistas, por não conseguir dá conta do número de estratégias utilizadas pelos oligopolistas em relação a sua política de preços) só explica os pactos mutuamente benéficos/egoístas, mas não o altruísmo puro e desinteressado. Veja que este tipo de coisa já é explicada pela biologia evolutiva.Veja, este trecho de Introdução a Biologia Evolutiva de Chris Colby:

Leia a resposta que dei a Mimi alguns post atrás. Não se trata de mera abstração matemática. Economistas comportamentais fizeram realmente testes com voluntários. Pelo menos parte dos economistas discordaria de ti. O outro exemplo foi o de um experimento social do século XX. O texto de Chris Colby fala de um comportamento entre morcegos que reproduzido no teste com simuladores e humanos e nos experimentos sociais.
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Offline HSette

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Re: Fora da caridade não há salvação
« Resposta #47 Online: 30 de Outubro de 2006, 14:47:31 »
Citar
tem o caso doação anônima a instituições de caridade, que é sem dúvida um altruísmo puro.

De forma alguma pode ser tomado como puro.
Há um importante ganho subjetivo. A sensação de bem estar consigo próprio, de se sentir útil e bom é um ganho considerável para várias pessoas, independentemente de outros souberem da ação.
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Atheist

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Re: Fora da caridade não há salvação
« Resposta #48 Online: 30 de Outubro de 2006, 21:06:26 »
Citação de: Atheist
Pois é... Uma prova bioquímica do que eu já havia comentado em outros posts, de que a doação não passa de egoísmo.
Nada melhor que um dicionário para dirimir dúvidas a respeito do significado das palavras:

Egoísmo, s. m. Amor-próprio excessivo, que leva o indivíduo a olhar só para seus interesses, com desprezo dos alheios.

Altruísmo, s. m. Amor ao próximo; filantropia. (Antôn.: egoísmo) (Do fr. altruiste)

Filantropia, s. f. Altruísmo; amor à humanidade.

Pelas explicações acima, podemos ver que o Altruísmo não exclui necessariamente o amor-próprio.  O que inviabiliza o altruísmo é o amor-próprio excessivo, que só pensa em si com desprezo aos outros.  Eu posso ser altruísta pleno e ao mesmo tempo desejar para mim a mesma felicidade que proporciono a outros.  Eu posso ser altruísta pleno e ao mesmo tempo desejar ter a satisfação pelo bem que faço.  Esse sentimento não inviabiliza o altruísmo.

O que caracteriza o altruísta completo é pensar no próximo antes de pensar em si.  Ele preocupa-se com a felicidade do próximo em primeiro lugar e com a sua felicidade em segundo lugar.  Ele deseja que ninguém tenha que ser infeliz, mas se alguém tiver que o ser, que seja ele antes do próximo.  É aquele que se satisfaz pelo bem que faz, mas não faz o bem simplesmente por causa dessa satisfação, porque aquele que busca apenas a satisfação pode perfeitamente procurar outros meios, como os já citados no artigo (drogas, sexo, dinheiro, etc...).  O altruísta completo busca a satisfação pessoal, com certeza, mas por meio da caridade em primeiro lugar e os outros métodos (se houverem) em segundo lugar.  O altruísta completo pratica a caridade quando surge ou quando cria a oportunidade, mesmo quando não vê nenhuma possibilidade de recompensa e, muitas vezes, até quando o bem que faz possa lhe resultar em certo prejuízo moral ou material.  Mas não é hipócrita e não deixa de fazer a caridade simplesmente porque pode pegar mal lucrar material e/ou moralmente.  É certo que ele sabe antes que a satisfação íntima é a sua maior e melhor recompensa, mas não deixa de ser um altruísta pleno por causa do desejo dessa satisfação, pois, como já disse, o altruísmo não exclui o amor-próprio.

Já o que caracteriza o altruísta incompleto é o fato de pensar no próximo depois de pensar em si mesmo.  Ele preocupa-se com a sua felicidade em primeiro lugar e com a do próximo em segundo lugar.  Ele deseja que ninguém tenha que ser infeliz, mas se alguém tiver que o ser, que não seja ele em primeiro lugar.  É aquele que se satisfaz pelo bem que faz, e essa satisfação é a sua maior motivação, geralmente com o interesse de fazer algum marketing pessoal.  O altruísta incompleto geralmente não busca a caridade como meio principal de satisfação íntima, e geralmente a faz porque se sente na obrigação de demonstrar perante os homens que faz alguma coisa de bom.  Sempre faz caridade quando vê que pode lucrar material ou moralmente.  Se ele vê que não há possibilidade de alguma recompensa, pode ou não criar oportunidades de fazer a caridade, e pode ou não fazê-la quando surge naturalmente a oportunidade.  Mas se perceber que pode lhe resultar em algum prejuízo moral ou material, então é que nunca fará a caridade.  Considera a satisfação íntima uma boa recompensa, mas não a maior recompensa.  O altruísta incompleto não é necessariamente egoísta, pois pensa no próximo, ainda que antes pense em si mesmo.  O altruísta incompleto propriamente dito não seria capaz de passar por sobre o próximo quando se visse em prejuízo.

Já o egoísta, que é o oposto do altruísta, não se interessa pela felicidade do próximo, nem mesmo em segundo lugar.  Para ele tanto faz se o outro é feliz ou não e não move uma palha para ajudar ninguém, a menos que possa ganhar alguma coisa com isso.  O egoísta não sente satisfação com a felicidade do próximo: ele lhe é indiferente.  Se se sente prejudicado, vai até as últimas conseqüências para levar vantagem, ainda que seja para trapacear e jogar sujo com o próximo.

Com essas reflexões, caro Atheist, quis tentar demonstrar que ainda que se buscasse a satisfação íntima proveniente da caridade, isso não caracterizaria o egoísmo, pois o egoísta nunca encontra satisfação na caridade e, portanto, o argumento é falso.  O egoísta, quando faz a caridade é por obrigação ou interesses e, provavelmente, não haveria a liberação da tal da dopamina do prazer.  E também quis demonstrar que o amor próprio não inviabiliza o altruísmo pleno. :ok:

Citar
Com este dilema em suas mentes, os pesquisadores foram capazes de examinar o que acontecia na cabeça de cada participante enquanto realizavam decisões baseadas em critérios morais. A parte do cérebro ativada quando uma doação acontecia seria o centro de recompensa do cérebro --o caminho mesolímbico--, responsável por liberar dopamina, uma mediadora da euforia associada ao sexo, dinheiro, comida e drogas, afirma a reportagem.
Pelo que entendi, parece que então teríamos a chave da solução definitiva para os problemas dos excessos com drogas, sexo, alimentação e dinheiro.  Seria só substitui-los pela prática da caridade.  Como ninguém pensou nisso antes?

Opa!!!  Ninguém pensou, não...  A máxima principal da DE é a mesma do título desse tópico.  Ela foi usada pela primeira vez há quase 150 anos no Evangelho segundo o Espiritismo, em substituição das máximas "Fora da Igreja não há salvação" e "Fora da Verdade não há salvação", e, pasmem, por causa dela somos taxados às vezes de seita demoníaca.  Eu já vi e ouvi, com esses meus olhos e ouvidos que a terra ainda há de comer, num canal evangélico (Rede Gênesis), num filme americano de teor evangélico (não me lembro o nome), um ator dizendo, mais ou menos assim: "não acreditem nessas estórias inventadas por Satanás de que basta fazer a caridade para ser salvo.  Isso é mentira do demônio para enganar vocês.  A única coisa que salva é aceitar Jesus Cristo como único e exclusivo salvador.  Não é preciso mais nada!"  Mas, entretanto, continuamos afirmando, há quase 150 anos, que a única maneira suficiente para se ser salvo é praticar a caridade.  Nada mais.  Como vê, nos adiantamos à ciência com relação a esta descoberta.

Não discordo da veracidade dos resultados do estudo.  Mas discordo das conclusões que foram tiradas nesse fórum a partir dele.

Aliás, tocando no assunto, fica uma pergunta aos entendidos (eu sou leigo no assunto).  Já que a satisfação obtida com a caridade libera dopamina, será que poderíamos ter uma overdose de dopamina em função da prática da caridade?  Não me recordo de que alguma vez algum grande altruísta (considerado) tivesse sofrido uma overdose.  Em sendo verdadeira essa hipótese, imagino até as manchetes nos jornais: "Altruísta fulano de tal foi internado nesta madrugada por distribuir mais de 20 cobertores para mendigos nas ruas de São Paulo...", e após, a receita médica dizendo: "Sr. Fulano de tal: evite distribuir muitos cobertores numa única noite.  Limite-os a 5 ou 10 no máximo, por segurança."  Será que chega a esse ponto? :?:

Um abraço a todos.

O artigo em questão está demonstrando que mesmo que você ache que é um altruísmo verdadeiro, o que está por trás é o efeito da liberação da dopamina, que lhe dá prazer. Doar é realizado para receber prazer, apenas isso. A questão da intenção ou não é mero devaneio de nosso antropocentrismo. O que está por trás é químico.

Offline Huxley

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Re: Fora da caridade não há salvação
« Resposta #49 Online: 30 de Outubro de 2006, 22:09:51 »
Mais um pouco e caímos na retórica

??!??

Nada a ver. Aí já seria colaboração entre espécies. Quer um exemplo do mundo natural: Chimpanzés brigando por territórios e engedrandos ataques a machos de um bando rival. 

Este foi só um exemplo caricaturial para demonstrar que acredito na inexistência de seleção de grupos entre animais.O que há são pactos mutamente benéficos e egoístas.Fazer um sacrifício para outro indivíduo é recompensador se ele, retribuir o favor.Um mecanismo de reciprocidade requer a memória de eventos prévios e o avivamento de memória que induz ao comporttamento de amizade.Esse mecanismo existe em primatas, segundo um experimento feito em chimpanzés publicado na Scientific American Brasil de maio de 2005.O caso dos humanos é outro.Há altruísmo, mesmo quando o custo supera em muito o benefício.Você pode dizer que não é tão comum , mas que há, isso há.


De forma alguma pode ser tomado como puro.
Há um importante ganho subjetivo. A sensação de bem estar consigo próprio, de se sentir útil e bom é um ganho considerável para várias pessoas, independentemente de outros souberem da ação.

Quando falo em altruísmo puro, falo do ponto de vista exclusivamente biológico, ou seja, de algo que aumenta o sucesso reprodutivo de quem recebe enquanto diminui para o agente.
"A coisa mais importante da vida é saber o que é importante". Otto Milo

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