Porque será que o altruísmo puro e deinteressado evoluiu nos humanos , mas não nos animais? Fica ainda este mistério.
Em termos. Além do já comentado altruísmo entre outras espécies, nosso altruísmo está longe de ser puro ou desinteressado. Ele está permeado por "nepotismo", no sentido em que somos mais solidário com quem temos laços de sangue. Uma pergunta simples: se em meio a uma tragédia (um incêndio, por exemplo) alguém estivesse na condição de salvar um filho seu ou três crianças desconhecidas (não podendo salvar as quatro de uma vez), o que achas que maioria escolheria?
Se for visto de um ângulo estritamente biológico, é difícil que um ajuntamento aberto evolua para uma sociedade plenamente altruísta, por um simples motivo: sempre haverá a intromissão "aproveitadores" que se darão bem com o esforço alheio e terão mais chances de passar seus genes adiante.
A experiência dos kibutzin (fazendas coletivas) israelenses teve sérios problemas porque muitos deles se tornaram "paraíso de parasitas". Experiências feitas com jogos que simulam fundos de investimento mostraram que são mais viáveis aqueles em que os maiores investidores podem impor punições ao participantes que pouco arriscam, ao contrário dos fundos que dividem os lucros de forma homogênea e prejuízo de forma individual. Estes acabam se degenerando e, no final, ninguém investe mais nada; ou porque já não investia desde o começo ou porque não quer sustentar ineptos.
Acredito que haja sim, o altruísmo puro e desinteressado.Por acaso, os doadores de sangue não fazem parte deste grupo?
Quanto a pergunta "se em meio a uma tragédia (um incêndio, por exemplo) alguém estivesse na condição de salvar um filho seu ou três crianças desconhecidas (não podendo salvar as quatro de uma vez), o que achas que maioria escolheria?", eu posso respoder.Nesse caso, esse nepotismo é um egoísmo disfarçado, porque aumenta exclusivamente a aptidão inclusiva (a habilidade de querer passar adiante os genes dos genomas parecidos que o seu).O fato que o altruísmo evoluiu , não quer dizer que o egoísmo tenha que se extinguir.O que houve foi só um aumento da variabilidade de comportamento e também um balanceamento de egoísmo/altruísmo conforme a situação.
Se existisse uma seleção direcional nas populações convergindo para uma única característica e/ ou comportamento não existiria a variabilidade genética, e consequentemente a evolução.Todos estariam no fenótipo ótimo que deixaria mais descendentes em qualquer situação.
Por isso, acho que o altruísmo humano ainda permanece um mistério.Há tentativas boas para explicar, mas que ainda não foram testadas empiricamente.Como este:
Trecho de "O Poder do Meme" de Susan Blckmore.
"3 Por que nós somos tão gentis com os outros?
Claro que nós não somos sempre gentis com os outros, mas a cooperação humana e o altruísmo são coisas misteriosas - a despeito dos tremendos avanços feitos na compreensão das seleção de grupo e conveniência inclusiva, altruísmo recíproco e estratégias evolucionárias estáveis (veja e.g. Wright, 1994; Ridley, 1996). As sociedades humanas exibem muito mais cooperação do que é típico das sociedades de vertebrados, e nós cooperamos com os não-relativos em uma larga escala (Richerson e Boyd, 1992). Como Cronin o pôs, a moralidade humana "apresenta um desafio óbvio para a teoria Darwiniana" (Cronin, 1991, p 325).
Todos podem pensar provavelmente nos seus exemplos favoritos. Richard Dawkins (1989 p 230) chama a doação de sangue de "um genuíno caso de altruísmo puro e desinteressado". Eu fico mais impressionada pela caridade de dar às pessoas em países distantes que provavelmente compartilham tão poucos dos nossos genes quanto qualquer outra pessoa na terra e que nós provavelmente nunca iremos conhecer. E por que nós devolvemos carteiras achadas na rua, resgatamos animais selvagens machucados, suportamos companhias eco-amigas ou reciclamos nossas garrafas? Por que tantas pessoas querem ser pobres enfermeiras e conselheiras com péssimos salários, assistentes sociais e psicoterapeutas, quando elas poderiam viver em casas maiores, atrair companheiros mais ricos, e ter mais crianças se elas fossem banqueiras, corretoras ou advogadas?
Muitas pessoas acreditam que tudo isso deve finalmente ser explicado em termos de vantagem biológica. Talvez será, mas eu ofereço uma alternativa a ser considerada; a teoria memética do altruísmo. Nós podemos usar nossa tática, agora, familiar.
Imagine um mundo cheio de cérebros, e muito mais memes do que existem lares. Que memes são mais prováveis de acharem um lar seguro e serem passados adiante?
Imagine o tipo de meme que encoraja o seu hospedeiro a ser amigável e gentil. Ele poderia ser um para dar boas festas, para ser generoso com a geleia de laranja deita em casa, ou apenas estar preparado para gastar tempo escutando às mágoas de um amigo. Agora compare isso com os memes para ser antipático e pão-duro - nunca cozinhando jantares para as pessoas ou pagando drinks, e recusando a gastar seu tempo ouvindo os outros. Qual irá se disseminar mais rapidanente?
O primeiro tipo, claro. As pessoas gostam de ser gentis com as pessoas. Então aqueles que abrigam muitos memes amigáveis irão gastar mais memes com os outros e Ter mais chances de disseminar seus memes. Em conseqüência muitos de nós iremos acabar abrigando muitos memes para sermos gentis com os outros.
Uma maneira mais simples de dizer isso:- as pessoas que são altruísticas irão, em média, disseminar mais memes. Então qualquer meme que prospere em pessoas altruísticas é mais provável de disseminar - incluindo os memes para ser altruísta.
Você pode desejar desafiar qualquer um dos passos acima. É portanto animador aprender com os muitos experimentos de psicologia social, que as pessoas são mais suscetíveis a adotar idéias de pessoas que elas gostam (Eagly e Chaiken, 1984). Se isso é uma causa ou é uma conseqüência do argumento acima é algo debatível. Seria mais interessante se fatos psicológicos como estes, ou outros tais como a dissonância cognitiva, ou a necessidade de auto-estima, pudessem ser derivados simplesmente de princípios meméticos - mas esse é um tópico para outra hora!
Por enquanto nós devemos considerar se a idéia é ou não testável. Ela prediz que as pessoas deveriam agir de maneiras que beneficiem a disseminação de seus memes mesmo à um certo custo a si mesmas. Nós estamos acostumados em comprar informação útil, e com anunciantes comprando seus meios até a mente das pessoas com o propósito de vender produtos, mas essa teoria prediz que pessoas irão pagar (ou trabalhar) simplesmente para disseminar os memes que elas carregam - porque os memes as forçam. Missionários e Testemunhas de Jeová parece que o fazem.
Muitos aspectos da persuasão e da conversão em causas podem acabar envolvendo altruísmo dirigido por memes. Altruísmo é mais outro tipo de truque memético que as religiões (aqueles complexos de memes mais poderosos) tem explorado. Quase todas elas prosperam ao fazer seus membros trabalharem para elas e acreditar que eles estão fazendo o bem.
Claro, ser generoso é caro. Sempre existirá pressão contra isso, e se os memes puderem achar estratégias alternativas para disseminar, eles irão. Por exemplo, pessoas poderosas podem ser capazes de disseminar memes sem ser altruístas! Entretanto, isso não muda o argumento básico - que o altruísmo dissemina memes.
Você pode ter percebido que o tema principal em todos esses argumentos é que os memes podem agir em oposição ao interesse dos genes. Pensar o tempo todo pode não usar muita energia mas deve custar algo. Pensar é certamente dispendioso, como qualquer um que tenha estado totalmente exausto ou seriamente doente iria atestar. E, claro, qualquer ato altruísta é, por definição, custoso para o autor.
Eu diria que isso é exatamente o que nós deveríamos esperar se os memes são verdadeiros replicadores. Eles não se preocupam com os genes ou as criaturas que os genes criaram. O único interesse deles é a auto-propagação. Então se eles puderem se propagar ao roubar recursos dos genes, eles o farão.
No próximo exemplo nós veremos os memes forçando a mão dos genes de uma forma muito mais dramática. "
Link:
http://www.dantas.com/realidadebr/textos/meme.htm