Autor Tópico: É logicamente possível deixar de ser ateu ?  (Lida 14359 vezes)

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Offline Dbohr

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Re: É logicamente possível deixar de ser ateu ?
« Resposta #50 Online: 23 de Janeiro de 2007, 13:17:15 »
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Não querendo reabrir aquela outra discussão, mas já reabrindo… Tails, já conseguiu definir o que é deus para a gente saber se acredita nele ou não?
Até então só posso definir que são seres descritos na mitologia com algum poder acima das pessoas normais.
Mas é difícil de especificar.

Você sabe, é claro, que essa é uma definição tremendamente ampla :-)

Mantenho minha definição de Agnosticismo: não faz sentido acreditar ou desacreditar em deus(es) se não consigo definir o que é isso. Mas não vou desviar o assunto do tópico, então encerro por aqui.

Offline ByteCode

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Re: É logicamente possível deixar de ser ateu ?
« Resposta #51 Online: 23 de Janeiro de 2007, 14:02:36 »
Eu acho - e admito que isso é uma crença - que não temos poder "racional" de escolha sobre nossas posturas ou mudança de postura. Creio que somos vítimas do próprio cérebro, que por sua vez é vítima das próprias experiências.

Não acredito que alguém possa escolher determinada postura se já não estiver antes inclinado a ela, num processo que pode envolver as mais diversas circuntâncias, que juntas, e inconscientemente, variando inclusive, de pessoa para pessoa, determina o que somos.

Acho que essa "escolha" é na verdade o último passo e não o primeiro, na adoção ou na mudança de postura. Pode não acontecer nunca, mas pode acontecer mais de uma vez ao longo da vida. O assustador disso é pensar que uma série de cirscuntâncias combinadas podem nos tornar qualquer coisa.
Penso bem parecido com vc sobre isto. Acho q a pessoa sempre irá adotar formas de pensar e agir às quais ele já esteja inclinado, por uma série de cinrcunstâncias, tanto biológicas como adquiridas pelas suas experiências de vida. Realmente é incrível q circunstâncias possam nos levar a ser de um jeito ou de outro totalmente diferentes. Algo como o "efeito borboleta".

Offline FxF

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Re: É logicamente possível deixar de ser ateu ?
« Resposta #52 Online: 23 de Janeiro de 2007, 14:09:44 »
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Não querendo reabrir aquela outra discussão, mas já reabrindo… Tails, já conseguiu definir o que é deus para a gente saber se acredita nele ou não?
Até então só posso definir que são seres descritos na mitologia com algum poder acima das pessoas normais.
Mas é difícil de especificar.

Você sabe, é claro, que essa é uma definição tremendamente ampla :-)

Mantenho minha definição de Agnosticismo: não faz sentido acreditar ou desacreditar em deus(es) se não consigo definir o que é isso. Mas não vou desviar o assunto do tópico, então encerro por aqui.
É, e agora você me deixou confuso.
Me fez lembrar que ateísmo é relacionado com divindades, e não só com Deus-criador-de-universo.
Se bem que acho improvável a existência de todos os seres descritos como deuses na mitologia, ou ao menos, sua porção divina caso seja baseado em um personagem histórico.

Offline Dbohr

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Re: É logicamente possível deixar de ser ateu ?
« Resposta #53 Online: 23 de Janeiro de 2007, 14:24:48 »
Volta lá naquele tópico de ateísmo e agnosticismo. No meio da conversa sobre a D. Neuza tem uns insights interessantes...! :-)

Offline Fred

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Re: É logicamente possível deixar de ser ateu ?
« Resposta #54 Online: 23 de Janeiro de 2007, 15:41:26 »
Realmente o assunto é complexo devido à sua subjetividade. E não é difícil se enroscar ao enveredar por estes caminhos tortuosos... :umm:
Nestas horas, tem um pensador contemporâneo que eu gosto muito de citar e que resume a discussão brilhantemente :

Agora fiquei mais confuso. Vou tentar entender. Não, não, não entendi mesmo :?:
“Não tenho medo das perguntas difíceis: tenho pavor das respostas fáceis.” A. Malcot

Luz

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Re: É logicamente possível deixar de ser ateu ?
« Resposta #55 Online: 23 de Janeiro de 2007, 17:03:26 »
Penso bem parecido com vc sobre isto. Acho q a pessoa sempre irá adotar formas de pensar e agir às quais ele já esteja inclinado, por uma série de cinrcunstâncias, tanto biológicas como adquiridas pelas suas experiências de vida. Realmente é incrível q circunstâncias possam nos levar a ser de um jeito ou de outro totalmente diferentes. Algo como o "efeito borboleta".

Eu penso bastante a respeito. Acredito que o cérebro seleciona as informações sem que nem nos apercebamos disso. E essa seleção faz toda a diferença. Por exemplo, eu te conto uma história qualquer - você não me conhece, mas não tem motivos aparentes para duvidar do que digo e pode acontecer. Por que? Provavelmente comparação.

Em algum ponto a minha história remete a algo que você já experimentou - conforme a impressão dessa experiência, seu cérebro aceita ou recusa a informação ou parte dela.

Recebemos milhares de informações diariamente e acredito que o cérebro inconscientemente faça a seleção constante - definindo nossa postura. Se temos mais impressões sobre ceticismo ou credulidade, imagino que o cérebro aceite com mais facilidade no decorrer da vida as informações relativas a elas - num processo contínuo, que pode claro, ser quebrado por um evento ou uma série de eventos.

Mas tem também o fator genético - talvez haja uma predisposição a aceitar um tipo de informação. Não sei, mas quero reiterar que se trata de uma crença minha.
« Última modificação: 23 de Janeiro de 2007, 17:06:49 por Luz »

Luz

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Re: É logicamente possível deixar de ser ateu ?
« Resposta #56 Online: 23 de Janeiro de 2007, 22:00:42 »
Acabo de ler a reportagem da Veja e não percebo qualquer indício de irracionalidade ou incompetência.

Collins critica a defesa científica do ateísmo, assim como é vítima de críticas em seu meio, mas defende que deus não é uma questão científica. É evolucionista e faz críticas ao "design inteligente" - Essa abordagem é um grande erro. Os cientistas não podem cair na armadilha a que chamo de "lacuna divina". Lamento que o design inteligente tenha caído nessa armadilha de usar o argumento de que a evolução não pode explicar extruturas tão complexas como as células ou o olho humano. É dever de todos os cientistas, inclusive dos que têm fé, tentar encontrar explicações racionais para tudo o que existe (...) No curso de longos períodos de tempo, as máquinas moleculares se desenvolveram por meio do processo que Darwin vislumbrou, ou seja, a evolução..

Bem, a reportagem está resumida, mas não vi nada de "fantástico" no caso - incomum talvez.


Offline Fabulous

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Re: É logicamente possível deixar de ser ateu ?
« Resposta #57 Online: 23 de Janeiro de 2007, 22:38:25 »
Não li a reportagem, mas possivelmente ele no fundo nunca foi ateu mesmo. Simplesmente se deslumbrou com as ideologias da física, química e matemática. Na verdade ele parece ser um cético teista ou agnóstico.

Agora, ele dizer que acredita nessas coisas e mostrar-se assim tão confiante na existência de Deus, já que é um grande cientista que descobriu o genoma, por que ele não iria ajudar a outros pobres mortais filho de Deus pecadores como nós? :lol:

Na boa, seria legal então uma explicação científica sem estar em base da pseudo-ciência para nós, mostrando a existência Dele.

No mais, não vejo tanto bafaf[a neste cientista teísta em que devemos nos preocupar.

Ah, respondendo a pergunta:

Muito difícil um ateu, ATEU... deixar de ser ateu. Ou nunca foi ateu, ou está usando muita drogas ou pirou de vez. ;)
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Luz

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Re: É logicamente possível deixar de ser ateu ?
« Resposta #58 Online: 23 de Janeiro de 2007, 22:41:51 »
Na boa, seria legal então uma explicação científica sem estar em base da pseudo-ciência para nós, mostrando a existência Dele.

Bom, mas ele defende que deus não é uma questão científica.  ::)

E bem, ele lançou um livro sobre o assunto - The linguage of God. Nas trezentas páginas da obra, o biólogo conta como deixou de ser ateu para se tornar cristão aos 27 anos e narra as dificuldades que enfrentou no meio acadêmico ao revelar sua fé. Por que não lê e depois nos conta?  :D
« Última modificação: 23 de Janeiro de 2007, 23:21:06 por Luz »

Offline Luis Dantas

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Re: É logicamente possível deixar de ser ateu ?
« Resposta #59 Online: 23 de Janeiro de 2007, 23:02:22 »
E realmente não é.
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Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Offline Mental

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Re: É logicamente possível deixar de ser ateu ?
« Resposta #60 Online: 24 de Janeiro de 2007, 07:40:53 »
Não acho ilógico uma pessoa cética passar a crêr em Deus.
Talvez ela tenha encontrado argumentos convincentes e válidos (para ela) de que existe algo sobrenatural no ar...
Mas dizer que acredita na Virgem Maria...  Foi de doer.  :(
Nem sempre...

Offline FxF

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Re: É logicamente possível deixar de ser ateu ?
« Resposta #61 Online: 24 de Janeiro de 2007, 08:54:08 »
Sobrenatural nada mais é algo que a ciência não explica - em outras palavras, querer algo sobrenatural é medo da explicação científica.

Narkus

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Re: É logicamente possível deixar de ser ateu ?
« Resposta #62 Online: 24 de Janeiro de 2007, 11:29:31 »
Pra mim esse cara eh ateu ou agnóstico...

Pensem...
O cara tah comprometido com um dos maiores (senao maior) projeto científico da história da biologia. Tem muita coisa envolvida... Ele não é como Dawkins, Dennett e outros cientistas-filósofos que "não tem nada a perder".

Se um cara dessa importância assume publicamente sua posição de ateu certamente haveria riscos de ele adquirir inimigos "podres de rico" ou famosos e poderosos que iriam ver "com maus olhos" todo o trabalho de decodificação do genoma humano e acabar por colocar tudo a perder.

Lembrem que cientistas renascentistas mentiam acreditar em Deus e outras baboseiras simplesmente para não desconfiarem de que estivessem "olhando para o céu". Hoje a coisa mudou, mas um cara que chefia a realizacao da maior facanha da ciencia biologica não pode se dar ao luxo de colocar em risco seu trabalho por conta de um capricho moral que contrareia a maioria.

É o que eu acho...
É esperar pra ver!

Narkus

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Re: É logicamente possível deixar de ser ateu ?
« Resposta #63 Online: 24 de Janeiro de 2007, 11:32:39 »
OBS: O "faz parte do jogo" tbm deixou mta coisa no ar...

Luz

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Re: É logicamente possível deixar de ser ateu ?
« Resposta #64 Online: 24 de Janeiro de 2007, 11:34:33 »
Narkus,

Você acha realmente que se ele fosse ateu ou agnóstico, se daria ao trabalho de publicar um livro de 300 páginas, onde conta como deixou de ser ateu para se tornar cristão?  ::)

Narkus

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Re: É logicamente possível deixar de ser ateu ?
« Resposta #65 Online: 24 de Janeiro de 2007, 11:37:29 »
vc ta brincando?
Vixe... Entaum a coisa é séria heheheh

Luz

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Re: É logicamente possível deixar de ser ateu ?
« Resposta #66 Online: 24 de Janeiro de 2007, 11:41:13 »
vc ta brincando?
Vixe… Entaum a coisa é séria heheheh

Veja meus posts anteriores onde falo sobre a reportagem e o livro. Ele me pareceu um cristão sensato!  :D

Offline Luis Dantas

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Re: É logicamente possível deixar de ser ateu ?
« Resposta #67 Online: 24 de Janeiro de 2007, 11:48:38 »
Acabei de ler a entrevista.  Nada de muito notável.  Aparentemente ele é apenas um cientista teísta que, em uma fase de revolta quase adolescente, gostava de se considerar ateu e hoje mudou de idéia.  O que ele fala não me convence, mas não está propriamente errado.

Referências:

A entrevista, reproduzida em um blog

O livro dele na Amazon

http://en.wikipedia.org/wiki/Francis_Collins

http://michelsonborges.blogspot.com/2006/08/encontrei-deus-diz-o-homem-que.html

http://pos-darwinista.blogspot.com/
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Offline Südenbauer

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Entrevista: Ciência não exclui Deus
« Resposta #68 Online: 24 de Janeiro de 2007, 12:45:01 »
Entrevista: Francis Collins


Ciência não exclui Deus

O biólogo que desvendou o genoma humano
explica por que é possível aceitar as teorias de
Darwin e ao mesmo tempo manter a fé religiosa


Gabriela Carelli

O biólogo americano Francis Collins é um dos cientistas mais notáveis da atualidade. Diretor do Projeto Genoma, bancado pelo governo americano, foi um dos responsáveis por um feito espetacular da ciência moderna: o mapeamento do DNA humano, em 2001. Desde então, tornou-se o cientista que mais rastreou genes com vistas ao tratamento de doenças em todo o mundo. Collins também é conhecido por pertencer a uma estirpe rara, a dos cientistas cujo compromisso com a investigação do mundo natural não impede a profissão da fé religiosa. Alvo de críticas de seus colegas, cuja maioria nega a existência de Deus, Collins decidiu reagir. Ele lançou há pouco nos Estados Unidos o livro The Language of God (A Linguagem de Deus). Nas 300 páginas da obra, o biólogo conta como deixou de ser ateu para se tornar cristão aos 27 anos e narra as dificuldades que enfrentou no meio acadêmico ao revelar sua fé. "As sociedades precisam tanto da ciência como da religião. Elas não são incompatíveis, mas complementares", explica o cientista. A seguir, a entrevista de Collins a VEJA:

Veja – No livro A Linguagem de Deus, o senhor conta que era um "ateu insolente" e, depois, se converteu ao cristianismo. O que o fez mudar suas convicções?

Francis Collins – Houve um período em minha vida em que era conveniente não acreditar em Deus. Eu era jovem, e a física, a química e a matemática pareciam ter todas as respostas para os mistérios da vida. Reduzir tudo a equações era uma forma de exercer total controle sobre meu mundo. Percebi que a ciência não substitui a religião quando ingressei na faculdade de medicina. Vi pessoas sofrendo de males terríveis. Uma delas, depois de me contar sobre sua fé e como conseguia forças para lutar contra a doença, perguntou-me em que eu acreditava. Disse a ela que não acreditava em nada. Pareceu-me uma resposta vaga, uma frase feita de um cientista ingênuo que se achava capaz de tirar conclusões sobre um assunto tão profundo e negar a evidência de que existe algo maior do que equações. Eu tinha 27 anos. Não passava de um rapaz insolente. Estava negando a possibilidade de haver algo capaz de explicar questões para as quais nunca encontramos respostas, mas que movem o mundo e fazem as pessoas superar desafios. 

Veja – Que questões são essas para as quais não encontramos respostas?

Collins – Falo de questões filosóficas que transcendem a ciência, que fazem parte da existência humana. Os cientistas que se dizem ateus têm uma visão empobrecida sobre perguntas que todos nós, seres humanos, nos fazemos todos os dias. "O que acontece depois da morte?" ou "Qual é o motivo de eu estar aqui?". Não é certo negar aos seres humanos o direito de acreditar que a vida não é um simples episódio da natureza, explicado cientificamente e sem um sentido maior. Esse lado filosófico da fé, na minha opinião, é uma das facetas mais importantes da religião. A busca por Deus sempre esteve presente na história e foi necessária para o progresso. Civilizações que tentaram suprimir a fé e justificar a vida exclusivamente por meio da ciência – como, recentemente, a União Soviética de Stalin e a China de Mao – falharam. Precisamos da ciência para entender o mundo e usar esse conhecimento para melhorar as condições humanas. Mas a ciência deve permanecer em silêncio nos assuntos espirituais. 

Veja – A maioria dos cientistas argumenta que a crença em Deus é irracional e incompatível com as descobertas científicas. O zoólogo Richard Dawkins, com quem o senhor trava um embate filosófico sobre o tema, diz que a religião é a válvula de escape do homem, o vírus da mente. Como o senhor responde a isso?

Collins – Essa perspectiva de Dawkins é cheia de presunção. Eu acredito que o ateísmo é a mais irracional das escolhas. Os cientistas ateus, que acreditam apenas na teoria da evolução e negam todo o resto, sofrem de excesso de confiança. Na visão desses cientistas, hoje adquirimos tanta sabedoria a respeito da evolução e de como a vida se formou que simplesmente não precisamos mais de Deus. O que deve ficar claro é que as sociedades necessitam tanto da religião como da ciência. Elas não são incompatíveis, mas sim complementares. A ciência investiga o mundo natural. Deus pertence a outra esfera. Deus está fora do mundo natural. Usar as ferramentas da ciência para discutir religião é uma atitude imprópria e equivocada. No ano passado foram lançados vários livros de cientistas renomados, como Dawkins, Daniel Dennett e Sam Harris, que atacam a religião sem nenhum propósito. É uma ofensa àqueles que têm fé e respeitam a ciência. Em vez de blasfemarem, esses cientistas deveriam trabalhar para elucidar os mistérios que ainda existem. É o que nos cabe. 

Veja – O senhor afirma que as sociedades precisam da religião, mas como justificar as barbaridades cometidas em nome de Deus através da história?

Collins – Apesar de tudo o que já aconteceu, coisas maravilhosas foram feitas em nome da religião. Pense em Madre Teresa de Calcutá ou em William Wilberforce, o cristão inglês que passou a vida lutando contra a escravatura. O problema é que a água pura da fé religiosa circula nas veias defeituosas e enferrujadas dos seres humanos, o que às vezes a torna turva. Isso não significa que os princípios estejam errados, apenas que determinadas pessoas usam esses princípios de forma inadequada para justificar suas ações. A religião é um veículo da fé – essa, sim, imprescindível para a humanidade.

Veja – O senhor diz que a ciência e a religião convergem, mas devem ser tratadas separadamente. Como vê o movimento do "design inteligente", em que cientistas usam a religião para explicar fatos da natureza que permanecem um mistério para a ciência?

Collins – Essa abordagem é um grande erro. Os cientistas não podem cair na armadilha a que chamo de "lacuna divina". Lamento que o movimento do design inteligente tenha caído nessa cilada ao usar o argumento de que a evolução não explica estruturas tão complicadas como as células ou o olho humano. É dever de todos os cientistas, inclusive dos que têm fé, tentar encontrar explicações racionais para tudo o que existe. Todos os sistemas complexos citados pelo design inteligente – o mais citado é o "bacterial flagellum", um pequeno motor externo que permite à bactéria se mover nos líquidos – são um conjunto de trinta proteínas. Podemos juntar artificialmente essas trinta proteínas, que nada vai acontecer. Isso porque esses mecanismos se formaram gradualmente através do recrutamento de outros componentes. No curso de longos períodos de tempo, as máquinas moleculares se desenvolveram por meio do processo que Darwin vislumbrou, ou seja, a evolução.

Veja – Qual a sua leitura da Bíblia?

Collins – Santo Agostinho, no ano 400, alertou para o perigo de se achar que a interpretação que cada um de nós dá à Bíblia é a única correta, mas a advertência foi logo esquecida. Agostinho já dizia que não há como saber exatamente o que significam os seis dias da criação. Um exemplo de que uma interpretação unilateral da Bíblia é equivocada é que há duas histórias sobre a criação no livro do Gênesis 1 e 2 – e elas são discordantes. Isso deixa claro que esses textos não foram concebidos como um livro científico, mas para nos ensinar sobre a natureza divina e nossa relação com Ele. Muitas pessoas que crêem em Deus foram levadas a acreditar que, se não levarmos ao pé da letra todas as passagens da Bíblia, perderemos nossa fé e deixaremos de acreditar que Cristo morreu e ressuscitou. Mas ninguém pode afirmar que a Terra tem menos de 10 000 anos a não ser que se rejeitem todas as descobertas fundamentais da geologia, da cosmologia, da física, da química e da biologia. 

Veja – O senhor acredita na Ressurreição?

Collins – Sim. Também acredito na Virgem Maria e em milagres. 

Veja – Não é uma contradição que um cientista acredite em dogmas e milagres?

Collins – A questão dos milagres está relacionada à forma como se acredita em Deus. Se uma pessoa crê e reconhece que Ele estabeleceu as leis da natureza e está pelo menos em parte fora dessa natureza, então é totalmente aceitável que esse Deus seja capaz de intervir no mundo natural. Isso pode aparecer como um milagre, que seria uma suspensão temporária ou um adiamento das leis que Deus criou. Eu não acredito que Deus faça isso com freqüência – nunca testemunhei algo que possa classificar como um milagre. Se Deus quis mandar uma mensagem para este mundo na figura de seu filho, por meio da Ressurreição e da Virgem Maria, e a isso chamam milagre, não vejo motivo para colocar esses dogmas como um desafio para a ciência. Quem é cristão acredita nesses dogmas – ou então não é cristão. Faz parte do jogo. 

Veja – É possível acreditar nas teorias de Darwin e em Deus ao mesmo tempo?

Collins – Com certeza. Se no começo dos tempos Deus escolheu usar o mecanismo da evolução para criar a diversidade de vida que existe no planeta, para produzir criaturas que à sua imagem tenham livre-arbítrio, alma e capacidade de discernir entre o bem e o mal, quem somos nós para dizer que ele não deveria ter criado o mundo dessa forma? 

Veja – Alguns cientistas afirmam que a religião e certas características ligadas à crença em Deus, como o altruísmo, são ferramentas inerentes ao ser humano para garantir a evolução e a sobrevivência. O senhor concorda?

Collins – Esses argumentos podem parecer plausíveis, mas não há provas de que o altruísmo seja uma característica do ser humano que permite sua sobrevivência e seu progresso, como sugerem os evolucionistas. Eles querem justificar tudo por meio da ciência, e isso acaba sendo usado para difundir o ateísmo. 

Veja – Mas o altruísmo é visto hoje pela genética do comportamento como uma característica herdada pelos genes, assim como a inteligência. O senhor, como geneticista, discorda da genética comportamental?

Collins – Há muitas teorias interessantes nessa área, mas são insuficientes para explicar os nobres atos altruístas que admiramos. O recado da evolução para cada um de nós é propagar o nosso DNA e tudo o que está contido nele. É a nossa missão no planeta. Mas não é assim, de forma tão lógica, que entendo o mundo, muito menos o altruísmo e a religiosidade. Penso em Oskar Schindler, que se sacrificou por um longo período para salvar judeus, e não pessoas de sua própria fé. Por que coisas desse tipo acontecem? Se estou caminhando à beira de um rio, vejo uma pessoa se afogar e decido ajudá-la mesmo pondo em risco a minha vida, de onde vem esse impulso? Nada na teoria da evolução pode explicar a noção de certo e errado, a moral, que parece ser exclusiva da espécie humana. 

Veja – Muitas religiões são contrárias ao uso de técnicas científicas que poderiam salvar vidas, como a do uso de células-tronco. Como o senhor se posiciona nessa polêmica?

Collins – Temos de ser sensíveis e respeitar as diferentes religiões no que diz respeito aos avanços científicos. Mas interromper as pesquisas científicas ou impedir que uma pessoa com uma doença terrível tenha uma vida melhor só porque a religião não aceita determinado tratamento é antiético. Por outro lado, existem fronteiras que a ciência não deve transpor, como a clonagem humana, que além de tudo não serviria para nada a não ser para nos repugnar. Cada caso tem de ser avaliado isoladamente. 

Veja – Os geneticistas são muitas vezes acusados de brincar de Deus. Como o senhor encara essas críticas?

Collins – Se todos brincássemos de Deus como Deus gostaria, com esperança e amor, ninguém se abateria muito com comentários do gênero. Mas somos seres humanos e temos propensão ao egoísmo e aos julgamentos equivocados. O importante é não reagir de forma exagerada à perspectiva de que as pessoas possam vir a fazer mau uso das descobertas da genética, mas sim focar o lado bom dessa "brincadeira". A maior parte das pesquisas genéticas busca a cura de doenças como câncer, problemas cardíacos, esquizofrenia. São objetivos louváveis. Para evitar o uso impróprio da ciência, o Projeto Genoma Humano apóia um programa que visa a preservar a ética nas pesquisas genéticas e certificar-se de que todas as nossas descobertas beneficiarão as pessoas e a sociedade. 

Veja – O que esperar das pesquisas genéticas no futuro?

Collins – Nos próximos dois ou três anos vamos descobrir os fatores genéticos que criam a propensão ao câncer, ao diabetes e às doenças cardiovasculares. Isso possibilitará que as pessoas saibam que provavelmente vão desenvolver esses males e tomem medidas preventivas contra eles, com a ajuda do médico. Mais à frente, as descobertas das relações entre o genoma e as doenças farão com que os tratamentos e os remédios sejam personalizados, tornando-os mais eficientes e com menos efeitos colaterais. 

Veja – O senhor acredita que Deus ouve suas preces e as atende?

Collins – Eu nunca ouvi Deus falar. Algumas pessoas ouviram. Não acredito que rezar seja um caminho para manipular as intenções de Deus. Rezar é uma forma de entrarmos em contato com Ele. Nesse processo, aprendemos coisas sobre nós mesmos e sobre nossas motivações.

Fonte: Veja on-line   
    
 

Offline PauloCesar

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Re: É logicamente possível deixar de ser ateu ?
« Resposta #69 Online: 24 de Janeiro de 2007, 12:45:30 »
1. Resposta: Minha resposta à pergunta do tópico, por tudo que tenho visto e ouvido, aprendido sobre ceticismo é NÃO! Não é possível. Ainda mais se a conversão for para o cristianismo. Penso que muita coisa teria que ser provada para converter um cético da veracidade de coisas como os dogmas pregados pelo cristianismo.

2. Collins: O cara pode duplipensar na boa... no fundo ele é só (mais) um homem que acredita na Virgem e em milagres. É patético, eu sei, mas fazer o quê? Além disso, ele deixou bem claro que era ateu por conveniência...

O que seria preciso para convencer um médico legista de que um homem torturado e morto há 3 dias voltou a viver e subiu ao céu numa nuvem? Muita coisa. No entanto, não acho difícil encontrar um que acredite piamente, sem a menor sombra de dúvida, que JC fez exatamente isso. Por mais que pareça estranho, não é incomum as pessoas usarem ceticismo para umas coisas e acreditarem seriamente em outras coisas... ele mesmo pede provas para umas coisas e acredita em outras para as quais não há quaisquer evidências além de testemunhos apaixonados...

No fim, é coisa de teísta-cristão-evangélico norte-americano...  :no:

FREE YOUR MIND! - Morpheus

Offline Südenbauer

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Re: Entrevista: Ciência não exclui Deus
« Resposta #70 Online: 24 de Janeiro de 2007, 12:52:31 »
Achei a estrevista boa, o único problema é que o cientista entrevistado confunde espiritualidade com religião. Se ele escrevesse que civilizações precisam de espiritualidade ao invés de religião, eu concordaria.

E a comparação com sistemas socialistas é um non sequitur, não?

Offline Alegra

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Re: É logicamente possível deixar de ser ateu ?
« Resposta #71 Online: 24 de Janeiro de 2007, 12:54:08 »
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1. Resposta: Minha resposta à pergunta do tópico, por tudo que tenho visto e ouvido, aprendido sobre ceticismo é NÃO! Não é possível. Ainda mais se a conversão for para o cristianismo. Penso que muita coisa teria que ser provada para converter um cético da veracidade de coisas como os dogmas pregados pelo cristianismo.

Nossa! Radical você eim PauloCesar! :o
Já sinto sua falta. Vá em paz meu lindo!

Offline PauloCesar

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Re: Entrevista: Ciência não exclui Deus
« Resposta #72 Online: 24 de Janeiro de 2007, 13:00:15 »
Acho que não é radicalismo não. Imagine... Sei que há uma grande parcela de subjetivismo nisso aí, mas no momento é assim que vejo. Como cético, preciso de algo mais substancial além de testemunhos apaixonados. Testemunhos ouço desde que me entendo por gente...

Além disso, o cristianismo já foi tão desconstruído (inclusive nesse fórum), que não consigo me imaginar jurando de 'pés juntos' que acredito na Virgem... é demais pra minha cabeça...
« Última modificação: 24 de Janeiro de 2007, 13:54:29 por PauloCesar »
FREE YOUR MIND! - Morpheus

Luz

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Re: Entrevista: Ciência não exclui Deus
« Resposta #73 Online: 24 de Janeiro de 2007, 13:01:38 »
Fernando, está acontecendo um debate sobre o assunto em ../forum//topic,9752.msg165786.html#new

Participe também.  :)

Offline Südenbauer

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Re: Entrevista: Ciência não exclui Deus
« Resposta #74 Online: 24 de Janeiro de 2007, 13:09:25 »
Obrigado pelo convite.

A propósito, a moderação deveria fundir os dois tópicos.

 

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