A-ha! Eis o X da questão, Snow! Estou feliz que você tenha observado isto:
Pergunte essas coisas ao porteiro do seu prédio, ou àquele vizinho com quem não conversa tanto.
Eu seleciono as pessoas com quem tenho contato. Pode-se dizer que os meus gostos geram um viés que interfere na medida. Mas o que acontece se eu removo o critério de seleção?
Em um dos apartamentos abaixo do meu, alguém gosta de escutar música ruim muito alta durante a tarde. Sábado e domingo é um inferno. Em todos os outros 6 apartamentos do meu predinho, só mais um toca música num volume mais elevado - mas isso porque ele toca piano, e muito bem.
Alguns taxistas que peguei na rua reclamam dos impostos, dos serviços ruins, de tudo - e admitem que molham a mão de policiais ou instalam gatos. A enorme maioria dos taxistas que pego e que comento sobre o assunto acham isso um absurdo.
Uma quantidade absurda de pessoas que vejo na rua joga lixo na via pública. Uma quantidade elevada (não sei dizer quantos, honestamente) joga nas lixeiras, porque elas ficam cheias rapidamente até dar o horário de limpeza.
Não há distinção de classe social: ricos, pobres, instruídos e ignorantes transgridem (ou não) da mesma forma. Não tenho informações sobre a porcentagem relativa disso. Daí a minha conclusão que a idéia do "brasileiro médio" SÓ pode ser útil SE acompanhada das devidas precauções: que comportamento se está medindo? Qual o universo pesquisado? Quais os fatores que podem influenciar a medida para este ou aquele lado? Qual a metodologia aplicada?
Repare que isso não é relativizar a questão! Trata-se apenas de aplicar o mesmo rigor cético que nos caracteriza para esse tipo de postura de tachar o "brasileiro médio" como um cara cheio de vícios - TODOS os vícios.
Quanto mais não seja, porque ninguém neste mundo é inocente, e quem não molha a mão de guarda pode fazer gato; quem faz gato pode não tocar música alta, e quem faz downloads ilegais pode ser de outra forma um santo.