Objetivamente, animais tem sensações e atitudes. Não gostam de ser sacrificados para nos alimentar, nem de ficar confinados. Os mecanismos podem não estar completamente decifrados, mas seria má-fé tentar negar a existência e clareza dessas sensações animais.
Não nego isso. Mas posso ignorar suas sensações e nem por isso sentir que firo a moral. Na minha concepção, a moral trata dos códigos de conduta adequados às nossas relações interpessoais, ou seja, os animais estão fora de seu interesse.
Crueldade não é um conceito arbitrário, Gabriel; os critérios de reconhecimento da crueldade são construídos pela cultura, mas a crueldade em si independe da existência de tais critérios.
Eu concordo e discordo. O conceito de crueldade só faz sentido dentro de uma escala de valores. Existe dentro da espécie humana uma grande quantidade de culturas que organizam diferentemente suas próprias escalas de valores. Essas escalas, no entando, não são tão diferentes assim uma da outra como se poderia supor porque por mais diferentes que sejam duas sociedades organizadas, há algumas necesidades básicas que elas compartilham, e a mais importante de todas é a necessidade de coesão (Darwin explica: Sociedades que não se mantém coesas não sobrevivem como sociedades.) Dessa forma, condutas que comprometam a coesão do grupo, como a violência gratuita entre membros do mesmo, são universalmente condenadas. Nesse sentido pode-se argumentar que existem parâmetros
locais de certo e errado. Locais, e não universais, porque só fazem sentido dentro de um modelo específico de relações intra-específicas. Se, em vez de vivermos em sociedade, fôssemos animais solitários e territorialistas, o que chamamos de certo seria lutar contra qualquer outro macho que invadisse nossos domínios, procurar por fêmeas, matar suas crias para forçá-la a entrar no cio e cruzar com ela.
Verdade. A vespa não tem a capacidade de ser cruel, está apenas seguindo sua programação biológica. Não é o caso de nós seres humanos.
Nós seguimos, além de uma programação biológica, também uma programação cultural. E até temos alguma liberdade para nos auto-programarmos de acordo com nossas próprias consciências (que não deixa de ser largamente influenciada pela biologia e pela cultura, de qualquer maneira). Mas minha consciência pode simplesmente não pesar quando passo uma ponta de faca de
foie gras no pão. Não tolerar que um humano seja forçado a engolir toneladas de comida até seu fígado quase explodir não significa que eu vá ser igualmente solidário com um ganso.
Pelos mesmos critérios que rejeitam (por exemplo) a escravidão, estamos sim objetivamente certos ou errados dependendo de qual tratamento dispensamos a animais. Matar um animal simplesmente porque temos esse poder é um ato imoral.
Acho que já ficou claro pelas minhas respostas anteriores que, para mim, gente é uma coisa, bicho é outra. Que não sou ativista do animalismo de
A Revolução dos Bichos e não estou inclinado a pedir a libertação dos animais de tração que ainda são escravizados nos nossos dias.
Correto, a responsabilidade ética de fato é nossa e não da Natureza.
Perfeito. E do meu ponto de vista eu só estaria faltando contra a ética à mesa na ocasião de praticar canibalismo.