Procedure, algumas postagens atrás eu havia desistido do tópico por causa do BetinhO, mas seria desrespeitoso interromper nossa conversa assim.
Continuando, se você não se importar...
A lei não menciona valores. A eficiência não está ligada ao custo, está ligada à alternativa.
O que está atualmente escrito na lei não faz diferença na nossa discussão.
Bem, faz diferença quando o assunto a engloba. A Lei, queira ou não, reflete um paradigma social.
É óbvio que aqui cabe juízo de ponderação: se a alternativa é demasiadamente mais cara, há que se sopesar as coisas.
Seguindo o seu ponto de vista, por que deveria ser assim? O fato de a alternativa ter um custo muito mais caro justificaria a dor no animal pelo método comum?
Por "demasiadamente cara" eu quis dizer "tão cara que não possa ser considerada alternativa".
Sendo assim, o que importa para você também é apenas o que é gasto no processo, apenas uma contabilização de o que nós humanos ganhamos ou perdemos no processo, e não o sentimento de dor do animal.
Não. Eu me referia à aplicação da lei. Vamos separar:
1. Quando eu disse "É óbvio que aqui cabe juízo de ponderação: se a alternativa é demasiadamente mais cara, há que se sopesar as coisas", eu me referia a uma possível interpretação (direito, lei, é questão de interpretação): SOPESAR AS COISAS: Se a alternativa é demasiadamente cara a ponto de tornar INVIÁVEL a pesquisa, não há motivos para considerá-la alternativa (ele é alternativa lato sensu, mas, stricto sensu, por ser inviável, não pode ser considerada alternativa, como, por exemplo, se, para ser aplicada, ela necessitar sozinha de todos os recursos que se dispõe para todas as fases da pesquisa). Não é questão de gastos, é questão de viabilidade.
2. PARA MIM, o que importa é não utilizar animais como coisas, exceto quando seu sacrifício for estritamente necessário à nossa sobrevivência, e, mesmo assim, só causar-lhes sofrimento se isso for estritamente necessário. Então, por exemplo, se é para abater por alimentação, que, em vida, ao animal tenha sido fornecido o mínimo de dignidade e respeito (não bater, não mutilar, não trancafiar pela vida toda num espaço em que só caiba um animal apertado...).
Me dá um "treco" observar toda a burocracia bioética que deve ser enfrentada em pesquisas científicas para fazer uso de animais. O cúmulo para mim são leis que tentam proteger a integridade física de ratos. Pqp, ratos! São apenas ratos! Adotam até um procedimento "bioeticamente correto" de abater ratos em laboratório.
De novo o ser pelo ser.
Sim, já disse que parto do princípio de que o bem-estar humano deve estar acima do bem-estar animal.
Sim. Não discordo de você a respeito de dar prioridade ao bem estar-humano.
Certamente eu não estaria diante de um grande dilemamoral se tivesse de escolher entre a vida de um humano e a de um cachorro. Mas, na maioria das vezes, não é uma bifurcação na qual se deva escolher apenas um caminho. Se PODEMOS adotar um procedimento bioético, por que não?
A resposta sobre baratas dada anteriormente responde sua pergunta. O rato invadiu a sua casa e é conhecido transmissor de doenças.
"Mas eu poderia tomar remédios e me proteger de outras formas que não matando o rato, seria uma crueldade com ele." Isso é colocar os interesses humanos acima dos interesses de outros animais.
A questão de matar baratas e ratos se enquadrava na abrangência da lei. A lei prevê quando é que você pode matar um animal sem ser criminalizado. Foi isso o que você perguntou, não?
Se isso é admitir que tubarões são tão dignos de direitos quanto humanos, o raciocínio não é meu, é seu. Foi você quem invocou o ser-pelo-ser. Seu raciocínio tem nome: Jusnaturalismo, que, em outras palavras, é o moralismo medieval católico agonizante....
É o bem-estar humano que penso dever ficar acima do bem-estar de aniamis não-humanos. Disse apenas isso.
Disse, mas disse que a razão é o fato de se ser humano. Jusnaturalismo.
É porque somos especiais? Somos especiais e devemos lutar para nos perpetuar.
Acaso ao preservar a dignidade das outras espécies significa menosprezo da nossa?
Os animais-que-nos-alimentam merecem um tratamento digno porque eles são animais como nós. Somos todos parententes.
O mesmo poderia ser aplicado ao rato, apesar de ser um vetor de doenças.[/quote]
A questão de matar baratas e ratos se enquadrava na abrangência da lei. A lei prevê quando é que você pode matar um animal sem ser criminalizado. Foi isso o que você perguntou, não?
Os investimentos para o tratamento digno de falo são em sua maioria meramente "não-fazer", não bater, não arrancar pele de animais vivos, não mutilar....
Na pecuária a coisa pode se resumir a "não fazer" na maioria dos casos. Na pesquisa científica é bem diferente.
Na pesquisa científica também: não deixar animais testados morrendo de dor, quando sua sobrevivência é impossível e quando o seu sofrimento não é mais necessário; não jogá-los em sacos de lixo ainda vivos; matá-los com o procedimento bio-ético que você criticou...
Se não se tiver ética na pesquisa científica, como se pode esperar que se tenha ética na derrubada de árvores, na criação de porcos e aves (grandes poluidoras), nas plantações, no destino de lixo tóxico?
E os outros que não nos alimentam, são um "fim em si próprios"? Isto é, se ao contabilizar os ganhos e perdas que humanos teriam com o extermínio de um grupo de animais e de seu habitat concluíssemos que teríamos mais a ganhar, seria válido mantê-los vivos mesmo assim?
Principalmente por isso. Quantos exemplos você quer de conclusões científicas que num primeiro momento pareciam boas mas resultaram em tragédias anos depois?
Não há diferença, para a discussão, entre os casos em que as previsões deram certo e os casos em que deram errado resultando em catástrofes ecológicas. Apenas o que se leva em consideração é o benefício ou o prejuízo que nós teremos com o extermínio, e não o interesse dos animais, considerando-os como "fins em si próprios".
São um fim-em-si-mesmos.
Nós humanos, superpopulosos, precisamos tanto das árvores que derrubamos sem compensar, mas as aves e insetos que não queremos considerar um fim-em-si-mesmos ainda são seus maiores plantadores.
É difícil ver que todos os bichinhos abaixo de nós são mais importantes para o nosso bem-estar do que qualquer perspectiva de lucro que possamos ter?
Esse não é um outro bom motivo para considerá-los um fim-em-si-mesmos?
- Ih, caiu uma mosca no tanque de massa de tomate*.
- Descartamos os 300 litros, chefe?
- Não, o mal eventual que essa mosca pode fazer não compensa disperdiçarmos esse lucro.
Ótimo, vamos brincar de fazer espantalhos com os argumentos um do outro.
- Ih uma mosca pousou no tanque de massa de tomate.
- Devo matá-la, chefe?
- Não, a mosca é um animal como nós, é nossa prima distante, sente dor e é, portanto, um fim em si própria.
Foi você quem disse:
Uma vez vi no Globo Rural que animais que não sofrem maus tratos durante suas vidas possuem carnes de qualidade superior, pelo fato de não terem sido submetidos a tanto estresse. Não sei se a qualidade superior compensa o custo que se tem tratando-os "dignamente", mas certamente não é só por uma questão de benevolência que alguns produtores procedem assim.
A qualidade superior de um produto para um mercado certo não compensa o investimento só porque o lucro é menor?