Tu é um cara inteligente, tem diploma de direito. Não acha que essa vida de policial é muito arriscada em relação às alternativas? Penso: esse tiro que pegou na lataria podia facilmente ter te matado se acertasse em outro lugar.
Na verdade, eu tenho diploma em direito, pós e mestrado (pendente, mas quase lá)... além de uma carteira da OAB e uma esposa com escritório já bem estabelecido onde eu poderia trabalhar tranquilamente.
A grande questão é que eu não acho que saberia viver com um trabalho de escritório. Eu já passei algum tempo interno. O tédio chega em menos de 1 mês. A inciativa privada não me atrai. Tudo que eu gosto de fazer é monopólio do Estado, pelo menos no Brasil, o que não me deixa muita alternativa.
Mas você está certo. Recentemente, enquanto caia do alto de uma escada, agarrado a um craqueiro que encarnou um jogador de futebol americano, eu pensei "putz, que merda eu tô fazendo da minha vida?". Esse episódio foi um turning point pra mim, e me motivou a dar seguimento aos estudos. Eu gostaria de continuar na mesma linha de trabalho (segurança/inteligência/defesa), mas espero ser melhor remunerado por isso e poder ter um pouco mais de voz no processo decisório do que é ou não efetivo em como se atua nessa área. Vamos ver.
às vezes penso isso até em relação a medicina: um dia o filho de alguém morre e o cara vem atrás de mim, dá medo. A vida é banal demais para boa parte da nossa população. Hoje vejo que não vale a pena praticar no Brasil, cada vez mais a realidade reforça meus esforços em ir embora.
Um conhecido matou o médico que cagou no diagnóstico do filho dele de 1 ano. Foram 4 diagnósticos errados, culminando com o último de "frescura" da criança. Não sei exatamente qual foi a doença, mas a criança morreu meses depois. Esse colega meu ficou maluco, mesmo no ambiente de trabalho (ameaçou matar um superior que não deixou ele prestar socorro pro filho no dia que ele morreu). O médico ele fez uma tocaia e matou com um tiro na cabeça. Ele tomou 13 anos. Isso foi em 2007, 2008, por aí.
Sair do país é uma hipótese que passa pela minha cabeça de vez em quando.