O estado não precisa decidir todos os critérios de admissão..... apenas discernir se não está sendo a raça (e outros critérios indevidos) um deles.
Fora isso, coisas como os CRMs e o CFM também decidem os critérios de admissão para a prática de medicina.... poderia-se igualmente argumentar que é algo da conta apenas do médico e do paciente, etc, etc....
E aí voltamos ao ponto anterior: como vai discernir que é ou não a raça o critério? E não saquei a analogia com os conselhos de medicina.
Ora.... então analogamente eu poderia dizer "decisões sobre que funcionário contratar se referem apenas à empresa, mas não estou defendendo a tolerância ao racismo como critério de admissão. É justamente por excessos como este que se justifica a existência de órgãos fiscalizadores e os direitos humanos".
Não, não há a menor relação aí: a agressão de uma criança constitui um dano a um indivíduo. Daí se justifica a existência de um órgão que puna pais que cometam este excesso.
A empresa é privada. Dizer que é infligir dano a um indivíduo o fato de o empregador não contratá-lo, digamos, por não achá-lo simpático, é o mesmo que alguém se sentir ofendido porque você não o deixou entrar em sua casa pelo mesmo motivo. Portanto, não vejo nenhuma justificativa para a existência de um órgão destes.
Bem, no texto "minha luta" e em outros similares (tem até um vídeo interessante, acho que já foi postado pro aqui, é algo meio antigo, mas interessante.... começa com um tipo de palestrante de praça pública... mas é tudo encenação, propaganda contra nacionalismo e similares), você vê coisas como nacionalistas/racistas falando que as outras raças/povos estão vindo e "roubando" os empregos que deveriam ser "nossos". Acho que não são todos os racistas que são "ideais" no sentido de não discriminarem candidatos à vagas de emprego....
Certamente não são todos. Mas o fato é que o sistema capitalista os faz pagar por sua própria ignorância, de colocar em primeiro lugar a raça e em segundo a competência como critérios de contratação.
Além do que, o empresário racista corre o considerável risco de sofrer boicote por parte de clientes caso sua política de contratações se torne pública. Coisa que seria escandalosa e não tão difícil de notar em um país tão diverso como o Brasil.
Bem.... para tender resumir, não vou comentar ponto a ponto.
Penso que, atualmente, já seja ilegal a discriminação racial no trabalho. Racial e outras. Já não é legal contratar ou não contratar pessoas de acordo com critérios raciais (penso eu).
Eu simplesmente concordo com isso, acho que tem que ser assim mesmo, primeiramente, porque acredito que não devesse existir esse tipo de discriminação. Depois, não acho que uma empresa privada ou uma residência devessem pequenos paisinhos com suas próprias leis, mas que devem mesmo estar sujeitos às leis locais. Aí tem toda aquela argumentação em torno disso, contrato social/leviathan e etc, etc, as empresas e indivíduos não brotam do nada, se não existisse governo acabariam resultando em oligarquia e despotismo, etc, etc....
Assim, mesmo sendo privada, de certa forma uma empresa também é "pública", e deve responder por suas ações e etc e tal. Não interessa que o restaurante é meu, eu não posso por uma placa "proibida a entrada de cachorros e chineses" ou algo do tipo; um dono de empresa de ônibus não pode por uma demarcação para assentos para negros no fundo do ônibus. E o mesmo vale para contratações, não são critérios válidos para contratação.
Na prática isso não funciona 100% do tempo, é difícil impedir que hajam contratações e tratamentos que respeitem isso o tempo todo? É, de fato é verdade. Mas ao mesmo tempo é difícil impedir todo tipo de crime, e não é por isso que vai se abolir as leis e acabar com a polícia.
Quanto ao método específico para tentar aferir se há racismo nas contratações, eu não sei exatamente, mas não me parece exatamente algo impossível de ser pensado.
Imagino que a lógica básica da coisa seria pegar os currículos diversos dos candidatos, que talvez devessem, se já não é o caso, ser um tipo de dado público da empresa, ou no mínimo de sigilo aberto à esse órgão, e se fariam testes, pedindo paraum tipo de juri independente avaliá-los, ordenarem-nos de melhores à piores. Supostamente, deveriam ser empregadas as pessoas cujos currículos fossem mais unanimemente considerados superiores, a despeito da raça ou sexo. Se isso não é verificado, aí poderia-se ir lá perguntar, por que foi contratado Fulano e não Ciclano ou Beltrano, e teria que ter uma justificativa legalmente válida, seja lá qual for; algo análogo a uma demissão por "justa causa".
Se for uma coisa muito descabida, talvez a situção para a empresa ou contratante pudesse ficar complicada nesse mesmo instante, senão fica apenas registrado, e eventualmente talvez se constatasse um padrão, aí sim, a coisa complicaria definitivamente, teria que entrar em julgamento ou qualquer que seja o procedimento adequado para esse tipo de coisa.
Bem, esse é o melhor mecanismo que eu consigo imaginar agora para tentar garantir que essas leis anti-discriminação já vigentes (suponho) sejam mesmo cumpridas. Talvez haja algum meio melhor.
Mas acho que uma fiscalização é melhor que nada, e que as leis anti-discriminação sejam melhores que a descriminalização da discriminação, esperando a justiça emergir simplesmente pelas leis do mercado.