Tropa de EliteRodrigo ConstantinoFinalmente vi o tão falado filme Tropa de Elite, no dia da estréia oficial nos cinemas. Gostei muito. O que mais me impressionou no filme foi seu realismo, a forma direta como trata de delicados temas – como o da violência carioca. Após ver o filme, parece-me incompreensível o rótulo de “fascista” que muitos esquerdistas deram ao filme. Sim, entendo que tudo aquilo que não é socialista vira “fascista” ou “nazista” para essa turma. Não obstante o fato de que na prática é tudo farinha do mesmo saco – socialismo, comunismo, fascismo e nacional-socialismo, todos antiliberais e coletivistas – fica a constatação de que o filme não tem absolutamente nada que nos remeta ao fascismo. A não ser, claro, que ser contra a extinção do “caveirão” seja sinônimo de fascismo...
O filme mostra um Capitão Nascimento vivendo angústias pessoais, e não um monstro que adora torturas. O filme não faz apologia à tortura hora alguma, como alguns disseram. Ele apenas relata a vida dura dos policiais do Bope, e a podridão que é o sistema policial na cidade. Em resumo, ele descreve uma realidade lamentável da cidade “maravilhosa”, onde todo o sistema funciona para se perpetuar, incluindo policiais corruptos, traficantes, políticos e consumidores de drogas da classe média e alta. A tropa de elite da PM é tratada como um pequeno grupo ainda blindado contra a corrupção que devorou o restante da polícia, graças provavelmente ao sentimento de honra de seus membros. O ambiente hostil, cujo câncer da corrupção já chegou ao estágio de metástase, não colabora nem um pouco com a adoção de práticas corretas no combate ao crime. Isso não quer dizer que os métodos aplicados pelo Bope sejam dignos de aplausos. Apenas mostra como a realidade é: guerra é guerra. E o Rio vive, especialmente nesses locais, uma verdadeira guerra civil, com a total ausência do império da lei.
Um suíço vendo o filme ficaria chocado, com razão. E é importante pensar nisso, pois nos força uma reflexão: a que ponto nós chegamos?! Como sapos escaldados, vamos nos acostumando com a escalada da violência, achando normal a situação deplorável da cidade. Mas de vez em quando, como se despertos de um pesadelo, a revolta e indignação chegam a tal patamar que um Capitão Nascimento, assassino de assassinos, passa a ser visto com complacência – quando não admiração. É como um grito de desespero, colocando para fora nossa angústia. As favelas viraram verdadeiras fortalezas do crime, desde quando Brizola as tornou intocáveis pela polícia. Se antes era relativamente fácil extirpar o câncer, fica cada vez mais complicado fazer isso agora. A mentalidade de que bandidos são “vítimas da sociedade” não ajuda nada. As ONGs como a Viva Rio, que vivem pregando a paz enquanto atacam a polícia e defendem os bandidos, tampouco contribui. E o fato de ONGs desse tipo terem sido tratadas como hipócritas no filme, assim como os ricos que pedem paz entre uma carreira de cocaína e outra, ajudou bastante para os ataques que recebeu da “esquerda festiva carioca”. Defender o fim da ação policial nos morros não é solução!
Eu sou um defensor da legalização das drogas. Não encaro isso como uma panacéia para nossos males, lembrando que vários países possuem consumo de drogas proibidas, mas nem por isso vivem no caos em que vivemos. Mas vejo a proibição das drogas como uma das grandes causas da violência, origem do tráfico. O Capitão Nascimento passa a mesma idéia no filme, quando desabafa que está de “saco cheio” de ter que subir morro e ver as crianças que morrem por conta do tráfico só porque os “playboys” querem enrolar um baseado. Entre Al Capone e os acionistas da Inbev, eu fico com a segunda opção, sem dúvida. Não consigo entender porque alguns preferem dar dinheiro para o PCC, Comando Vermelho e FARC em vez de dar lucros para uma Souza Cruz da vida, que gera empregos formais e paga impostos. A maconha deveria ser vendida por empresas deste tipo, não por traficantes.
Dito isso, a mensagem do filme, que trata como hipócritas os consumidores de drogas riquinhos, permanece válida. Afinal de contas, essas drogas estão proibidas, e este fato faz toda a diferença. Afinal, consumi-las realmente abastece os traficantes, dando munição para eles, contribuindo para a morte de inocentes na guerra do tráfico. Os defensores da legalização devem atuar no campo das idéias, buscando mudar este quadro. Mas enquanto isso não ocorre, devem entender que cada baseado aceso é mais bala de fuzil na mão de traficante assassino. Creio que esse é um motivo e tanto para abandonar o consumo até este ser legalizado.
Por fim, gosto sempre de lembrar da máxima de que cinema é a maior diversão. Muitos filmes tentam passar mensagens políticas ou ideológicas, faz parte do negócio. Mas no fim do dia, um bom filme, em minha opinião, é aquele que diverte como um bom entretenimento. Por isso gosto dos filmes de ação de Hollywood, com orçamento milionário, muitas explosões e perseguições inacreditáveis de carros. E neste quesito, Tropa de Elite merece uma ótima nota. O filme prende o expectador na cadeira, atento a cada cena eletrizante. As cenas são bem realistas. A violência está presente, mas não em doses absurdas. E cá entre nós: a violência existe mesmo em nossa cidade e em nossas favelas. Será que retratar a vida como ela é virou coisa de “fascista” agora? Pelo menos o filme despertou um debate saudável sobre os temas. E quem não gosta de debates sim, são os verdadeiros fascistas!
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