O resultado é saudável, o processo não.
Em outras palavras, imediatamente após parar de perder peso ainda preciso de um tempo adicional apenas para me recobrar da debilitação que isso me causa. Mas a debilitação é totalmente reversível, já fiz isso algumas vezes.
(...)
Cara, eu espero que você saiba mesmo o que você está fazendo, só não se arrisque demais! Me parece que seu problema é mais de auto-estima do que de excesso de peso propriamente... mas quem sou eu para saber? Espero que você tenha refletido bem sobre o que está fazendo.
Obrigado, porque isso me ajudou a descobrir uma coisa.
Nos últimos dias estive pensando em qual resposta dar a esta pergunta (sim, sou obssessivo a esse ponto), e após lembrar duns fatos, acabei percebendo o principal hoje.
sou daquele tipo físico cuja gordura se concentra mais na parte de baixo do corpo, e apesar de isso me deixar com cintura fina e coxas grossas (o que sempre odiei, porque sempre achei que isso deixava meu corpo com aparência feminina), o problema real mesmo é que a partir dum certo nível de obesidade isso sempre me causou assaduras.
Eu tinha ESQUECIDO isso, o que me dá raiva de mim mesmo porque é algo que eu jamais deveria esquecer, mas enfim. Só consegui perceber isso depois de eliminar muitos dos meus problemas psicológicos, para conseguir perceber (e relembrar) os problemas que não são psicológicos, mas que estavam esquecidos por trás deles.
Depois de chegar a um certo nível de obesidade no início da adolescência, passei a ter assaduras quando caminhava ou corria, assaduras que chegavam a durar meses todos os anos. Isso também foi causado por falta de higiene, já que eu me sentia um lixo e não conseguia criar ânimo nem pra tomar banho às vezes.
Depois que passei a ter assaduras tudo só fez piorar, porque eu não conseguia andar direito, precisava ficar até semanas parado pras assaduras sararem, e morria de vergonha de contar isso pra qualquer um, inclusive pra minha mãe que me tratava feito vagabundo porque eu não ajudava no que ela me pedia. Quando resolvi perder peso já não dava mais, eu não conseguia fazer exercícios sem sentir dor e os outros me tratavam feito um inútil por causa disso, porque eu não contava nada das minhas dores. Eu já tinha vários problemas psicológicos fudidos, e ainda por cima o problema das assaduras contribuiu para que eu tivesse vergonha até mesmo nas poucas vezes em que alguma garota me queria, porque eu não queria que garota alguma visse as assaduras nas laterais internas das minhas coxas, que chegavam a ficar sangrando em carne viva e fedendo. Eu tinha medo que ficassem horrorizadas, que achassem até que eu tinha algum tipo de DST, e que saíssem espalhando fofocas. Eu tinha medo de que soubessem da minha vida e saíssem espalhando meus problemas. Eu tinha vergonha.
Todos os moleques sádicos me batiam e saíam correndo sem que eu pudesse fazer nada, e mesmo quando eles não corriam eu geralmente não podia fazer nada porque estava com dor. Eu fantasiava, sonhando com as chances de que um dia eles viessem me agredir e não fugissem, para que eu pudesse revidar. Com o tempo aprendi a procurar soluções absolutas, e acabei aplicando isso à minha filosofia de vida.
O que me fez lembrar de tudo isso é que essa semana teve um dia em que eu estava guardando uma das portas do prédio, e dois moleques favelados saíram correndo por outra porta que fica a cinco metros de distância, furtando uns objetos. Não tive como correr atrás deles porque já estou fraco, e mesmo assim não quis correr porque de pensar em fazer isso me lembrei inconscientemente da dor que as assaduras que tive me causaram, e lembrei de como cheguei a ter uma pequena assadura no comecinho do mês, num dia em que fui trabalhar sem vestir short por baixo da calça.
Sim, visto um short por baixo da calça todos os dias, um daqueles shorts feitos pra esportistas, feito dum tecido sintético bem fino e arejado que desliza bem e deixa todo o suor passar (não tenho certeza, mas acho que é lycra). É a única coisa que faz com que eu possa andar normalmente por quanto tempo eu quiser.
O detalhe é que já fazem umas semanas que de vez em quando me perguntei, de relance e sem dar muita importância, por que diabos ainda não consigo andar direito sem vestir eles, já que minhas coxas já estão finas o suficiente pro atrito não ser tão acima do normal. Aí fiquei com sua pergunta na cabeça, Gabriel, fui lembrando dessas coisas e de repente percebi que a pele das laterais internas das minhas coxas deve ter uma espessura ínfima, já que foi tão detonada por estrias e assaduras ao longo da maior parte da minha vida.
Mesmo tendo resolvido minha higiene pessoal (junto com minha desorganização, porque quarto meu sempre foi uma zona até eu morar sozinho), aprendido a me prevenir, descoberto meios de me vestir melhor para evitar que isso voltasse a acontecer, e perdido peso, percebi que no final das contas também vou ter que consultar um dermatologista e provavelmente fazer algum tipo de cirurgia plástica para resolver ou pelo menos diminuir esse problema mais ainda. Tendo emagrecido talvez eu tenha pele suficiente sobrando no resto do corpo para transplantar se precisar.
E minha vida inteira passei tanta frustração por ter vergonha demais para me explicar, e raiva por outros sempre me acusarem de ter má vontade, que acabei esquecendo de todos esses problemas físicos e acabei absorvido pelos problemas com as pessoas. É difícil demais ligar os pontos disso tudo. A única coisa que sempre consegui manter em mente era que enquanto não emagrecesse eu não conseguiria resolver o resto.
Tinham umas outras coisas das quais eu tinha lembrado junto disso mas esqueci agora. Gah.
Bom, as que me lembrei agora é que outro motivo pra eu ficar em forma é que preciso ter condições de correr atrás de moleques como os que furtaram no prédio essa semana, e que no meu dia de folga essa semana caminhei debaixo do sol e percebi que perder peso aparentemente não me fez suar menos nessas condições. Ainda bem que no prédio em que trabalho tem ar condicionado.
Valeu mesmo, eu tava precisando lembrar dessas coisas. Provavelmente vou ter que juntar salário por alguns meses para cuidar disso.