Na prática, se pegarmos a esquerda e a direita no aspecto mais aceito, que é a maneira como a economia é manejada, somos todos capitalistas de direita avessos ao marxismo. Por isso que te pedi para responder ao meu desafio, pois na definição da sua esquerda não ficaria nada de esquerda, seria auto-evidente.
Eu entendi, mas veja, 'esquerda' significou revolução no século XX. Uma revolução para derrubar estados conservadores, fazer reforma agrária, distribuir riqueza e terras, e isso assustou muita gente (obviamente, que tinha riqueza e terras). Assim como vem acontecendo desde a Revolução Francesa, fica óbvio dizer que 'quem reparte leva a melhor parte', e é por isso que essas revoluções desencadeiam polarizações e totalitarismo. Aconteceu em 100% dos casos em que houve uma revolução armada, dos jacobinos para cá.
Você deve estar ciente de que 99,99% dos operários de base não leram 'O Capital' de Marx, leram ou outras coisas de Marx ou nada mesmo, só panfletagem posterior. Então se ele se denomina marxista é em prol de uma luta igual dentro de um partido operário para reduzir a diferença entre classes sociais e distribuir renda, em maior ou menor grau, mais ou menos violento, etcétera.
Eu não sou economista. Estou falando de historia e de política. Estou falando de posturas políticas, que se tomaram no passado e que se tomam hoje. Quando se fala em esquerda, obviamente é um conceito muito amplo, e você o está restringindo a Marx, e para você Marx significa 'ditadura do proletariado'. Não existe nem nunca existiu esse consenso, sequer em partidos ditos marxistas pelo mundo afora. Também não havia consenso em partidos socialistas, e não há até hoje. É por isso que se fala em esquerda e extrema esquerda, assim como se fala em direita e extrema direita.
Isso acontece porque por um lado Marx fez uma análise econômica a partir dos meios de produção, do ponto de vista da exploração da força de trabalho e da desigualdade que isso gera. E por outro propôs um modelo novo. Muitos, como eu, concordam na maioria da sua análise, mas não da solução. Para mim, o sistema capitalista como sistema econômico gera e distribui riquezas de forma justa, o problema é que injustiças do passado, como a posse de milhões de hectares de terra por uns poucos, geram desigualdades. Isto é, quem domina os meios de produção (na América Latina foi por herança a direita aliada à Igreja Católica) é quem domina. Foi nesse contexto que partidos de esquerda, surgidos de intelectuais que se uniram a operários das mais diversas camadas, começaram as lutas, greves e confrontos que abriram a consciência dos governos para uma legislação mais justa em termos de idade mínima para o trabalho, jornada de trabalho, salário mínimo, direitos trabalhistas em geral.
Você vai falar 'não, foi a direita que trouxe o FGTS e tal', porque governos populistas como Vargas ou Perón fizeram isso. Fizeram isso porque o medo ao comunismo não permitiu que governos comunistas se instalassem na América Latina. Mas esquece que o início desses movimentos foi na Inglaterra, Alemanha, EUA, e eram os 'marxistas' que organizavam os piquetes, as greves, etc.