Acho que tenderia a ter uma opinião menos pessimista se não tivesse sido usado, pelos próprios proponentes, o termo "descolonização". Isso faz soar todos os alarmes.
Apenas apontei que não há nada de flagrantemente bizarro no fato de uma instituição voltada a estudos africanos e asiáticos optar por dar ênfase a esses autores e limitar ao que considera necessário o estudo de filósofos ocidentais, que costumeiramente são estudados com maior frequência em outros cursos e departamentos.
E parece um pouco mais problemático que isso, conforme concordam os diretores da instituição. Ela pode ter esse foco, mas idealmente* não deve ter menos do que o básico daquilo que acaba sendo a filosofia "mainstream".
* como instituição de promoção do conhecimento, não necessariamente como empreendimento comercial, em que um nicho poderia ser favorável apesar do promovido ser objetivamente pior.
Mas esse "básico" permanece um território em disputa, e os próprios estudantes fazem essa concessão de continuarem estudando os que forem "necessários". Você está repetindo, com outras palavras, o que eles mesmos disseram. Obviamente é problemático estabelecer o que é necessário estudar em filosofia ou outras ciências humanas, mas você há de conceder que essa discussão, mesmo podendo ser criticada de várias formas, está muito aquém do "bizarro" insinuado pela reportagem, de que alunos estão querendo "banir filósofos brancos do curso".
Para sabermos se a reivindicação deles é válida ou não, precisaríamos conhecer a estrutura curricular do curso e avaliarmos, com uma profunda bagagem filosófica, se o estudo de filósofos brancos/ocidentais está super-representado, justo ou sub-representado em relação ao que seria ideal para um curso que pretende enfatizar o estudo da filosofia originária da Ásia e da África mas simultaneamente mantendo o estudo dos ocidentais na medida necessária. Meu ponto é justamente esse: eles podem estar errados, podem ter alguma razão, mas definitivamente não é um "caso bizarro" cuja bizarrice é tão flagrante que pode ser vislumbrada até por leigos.
A analogia acaba se enfraquecendo pela filosofia, diferentemente da literatura, ser algo mais como as ciências, universal. Então a analogia seria um pouco com "ciências africanas e orientais". É um tipo de especialização que na verdade faz mais sentido para antropologia do que filosofia, embora talvez possa trazer algum acréscimo ao cenário geral, se o conteúdo apresentado for legítimo.
Mas no caso se trata abertamente de "estudos orientais e africanos", então não é exatamente um "curso prático" de filosofia. Ao que tudo indica, é um departamento de exegese, semelhante ao que seria de estudos da "filosofia medieval", "filosofia pré-socrática" etc. Grosso modo, um departamento de "história da filosofia".