Afirmo que existiu um longo "percurso ideológico" em sua vida. É claro que o que eu disse sobre ele ter abandonado a sua devoção para com Deus não se encaixa perfeitamente aqui, até por que posso estar enganado quanto a isso, apesar de o livro ser bem direto.
Se entendi bem, você está afirmando que ele descreu de Deus durante sua crise de fé? Não duvido, mas indo direto ao ponto, eu realmente vejo o Rabino Kushner como uma pessoa sem vocação para ateu.
O que, insisto uma vez mais, não é demérito nem para ele nem para ninguém.
Enfim, nos extremos... desconsidere o caso, posso dizer que o caso dele se repetiu com inúmeras pessoas e que muitas abandonaram a sua devoção, e é disso que estou falando.
Para abandonar devoção é preciso tê-la em primeiro lugar. Em muitos casos ela não existe, e a pressão do meio social e religioso leva a que se tente simulá-la.
E a ausência de fé em Deus (nem digo devoção) é algo que não tem verdadeira importância moral ou mesmo religiosa. Esse é um mal-entendido que precisa ser esclarecido.
E me diga o que você, particularmente, aponta como sendo desonesto na aposta de pascal. Imaginou que Deus o mandaria descer aos infernos por ter sido crente apenas por safadeza?
Não. Pessoalmente acho que um Deus que manda alguém descer aos infernos (por qualquer motivo) é um impostor por definição
Se existe algum inferno, a descida a ele deve ser voluntária e consciente.
Mas a Aposta de Pascal, bom, ela é
tosca. Se existe um Deus, ele com certeza não dá bola para ela.
Toda a premissa da Aposta de Pascal está em procurar benefício próprio independentemente de considerações morais ou religiosas verdadeiras, guiado pelo medo e por uma visão teológica simplista a ponto de ser infantil.
Entre outros problemas que a tornam inútil, ela
- supõe que Deus valoriza mais a crença nEle do que a busca de valores
- desconsidera sumariamente a existência de várias teologias concorrentes
- encoraja a desonestidade intelectual e religiosa