É exatamente por isso que temos que VIVER isso, e não apenas ter conhecimento teórico. Eu por exemplo sei que meu conhecimento é muito mais teórico do que prático, principalmente pelas diferenças que temos no modo de vida tanto de lugar quanto de época. Mas se nós estamos falando de algo que é a Verdade, a verdade existe independente de qualquer coisa, não importa se é contemplação oriental ou ocidental, quaisquer que sejam as suas diferenças.
Como vimos até agora, o Budismo proclama a existência de uma verdade absoluta, uma verdade última, que transcende o intelecto discursivo. E embora essa verdade seja tratada por uma infinidade de termos, como Nirvana e outros (quase impronunciáveis), o fato é que, como foi dito, a realidade desses termos transcende qualquer descrição. Conforme o seu texto, as palavras pertencem ao universo dos fenômenos e quando alguém vai além dos fenômenos, em direção à Realidade, palavras são inúteis e isso destrói qualquer tentativa de se conceber um conhecimento teórico do Budismo. Por exemplo, depois de ler e reler textos e mais textos sobre o Nirvana, ainda fica a pergunta: Afinal, o que é o Nirvana?
A natureza inefável da Realidade, no Budismo, apresenta o problema de saber como essa verdade deve ser conhecida ou alcançada. Na maior parte das tradições budistas hindus a realidade última só é alcançada através de certa forma de compreensão supraracional, não-racional ou intuitiva, muitas vezes descrita como “iluminação”. Isso é difícil de compreender sob a ótica do ceticismo. O Budismo sustenta que a experiência da iluminação é uma intuição inefável ou imediata que pode ser alcançada através de um processo de aprendizado formal. É a parte prática, um caminho que, como você colocou,“temos que VIVER”.
Como cético quero saber que caminho é esse? O Budismo aponta a meditação. Usando o que disse anteriormente, quando presumimos que a contemplação oriental corresponde em todos os sentidos aos hábitos filosóficos ocidentais de contemplação e espiritualidade, assume-se um risco enorme na escolha desse caminho, além disso, como seguir uma prática orientada por uma teoria que é desacreditada pelo uso das palavras? Como ter certeza que a verdade alcançada pelo caminho escolhido é a Verdade? Como se livrar da possibilidade da ilusão do auto-engano?
Por outro lado, concordo que podemos encontrar no Budismo elementos para nos ajudar a desenvolver a prática de um estilo de vida harmonioso e equilibrado. No entanto, isso não tem nada a ver com deus ou caminho para a iluminação, apenas viver saudavelmente.
Não devemos pegar esse conhecimento e aplicar ou acreditar somente porque é uma tradição ou porque foi o Buda que disse, é o próprio Buda quem diz isso. Mas nós devemos ter cuidado, porque existe uma enorme diferença entre acreditar cegamente, e utilizar essas fontes como referencia para as próprias reflexões, onde por certo não vejo mal nenhum.
Concordo, como parte de um processo de construção de conhecimento.
É certo também que nós aqui do forum, somos no máximo leigos querendo discutir sobre uma coisa extremamente complexa, mas já que o forum serve para gerar discussão e debate, não sei porque não podemos ter esse tipo de assunto por aqui. Eu sei que não sei muitas coisas, mas o pouco que eu sei me permite ver que há sim uma verdade nisso tudo, e que essa verdade tem que ser realmente experimentada, o auto-conhecimento é uma coisa universal e não está limitado a um padrão religioso. O problema é quando colocamos véus e mais véus na nossa frente que nos impossibilitam de penetrar mais fundo em alguns assuntos e tirar conclusões menos precipitadas a respeito de coisas que desconhecemos.
Concordo. Mas é preciso aprender a não se deixar envolver por conceitos nebulosos, confusos, que não levam a lugar algum como bullshit (ou groselhas).