Autor Tópico: Deus no budismo  (Lida 18799 vezes)

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Offline Moro

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Re: Deus no budismo
« Resposta #125 Online: 13 de Julho de 2008, 23:31:29 »
Dantas, desculpe mas tenho uma última colocação.

Como disse, eu lí os textos, e vc basicamente me pediu para ignorá-los, a questão do nirvana, reencarnação, os atributos super-humanos, e que o budismo é algo basicamente feito por vc mesmo.

Então, para vc, o que é o budismo? Como vc o define? O que exatamente vc segue e espera dele?
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Offline Luis Dantas

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Re: Deus no budismo
« Resposta #126 Online: 13 de Julho de 2008, 23:39:13 »
Dantas, desculpe mas tenho uma última colocação.

Como disse, eu lí os textos, e vc basicamente me pediu para ignorá-los, a questão do nirvana, reencarnação, os atributos super-humanos, e que o budismo é algo basicamente feito por vc mesmo.

De forma alguma.  Eu não pedi para você ignorá-los, e sim para não deixar de usar seu senso crítico, e não dar importância a conceitos que logicamente só podem ser alegóricos ou que simplesmente são difíceis de compreender (como o Nirvana).  Ou ainda, que não dê ouvidos a distorções óbvias como o conceito de reencarnação.

Citar
Então, para vc, o que é o budismo? Como vc o define? O que exatamente vc segue e espera dele?

Esse é o tipo de pergunta simples que não tem como ter uma resposta simples e útil.  Principalmente quando a resposta é para outra pessoa em vez de para mim mesmo.

Mas em resumo, o Budismo é a doutrina que decidi adotar como base para minha prática religiosa; é fundamentado no princípio filosófico da Originação Interdependente e nas Quatro Nobres Verdades.  Sigo dele os ensinamentos que consigo assimilar, na minha melhor capacidade.  E espero dele que me sirva para alcançar uma melhor compreensão do mundo em que vivo e do papel que posso ter nele.

Não que isso diga muita coisa, na verdade.  São só palavras.

Se quiser e puder, tente ler "Budismo sem Crenças" de Stephen Batchelor.  Pode ser que responda melhor a algumas das suas perguntas.  A tradução brasileira é boa.
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Offline Mauricio Rubio

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Re: Deus no budismo
« Resposta #127 Online: 14 de Julho de 2008, 10:51:16 »
Citar
“Bhikkhus, suponham que houvesse duas casas com portas e um homem com boa visão parado entre elas visse as pessoas entrando nas casas e saindo, indo e vindo. Da mesma forma, por meio do olho divino, que é purificado e sobrepuja o humano, eu vi seres falecendo e renascendo, inferiores e superiores, bonitos e feios, afortunados e desafortunados. Eu compreendi como os seres prosseguem de acordo com as suas ações desta forma: ‘Esses seres – que eram dotados de boa conduta com o corpo, linguagem e mente, que não insultaram os nobres, com o entendimento correto e que realizaram ações sob a influência do entendimento correto – com a dissolução do corpo, após a morte, renasceram num bom destino, no paraíso. Ou esses seres – que eram dotados de boa conduta com o corpo, linguagem e mente, que não insultaram os nobres, com o entendimento correto e que realizaram ações sob a influência do entendimento correto – com a dissolução do corpo, após a morte, renasceram entre os seres humanos. Mas esses seres – que eram dotados de má conduta com o corpo, linguagem e mente, que insultaram os nobres, com o entendimento incorreto e que realizaram ações sob a influência do entendimento incorreto – com a dissolução do corpo, após a morte, renasceram no reino dos fantasmas. Ou esses seres – que eram dotados de má conduta ... com a dissolução do corpo, após a morte, renasceram no mundo animal. Ou esses seres – que eram dotados de má conduta ... com a dissolução do corpo, após a morte, renasceram num estado de privação, num destino infeliz, nos reinos inferiores, até mesmo no inferno.’

Citar
“Então o Rei Yama diz: ‘Bom homem, nunca lhe ocorreu, um homem inteligente e maduro, que: “Eu também estou sujeito ao envelhecimento, eu não estou livre do envelhecimento: sem dúvida, será melhor que eu faça o bem através do corpo, linguagem e mente”?’ Ele diz: ‘Eu fui incapaz, venerável senhor, eu fui negligente.’ Então o Rei Yama diz: ‘Bom homem, devido à negligência você não fez o bem através do corpo, linguagem e mente. Com certeza, eles irão tratá-lo de acordo com a sua negligência. Mas essa sua ação prejudicial não foi cometida pela sua mãe ou seu pai, ou seu irmão, ou sua irmã, ou pelos seus amigos e companheiros, ou pelos seus pares e parentes, ou pelos contemplativos e brâmanes, ou pelos devas: essa ação prejudicial foi cometida por você mesmo, e você mesmo experimentará o resultado dela.’

Citar
“Bhikkhus, eu lhes digo isso não como algo que ouvi de algum outro contemplativo ou brâmane. Eu digo isso como algo que na verdade eu compreendi, vi e descobri por mim mesmo.”

Pra mim isso deixa bem claro que é o próprio ser que experimenta o resultado das próprias ações, então embora seja bastante claro a ideia de renascimento no sentido impessoal, talvez esse conceito tenha que ser visto com uma abrangencia maior influenciando os seres também no sentido pessoal.

Uma outra questão que acho válida ser discutida, é que nós achamos que nossa consciência cotidiana é o máximo que pode ser alcançado, vemos isso de olho divino, ouvido divino ou como besteira, ou como o Dantas deixou bem claro, como coisas irrelevantes que talvez não sejam senão metáforas ... Mas para mim essas coisas são bem reais, e se não temos essa capacidade é simplesmente porque estamos limitados ... os animais tem capacidades que nós não temos, isso é bastante claro, porque ficar tão surpreso ou se negar tanto a aceitar que a capacidade do ser puro vai muito além da capacidade humana?

A existencia do olho divino ou "terceiro olho" não é relatado só no budismo, mas tem relação com VARIAS tradições, e em todas é bem claro que a purificação é uma das coisas mais importantes, nós obviamente não temos essa cultura de purificação, de meditação e etc ... então não é uma surpresa que não tenhamos esse tipo de capacidade, visto que não é uma coisa que se adquire "do nada". Todas as ações tem reações, um físico ganha a capacidade de compreensão de certas coisas devido ao seu estudo, suas próprias experiencias e etc, nesse caso é mais ou menos a mesma coisa, porém o foco é outro, além do mais, por experiência pessoal eu afirmo que a capacidade mental humana está LONGE da capacidade máxima do seres, isso é tão óbvio, mas por falta de experiência pessoal, as pessoas não dão valor pra esse tipo de afirmação ...

Eu vejo também por pesquisas pessoais que as tradições religiosas tem MUITO em comum, e se o Budismo fala sobre outros planos de existência, sobre paraiso e inferno, eu não acredito nessas coisas porque tenho medo da morte ou do que possa acontecer depois, só que eu não nego, porque eu não vejo isso como recompensa, eu vejo que se isso realmente existir, isso existe independente de quem VIU, não importa se é uma verdade revelada pelo Buda ou por tantos outros sábios que dizem exatamente a mesma coisa, NÃO IMPORTA SE EU ACREDITO OU NÃO ACREDITO. Eu tenho plena certeza de que existe A VERDADE, O ABSOLUTO, tenho duvidas sobre a capacidade da mente humana abarcar essa esfera da realidade. Se o Buda ou qualquer humano conseguiu isso eu não sei, mas não ficaria tão surpreso se isso realmente for possivel.
« Última modificação: 14 de Julho de 2008, 11:11:52 por Mauricio Rubio »
"Para quem a agitação não existe,
e para quem ser/existir e não ser/existir
    estão superados,
ele é alguém – que está além do medo,
        feliz,
       sem angústia,
a quem os devas não podem ver"

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Offline Moro

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Re: Deus no budismo
« Resposta #128 Online: 14 de Julho de 2008, 22:57:19 »
Para não dever MAIS uma análise (como no caso da Piper que ainda posto :-)), vou fazer uma do meu ponto de vista frente a discussão neste tópico.

Como toda a religião, temos uma doutrina (os princípios que deveriam ser básicos, os preceitos) e a prática (o que é realizado pelos fiés frente à sua religião, a liturgia, a interpretação aplicada do crente, o senso/consenso dos praticantes daquela corrente específica).

A doutrina é passível de uma leitura e uma análise, pode ser criticada, e, tirando alguns aspectos como  propostas éticas, por exemplo, pode ter inclusive suas afirmações reputadas como mentira.

A doutrina

Para quem como eu que espera que seres iluminados digam mais do que obviedades mas coisas iluminadas (estou esperando o dia que isso vai acontecer), a doutrina decepciona e não diz mais nem menos que todas as outras. Tem seres iluminados, santos que atingem atributos <a href="../forum/topic=16822.0.html#msg338764" target="_blank">super-humanos[/url] através do seguimento do caminho proposto, propõe um paraíso, o fim do ciclo de sofrimentos, renascimentos, etc..

Existe também aquele velho truque religioso que define o nosso mundo como em estado de desgraça, sofrimento, etc.. Algo como [conhecimento científico] é "dirigida exclusivamente para satisfazer interesses egoístas", que "o mundo parece estar repleto de conflito e sofrimento" <a href="http://www.dantas.com/budismo/origem_dependente_1.htm" target="_blank">(fonte)[/url]


O código ético proposto é óbvio e bastante restrito. Como outras religiões, cria um paradigma difícil de ser seguido. A consequência para quem consegue seguí-lo basicamente é ter atributos super-humanos e encontrar o Nirvana. Deixo para outra oportunidade o detalhamento do porque considero contraproducente esses paradigmas restritos, mas citei algo <a href="../forum/topic=16822.100.html#msg339690" target="_blank">Aqui[/url] e <a href="../forum/topic=16822.100.html#msg339699" target="_blank">Aqui[/url]

 

Tirando o código de ética, citado acima, de uma maneira geral, podemos classificar as outras afirmações como besteira. E o interessante é que existe um reconhecimento tácito de que é besteira, já que os budistas insistem em se distanciar/"tirar o foco" da importância da doutrina, basicamente ao afirmar que ninguém prega os atributos super-humanos, ou que nem se toca no assunto do nirvana, por exemplo. Ou seja, tiram sua importância/foco com o velho argumento da alegoria,  ou dando a ela um senso estético para a prática, ou taxando-na de complexa em um apelo a ignorância do tipo "quem sou eu para falar do Nirvana".

Mas de uma maneira geral, há a recusa de se debater a doutrina, basicamente porque seria algo como debater o livro cristão, não há muita solução no contexto da lógica e ceticismo.

Existe também uma profusão de textos de cunhos reflexivo. <a href="../forum/topic=16822.100.html#msg339647" target="_blank">uma crítica aqui[/url]

Citar
"Verdadeiramente, bhikkhu, um nobre discípulo que é hábil e que compreendeu por ele mesmo, independente da fé em outros, que ‘Quando existe isso, aquilo existe; com o surgimento disso, aquilo surge..."
ou
"Quem vê a origem dependente vê o Dhamma; quem vê o Dhamma vê a origem dependente"
ou
"Vejam, da ignorância como requisito necessário surgem as fabricações"
ou
"Porém, esta geração se delicia com a adesão, está excitada com a adesão, desfruta da adesão. Para uma geração que se delicia com a adesão, excitada pela adesão, desfrutando da adesão, esta verdade, isto é, a condicionalidade isto/aquilo e a origem dependente são difíceis de serem vistas. E também, é difícil de ver esta verdade, isto é, o silenciar de todas as formações, o abandono de todos apegos, o fim do desejo, desapego, cessação, Nibbana. Se eu fosse ensinar o Dhamma, os outros não me entenderiam e isso seria fatigante, enervante"

Basicamente são afirmações que geram reflexão para quem está no contexto da crença, falam e nada propõe. O Budismo está repleto disso, e por isso não vejo que a doutrina pode trazer algo de diferente de outras religiões ou relevante.

A prática

Um fator que entendi que diferencia o budismo é o desapego a doutrina. O que de uma maneira geral, é bem compreensível porque conforme descrito acima, ela está repleta de afirmações que nada afirmam.
Talvez dentro daquele velho gerador de evidências anedóticas, aqueles processos que tiram o oxigênio do cérebro como o prolongado oooooommmm do Budismo, elas façam sentido.

Mas é interessante que de uma maneira geral, existe liberdade para qualquer um definir o que é o budismo, conforme:

Citar
O Budismo aceita melhor que a única alternativa a ser o que no meio cético chamamos por vezes de "ovelhas" é, de fato, fazer cada um de nós nossa própria religião a partir do que encontramos pronto no meio.

De fato, penso eu que essa <a href="../forum/topic=16822.100.html#msg339732" target="_blank">[fazer uma religião a partir do budismo][/url] é uma obrigação de todo religioso.  Ninguém deveria se conformar em simplesmente repetir o que leu ou ouviu, muito menos se considerar religioso por isso...

entre [] é texto meu

Nesse sentido, é interessante entender porque então temos que seguir algo, e não simplesmente criar. Claro, temos a questão de partir de algo já feito e que é tido pelo crente como muito bom, mas então gostaria de ter visto mais determinação em defender a doutrina.

Outro ponto: Essa liberdade, tem dois lados, ela cria o bônus de não se ter que seguir coisas sem sentido mas por outro o ônus de se poder ter qualquer sentido à religião. Por isso, temos a afirmação clássica:
Citar
<a href="../forum/topic=16822.100.html#msg339717" target="_blank">Alguns grupos realmente viajam na maionese a partir desses trechos.  Os instrutores e grupos sérios dificilmente o fazem.[/url]

Esta afirmação é sintomática também. E basicamente, os membros de uma corrente julgam sua corrente como séria e não a do outro, porque o outro segue a doutrina como escrita. Neste caso, que tal simplesmente abandonar a religião?

Para finalizar, eu sei que a religião causa bem estar para algumas pessoas. Eu entendo que o budismo pode causar algum bem estar e não tem o incômodo de gerar o stress de expulsar o satanás, mas entendo que se pode obter resultados melhores com uma postura secular e racional.


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Offline Tash

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Re: Deus no budismo
« Resposta #129 Online: 15 de Julho de 2008, 00:06:46 »
Para não dever MAIS uma análise (como no caso da Piper que ainda posto :-)), vou fazer uma do meu ponto de vista frente a discussão neste tópico.

=)

Como toda a religião, temos uma doutrina (os princípios que deveriam ser básicos, os preceitos) e a prática (o que é realizado pelos fiés frente à sua religião, a liturgia, a interpretação aplicada do crente, o senso/consenso dos praticantes daquela corrente específica).

Devo deixar bem claro, que o conjunto doutrina/prática não é só pertinente a religião. Militares possuem doutrina e prática, políticos possuem doutrina e prática, juízes possuem doutrina e prática e assim por diante.  Algumas doutrinas podem surgir de profunda reflexão sobre o funcionamento do mundo e da sociedade, e nesse grupo creio eu que estão incluídas tanto doutrinas religiosas quanto doutrinas não religiosas. Outras doutrinas podem surgir de tradições, como aquelas propostas pela Bíblia.

A doutrina é passível de uma leitura e uma análise, pode ser criticada, e, tirando alguns aspectos como  propostas éticas, por exemplo, pode ter inclusive suas afirmações reputadas como mentira.

A doutrina

Para quem como eu que espera que seres iluminados digam mais do que obviedades mas coisas iluminadas (estou esperando o dia que isso vai acontecer), a doutrina decepciona e não diz mais nem menos que todas as outras. Tem seres iluminados, santos que atingem atributos <a href="../forum/topic=16822.0.html#msg338764" target="_blank">super-humanos[/url] através do seguimento do caminho proposto, propõe um paraíso, o fim do ciclo de sofrimentos, renascimentos, etc..

O Budismo possui várias escolas, que são como linhagens diferentes. Algumas delas podem ter interpretações diferentes dos ensinamentos. Adotar apenas uma interpretação extremamente literal de uma escritura de apenas uma escola e atacar todas as demais linhagens é uma maneira ruim de argumentar.

Ao contrário de outras religiões, que afirmam que o praticante deve crer incondicionalmente, o Budismo propõe um caminho no qual se deve compreender os ensinamentos e revê-los se necessário.

De fato, uma boa parte dos budistas hoje em dia não crê na existência de poderes sobre-humanos. A interpretação que você obteve do texto e está criticando não é a interpretação que os praticantes da religião, hoje em dia, tomam por válida.

Existe também aquele velho truque religioso que define o nosso mundo como em estado de desgraça, sofrimento, etc.. Algo como [conhecimento científico] é "dirigida exclusivamente para satisfazer interesses egoístas", que "o mundo parece estar repleto de conflito e sofrimento" <a href="http://www.dantas.com/budismo/origem_dependente_1.htm" target="_blank">(fonte)[/url]

Todas as religiões, nesse ponto, estão certas. O mundo possui desgraça, as pessoas sofrem.

O código ético proposto é óbvio e bastante restrito. Como outras religiões, cria um paradigma difícil de ser seguido. A consequência para quem consegue seguí-lo basicamente é ter atributos super-humanos e encontrar o Nirvana. Deixo para outra oportunidade o detalhamento do porque considero contraproducente esses paradigmas restritos, mas citei algo <a href="../forum/topic=16822.100.html#msg339690" target="_blank">Aqui[/url] e <a href="../forum/topic=16822.100.html#msg339699" target="_blank">Aqui[/url]

O código ético é o nobre caminho óctuplo. O caminho em si não possui nada de sobrenatural, e embora alguns textos considerem a iluminação algo sobrenatural, como indiquei acima, isso seria dependente de uma interpretação que os praticantes do budismo hoje em dia, em sua maioria, desconsideram.
 
Tirando o código de ética, citado acima, de uma maneira geral, podemos classificar as outras afirmações como besteira. E o interessante é que existe um reconhecimento tácito de que é besteira, já que os budistas insistem em se distanciar/"tirar o foco" da importância da doutrina, basicamente ao afirmar que ninguém prega os atributos super-humanos, ou que nem se toca no assunto do nirvana, por exemplo. Ou seja, tiram sua importância/foco com o velho argumento da alegoria,  ou dando a ela um senso estético para a prática, ou taxando-na de complexa em um apelo a ignorância do tipo "quem sou eu para falar do Nirvana".

Ao contrário de algumas outras religiões, é possível tomar várias interpretações de um mesmo conceito. É recomendado fazer isso, e escolher a interpretação que você considera mais próxima da realidade. Olhando por esse ponto, considerar que os poderes sobre-humanos ditos no texto referido são sim, besteira. Não há problema algum nisso, porque o budismo não depende desses poderes pra existir, a prática do budismo é o código moral, não a parte (irrelevante) lendária.

Mas de uma maneira geral, há a recusa de se debater a doutrina, basicamente porque seria algo como debater o livro cristão, não há muita solução no contexto da lógica e ceticismo.

A lógica da doutrina foi extensamente debatida no tópico. Creio que não há dúvida quanto a lógica de "não matar", "não roubar", "não mentir" e por aí vai. Todas essas regras foram definidas com base em observação do mundo e do comportamento humano, e geralmente qualquer humano tem esse senso de moral. Como já foi dito, não há como aplicar ceticismo à ética e moral,

Mesmo afirmando repetidas vezes que as interpretações literais das escrituras são irrelevantes para essa prática e para a compreensão do código ético, vejo uma insistência incomum nessa questão do "sobre-humano".

Existe também uma profusão de textos de cunhos reflexivo. <a href="../forum/topic=16822.100.html#msg339647" target="_blank">uma crítica aqui[/url]

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"Verdadeiramente, bhikkhu, um nobre discípulo que é hábil e que compreendeu por ele mesmo, independente da fé em outros, que ‘Quando existe isso, aquilo existe; com o surgimento disso, aquilo surge..."
ou
"Quem vê a origem dependente vê o Dhamma; quem vê o Dhamma vê a origem dependente"
ou
"Vejam, da ignorância como requisito necessário surgem as fabricações"
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"Porém, esta geração se delicia com a adesão, está excitada com a adesão, desfruta da adesão. Para uma geração que se delicia com a adesão, excitada pela adesão, desfrutando da adesão, esta verdade, isto é, a condicionalidade isto/aquilo e a origem dependente são difíceis de serem vistas. E também, é difícil de ver esta verdade, isto é, o silenciar de todas as formações, o abandono de todos apegos, o fim do desejo, desapego, cessação, Nibbana. Se eu fosse ensinar o Dhamma, os outros não me entenderiam e isso seria fatigante, enervante"

Basicamente são afirmações que geram reflexão para quem está no contexto da crença, falam e nada propõe. O Budismo está repleto disso, e por isso não vejo que a doutrina pode trazer algo de diferente de outras religiões ou relevante.

Essa é a sua opinião pessoal. Refletir sobre as coisas, ao meu ver, é muito produtivo.

A prática

Um fator que entendi que diferencia o budismo é o desapego a doutrina. O que de uma maneira geral, é bem compreensível porque conforme descrito acima, ela está repleta de afirmações que nada afirmam.
Talvez dentro daquele velho gerador de evidências anedóticas, aqueles processos que tiram o oxigênio do cérebro como o prolongado oooooommmm do Budismo, elas façam sentido.

O budismo é uma religião de entendimento, não de apego. A meditação nem sempre é feita entoando mantras, e conforme os estudos repetidamente ignorados no tópico, possuem evidências de que ativam áreas específicas do cérebro relacionadas ao bom humor, temperamento e auto-controle.

Outro ponto: Essa liberdade, tem dois lados, ela cria o bônus de não se ter que seguir coisas sem sentido mas por outro o ônus de se poder ter qualquer sentido à religião. Por isso, temos a afirmação clássica:
Citar
<a href="../forum/topic=16822.100.html#msg339717" target="_blank">Alguns grupos realmente viajam na maionese a partir desses trechos.  Os instrutores e grupos sérios dificilmente o fazem.[/url]

Esta afirmação é sintomática também. E basicamente, os membros de uma corrente julgam sua corrente como séria e não a do outro, porque o outro segue a doutrina como escrita. Neste caso, que tal simplesmente abandonar a religião?

Nem toda escola budista é baseada em escrituras. Sugiro que, caso lhe interesse, procure sobre o Zen Budismo.

Para finalizar, eu sei que a religião causa bem estar para algumas pessoas. Eu entendo que o budismo pode causar algum bem estar e não tem o incômodo de gerar o stress de expulsar o satanás, mas entendo que se pode obter resultados melhores com uma postura secular e racional.

Segundo o próprio budismo, qualquer um pode atingir a iluminação =) Isso inclui não-budistas.

Offline Moro

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Re: Deus no budismo
« Resposta #130 Online: 15 de Julho de 2008, 00:35:12 »
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O Budismo possui várias escolas, que são como linhagens diferentes. Algumas delas podem ter interpretações diferentes dos ensinamentos. Adotar apenas uma interpretação extremamente literal de uma escritura de apenas uma escola e atacar todas as demais linhagens é uma maneira ruim de argumentar.

Tash, por isso que separei a questão da doutrina da prática e comecei falando que dá para analisar o texto doutrinário.
Se um texto faz afirmações que tem super-homem, renascimento, nirvana, ele está afirmando isso, é da doutrina como expressa no texto. Mais uma vez, por isso que separei e vc deveria levar em consideração para a sua resposta. Alias, reforça o meu ponto sobre a distensão entre prática e doutrina no budismo

Citar
De fato, uma boa parte dos budistas hoje em dia não crê na existência de poderes sobre-humanos. A interpretação que você obteve do texto e está criticando não é a interpretação que os praticantes da religião, hoje em dia, tomam por válida.

O mesmo, separei...   etc...

pode por no contexto que escrevi?

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Re: Deus no budismo
« Resposta #131 Online: 15 de Julho de 2008, 00:46:16 »
basica-grosseiramente quer dizer que você pode evoluir a ponto de ser deus, ja que a questão de tudo e em tudo é sua consciência, e o que acontece é que no cristianismo os leitores/estudiosos entendem as metáforas, no budismo não
Não se deve explicar o que não se sabe por meio do que não se vê.

Offline Luis Dantas

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Re: Deus no budismo
« Resposta #132 Online: 15 de Julho de 2008, 07:35:42 »
Cuma? :)
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Offline Erivelton

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Re: Deus no budismo
« Resposta #133 Online: 10 de Agosto de 2008, 21:03:45 »
Deus está em todo lugar. No budismo, catolicismo, na macumba, no espiritsmo etc...
O importante é praticar o bem.
Se os judeus foram preparados para negar e matar a Jesus, porque os islâmicos seriam condenados se não aceitam a Jesus como o filho de Deus?
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Offline Tash

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Re: Deus no budismo
« Resposta #134 Online: 10 de Agosto de 2008, 21:13:51 »
Cuma²?

Offline Gigaview

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Re: Deus no budismo
« Resposta #135 Online: 10 de Agosto de 2008, 21:19:35 »
Deus está em todo lugar. No budismo, catolicismo, na macumba, no espiritsmo etc...
O importante é praticar o bem.
Se os judeus foram preparados para negar e matar a Jesus, porque os islâmicos seriam condenados se não aceitam a Jesus como o filho de Deus?

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Offline Moro

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Re: Deus no budismo
« Resposta #136 Online: 10 de Agosto de 2008, 23:19:19 »
O importante é praticar o bem e termos provas que estamos indo para algum lugar.

Erivelton, posta neste tópico aqui:

../forum/topic=16868.0.html
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Re: Deus no budismo
« Resposta #137 Online: 11 de Agosto de 2008, 08:44:53 »
É estranho ver tanta associação do Budismo a divindades.  Nenhum dos meus instrutores falava de divindades com qualquer regularidade; é um conceito de utilidade marginal no Budismo, um acessório opcional, mesmo.

E quando se fala, muitas vezes é praticamente em termos de esclarecer que uma divindade de prática é um conceito abstrato que se constrói para dar foco ao praticante.  Ou seja, um faz-de-conta explícito (embora útil).

Querer ver o budismo como uma religião baseada em divindades não é raro, principalmente no Hinduísmo e na Teosofia, mas é um bocado estranho.
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Offline Eremita

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Re: Deus no budismo
« Resposta #138 Online: 14 de Agosto de 2008, 15:10:08 »
Gente, o tópico me soa interessante; vou postar aqui, então, a minha distorção ao budismo. "Distorção"? Refraseei muita coisa, para evitar usar as palavras "ser/estar", "bem/mal", em suma, para o texto ficar amoral e descritivo. Sugiro que comparem com o post do Tash em ../forum/topic=16822.25.html#msg339063 , no qual descreve o caminho óctuplo e as quatro verdades.

Aviso: não uso Iniciais Maiúsculas Metafísicas.

Budismo se enquadra em "religião"? Depende da definição de religião, há várias; em algumas, sim, em outras, não. Não me venham com dicionário aqui porque dicionários nada mais fazem que catalogar e sistematizar diversos significados para as palavras.

As quatro verdades
1. Todo ser vivo capaz de sentir dor passa por sofrimento.
2. Sofrimento surge de causas.

(Parte do sofrimento surge do que não controlamos.
Outra, do que controlamos parcial ou totalmente.)
3. Ao eliminarmos as causas, eliminamos o sofrimento.
(Somente do controlável)
4. O caminho óctuplo apresenta meios para diminuir o sofrimento.

Caminho óctuplo
1. Compreensão. Conhecer as quatro verdades sobre o sofrimento lhe fornece meios para diminuí-lo.
(Só pode-se alterar sistematicamente o que você entende.)
2. Pensamento. Amar e não desejar sofrimento aos outros diminui o sofrimento alheio.
3. Fala. Abster-se de mentir, caluniar, falar em vão e usar aspereza. Falar a verdade, construtiva, harmoniosa e conciliadoramente.
(Mentir, caluniar, aspereza geram situações que causam sofrimento.
Fala vã (sem objetivo) gasta ATP, cria constrangimento e com isso sofrimento.)
4. Ação. Abster-se de matar, roubar, entorpecentes e ter conduta sexual indevida, e ao invés disso, promover a vida, praticar a generosidade e não causar o sofrimento através de práticas sexuais.
(Muitas situações se auto-alimentam. Matando, cria-se insegurança em outrem, e esta passa a você. Idem a roubar.
Entorpecentes além de não resolver problemas, os adiam e fazem-os crescer.)

Pausa pra definições.

"Entorpecente" significa para mim qualquer objeto, prática ou substância cujo objetivo resida na fuga psicológica. Pode significar qualquer coisa: TV, álcool, computador, maconha, depende do objetivo. P.ex. fumar maconha pra ficar tranqüilo não caracteriza-a como entorpecente; fumar para fugir dos problemas, sim.

"Conduta sexual indevida" não significa: sexo antes do casamento, ou antes da lua cheia, ou durante a menstruação, ou em posições além do ppmm, ou sexo somente pelo prazer, ou homossexualidade, ou etc. Significa apenas fazer sexo sem considerar o prazer do/da parceiro/a, ou causar prazer próprio às custas de sofrimento alheio.

5. Modo de vida. Evitar ocupar-se em criar sofrimento, preferir ocupar-se em criar satisfação e diminuir o sofrimento. De/a si mesmo e de/a outrem.
6. Atenção. Praticar autodisciplina para obter a quietude e atenção da mente, de maneira a trocar pensamentos, palavras e atos que gerem sofrimento por outros que não o gerem.
7. Sabedoria. Procurar a verdade e conscientizar-se de seu próprio corpo, fala e mente, evitando assim causar sofrimento.
8. Visão. Assim que os outros 7 passos estiverem realizados, interpretar o mundo à sua volta da maneira que você aprendeu com eles, e agir conforme.



Muito blablablá, dá pra resumir.

1)Sofrimentos têm causas.
2)Algumas causas são controláveis, outras não.
3)Evite causar sofrimento evitável a si mesmo.
4)Evite causar sofrimento evitável a outrem.
5)Pratique pensamentos, fala e ações de modo a evitar sofrimento.
6)Não existe regra 6.

Agora eu ganho o prêmio de Capitão Óbvio.

Sem metafísica, sem moral, apenas partindo do pressuposto que a pessoa não quer sofrer.
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Offline Luis Dantas

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Re: Deus no budismo
« Resposta #139 Online: 02 de Outubro de 2008, 04:54:46 »
Agora é que vi isto:

Quanto ao renascimento


2-
Citar
Dantas
Eu não renasço.  As minhas ações é que causam renascimentos.  Há uma diferença.

Citar
http://www.religioustolerance.org/buddhism1.htm

3-
One fundamental belief of Buddhism is often referred to as reincarnation -- the concept that people are reborn after dying. In fact, most individuals go through many cycles of birth, living, death and rebirth. A practicing Buddhist differentiates between the concepts of rebirth and reincarnation. In reincarnation, the individual may recur repeatedly. In rebirth, in a person does not necessarily return to Earth as the same entity ever again. He compares it to a leaf growing on a tree. When the withering leaf falls off, a new leaf will eventually replace it. It is similar to the old leaf, but it is not identical to the original leaf.

e...

4-
Citar
After many such cycles, if a person releases their attachment to desire and the self, they can attain Nirvana. This is a state of liberation and freedom from sufferin

então

5-
Citar
Quando paramos de pensar em nós como indivíduos, creio.
aqui sua resposta deveria, por 1 e 2, ser: Quando morremos, acabou.

E mais uma vez, -3 e 4- não diz o que vc disse. Isto está correto?

Não, pelo menos, não no meu entender.  Para mim 3 e 4 dizem o que eu disse, como alegorias.  Alegorias que possivelmente podem ser interpretadas de outra forma, suponho.

Citar
e veja a promessa do Nirvana, que acaba com o sofrimento. É o paraíso...

Não é o Nirvana que acaba com o sofrimento, Agnóstico; são os atos hábeis de seres humanos que extinguem as causas do sofrimento.  O Nibanna é consequência, ou mesmo descrição, do fim do sofrimento, e não um "reino mágico" onde ele some.

Tanto é assim, que um tema recorrente no ensinamento budista são promessas e pedidos de não se alcançar ainda o Nibanna (mais especificamente o Paranirvana).
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Offline Victor Pax

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Re: Deus no budismo
« Resposta #140 Online: 03 de Outubro de 2008, 10:40:34 »
Olhem, reparei alguns problemas de definições.

Quando é dito que no mundo existe sofrimento, (para mim) a palavra "sofrimento" foi muito mal traduzida, sendo (para mim) a palavra insatisfação melhor empregada.

Quando aos textos de "super-homem", vai uma diferença entre o budismo e outras religiões.
No budismo não se "apega" a esses textos.
Ou seja esses textos são vistos (ou deveriam ser ) com respeito (pois alguém escreveu isso), mas não "levados a sério" como nas demais religiões.
Se queimar uma biblia na frente de um fiel vai ter uma reação, se queimar uma estátua de Buda em meio as livros sacros é possivel (afinal não deixa de ser um desrespeito á pessoa) que não terá reação, pois para um budista aquela não são as verdades, apenas a visão de uma (ou várias) pessoas do que poderia ser a verdade para elas.

Sobre "reencarnações", dou um exemplo do que entendo:

Todos conhecem Gandhi?
Mas ele morreu? Como você conhece?
Você o conhece por ele estar "vivo" no exemplo e na obra.

Todos conhecem Hither?
Ele também morreu, mas continua "vivo" por sua ideologia.
Quando essa ideologia for desmascarada o ciclo de "renascimentos" será rompido.

Nirvana, não é o paraiso.
Tanto que não se alcança ele ao morrer.
Ele é o estado de não estar insatisfeito, não estar perdido em devaneios estando sereno e vendo o mundo com calma e sem (pré ou pós) julgamentos para tomar as descisões de forma o mais correta possível.
Mas da mesma forma que o nirvana vem ele vai e com a prática optamos em viver nele ou não.

Não foi mensionado aqui, mas acho que vale a lembrança.
Quando no budismo é dito para "não pensar" estamos nós referindo para não nós perdemos em devaneios/angustias/pensamentos.
Lembro de uma parábola mais ou menos assim:

-Mestre, como devemos praticar o budismo?
-Comendo bem, andando bem e dormindo bem.
- Mas mestre, todos fazem isso?!?!?
- Não, eles comem ruminando o passado, andam correndo do presente e dormem remoendo o futuro e nunca deixando de "sofrer".
Se a comida está boa, saborei-a, se a paisagem está bela, olhe-a e se a cama está macia durma. Se tem problemas, vá resolve-los, não fique se angustiando a cada momento.

E quanto aos textos reflexivos, bom eles são reflexivos...
No budismo existe a idéia de que se for dada uma solução, não irá resolver o problema, mas apenas fazer surgir outro problema.
Por isso os textos são feitos para que A PESSOA ache a solução (como dar a varinha ao invés do peixe), por isso exatamente eles são reflexivos.

Essa é minha opinão, se estiver errado posso aprender o certo.

Offline Moro

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Re: Deus no budismo
« Resposta #141 Online: 03 de Outubro de 2008, 10:50:06 »
Vitor, é o que disse antes...

Se a prática torna a sua visão do Budismo isso, não há nada na doutrina que indique isso.

A crítica da doutrina, que é uma análise do texto, para mim torna o budismo igual às outras religiões. Fala o mesmo tipo de coisa.

Quanto à prática, não posso julgar porque não a conheço.
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Offline Luis Dantas

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Re: Deus no budismo
« Resposta #142 Online: 03 de Outubro de 2008, 11:00:14 »
Vitor, é o que disse antes...

Se a prática torna a sua visão do Budismo isso, não há nada na doutrina que indique isso.

Pelo contrário, Agnóstico.  A interpretação do Victor é bastante ortodoxa.

Citar
A crítica da doutrina, que é uma análise do texto, para mim torna o budismo igual às outras religiões. Fala o mesmo tipo de coisa.

É de se esperar que as religiões busquem basicamente a mesma coisa, não?

Citar
Quanto à prática, não posso julgar porque não a conheço.
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Offline Tupac

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Re: Deus no budismo
« Resposta #143 Online: 03 de Outubro de 2008, 11:00:33 »
Citar
Todos conhecem Hither?
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Offline Moro

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Re: Deus no budismo
« Resposta #144 Online: 03 de Outubro de 2008, 11:03:56 »
O tentei dizer é que o conteúdo da doutrina budista não a diferencia das demais porque são basicamente as mesmas propostas e inconsistências.
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Offline Luis Dantas

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Re: Deus no budismo
« Resposta #145 Online: 03 de Outubro de 2008, 11:07:05 »
O tentei dizer é que o conteúdo da doutrina budista não a diferencia das demais porque são basicamente as mesmas propostas e inconsistências.

As mesmas propostas, como eu disse, seriam, pelo menos em um mundo próximo do ideal.  Há detalhes como o caráter agnóstico da doutrina, mas eu não considero diferenças baseadas na crença ou descrença em Deus mais do que meros detalhes.

Quanto a inconsistências, com certeza há algumas.  Afinal, é uma criação humana - e muito da história do Budismo ressalta o quanto de divergências internas nós temos.  Isso não é necessariamente ruim, e eu penso mesmo que é uma vantagem.  Quando se questiona os pontos mais duvidosos e obscuros fica mais fácil perceber o que há de útil em cada abordagem.
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Offline Moro

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Re: Deus no budismo
« Resposta #146 Online: 03 de Outubro de 2008, 11:10:46 »
Luis, talvez sua análise sobre o budismo seja na sua capacidade que você tem de diferenciar as coisas, encontrar essas inconsistências e utilizar as coisas que considera boa.

Mas isso não me parece uma coisa da religião budista. Isso me parece uma coisa sua ou do grupo que você está inserindo.

Mais ou menos como um grupo cristão que ignora as besteiras do cristianismo e se enfoca nas questões bonitas da religião, incluso aí a questão de fazer uma comunidade.

Inconsistências são inconsistências. É ruim, e temos a capacidade de encontrar as coisas boas em tudo, principalmente se estamos dispostos a isso.
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Offline Luis Dantas

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Re: Deus no budismo
« Resposta #147 Online: 03 de Outubro de 2008, 11:15:32 »
Luis, talvez sua análise sobre o budismo seja na sua capacidade que você tem de diferenciar as coisas, encontrar essas inconsistências e utilizar as coisas que considera boa.

Mas isso não me parece uma coisa da religião budista. Isso me parece uma coisa sua ou do grupo que você está inserindo.

Qual é a diferença entre "a religião budista" e "o grupo em que estou inserido"?  Todo budista é encorajado a ter essa atitude.  Não há muito espaço para dúvida a esse respeito.  Claro, estou descartando os picaretas aqui.

Citar
Mais ou menos como um grupo cristão que ignora as besteiras do cristianismo e se enfoca nas questões bonitas da religião, incluso aí a questão de fazer uma comunidade.

Que existem e devem ser apreciados pelo que são. :)

Citar
Inconsistências são inconsistências. É ruim, e temos a capacidade de encontrar as coisas boas em tudo, principalmente se estamos dispostos a isso.

Hmm, será que você está pressupondo que uma doutrina teria de ser logicamente consistente para ser considerada?

Não é bem assim que funciona.  Doutrinas não são teoremas ou matemáticas.  Religião não é lógica, é uma disciplina prática.  Não tem valor algum exceto pelos resultados práticos.
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Offline JUS EST ARS

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Re: Deus no budismo
« Resposta #148 Online: 03 de Outubro de 2008, 11:35:19 »


Toda religião só tem validade, alguma importância, e capacidade de ser boa no aspecto subjetivo, na medida em que depende exclusivamente do sujeito que a interpreta.

Várias postulam que basta "seguir à risca" essa ou aquela determinação, querendo torná-la objetiva, e aí é que erram.

Se alguém quiser uma satisfação objetiva, então deve se pautar pelo método científico, que é o melhor que se pode alcançar nesse prisma.

Mas se alguém quiser uma satisfação subjetiva, então deve buscá-la em alguma religião ou corrente filosófica abstrata, eis que o método científico é inútil em questões subjetivas.



Offline Luis Dantas

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Re: Deus no budismo
« Resposta #149 Online: 03 de Outubro de 2008, 11:45:35 »
Toda religião só tem validade, alguma importância, e capacidade de ser boa no aspecto subjetivo, na medida em que depende exclusivamente do sujeito que a interpreta.

Internamente, sim.  Mas o que o religioso efetivamente faz também tem peso, talvez até mais.

Citar
Várias postulam que basta "seguir à risca" essa ou aquela determinação, querendo torná-la objetiva, e aí é que erram.

Argh.  Fundamentalismo é puro veneno, para qualquer religião.

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Se alguém quiser uma satisfação objetiva, então deve se pautar pelo método científico, que é o melhor que se pode alcançar nesse prisma.

Mas se alguém quiser uma satisfação subjetiva, então deve buscá-la em alguma religião ou corrente filosófica abstrata, eis que o método científico é inútil em questões subjetivas.

Concordo em parte.  A religião pode e deve ter resultados concretos e objetivos.  O que ela não faz nem deve tentar é explicar o mundo de forma objetiva.
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