Só gostaria de saber se a "lei da causalidade" seria uma indução do nosso cotidiano, que talvez fosse quebrada em escalas subatômicas. De qualquer maneira, um contraexemplo não provaria que o Universo não teve uma causa, só provaria que nem tudo tem causa além de si.
Não existe, rigorosamente, uma "lei da causalidade".
Causalidade não existe na natureza, seja clássica, seja quântica. É apenas um conceito muito conveniente, mas em grande parte artificial, que desenvolvemos para explicar o mundo clássico, e como tal, faz parte da nossa explicação da natureza, não da natureza em si. Um mapa não é o território. Uma teoria não é o fenômeno.
Causalidade é uma expectativa nossa, uma expectativa que é conseqüência do fato de que nós queremos interpretar tudo na forma de uma historinha, com começo meio e fim, em que o começo causa o meio que causa o fim, seja porque nossos cérebros são biologicamente construidos dessa forma, porque isso nos gera vantagens evolutivas ou por causas culturais.
É apenas natural que, dado o sucesso do conceito ao longo dos séculos, ele seja mantido em uma série de explicações diferentes, mas isso não altera a artificialidade dele, não o promove a "realidade" (seja lá o que isso quer dizer). Lembre-se, não foi a natureza que mudou quando a mecância quântica foi desenvolvida (embora algumas interpretações mais radicais sugiram isso), mas a nossa explicação dela.
Nessa mudança dramática de explicação, diversos conceitos explicativos artificiais foram inicialmente transportados, apenas para serem depois descartados, por serem desnecessários ou até por atrapalharem o desenvolvimento da teoria. Localidade e realismo são alguns deles, descartados a partir das discussões sobre o experimento EPR e desigualdades de Bell. Talvez a causalidade também seja um deles.