(antes de mais nada, além de não ser vegetariano, nem faço idéia de quais seriam os argumentos do Sottomaior, qualquer defesa é incidental, e não devem ver como se estivessem defendendo todo o pacote, que desconheço)
Mas mesmo os que seguem o pensamento do Sottomaior estabelecem uma linha para dizer até onde é ético tirar a vida de outro ser. Quando questionados sobre o fato de vegetais também terem vida geralmente responde que não possuem sistema nervoso. Ou seja, para eles a linha é estabelecida na existência de um sistema nervoso, o que é tão arbitrário quanto colocar a linha dividindo humanos de outros animais.
Não existe nenhum princípio ético universal que diga que a linha que separa formas de vida com sistema nervoso de formas de vida sem sistema nervoso é mais ética que a que separa humanos de outros animais,
Mas isso me é algo que me parece tão evidente que é até difícil imaginar por onde começar a comentar.
Somos "sistema nervoso central"-centristas, porque consideramos que "somos" nossos sistemas nervosos. Então é lógico que isso, mais do que meramente a vida, sirva de parâmetro para empatia com outros seres. E (ao menos no meu caso) tanto mais quanto mais próximo for esse sistema nervoso.
Como você pode ver pelo seu próprio exemplo, você gradua a linha de acordo com a proximidade do sistema nervoso ao seu, ou seja o de humanos.
Então pergunto de novo, baseado na sua própria observação de maior empatia quanto maior a proximidade do sistema nervoso. Por que colocar a linha separando seres humanos (que tem o mesmo sistema nervoso que o meu) de outros animais seria menos ético do que colocar a linha simplesmente separando seres com e sem sistema nervoso?
Acho difícil não pensar de outra forma, a mim só seria arbitrário esse critério se acreditássemos naqueles papos esotéricos de "emoções das plantas" e coisas desse tipo. Enquanto entendemos o que é o sistema nervoso, vamos considerar que é ético desligar o suporte a vida em aparelhos para alguém que tenha tido morte cerebral, mas não para alguém com problemas pulmonares ou fazendo hemodiálise, e seria absurdo se julgar isso "arbitrário".
Posso ver isso de outra forma também. Basicamente o que está implícito no fato de ser crime matar uma pessoa é a eliminação de um indivíduo, alguém consciente de si mesmo e responsável pelas próprias ações. Isso, pelo menos até prova em contrário, é o que nos separa da maioria dos animais. Tendo sistema nervoso ou não, aparentemente atualmente somos a única espécie em que esse sistema nervoso atingiu uma "massa crítica", seja de tamanho ou de complexidade das ligações sinapticas, nos tornando "sapiens sapiens", capaz de tomar a maioria das suas decisões de forma consciente.
E também é fato que essa "autoconsciência" é um subproduto do nosso sistema nervoso. Ou seja, parando de funcionar o sistema nervoso a "consciência" morre. Diferentemente de qualquer outro órgão. Ou seja, desligar um aparelho por morte cerebral é meramente um indicativo de que a consciência não existe mais, que é perfeitamente legal "matar" (ou melhor, deixar morrer) aquele ser. Damos importância legal de fato a "consciência" do indivíduo, não ao seu sistema nervoso. Este é meramente um indicativo daquela.
Deste ponto de vista, não vejo porque não seria absolutamente óbvio usar a capacidade de "autoconsciência" como a linha ética e não meramente a existência de sistema nervoso.
Está vendo? Não é tão evidente quanto você achava ao princípio.