Uma pergunta Diego, sobre uma coisa que já conversei em outros tópicos.
Qual é o percentual de policiais da linha de frente que você considera que fazem bem seu trabalho?
Nem idéia.
Desde que entrei, consegui passar para prova do policiamento especializado. Então, nunca trabalhei numa unidade "de área" (aquelas que atendem ocorrências do tipo briga de casal, briga de vizinhos, checagem de ocorrência) e essas são basicamente 90% da polícia de Minas. Então, são uma grande maioria de policiais que não estão passíveis de serem corrompidos por traficantes e afins porque não interessam a estes já que não irão ser responsáveis pelas ações de repressão ao tráfico. Assim, creio eu, essa parcela da polícia é composta por uma grande maioria de policiais honestos que cumprem bem o trabalho que lhes é cabido.
Por outro lado, minha experiência desde formado foi em uma unidade de Missões Especiais, que atendia ocorrências de maior complexidade (escolta de presos, rebeliões, denúncias de tráfico e assaltos). São policiais que estão expostos diariamente a bandidagem pesada. Nesse grupo, eu sei que duas coisas não são aceitas: Polícia que rouba e Polícia que se vende pra traficante. O problema é que não ser aceito não é igual a ser denunciado. O cara vira pária, ninguém conversa com ele, ninguém confia nele pra trabalhar, ele acaba saindo do serviço operacional e vai parar no serviço administrativo. Isso porque acaba reinando uma subcultura de não ser "X-9" com o cara. O sujeito acaba saindo da folha de pagamento do traficante (se for o caso) por seleção natural já que ele deixa de ser interessante.
Agora, óbvio. Vi uma penca de policiais, alguns com 28 anos de casa, serem expulsos por desvio de conduta. Nesses casos, não era um da guarnição mais quase todos ou todos. Aí a casa caía e os caras eram submetidos a processos de exclusão.
Caso é que a justiça militar é muito mais eficiente do que a justiça comum. É rápida e não tem essa de militares julgados por militares. O juiz é civil (apesar de ter o status de militar, nunca o foi operacionalmente) e não tem a menor complacência. Um julgamento por tortura dura coisa de 3 meses. Por isso tem PM comemorando alguns projetos de lei que visam terminar com a justiça militar. Passaria todo mundo pra comum e aí sim, reinaria a impunidade.
Eu não posso dizer nem por alto qual a porcentagem de policiais que não estão nem aí para o que fazem. Já trabalhei com cara que com colega nosso tomando tiro na favela, virou pra equipe e disse: "Ahh... já tem gente lá pra olhar isso, não vamos não..." e colega meu acelerou a viatura e foi mesmo assim, contrariando ordem de superior. Os caras que não querem trabalhar ainda são minoria. Eles acabam tendo que fazer o trabalho porque a maioria da equipe ainda quer mostrar serviço. No fim das contas, não tem sensação igual a de participar de uma ocorrência de destaque, com apreensão de armas e drogas e isso ainda motiva o pessoal mais novo. Mas à medida que vai-se caindo na passada, muita gente vê que não vale a pena o risco que se corre pra não se ter reconhecimento depois e ainda ser criticado brutalmente pelo trabalho que é feito, com generalizações que SEMPRE fazem a média por baixo. Isso acaba com a moral e com a vontade de trabalhar de qualquer um.