Mas será que precisa ser ONG "de verdade"? Será que, por exemplo, se existisse muito disso, não circulariam dessas dicas nos fóruns de ateus pela net?
Acho que na verdade não é que não exista muito de preconceito contra ateus. Nós é que não costumamos levar esses casos às últimas conseqüências. Não estou dizendo que devêssemos processar o primeiro idiota que falar uma bobagem perto da gente, mas havendo uma ONG especializada, se um dia acontecer algo de realmente muito grave, como alguém perder o emprego ou ser agredido, ela pode ser útil.
Sei lá, me parece algo "preventivo" demais. Se esse tipo de coisa mal se vê pelos fóruns, e não se sabe se realmente acontece, então como saberemos se não dá para dar conta por meios já existentes, que não tem nada a ver com ONG?
Segundo pesquisas, é o pior preconceito de todos no Brasil (e nos EUA), mas ao mesmo tempo, parece comparavelmente inócuo. A maior parte dos problemas parece ser de ordem pessoal, e nesses casos não sei se tem ONG que ajude. Vão fazer o quê? Indicar terapias em grupo para as famílias? Não é sarcasmo, até acho uma possibilidade, mas sei lá.
Acho que o simples trabalho de informar as pessoas já é uma grande coisa. Tem gente que realmente acredita que ateus são maus. Veja este tópico, por exemplo: Intolerância contra os ateus
Só uma pequena amostra do que eu li naquela comunidade do Orkut:
Eduardo: "não tenho preconceito com nenhuma RELIGIÃO, mas dizer "ATEU" me desculpem, é coisa de pessoa NEFASTA... que só pensa em fazer o "MAU" que não tem nada dentro do coração........................"
Uma pessoa que diz isso ou nunca conheceu um ateu na vida ou deu o azar de conheceu um exemplar dos piores possíveis. Será que com uma campanha de esclarecimento, de mostrar quem são os ateus e de onde eles tiram seus fundamentos morais não poderia ajudar? Será que praticar ações filantrópicas não melhoraria um pouco nossa imagem?
Praticar ações filantrópicas, possivelmente. Agora ficar fazendo campanhas para tirar o deus seja louvado das cédulas, agitando para que todos rabisquem e coloquem palavrões, menções ao diabo ou questinar "qual deus" nas notas; lutar para tirar imagens religiosas de lugares públicos, a menção a Deus na constituição, etc, acho que não. O espírito da STR e da sua nova reencarnação me parece ser mais o último.
Fora isso, precisa de uma ONG para fazer algo assim? Há algum tempo postei (talvez não nesse fórum) perguntando sobre entidades beneficentes não-vinculadas a religiões, e não despertou lá muito interesse. Por que não colocar uns tópicos relacionados a filantropia como fixos no seu subfórum, por exemplo? Por um lado, não entendo muito bem que "poder" dá o papel dizendo que oficialmente há uma ONG para um grupo como esse; talvez realmente seja algo que realmente aumentasse bastante o que podemos fazer em todos os sentidos, não sei. Mas me parece que não estamos fazendo tudo que já poderia se fazer sem ser ONG.
Um outro aspecto importante disso é que os "negros" (incluindo aí mulatos em várias tonalidades, desde que aparentemente adotamos a "regra de uma gota de sangue") no Brasil são quase 50% da população, ou mais, uma imensa parte deles, eleitores. Não me surpreenderia se algo assim viesse a ocorrer mesmo sem qualquer ONG, levando isso em conta, só pelo populismo mesmo. Ateus são uma parcela muito menor do eleitorado, e não acho que é o fator ONG que realmente conta aqui.
Somos poucos, mas será que somos tão poucos assim? Se ficarmos calados é que vamos parecer ainda menores, por isso é que precisamos falar alto. Como os gays. Eles ainda não conseguiram aprovar o casamento gay e nem adotar crianças, mas já percorreram um grande caminho, já conquistaram simpatia de grandes setores da sociedade e a tolerância hoje é muito maior. E se você parar para pensar, nossas ambições são muito menores que a dos gays, porque o reconhecimento que queremos eles já conquistaram faz tempo.
Novamente, não sei se o ativismo gay tal como foi feito ajudou significativamente ou não. Em boa parte, acho que talvez tenha até atrapalhado, ajudado na estereotipificação de gay como tarado que anda pelado na parada do orgulho gay em vez só de gente "normal" que faz sexo com outras pessoas normais quando ninguém está vendo, como todo mundo faz com pessoas do outro sexo.
Se ateus começarem a fazer paradas do orgulho ateu, aí sim acho que vou ter que pensar em algum outro termo para "me definir", só para não me associar a esse tipo de coisa. Já tem gente que prefere se dizer "não teísta", por causa dessa imagem do ateu militante.
Sobre os gays, ainda há pouco, falava-se de uma lei contra a "homofobia", onde ninguém poderia questionar/criticar o homossexualismo. Será que devemos seguir o mesmo caminho, lutar por uma lei contra a ateofobia?
Sim, não estou questionando isso. Mas discriminação desse tipo pode ocorrer com qualquer religião ou até por raça e sexo. É um problema que acho que deveria ser combatido, mas não vejo os ateus como grandes vítimas do problema, não vejo razão no enfoque especial, de forma que seria mais interessante se pensar em ações que visassem resolver esse problema de modo geral, seja lá como for possível, se é que é.
E já não existem organizações que combatem o preconceito de forma geral?
Possivelmente sim. Então, quando um ateu se sentir vítima de preconceito, poderia recorrer a uma dessas em vez de já assumir que será vítima de preconceito pela ONG anti-preconceito.
A ATEA poderia muito bem cooperar com elas, e mesmo assim continuar defendendo uma minoria em particular.
Nada contra o princípio em si, como sempre. Só não vejo quem é que está nos "atacando" e como uma ONG nos "defenderia". O que eu pensaria em fazer seria algo como um vídeo "institucional", como um que fizeram e colocaram no youtube, por exemplo, colocando fotos de ateus e postando dados positivos e etc. Tudo numa tonalidade "contra o preconceito" nas mensagens, em vez de simplesmente ficarmos nos gabando.
Pergunta: o que tem feito as ONGs de outros países, mais já consolidadas e ativas? Como elas tem combatido o preconceito contra ateus, e quais foram seus sucessos? Se tem algo de efetivo e positivo que uma ONG pró-ateus pode fazer, provavelmente essas mais veteranas já o fizeram em seus países, não? Infelizmente, tudo que me lembro eram só essas birras contra o Deus nas cédulas e no juramento de lealdade à bandeira... mais do mesmo...
Ateus provavelmente são até o grupo menos afetado tanto em números absolutos (por serem uma meia dúzia de gatos pingados) quanto proporcionalmente, já que não só não são muitas as situações onde a religião é posta em questão, mas você pode mentir, colocar "católico" ou alguma outra coisa, enquanto não dá para fingir não ser negro, e fingir ser homem pode ser consideravelmente complicado e ter mais problemas legais do que se mentir sobre a religião.
Sem dúvida, é mais fácil ser ateu do que ser negro ou gay. Mas só por causa disso deveríamos nos conformar e baixar a cabeça, como se merecêssemos sofrer preconceito? Claro, sempre existe a opção mais fácil de mentir, fingir que você não é aquilo que você é, apesar de vivermos em um país democrático onde a Constituição nos garante direito à liberdade de pensamento e de expressão. Na verdade, Buck, nós não estamos fazendo nada além de reclamar o que é nosso de direito. Mas se nós voluntariamente abrimos mão de nossos direitos, o que vamos fazer no dia em que alguém resolver tomá-los de nós? Vamos dizer, "Ah, pode levar, eu não estava usando mesmo..."
Não, não tem nada disso. Se realmente há muitos ateus perdendo empregos ou oportunidades de emprego por serem ateus, é interessante que se faça algo para tentar combater isso. Mas onde estão eles? Nos fóruns não é um tema recorrente... será que há um número esmagador de ateus nunca empregados fora da internet porque não tem dinheiro para acessar, não conhecem os fóruns ateus para desabafar, nem conhecem ninguém desses fóruns? Ao mesmo tempo, procuram advogados e outros recursos, mas são ignorados? Ou será que falamos de um problema virtualmente inexistente, que outras ONGs (ou não-ONGs) poderiam lidar nas proporções atuais?
(seria interessante um estudo sobre isso, nos moldes de uns feitos nos EUA sobre preconceito racial... currículos falsos que mencionassem opções religiosas, e ver se estatisticamente o ateísmo expresso tem peso)
Acho que dependendo da região do país poderiam haver resultados variados. Suspeito que seja mais fácil ser ateu em uma grande cidade, cosmopolita, do que no interiorzão do país.
A ATEA tem então que ter sedes e atuação forte no interior...
Tenho a impressão que infelizmente esses são quase sempre os que tem mais ímpeto ativista.
O que é perigoso... Mas o Sottomaior é inteligente. Provavelmente ele não falaria em um programa de televisão para o Brasil todo ver o mesmo que ele fala em um blog ou um fórum para ateus. Assim como qualquer político, o Lula fala uma coisa perto do povão e outra perto dos empresários.
O que não é lá muita vantagem. Logo que começasse a incomodar mais, algum opositor caçaria essas merdas e aí estaríamos todos danados, já que colocariam como "opinião dos ateus". Numa das últimas aparições que vi dele na TV, não foi lá muito melhor no quesito tolerância religosa, de não pensar o pior das pessoas; era aquele caso da "casa que sangrava", onde ele insistia que era alguma pilantragem dos velhos para chamar atenção, quando a senhora sofria de diabetes e tinha sangramentos pela perna sem perceber.
Não estou negando isso, que seja algo ruim e tal... sei lá... só não vejo muita utilidade para uma ONG em vez de algo mais informal, individual. Gente mais "normal" "saindo do armário", escrevendo blogs, mandando cartas para revistas e jornais, etc. Sem tanto dessa coisa de choro de vítima e etc.
Entendo. Essas ONG's também nunca são unanimidade, se você rondar os sites brights americanos você vai ver muita gente descendo o pau nos American Atheists - apesar de todos reconhecerem que eles já fizeram coisas importantes no passado. Quanto a esse ativismo mais informal, acho que ele já está engatinhando por aqui, há vários fóruns, blogs, sites céticos, comunidades no Orkut...
E provavelmente já dão conta, e serão potencialmente menos nocivos do que uma ATEA da vida, por não terem um auto-conclamado "porta voz" dos ateus que pode manchar toda a nossa reputação, ficando pior do que já é sem a tentativa de tentar "nos defender" da ameaça invisível.
Bem, poderia dizer que conhece muita gente que não acredita "muito" em deus mas ainda assim é gente boa e etc... dar exemplo de um ou outro famoso, já que estava no salão de beleza e etc.
É fácil falar, não era o seu pescoço que estava a prêmio ![Razz :P](../forum/Smileys/default/icon_razz.gif)
Não discordo totalmente. Só não consigo vislumbrar um projeto duma ONG que sanasse isso consideravelmente. Algo a se pensar, como é que se dão essas mudanças culturais e como seria possível acelerá-las.
Acho que informação ajuda. A primeira coisa a fazer é chamar a atenção da imprensa, ganhar sua simpatia... Aí qualquer dia um noveleiro faz um personagem ateu bonzinho na novela das oito, gera polêmica, o Fantástico faz uma reportagem, o público faz cara feia, o personagem ateu vira crente. Aí duas novelas depois outro autor retoma o assunto, o público já está mais acostumado com a idéia e de repente dessa vez ele nem se converte no final. ![Smile :)](../forum/Smileys/default/icon_smile.gif)
Coisas que, novamente, não vejo porque só seriam possíveis de se obter através de ONG. Os emos já devem ter tido reportagens no fantástico, será que tem uma ONG EMOA, para conseguir isso?