Tai, eu gostaria de conhecer a argumentação que explica sua visão:
A produção de um artista, assim como a de um cientista, não pertence somente a ele mas também ao resto da sociedade.
O raciocínio é similar com ciência, e com outras artes, mas vou citar como exemplo poesia.
Quando p.ex. um poeta produz um trabalho, ele não parte do zero. Ele parte:
*de um idioma, com suas ambigüidades e jogos de palavras, que é de domínio público;
*de uma história da sociedade em que vive, que é de domínio público também;
*de um conjunto de estilos literários - idem (de domínio público);
*da leitura de obras de outros autores;
et cetera.
Se vamos considerar qual é a parte da produção individual do artista neste todo, é ínfima. 99% (número chutado), na verdade, já estava pronto, e ele obteve completamente de graça do trabalho de outras pessoas.
Eu discordo do ínfima, eu vejo o poeta como alguém que tem o talento de, usando estas ferramentas disponíveis, criar algo que eu não sou capaz de fazer, por exemplo. E é esse talento que o diferencia do resto.
O programador pode usar ferramentas de domínio público (exemplo : Linux + Apache + php) para criar algo que não existia antes (um página da web que é invenção dele).
Seguindo seu raciocínio, código fontes de programas, direitos de músicas, livros, todo o tipo de propriedade intelectual deveria ser abolido. Pelo menos é como eu entendi. E discordo.
Se há interesse em retribuir, o artista liberando sua produção à sociedade é uma retribuição mínima do que obteve, e ainda está devendo.
Discordo, porque ele está adicionando cultura à sociedade, está adicionando algo que não existia antes, seja uma música, um poema, o que for. Como você pode quantificar e dizer que a criatividade dele é menor, por exemplo, do que as ferramentas (cultura, idioma, etc) que ele usou para criar um poema?
Portanto, a arte é um produto social e não individual.
Eu discordo, em parte, de você aqui, mas eu vou comentar o resto e volto depois com a questão da criação.
E há outra coisa: quanto mais a arte é divulgada e difundida numa sociedade, mais artistas surgem que usem essa arte para produzir, e cujas contribuições sejam dignas de nota.
Concordo, e não vejo como isso invalida o direito do autor sobre uma obra, ao contrário, talvez sendo pago por ela, ele possa viver exclusivamente da sua arte e portanto criar ainda mais.
Considerando que o custo de produção da arte é fixo - ou seja, após produzir não há um custo adicional - se a arte é de interesse público (seja por ela em si ou por causa de suas conseqüências), tem-se que arte gratuita é capaz de gerar mais arte derivada que arte restrita por preços.
(Não sei se me fiz claro...)
Talvez eu não tenha entendido, em todo caso vou dar minha visão, lembrando que não estou julgando, apenas dizendo como vejo as coisas. Não é uma questão simples com respostas simples. Nem eu pretendo estar absolutamente certo, se estiver errado, mudarei de opinião.
Supondo que a arte gratuita gere mais arte derivada do que a restrita por preços, eu não vejo porque ambas não possam coexistir.
E agora eu volto à questão da criação. Cada artista é diferente. Cada um vê o ato de criação de uma maneira. E não existe apenas um adjetivo (social, individual, o que seja) para descrever uma criação, algo novo.
Alguns artistas podem ver como algo que eles estão adicionando a sociedade.
Podem ver como uma consequência da cultura da sociedade, e entre muitas outras possibilidades, ele pode ver como um ato egoísta, individual. O artista deve ser livre na maneira como vê seu ato de criação, seja ele social, individual, pertencente apenas ao grupo que ajudou ele, etc.
A criação pode ser vista como um ato individual, alguém, usando as ferramentas disponíveis, cria algo que não existia antes, algo novo, algo que só ele poderia ter criado. Peguem dois foristas quaisquer aqui do CC para escrever um poema sobre um dado tema e teremos poemas diferentes.
Eu acho que é um direito fundamental do artista o controle sobre o que ele criou. Se uma banda apóia o download de músicas ela deve ser livre para liberar isso e deixar os fãs baixarem como e quando quiserem. Mas se não for, ela deve ter o direito de dizer como a arte dela vai ser divulgada, porque o impulso criativo, a capacidade de criar algo, uma poesia, uma música ou até mesmo um programa de computador é o que torna o produto possível, é o que traz ele a existência.
Portanto eu vejo duas possibilidades aqui:
1) Uma onde o artista é obrigado, concorde ou não, em abrir mão da propriedade intelectual de qualquer coisa que ele crie.
2) Outra onde o artista é livre para decidir se quer isso ou não.
E eu fico com a segunda opção, onde há, ao meu ver, mais liberdade de escolha da parte do artista.
E para complicar a questão, há ainda o lado do acesso a cultura, do desejo das pessoas terem acesso a determinados itens.
Eu pessoalmente acho que as leis que regem a propriedade intelectual devem ser refeitas. Eu sou favorável a uma diminuição no período de tempo em que uma obra é propriedade exclusiva do autor, por exemplo.