A mãe do caso pode ter sido relapsa ou não.
Pessoas tem uma dificuldade incrível de se comunicar.
Eu vejo pessoas em ambiente de família com graves questões a resolver (não estupro), levando problemas a anos, sem conseguir parar e tangibilizar esse desconforto em palavras, exemplos, situações concretas, etc..
Frequentemente, muito frequentemente, eu pergunto nesses casos se já tentaram conversar, e a resposta é "não vai adiantar", "já tentei uma vez" ou algo similar, mas... os problemas seguem existindo.
Para quem está dentro da situação a gravidade pode não parecer tão nítida assim. O assédio é um processo.. Não é uma história em que a mãe vivia feliz e contente e derrepente entra um monstro em casa, estupra suas filhas e se no dia seguinte a mãe não percebeu, é uma inepta.
Há uma aproximação do homem, mãe e filhos. O tempo passa, primeiro pode haver as carícias... assédio moral... o impacto disso durante um processo de tempo pode não ser tão nítido assim para uma mãe (lembrando da falha na comunicação, lembrando do tempo dedicado ao trabalho, lembrando do cansaço). A mãe também pode associar o comportamento das filhas a outra questão.. brigas diárias?, falta de dinheiro? ela tem pouco tempo com as filhas?
As correlações de nosso cérebro são feitas principalmente a partir de situações que conhecemos, não que inferimos. Nossa mente naturalmente vai associar questões corriqueiras à mudança de comportamento.
O assédio aumenta até o fato ocorrer... é gradual e terrível.
E temos mais um ponto que pode ser polêmico. O homem não é um monstro. Essa atitude dele é monstruosa. (antes de apontarem o dedo, não estou sugerindo nenhum atenuante, apenas falando que a detecção pode não ser tão simples assim)
Ele pode sim ser adequado para as crianças em outras dimensões e isso dificulta o julgamento de todos.
O sujeito pode brincar com as crianças, ou pode ajudar a mãe em tarefas outras... por a moral dela para cima, a mãe dela amou um monstro ou um homem que cujo espectro de características positivas eram (X,Y,Z) e as positivas (A,B,Pedofilia). O que julgamos é a exposição da superfície de todo esse espectro com as outras pessoas, e vai haver sinais ambíguos.
Absolutamente não sabemos. Mas sabemos que a vida prática não corrobora maniqueismos e generalizações.
Se a mãe tivesse desconfiado de algo, também seria natural esperar que ela fizesse o impensável para proteger seus filhos.