É difícil saber mesmo, quase só temos como achar... acho que eu talvez seja mais otimista quanto a maioria...
De qualquer forma, alguns pontos a considerar:
- o que a gente costuma tomar conhecimento pela tv ou mídia não é necessariamente uma representação da vontade das pessoas de modo geral
- penso que é muito provável que a maior parte das pessoas seja sim favorável a melhor educação, independentemente de serem contrários ou favoráveis a cotas, mas também a maior parte das pessoas simplesmente não é ativista, e logo não chama ativamente atenção da mídia por uma opinião mais ou menos trivial como essa, nem a mídia vai muito atrás de algo assim
- populistas, manipuladores, esses sim, tendem a ser ativistas (não que todos ativistas sejam), vão tentar chamar atenção da mídia, e vão falar em nome de todo um grupo, como se fossem seus representantes escolhidos por unanimidade, quando na verdade agem por interesse próprio
Enfim, não estava de forma alguma defendendo os ativistas. Só acho que existem diferentes tipos de pessoas que podem dizer serem a favor de cotas e medidas parecidas, as pessoas comuns, que, talvez, acho que até provavelmente, estariam defendendo melhoria na educação básica em vez de cotas, se isso dependesse deles, se não estivessem só repetindo um "meme" lançado por ativistas/populistas com motivos escusos, que talvez em muitos casos nem pararam para analisar direito, ou, foram engabelados.
Talvez seja a realidade, mas a experiência que tenho é que o povo brasileiro sempre quer o caminho mais fácil. Essa é a cultura que se mantém... o velho "jeitinho brasileiro"... passar por cima de exigências, prazos e responsabilidades. E de preferência com o menor esforço possível.
Na graduação participei do projeto "Universidade Solidária". Na minha universidade faziam, além da versão nacional, a versão regional também. Participavam 13 municípios mais carentes da região oeste do Estado e dois bairros muito pobres em Cascavel. Minha equipe ficou a cargo do pior bairro... precisamos fazer um "senso" social do bairro para planejar a implantação de uma horta comunitária (projeto das C.Biológicas e Agrárias). Passamos em todas as casas do bairro veirificando o interesse da pessoas em participar do mutirão. Menos de 5% disse que tinha interesse em ajudar. Ouvi coisas do tipo "se vocês fizerem nós queremos, mas eu não vou fazer nada não!".
Não acho que a amostra seja tão pequena assim. Demoramos semanas pra fazer o senso... o bairro tinha umas 400 casas.
Eu realmente não sei dizer exatamente, talvez seja novamente só otimismo ou ingenuidade minha até. Não acho que a vasta maioria das pessoas sejam só uns festeiros arruaceiros que não querem saber de nada. Dos conhecidos meus, acho que a maioria pode até não ser extremos "Caxias", mas também não são totalmente displicentes, sem qualquer interesse, e não acho que sejam excepcionais. Não lembro especificamente de alguém falar sobre ter deixado de ter férias para estudar, mas festas, é praticamente implícito, mesmo simplesmente desde antes de faculdade já tinha gente que fazia isso, quando tinha relativa menor importância.
Eu não tive férias desde antes do terceiro ano. Era muito comum no meu colégio, que tinha uma filosofia voltada para aprovação no vestibular.
Agora, minha mãe dá aulas há muitos anos em um dos melhores colégios de Cascavel, da rede pública. Menos de 15% dos seus alunos se interessam em prestar vestibular, mesmo com a insistência dela. Ela volta a formação deles para que estejam preparados para o vestibular. Pede leitura de livros, trabalha diversas formas de redação... e os bons alunos, que são bons sempre e que nunca têm problemas de disciplina passam tranquilo. Uma aluna dela do segundo ano passou em Medicina. Prestou de novo no terceiro para poder cursar de verdade e ficou em 2o. lugar. Outra, fez C. Biológicas e defendeu o doutorado mês passado.
Há alunos excelentes na escola pública sim. Há pais e professores que não se importam em mostrar para eles o caminho do ensino superior. Mas também há os que tem a informação e não querem saber. Infelizmente, pelo menos na minha cidade natal, essa é a maioria.
E, no que se refere a cotas ou algo parecido, não acho que seriam (ou que deveriam ser, se as coisas fossem feitas de um modo ideal*) os festeiros/farristas os potenciais beneficiados, mas aqueles que se dedicam realmente. Aqui no fórum tivemos há algum tempo o relato pessoal do Donatello, por exemplo, acho que pode ser encaixado nesse contexto.
Nâo acho que as cotas não beneficiariam bons alunos. O que eu acho é que os bons alunos não precisam das cotas.
E instalar as cotas é uma forma de garantir que ninguém se preocupará com a reforma da educação.
* Acho que recentemente a maior parte das minhas mensagens deve ter o tema anti-cotas. Mas não acho uma idéia totalmente errada, em certos aspectos. O cerne da idéia, seria promover maior igualdade de oportunidades, o que por si só é bom. O principal problema que eu vejo, é a ineficiência quase que inerente a um sistema de cotas, como descrito principalmente pelo Sowell, conforme postei em diversas mensagens. Mas, também penso que isso poderia ser sanado, simplesmente se fosse constatado que um "excesso de qualificação" no vestibular não se correlaciona com um desempenho significativmanete melhor do que uma qualificação meramente suficiente.
Se isso é verdade, e talvez seja, então, acho que talvez fosse válido algo como um critério de pontuação diferente de acordo com a nível sócio-econômico. Penso que inclusive, isso talvez pudesse ter um efeito positivo quanto a eficiência do processo seletivo, uma vez que, pode-se assumir que de modo geral "tirar 10" exige menos esforço quanto mais alto for o nível sócio-econômico; assim, talvez o "8" possa valer mais que um "10" em dedicação, esforço, dependendo da situação de quem tirar essa nota. É bem possível que quem suou muito para conseguir estudar em bibliotecas públicas, nas madrugadas e em todo tempo vago para tirar esse 8 acabe sendo também mais dedicado na faculdade do que quem teve maior tranqüilidade para estudar num cursinho pré-vestibular, sem necessariamente ter tido que se preocupar proporcionalmente tanto com outros aspectos da sua vida (como contas a pagar, emprego, comida) durante esse período.
Certamente o fato de alguns jovens terem que amadurecer mais cedo implica em maior cobrança e estresse. Mas essa cobrança geralmente é uma auto-cobrança.
Não quero de forma alguma colocar qualquer tom de asco playboyofóbico aqui, não se trata disso, de algum tipo de aversão ou inveja. Simplesmente acho que realmente "a barra está mais baixa" para o salto de quem tem melhores condições financeiras, e que talvez não fosse errado levar isso em consideração. Outro aspecto ainda é que, a eventual perda da vaga vai ter um impacto mais significativo quanto menores forem os recursos do candidato; quanto mais tranqüila for a situação financeira, menos dramático é ter que fazer outra prova.
Depende muito do valor e dos recursos da família. Pessoas muito ricas podem fazer uma pressão meramente psicológica, no sentido da perda de um ano de salário (já que o cara vai se formar um ano depois do que poderia), etc. Agora, a grande maioria das pessoas que estudam em escola particular não são ricas. São pessoas que sacrificam outros setores para poderem estudar em escolas melhores. Para estas, um ano a mais de cursinho é muito pesado.
Não vejo nenhuma diferença neste sentido com relação aos que são mais pobres.
Talvez isso tivesse até uma espécie de duplo impacto positivo. Não só ampliasse o acesso à faculdade para as camadas sociais menos favorecidas, mas suficientemente capazes e preparadas, como elevaria a barra para os mais abastados e os fizesse ir atrás de um desempenho realmente excepcional, em vez de apenas "suficiente", o que por sua vez, seria também um método de seleção dos excepcionalmente esforçados, em vez de comparativamente acomodados.
Acho que talvez as "cotas" aqui tivessem que ser meio "anti-cotas", até. Ou seja, em vez de algo como se ter que preencher 20% das vagas com alunos do ensino público ou determinada renda familiar, se teria isso como um máximo para alunos, sob esses critérios, a ganharem esse "bônus" por "esforço pessoal" presumido.
Realmente não sei até que ponto se alcançaria este resultado...
Sim, meio que nem questiono isso, o que eu disse aí talvez tivesse já o "meu" sistema de cotas ideal em mente, ou algo mais ou menos otimista, que presumisse que os critérios de seleção fossem ser ainda altos o suficiente para beneficiar aqueles que não ficaram "bitolados" na matéria do vestibular por não terem como fazer cursinho particular, mas ao mesmo tempo não baixa o suficiente para entrarem sem qualquer esforço os que não estão nem aí com nada.
Essa perspectiva mais pessimista é a que tenho, nesse caso, mas não sei, com sorte pode não ser bem assim e ser algo mais próximo daquilo que imagino como sendo o ideal. Pelos números, como "60% das vagas", acho improvável, de qualquer forma.
Também acho.
Mas é muito difícil inferir isso... também não gosto, mas o vestibular acaba sendo a melhor opção de seleção.
Talvez... mas é uma coisa sobre a qual as pessoas acho que não pensam muito em alternativas... acho.... ouvi dizer que os métodos não-cotistas de avaliação americanos são melhores que o vestibular, mas nem sei como são, ou se seriam viáveis para o Brasil...[/quote]
O que conheço é de filmes...
Sou completamente ignorante sobre esse assunto.
Por que menos significativa?
Pôxa Danniel, principalmente em Sampa tem tanta família que deixa de se vestir pra poder pagar uma escola melhorzinha sonhando que os filhos alcancem a USP... para estes, perder por um cotista, cuja família simplesmente não quis pagar por escola, deve ser triste demais...[/quote]
Sim, não disse que é simples e sem exceções, o melhor critério.... inclusive postei um tópico recente sobre os países em desenvolvimento terem cada vez mais alunos em escolas particulares, vindos de famílias pobres mesmo (impressão de deja vu aqui, acho que talvez tenha já comentado desse tópico com você numa questão semelhante...)
Talvez isso pudesse ser na maior parte do tempo sanado se o critério não fossea escola ser particular ou pública, mas sim a renda familiar. Talvez até um critério adicional pudesse levar em consideração quantos % da renda se gasta com educação? Não sei...[/quote]
Mas aí você continuaria punindo quem investe em educação. O ponto é que boa parte dos que usarão as cotas para entrar são aqueles que não precisam trabalhar, tem muito tempo livre, normalmente poderiam pagar por escolas privadas mas os pais preferem não gastar com isso: "o governo dá de graça, pra quê pagar?".
São pessoas que poderiam, mas não compram livros, não educam culturalmente seus filhos.
E pode parecer anedota, mas isso é muito comum... Do jeito que vocês falam até parece que na USP só tem rico... se tem, estavão em outro departamento... pq na biologia todo mundo tá sempre sem dinheiro...
Eu não acho isso não. Acho que esse tema tende a criar esse tipo de impressões polarizadas, de qualquer forma. De um lado os vagabundos aproveitadores, do outro os vagabundos aproveitadores com dinheiro... a realidade tem mais nuances.
Pode ser pessimismo meu, realmente. Mas eu estou decepcionada demais com o povo brasileiro pra acreditar que seria diferente.