Autor Tópico: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas  (Lida 14171 vezes)

0 Membros e 1 Visitante estão vendo este tópico.

Offline Fabi

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 6.801
  • Sexo: Feminino
  • que foi?
Re: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas
« Resposta #150 Online: 29 de Maio de 2009, 00:28:21 »
Conheci um aluno da rede publica, que foi o primeiro colocado no vestibular de uma universidade publica!
Eu conheci um aluno que passou em primeiro lugar no vestibular que nunca pisou numa escola particular, e as escolas particulares ficaram disputando pra ele aparecer no comercial dizendo que estudou numa dessas escolas particulares.
Difficulter reciduntur vitia quae nobiscum creverunt.

“Deus me dê a serenidadecapacidade para aceitar as coisas que não posso mudar, a coragem para mudar o que posso, e a sabedoria para saber a diferença” (Desconhecido)

Offline gilberto

  • Nível 27
  • *
  • Mensagens: 1.376
Re: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas
« Resposta #151 Online: 29 de Maio de 2009, 00:35:20 »

Então Fabi, essa é a questão ... vc acha que a universidade pública não tem responsabilidade com a educação do país como um todo ... eu já acho que sim ... pois recebe dinheiro público do país como um todo ...

Para mim, quem quizer fazer uma universidade que atenda a ideais privados, que o faça com os recursos privados ... essas pessoas não tem capacidade para isso? Então pq eu teria de financiá-los com a minha parcela de impostos que eu pago e não concordo com isso?
Não existe ideais privados. A universidade não governa o país, não tem poder para isso é só uma instituição de ensino superior. Todos pagam impostos ricos e pobres. Rico também paga imposto e não tem direito de estudar numa universidade que eles "pagam"?
Quem tem o poder para melhorar a educação do país são os políticos. Sabe aquele deputado que você vota porque acha ele bonito, ou porque simpatiza com ele, ou porque ele te deu uma ajudinhaou por outro motivo qualquer...então... é essa pessoa que você tem que cobrar isso, e não a universidade.

Você lembra em quem votou na ultima eleição? Quem foi o deputado que você votou? tanto o estadual como o federal, você sabe? Quem foi o candidato a senador que você votou? Lembra?

São essas pessoas que tem o poder de melhorar a educação do país como um todo, é eles que tem que apresentar propostas que melhorem a educação e não as universidades.

É Fabi, temos premissas totalmente diferentes,

eu acho que as universidades públicas tem o dever de trabalhar por uma educação pública melhor em todos os níveis, e vc parece que não ... o meu argumento é que ela deve honrar todo o dinheiro público que nela é depositado com uma representatividade não socialmente elitista como é hoje ... vc parece que não acha isso tb ... agora o meu argumento é quem paga a conta é que deve ter mais poder de decisão ...

quanto aos problemas serem resolvidos pelos políticos, acho tb que eles são os maiores responsáveis, mas as instituições e os indivíduos tb ... ficar nessa de tudo é culpa só dos políticos é muita simplificação da realidade ...

Vc é outra pessoa que eu não vou convencer, e nem vc a mim ... isso acontece ...

Offline gilberto

  • Nível 27
  • *
  • Mensagens: 1.376
Re: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas
« Resposta #152 Online: 29 de Maio de 2009, 00:45:25 »
Citação de: gilberto
há um claro privilégio de financiamento público para os alunos oriundos das escolas privadas em detrimento dos alunos que estudam na escola pública

Explique-me melhor estes financiamentos públicos aos alunos oriundos de escolas privadas, por favor.

Ok, o meu argumento é que de onde eu li, aproximadamente 80% dos alunos que cursam as universidades públicas são oriundos da escola particular ... eu acho que tem bem menos de 50% de alunos do ensino básico em escolas particulares ... logo para mim é claro que a universidade pública gasta a sua verba (dinheiro público ... financiamento público) prioritariamente com os alunos oriundos das escolas particulares ... não acho que isso seja uma "conspiração da elite", mas o sistema é injusto e tem que ser corrigido, pq para mim a entrada dos alunos oriundos de qualquer tipo de escola deveria ser igualitária, pois a universidade pública é financiada com dinheiro público ...

E uma questão:

Conheci um aluno da rede publica, que foi o primeiro colocado no vestibular de uma universidade publica!


Isto não seria impossível na sua logica, já que os alunos de escolas particulares tem "privilégios" do governo ?


A minha lógica é com a relação a proporção desigual, parabéns para esses alunos da atual escola pública que conseguem ingressar entre os melhores na universidade pública, com um sistema de cotas eles continuariam a entrar, e os melhores alunos das escolas particulares continuariam a entrar tb, mas a proporção ia ser menos desigual entre eles ... fui claro?

Offline SnowRaptor

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 17.962
  • Sexo: Masculino
Re: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas
« Resposta #153 Online: 29 de Maio de 2009, 00:52:16 »
Não vou ler sete páginas. Sistema injusto? Por que não melhorar o ensino público de base em vez de baixar o sarrafo da universidade pública?

Sempre esse discurso imediatista de nivelar por baixo...
Elton Carvalho

Antes de me apresentar sua teoria científica revolucionária, clique AQUI

“Na fase inicial do processo [...] o cientista trabalha através da
imaginação, assim como o artista. Somente depois, quando testes
críticos e experimentação entram em jogo, é que a ciência diverge da
arte.”

-- François Jacob, 1997

Offline gilberto

  • Nível 27
  • *
  • Mensagens: 1.376
Re: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas
« Resposta #154 Online: 29 de Maio de 2009, 01:06:11 »
Não vou ler sete páginas. Sistema injusto? Por que não melhorar o ensino público de base em vez de baixar o sarrafo da universidade pública?

Sempre esse discurso imediatista de nivelar por baixo...

Cara vc acha esse discurso imediatista, mas vc quer uma resposta imediata de várias páginas já discutidas, pq vc não quer ler ... quem tá com a prática imediatista aqui? (leve na esportiva hein)

Offline N3RD

  • Nível 37
  • *
  • Mensagens: 3.493
  • Sexo: Masculino
  • O tal do "não querer"
Re: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas
« Resposta #155 Online: 29 de Maio de 2009, 01:15:36 »
Citação de: gilberto
logo para mim é claro que a universidade pública gasta a sua verba (dinheiro público ... financiamento público) prioritariamente com os alunos oriundos das escolas particulares

Quem paga a escola particular desses 80% que estão entrando na universidade publica são os pais dos alunos ou eles mesmos e não o governo.

E estes pais pagam os impostos igual a todo mundo. Não vejo nada de injusto nisto!

Acho que o que você quer dizer ser o problema na verdade é a desigualdade social.

E só sera justo quando todos estiverem vestindo a mesma roupa, comendo a mesma comida e estudando no mesmo lugar?

"Voltemos" ao socialismo então.
Não deseje.

Offline gilberto

  • Nível 27
  • *
  • Mensagens: 1.376
Re: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas
« Resposta #156 Online: 29 de Maio de 2009, 01:35:53 »
Citação de: gilberto
logo para mim é claro que a universidade pública gasta a sua verba (dinheiro público ... financiamento público) prioritariamente com os alunos oriundos das escolas particulares

Quem paga a escola particular desses 80% que estão entrando na universidade publica são os pais dos alunos ou eles mesmos e não o governo.

E estes pais pagam os impostos igual a todo mundo. Não vejo nada de injusto nisto!

Ok, temos conceitos diferentes do que seja justo ou injusto ...

Acho que o que você quer dizer ser o problema na verdade é a desigualdade social.

Exatamente, e o assunto aqui discutido é mais uma manifestação dessa desigualdade social que vc mencionou ...

E só sera justo quando todos estiverem vestindo a mesma roupa, comendo a mesma comida e estudando no mesmo lugar?

Não, acho que só será mais justo quando as instituições trabalharem para diminuir as injustiças ...

"Voltemos" ao socialismo então.

Para mim tanto faz o sistema político ou econômico, mas o conceito de justiça social tb foi desenvolvido junto as instituições capitalistas, ainda mais se tratando de uma instituição ppublica ... não precisa ser tão radical pra ter que propor o socialismo não ...

Offline N3RD

  • Nível 37
  • *
  • Mensagens: 3.493
  • Sexo: Masculino
  • O tal do "não querer"
Re: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas
« Resposta #157 Online: 29 de Maio de 2009, 01:42:16 »
Para concluir minhas duvidas: Você acha que as cotas podem ajudar a diminuir as desigualdades sociais ? Como ?
Não deseje.

Offline gilberto

  • Nível 27
  • *
  • Mensagens: 1.376
Re: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas
« Resposta #158 Online: 29 de Maio de 2009, 01:48:38 »
Citação de: gilberto
Nessas décadas que a universidade pública é elitista, ela retornou alguma coisa para a população que ela excluí?

Ok. Mostre-nos então algum exemplo dessa "exclusão" que a universidade faz. Eu pensava até hoje que as provas eram iguais para todos, com critérios iguais e transparentes de correção.  :?

O exemplo que vc pediu, aproximadamente 80% dos alunos que entram na universidade pública vem de escolas particulares ... para alguns de vcs isso não é exclusão ... para mim e para os cotistas é exclusão ...

As provas são iguais, mas somente as escolas particulares é que desenvolvem esse currículo, o que ocasiona obviamente no acesso privilegiado desses alunos ... e o que a universidade pública tem a ver com isso? A décadas que ela sabe desse desvio, sabe que o atual sistema tem esse vício, mas continua recebendo dinheiro público sem trabalhar para diminuir essa diferença ... os alunos das escolas públicas regulares tem mais é que reclamar da sua parcela de impostos para que a universidade pública trabalhe para eles tb ... a universidade pública tb pode ser cobrada! Ou não ela é uma deusa que ninguém pode falar mal?

Offline gilberto

  • Nível 27
  • *
  • Mensagens: 1.376
Re: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas
« Resposta #159 Online: 29 de Maio de 2009, 01:53:09 »
Para concluir minhas duvidas: Você acha que as cotas podem ajudar a diminuir as desigualdades sociais ? Como ?

Acho que as cotas podem ajudar a diminuir as desigualdades sociais no acesso ao ensino superior público. Se vai ter como resultado a diminuição de outras desigualdades sociais ... não sei ... acho tb que medidas de imposição externas como essa podem ser um catalizador para que as instuições se sintam um pouco forçadas a trabalhar para resolver os seus problemas ...


Da mesma forma, eu acho que a popularização do ensino básico foi um avanço social muito grande no Brasil, apesar dos problemas e erros que ocorreram e ainda persistem, se o ensino público básico fosse elitizado até hoje, estaríamos em uma situação muito pior que temos atualmente ...

Offline Pellicer

  • Nível 21
  • *
  • Mensagens: 703
  • Sexo: Masculino
Re: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas
« Resposta #160 Online: 29 de Maio de 2009, 02:12:03 »
Ok, o meu argumento é que de onde eu li, aproximadamente 80% dos alunos que cursam as universidades públicas são oriundos da escola particular ... eu acho que tem bem menos de 50% de alunos do ensino básico em escolas particulares ... logo para mim é claro que a universidade pública gasta a sua verba (dinheiro público ... financiamento público) prioritariamente com os alunos oriundos das escolas particulares ... não acho que isso seja uma "conspiração da elite", mas o sistema é injusto e tem que ser corrigido, pq para mim a entrada dos alunos oriundos de qualquer tipo de escola deveria ser igualitária, pois a universidade pública é financiada com dinheiro público ...

Já te explicaram 500 vezes e aqui vai mais uma tentativa. A universidade seleciona pelo mérito acadêmico. Se há mais alunos de escola particular do que de escola pública de forma desproporcional, isso quer dizer que a escola particular dá uma educação de base muito melhor que a escola pública.

Foram propostas até agora duas soluções pra esse problema. Uma é fazer a escola pública dar uma educação de qualidade como a escola particular faz, mas essa solução é cara (mas pagamos impostos pra isso), demorada (pelo menos 10 anos, ou seja, não vai dar voto pra nenhum político que aprove essa medida) e difícil.

A outra é facilitar a entrada dos alunos de escola pública reservando vagas pra eles, o que é barato (tem alguns custos adicionais no processo seletivo mas nada comparado à outra solução), imediata (dá votos pro político que aprovar já na próxima eleição) e simples (problema das universidades, não do governo).

A primeira solução de fato resolve o problema em todos os níveis, já a segunda resolve um único problema (a proporção desigual das matrículas nas universidades) e cria muito outros, como por exemplo como lidar com os alunos que não tiveram o mesmo ensino básico. Um problema maior ainda é quando as cotas são para negros, e não apenas para alunos de escola pública, porque vai na contra-mão da premissa de que brancos e negros são iguais.

Aliás, alguém me explica uma coisa que nunca me explicaram direito. A constituição diz que todos serão tratados igualmente independente da cor da pele. Pode uma medida de cotas passar por cima da constituição?

Offline gilberto

  • Nível 27
  • *
  • Mensagens: 1.376
Re: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas
« Resposta #161 Online: 29 de Maio de 2009, 03:01:59 »
Já te explicaram 500 vezes e aqui vai mais uma tentativa. A universidade seleciona pelo mérito acadêmico. Se há mais alunos de escola particular do que de escola pública de forma desproporcional, isso quer dizer que a escola particular dá uma educação de base muito melhor que a escola pública.

tb já lhes expliquei umas 500 vezes e aqui vai mais uma tentativa. A reinvindicação de cotas é justamente um questionamento desse método de seleção somente por mérito, uma vez que a fonte de financiamento é pública ... é uma reinvindicação de adotar uma seleção por mérito e por melhor proporcionalidade social ... sim a escola particular dá uma base muito melhor que a escola pública ... e eu acho que a universidade pública sabendo disso tem que gastar parte da sua gorda verba em educação superior para trabalhar para resolver esse problema tb ... não só ficar na boa como ela está atualmente

Foram propostas até agora duas soluções pra esse problema. Uma é fazer a escola pública dar uma educação de qualidade como a escola particular faz, mas essa solução é cara (mas pagamos impostos pra isso), demorada (pelo menos 10 anos, ou seja, não vai dar voto pra nenhum político que aprove essa medida) e difícil.

A outra é facilitar a entrada dos alunos de escola pública reservando vagas pra eles, o que é barato (tem alguns custos adicionais no processo seletivo mas nada comparado à outra solução), imediata (dá votos pro político que aprovar já na próxima eleição) e simples (problema das universidades, não do governo).

Realmente o ideal seria a melhoria do ensino básico para que propostas como cotas não fossem sequer cogitadas, mas como isso ninguém tá fazendo na prática (fora as excessões das excessões), o pessoal que se sente excluído pode e acho que deve sim reinvindicar o retorno de seus impostos em todos serviços públicos, e a cotas é um reinvindicação desse tipo ... to com eles, e acho que pode ser mais produtiva e trazer melhores resultados do que o quadro negro que vcs acreditam que as cotas possam implementar ... eu acho que as pessoas que tem as suas propostas e querem trabalhar para implementá-las merecem respeito e crédito ... não antecipadamente as pessoas acharem que todos são demagogos, querem vida fácil, etc e etc como muitos de vcs dizem aqui ...

A primeira solução de fato resolve o problema em todos os níveis, já a segunda resolve um único problema (a proporção desigual das matrículas nas universidades) e cria muito outros, como por exemplo como lidar com os alunos que não tiveram o mesmo ensino básico. Um problema maior ainda é quando as cotas são para negros, e não apenas para alunos de escola pública, porque vai na contra-mão da premissa de que brancos e negros são iguais.

A primeira solução como vc disse parece longe, e a segunda é plausível e executável ... pelo menos é uma solução ... e eu vejo que a segunda solução pode ser uma pressão sobre as instituições para trabalharem e investirem na primeira solução que é a ideal ...

As cotas que defendo são as cotas sociais, não cotas raciais ... não vejo diferença entre o pobre e iletrado branco ou negro ... mas se tiver alguma injustiça com origem racial, tb concordo que sejam atacadas com cotas ou outras medidas de pressão ... os EUA fizeram isso e até onde eu sei foi muito benéfico para os negros e para a sociedade em geral ...

Aliás, alguém me explica uma coisa que nunca me explicaram direito. A constituição diz que todos serão tratados igualmente independente da cor da pele. Pode uma medida de cotas passar por cima da constituição?

Bom, a reinvindicação de cotas sociais para serviços públicos elitizados é para exatamente fazer cumprir esse artigo da constituição. O que reinvindicações como cotas querem é que todos os setores da sociedade tenham a representatividade proporcional correta, que eu saiba ninguém está pedindo cotas para ter uma porcentagem maior para o seu grupo do que a porcentagem de indivíduos do grupo. É o que eu sempre perguntei aqui ... de onde vcs tiraram a idéia de que os cotistas querem um acesso privilegiado, se eles só pedem um acesso igual onde o acesso é desigual?

Offline Pellicer

  • Nível 21
  • *
  • Mensagens: 703
  • Sexo: Masculino
Re: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas
« Resposta #162 Online: 29 de Maio de 2009, 03:33:47 »
As cotas que defendo são as cotas sociais, não cotas raciais ... não vejo diferença entre o pobre e iletrado branco ou negro ... mas se tiver alguma injustiça com origem racial, tb concordo que sejam atacadas com cotas ou outras medidas de pressão ... os EUA fizeram isso e até onde eu sei foi muito benéfico para os negros e para a sociedade em geral ...

[Citation needed]

E mais um detalhe. A desproporcionalidade nas matrículas das universidades é consequência do desnível do ensino fundamental. Esse desnível vai continuar aparecendo mesmo forçando a entrada de cotista nas universidades. Acredito que vai acontecer que nem com a licenciatura em física na USP.

Antigamente a licenciatura e bacharelado eram o mesmo curso, com as mesmas turmas, e no final do curso você escolhia a sua especialização, dependendo do que queria, ensinar em escola, pesquisar ou aplicar. Só que física tem de longe o maior índice de desistência da USP, e isso traz problemas pro instituto. Então o que decidiram fazer? Pensaram o seguinte: Pra ensinar física, não precisa saber tanta física quanto pra pesquisar. Separaram as turmas de licenciatura e bacharelado e baixaram o nível do curso de licenciatura pro pessoal não desistir. De fato a desistência média do instituto caiu e isso foi considerado um sucesso.

Offline gilberto

  • Nível 27
  • *
  • Mensagens: 1.376
Re: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas
« Resposta #163 Online: 29 de Maio de 2009, 03:52:56 »
E mais um detalhe. A desproporcionalidade nas matrículas das universidades é consequência do desnível do ensino fundamental. Esse desnível vai continuar aparecendo mesmo forçando a entrada de cotista nas universidades. Acredito que vai acontecer que nem com a licenciatura em física na USP.

Sim, não acho que um sistema de cotas ia resolver tudo em um passe de mágica, muito trabalho vai ter que ser feito para se melhorar a situação geral da educação desde o nível fundamental até o superior ... eu sou favorável a uma pressão por um sistema de cotas gradual com metas tanto para a universidade pública atigir gradualmente, como para as escolas públicas regulares atingirem gradualmente ... pois pela atual lentidão da universidade pública e das escolas públicas, se não tiver pressão externa da sociedade para que elas trabalhem, elas vão continuar no marasmo que sempre estiveram ...

Antigamente a licenciatura e bacharelado eram o mesmo curso, com as mesmas turmas, e no final do curso você escolhia a sua especialização, dependendo do que queria, ensinar em escola, pesquisar ou aplicar. Só que física tem de longe o maior índice de desistência da USP, e isso traz problemas pro instituto. Então o que decidiram fazer? Pensaram o seguinte: Pra ensinar física, não precisa saber tanta física quanto pra pesquisar. Separaram as turmas de licenciatura e bacharelado e baixaram o nível do curso de licenciatura pro pessoal não desistir. De fato a desistência média do instituto caiu e isso foi considerado um sucesso.

Eu tb fiz Física na USP, fiz toda a minha escola regular em colégio público e passei no vestibular em segundo lugar (o que em Física não é nada difícil), e sei que lá a maioria dos professores não dão tanto valor às aulas como a maioria dos alunos desejassem ... conheço bem a universidade pública de perto e sei de muitos de seus problemas e suas qualidades, e para mim está mais que na hora da universidade pública responder pela verba que ela recebe ... Eu vi o curso de física começar essa divisão, acho que a minha foi a última turma onde a licenciatura e o bacharelado assistia aulas junto até o fim, eu tb vi que foram criadas disciplinas especiais para os alunos que mesmo sem sistema de cotas não aguentava a pancada que é o curso de física, lá a existencia de alunos de primeiro e segundo escalão é uma realidade até devido a natureza do curso, mas fico contente que vc me diz que lá já tem medidas tomadas para se adaptar o curso tb aos alunos de segundo escalão ... Eu lembro muito bem o argumento oficial da época ... se continuarmos com 70% de desistencia (aproximadamente isso), a verba para o institudo de física vai diminuir proporcionalmente .. uma pressão dessa para a universidade como um todo talvez possa forçar para soluçoes análogas ...
« Última modificação: 29 de Maio de 2009, 04:47:52 por gilberto »

Offline Eleitor de Mário Oliveira

  • Nível 37
  • *
  • Mensagens: 3.502
  • Sexo: Masculino
    • Lattes
Re: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas
« Resposta #164 Online: 29 de Maio de 2009, 07:18:21 »
Para mim, quem quizer fazer uma universidade que atenda a ideais privados, que o faça com os recursos privados ... essas pessoas não tem capacidade para isso? Então pq eu teria de financiá-los com a minha parcela de impostos que eu pago e não concordo com isso?

Façamos assim: Você deixa de pagar impostos, mas então não é atendido por nenhum médico formado em universidade pública, não entra em nenhum prédio e não passa por nenhuma ponte construídos por engenheiros formados em universidade pública...

Façamos assim então. Ja que vc está incomodado com os meus argumentos, quando vc tiver um escreva aqui para ver se serve para alguma coisa ...

Qual o problema? Estou mostrando qual é a verdadeira função social da universidade pública: suprir a demanda de profissionais com ensino superior. Isto é o que justifica ela ser sustentada com nossos impostos.

Offline Nina

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 5.805
  • Sexo: Feminino
    • Biociência.org
Re: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas
« Resposta #165 Online: 29 de Maio de 2009, 09:54:35 »
Cotista vai entrar, mas sair na mesma proporção? Duvido.

Eu, como professora, jamais favoreceria um aluno em detrimento de outro. Meu curso será o mesmo para todos, as provas serão as mesmas para todos. Quem passar ótimo, quem não passar, tenta de novo. Afinal, eu estarei lá por uns 30 anos mesmo...

Mas o que eu não vou fazer é dar aula de biologia de ensino médio. Não foi pra isso que passei 10 anos em formação acadêmica, não é para isso que serei paga. Eu tive e tenho minhas deficiências e busquei e busco resolvê-las. Não ponho a culpa em ninguém e não onero ninguém por isso.

Qualquer um pode ter a mesma postura.
"A ciência é mais que um corpo de conhecimento, é uma forma de pensar, uma forma cética de interrogar o universo, com pleno conhecimento da falibilidade humana. Se não estamos aptos a fazer perguntas céticas para interrogar aqueles que nos afirmam que algo é verdade, e sermos céticos com aqueles que são autoridade, então estamos à mercê do próximo charlatão político ou religioso que aparecer." Carl Sagan.

Offline HFC

  • Nível 30
  • *
  • Mensagens: 1.619
  • Sexo: Masculino
Re: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas
« Resposta #166 Online: 29 de Maio de 2009, 11:03:49 »
Tive uma conversa interessante ontem com um professor visitante moçambicano sobre as cotas, e como soluções muito mais inteligentes foram aplicadas na  República Sul-Africana.

Minha rejeição ao sistema importado aumentou de forma considerável.
Mars ain't the kind of place
To raise your kids
In fact, it's cold as hell

Offline Fabi

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 6.801
  • Sexo: Feminino
  • que foi?
Re: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas
« Resposta #167 Online: 29 de Maio de 2009, 11:40:53 »
A reinvindicação de cotas é justamente um questionamento desse método de seleção somente por mérito, uma vez que a fonte de financiamento é pública ... é uma reinvindicação de adotar uma seleção por mérito e por melhor proporcionalidade social ... sim a escola particular dá uma base muito melhor que a escola pública ... e eu acho que a universidade pública sabendo disso tem que gastar parte da sua gorda verba em educação superior para trabalhar para resolver esse problema tb ... não só ficar na boa como ela está atualmente
A universidade pública não tem como resolver esse problema.

A primeira solução de fato resolve o problema em todos os níveis, já a segunda resolve um único problema (a proporção desigual das matrículas nas universidades) e cria muito outros, como por exemplo como lidar com os alunos que não tiveram o mesmo ensino básico. Um problema maior ainda é quando as cotas são para negros, e não apenas para alunos de escola pública, porque vai na contra-mão da premissa de que brancos e negros são iguais.

A primeira solução como vc disse parece longe, e a segunda é plausível e executável ... pelo menos é uma solução ... e eu vejo que a segunda solução pode ser uma pressão sobre as instituições para trabalharem e investirem na primeira solução que é a ideal ...
Não vejo como a universidade pode melhorar o ensino fundamental e médio. Ela não tem poder pra isso.
Difficulter reciduntur vitia quae nobiscum creverunt.

“Deus me dê a serenidadecapacidade para aceitar as coisas que não posso mudar, a coragem para mudar o que posso, e a sabedoria para saber a diferença” (Desconhecido)

Offline Fabi

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 6.801
  • Sexo: Feminino
  • que foi?
Re: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas
« Resposta #168 Online: 29 de Maio de 2009, 11:54:06 »
Eu tb fiz Física na USP, fiz toda a minha escola regular em colégio público e passei no vestibular em segundo lugar (o que em Física não é nada difícil), e sei que lá a maioria dos professores não dão tanto valor às aulas como a maioria dos alunos desejassem ... conheço bem a universidade pública de perto e sei de muitos de seus problemas e suas qualidades, e para mim está mais que na hora da universidade pública responder pela verba que ela recebe ... Eu vi o curso de física começar essa divisão, acho que a minha foi a última turma onde a licenciatura e o bacharelado assistia aulas junto até o fim, eu tb vi que foram criadas disciplinas especiais para os alunos que mesmo sem sistema de cotas não aguentava a pancada que é o curso de física, lá a existencia de alunos de primeiro e segundo escalão é uma realidade até devido a natureza do curso, mas fico contente que vc me diz que lá já tem medidas tomadas para se adaptar o curso tb aos alunos de segundo escalão ... Eu lembro muito bem o argumento oficial da época ... se continuarmos com 70% de desistencia (aproximadamente isso), a verba para o institudo de física vai diminuir proporcionalmente .. uma pressão dessa para a universidade como um todo talvez possa forçar para soluçoes análogas ...
Cair a qualidade de ensino é solução? :hein: Eu espero que alguém formado em física, ou que esteja cursando física, seja um fera em matemática . Que eu dê um exercício de física do ensino médio e ele resolva, e ainda me diga como, e acerte.
Difficulter reciduntur vitia quae nobiscum creverunt.

“Deus me dê a serenidadecapacidade para aceitar as coisas que não posso mudar, a coragem para mudar o que posso, e a sabedoria para saber a diferença” (Desconhecido)

Offline SnowRaptor

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 17.962
  • Sexo: Masculino
Re: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas
« Resposta #169 Online: 29 de Maio de 2009, 12:35:46 »
tb já lhes expliquei umas 500 vezes e aqui vai mais uma tentativa. A reinvindicação de cotas é justamente um questionamento desse método de seleção somente por mérito, uma vez que a fonte de financiamento é pública ... é uma reinvindicação de adotar uma seleção por mérito e por melhor proporcionalidade social ... sim a escola particular dá uma base muito melhor que a escola pública ... e eu acho que a universidade pública sabendo disso tem que gastar parte da sua gorda verba em educação superior para trabalhar para resolver esse problema tb ... não só ficar na boa como ela está atualmente

Okay, vão jogar pedras em mim agora, mas lá vai. Universidade não é para todos. Ponto. Administrador de empresa não precisa de universidade, precisa de curso técnico. Artista plástico não precisa de universidade, precisa de curso técnico (Historiador da arte é outra coisa). Operador de planilha de excel não precisa de universidade, precisa de curso técnico.

Por isso o sistema de admissão da universidade é meritocrático. Se você não pode ser engenheiro/médico/advogado/cientista/pesquisador, vai fazer outras coisas, que precisam "só" de curso técnico. Universidade não é assistência social. O problema é essa visão torta do brasileiro que "pra ser alguma coisa na vida precisa fazer universidade". Nem faculdade mais serve.

E pra resolver esse problema, só com educação de base. Reformar o ensino fundamental e o médio, ampliar a oferta de cursos técnicos de nível superior, não baixar o sarrafo da Universidade pra fazer um "papel social" que nem deveria existir. Universidade é um centro de geração de conhecimento e de formação de geradores de conhecimento. Se a pessoa não tem condições de se tornar um gerador de conhecimento, o trabalho pra ela é outro. Não por isso será menos digno.

Agora, se a questão é dar a todos as mesmas oportunidades para entrar na universidade, muita coisa tem que ser revista. Desde o próprio vestibular, porque tem muita gente que estuda nesses colégios-cursinho e passam no vestibular sem efetivamente aprender. pra isso temos que acabar com a mentalidade de estudar-pra-passar-na-prova-pra-passar-de-ano, de que o próprio Feynman reclamou quando ele esteve no brasil na década de 50. E adivinha como se resolve isso? Reformando a educação de base. Só que como o pellicer bem colocou, isso não dá voto porque só surte efeito daqui a 10, talvez 20 anos.

Mas baixar o nível dos alunos que entram na Unviersidade? Jamais. Isso vai destruir a Universidade.

Aí vem alguém e fala que a UNIP é Unviersidade e qualquer um que pagar entra. Aí eu pergunto qual a produção científica da UNIP. Pergunto qual é o fator de impacto médio dos periódicos em que a produção científica da UNIP é publicada. UNIP não é Universidade. É faculdade que usa uma brecha na definiçào legal de Unviersidade pra atrair as pessoas que acham que Faculdade é menos importante que Universidade e voltamos de novo à visão tyorta do brasileiro que precisa ser corrigida na educação de base...
Elton Carvalho

Antes de me apresentar sua teoria científica revolucionária, clique AQUI

“Na fase inicial do processo [...] o cientista trabalha através da
imaginação, assim como o artista. Somente depois, quando testes
críticos e experimentação entram em jogo, é que a ciência diverge da
arte.”

-- François Jacob, 1997

Offline Nina

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 5.805
  • Sexo: Feminino
    • Biociência.org
Re: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas
« Resposta #170 Online: 29 de Maio de 2009, 12:57:15 »
É difícil saber mesmo, quase só temos como achar... acho que eu talvez seja mais otimista quanto a maioria...

De qualquer forma, alguns pontos a considerar:

 - o que a gente costuma tomar conhecimento pela tv ou mídia não é necessariamente uma representação da vontade das pessoas de modo geral

 - penso que é muito provável que a maior parte das pessoas seja sim favorável a melhor educação, independentemente de serem contrários ou favoráveis a cotas, mas também a maior parte das pessoas simplesmente não é ativista, e logo não chama ativamente atenção da mídia por uma opinião mais ou menos trivial como essa, nem a mídia vai muito atrás de algo assim

 - populistas, manipuladores, esses sim, tendem a ser ativistas (não que todos ativistas sejam), vão tentar chamar atenção da mídia, e vão falar em nome de todo um grupo, como se fossem seus representantes escolhidos por unanimidade, quando na verdade agem por interesse próprio

Enfim, não estava de forma alguma defendendo os ativistas. Só acho que existem diferentes tipos de pessoas que podem dizer serem a favor de cotas e medidas parecidas, as pessoas comuns, que, talvez, acho que até provavelmente, estariam defendendo melhoria na educação básica em vez de cotas, se isso dependesse deles, se não estivessem só repetindo um "meme" lançado por ativistas/populistas com motivos escusos, que talvez em muitos casos nem pararam para analisar direito, ou, foram engabelados.

Talvez seja a realidade, mas a experiência que tenho é que o povo brasileiro sempre quer o caminho mais fácil. Essa é a cultura que se mantém... o velho "jeitinho brasileiro"... passar por cima de exigências, prazos e responsabilidades. E de preferência com o menor esforço possível.

Na graduação participei do projeto "Universidade Solidária". Na minha universidade faziam, além da versão nacional, a versão regional também. Participavam 13 municípios mais carentes da região oeste do Estado e dois bairros muito pobres em Cascavel. Minha equipe ficou a cargo do pior bairro... precisamos fazer um "senso" social do bairro para planejar a implantação de uma horta comunitária (projeto das C.Biológicas e Agrárias). Passamos em todas as casas do bairro veirificando o interesse da pessoas em participar do mutirão. Menos de 5% disse que tinha interesse em ajudar. Ouvi coisas do tipo "se vocês fizerem nós queremos, mas eu não vou fazer nada não!".

Não acho que a amostra seja tão pequena assim. Demoramos semanas pra fazer o senso... o bairro tinha umas 400 casas.



Eu realmente não sei dizer exatamente, talvez seja novamente só otimismo ou ingenuidade minha até. Não acho que a vasta maioria das pessoas sejam só uns festeiros arruaceiros que não querem saber de nada. Dos conhecidos meus, acho que a maioria pode até não ser extremos "Caxias", mas também não são totalmente displicentes, sem qualquer interesse, e não acho que sejam excepcionais. Não lembro especificamente de alguém falar sobre ter deixado de ter férias para estudar, mas festas, é praticamente implícito, mesmo simplesmente desde antes de faculdade já tinha gente que fazia isso, quando tinha relativa menor importância.

Eu não tive férias desde antes do terceiro ano. Era muito comum no meu colégio, que tinha uma filosofia voltada para aprovação no vestibular.

Agora, minha mãe dá aulas há muitos anos em um dos melhores colégios de Cascavel, da rede pública. Menos de 15% dos seus alunos se interessam em prestar vestibular, mesmo com a insistência dela. Ela volta a formação deles para que estejam preparados para o vestibular. Pede leitura de livros, trabalha diversas formas de redação... e os bons alunos, que são bons sempre e que nunca têm problemas de disciplina passam tranquilo. Uma aluna dela do segundo ano passou em Medicina. Prestou de novo no terceiro para poder cursar de verdade e ficou em 2o. lugar. Outra, fez C. Biológicas e defendeu o doutorado mês passado.

Há alunos excelentes na escola pública sim. Há pais e professores que não se importam em mostrar para eles o caminho do ensino superior. Mas também há os que tem a informação e não querem saber. Infelizmente, pelo menos na minha cidade natal, essa é a maioria.

E, no que se refere a cotas ou algo parecido, não acho que seriam (ou que deveriam ser, se as coisas fossem feitas de um modo ideal*) os festeiros/farristas os potenciais beneficiados, mas aqueles que se dedicam realmente. Aqui no fórum tivemos há algum tempo o relato pessoal do Donatello, por exemplo, acho que pode ser encaixado nesse contexto.

Nâo acho que as cotas não beneficiariam bons alunos. O que eu acho é que os bons alunos não precisam das cotas.

E instalar as cotas é uma forma de garantir que ninguém se preocupará com a reforma da educação.


* Acho que recentemente a maior parte das minhas mensagens deve ter o tema anti-cotas. Mas não acho uma idéia totalmente errada, em certos aspectos. O cerne da idéia, seria promover maior igualdade de oportunidades, o que por si só é bom. O principal problema que eu vejo, é a ineficiência quase que inerente a um sistema de cotas, como descrito principalmente pelo Sowell, conforme postei em diversas mensagens. Mas, também penso que isso poderia ser sanado, simplesmente se fosse constatado que um "excesso de qualificação" no vestibular não se correlaciona com um desempenho significativmanete melhor do que uma qualificação meramente suficiente.

Se isso é verdade, e talvez seja, então, acho que talvez fosse válido algo como um critério de pontuação diferente de acordo com a nível sócio-econômico. Penso que inclusive, isso talvez pudesse ter um efeito positivo quanto a eficiência do processo seletivo, uma vez que, pode-se assumir que de modo geral "tirar 10" exige menos esforço quanto mais alto for o nível sócio-econômico; assim, talvez o "8" possa valer mais que um "10" em dedicação, esforço, dependendo da situação de quem tirar essa nota. É bem possível que quem suou muito para conseguir estudar em bibliotecas públicas, nas madrugadas e em todo tempo vago para tirar esse 8 acabe sendo também mais dedicado na faculdade do que quem teve maior tranqüilidade para estudar num cursinho pré-vestibular, sem necessariamente ter tido que se preocupar proporcionalmente tanto com outros aspectos da sua vida (como contas a pagar, emprego, comida) durante esse período.

Certamente o fato de alguns jovens terem que amadurecer mais cedo implica em maior cobrança e estresse. Mas essa cobrança geralmente é uma auto-cobrança.

Não quero de forma alguma colocar qualquer tom de asco playboyofóbico aqui, não se trata disso, de algum tipo de aversão ou inveja. Simplesmente acho que realmente "a barra está mais baixa" para o salto de quem tem melhores condições financeiras, e que talvez não fosse errado levar isso em consideração. Outro aspecto ainda é que, a eventual perda da vaga vai ter um impacto mais significativo quanto menores forem os recursos do candidato; quanto mais tranqüila for a situação financeira, menos dramático é ter que fazer outra prova.

Depende muito do valor e dos recursos da família. Pessoas muito ricas podem fazer uma pressão meramente psicológica, no sentido da perda de um ano de salário (já que o cara vai se formar um ano depois do que poderia), etc. Agora, a grande maioria das pessoas que estudam em escola particular não são ricas. São pessoas que sacrificam outros setores para poderem estudar em escolas melhores. Para estas, um ano a mais de cursinho é muito pesado.

Não vejo nenhuma diferença neste sentido com relação aos que são mais pobres.

Talvez isso tivesse até uma espécie de duplo impacto positivo. Não só ampliasse o acesso à faculdade para as camadas sociais menos favorecidas, mas suficientemente capazes e preparadas, como elevaria a barra para os mais abastados e os fizesse ir atrás de um desempenho realmente excepcional, em vez de apenas "suficiente", o que por sua vez, seria também um método de seleção dos excepcionalmente esforçados, em vez de comparativamente acomodados.

Acho que talvez as "cotas" aqui tivessem que ser meio "anti-cotas", até. Ou seja, em vez de algo como se ter que preencher 20% das vagas com alunos do ensino público ou determinada renda familiar, se teria isso como um máximo para alunos, sob esses critérios, a ganharem esse "bônus" por "esforço pessoal" presumido.



Realmente não sei até que ponto se alcançaria este resultado...


Sim, meio que nem questiono isso, o que eu disse aí talvez tivesse já o "meu" sistema de cotas ideal em mente, ou algo mais ou menos otimista, que presumisse que os critérios de seleção fossem ser ainda altos o suficiente para beneficiar aqueles que não ficaram "bitolados" na matéria do vestibular por não terem como fazer cursinho particular, mas ao mesmo tempo não baixa o suficiente para entrarem sem qualquer esforço os que não estão nem aí com nada.

Essa perspectiva mais pessimista é a que tenho, nesse caso, mas não sei, com sorte pode não ser bem assim e ser algo mais próximo daquilo que imagino como sendo o ideal. Pelos números, como "60% das vagas", acho improvável, de qualquer forma.

Também acho.



Mas é muito difícil inferir isso... também não gosto, mas o vestibular acaba sendo a melhor opção de seleção.

Talvez... mas é uma coisa sobre a qual as pessoas acho que não pensam muito em alternativas... acho.... ouvi dizer que os métodos não-cotistas de avaliação americanos são melhores que o vestibular, mas nem sei como são, ou se seriam viáveis para o Brasil...[/quote]

O que conheço é de filmes...  :D

Sou completamente ignorante sobre esse assunto.


Por que menos significativa?

Pôxa Danniel, principalmente em Sampa tem tanta família que deixa de se vestir pra poder pagar uma escola melhorzinha sonhando que os filhos alcancem a USP... para estes, perder por um cotista, cuja família simplesmente não quis pagar por escola, deve ser triste demais...[/quote]

Sim, não disse que é simples e sem exceções, o melhor critério.... inclusive postei um tópico recente sobre os países em desenvolvimento terem cada vez mais alunos em escolas particulares, vindos de famílias pobres mesmo (impressão de deja vu aqui, acho que talvez tenha já comentado desse tópico com você numa questão semelhante...)

Talvez isso pudesse ser na maior parte do tempo sanado se o critério não fossea escola ser particular ou pública, mas sim a renda familiar. Talvez até um critério adicional pudesse levar em consideração quantos % da renda se gasta com educação? Não sei...[/quote]

Mas aí você continuaria punindo quem investe em educação. O ponto é que boa parte dos que usarão as cotas para entrar são aqueles que não precisam trabalhar, tem muito tempo livre, normalmente poderiam pagar por escolas privadas mas os pais preferem não gastar com isso: "o governo dá de graça, pra quê pagar?".

São pessoas que poderiam, mas não compram livros, não educam culturalmente seus filhos.

Citar
E pode parecer anedota, mas isso é muito comum... Do jeito que vocês falam até parece que na USP só tem rico... se tem, estavão em outro departamento... pq na biologia todo mundo tá sempre sem dinheiro...

Eu não acho isso não. Acho que esse tema tende a criar esse tipo de impressões polarizadas, de qualquer forma. De um lado os vagabundos aproveitadores, do outro os vagabundos aproveitadores com dinheiro... a realidade tem mais nuances.

Pode ser pessimismo meu, realmente. Mas eu estou decepcionada demais com o povo brasileiro pra acreditar que seria diferente.
"A ciência é mais que um corpo de conhecimento, é uma forma de pensar, uma forma cética de interrogar o universo, com pleno conhecimento da falibilidade humana. Se não estamos aptos a fazer perguntas céticas para interrogar aqueles que nos afirmam que algo é verdade, e sermos céticos com aqueles que são autoridade, então estamos à mercê do próximo charlatão político ou religioso que aparecer." Carl Sagan.

Offline HFC

  • Nível 30
  • *
  • Mensagens: 1.619
  • Sexo: Masculino
Re: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas
« Resposta #171 Online: 29 de Maio de 2009, 12:57:52 »
A universidade pública não tem como resolver esse problema.

Não é um problema dela. Esse é problema de planejamento e reestruturação do ensino público pré-universitário, médio e fundamental (se é que ainda assim chamam estas áreas). E é um problema tão "simples" de resolver  :susto:  :( ...

Não vejo como a universidade pode melhorar o ensino fundamental e médio. Ela não tem poder pra isso.
Vi um tempo em que se queria dar cálculo 0 dentro da universidade pública. Isso me parece ser uma grande bobagem, mas a universidade não pode  nem conviver com nem resolver tal deficiência. O problema começa bem antes ...
Mars ain't the kind of place
To raise your kids
In fact, it's cold as hell

Offline Nina

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 5.805
  • Sexo: Feminino
    • Biociência.org
Re: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas
« Resposta #172 Online: 29 de Maio de 2009, 13:00:47 »
tb já lhes expliquei umas 500 vezes e aqui vai mais uma tentativa. A reinvindicação de cotas é justamente um questionamento desse método de seleção somente por mérito, uma vez que a fonte de financiamento é pública ... é uma reinvindicação de adotar uma seleção por mérito e por melhor proporcionalidade social ... sim a escola particular dá uma base muito melhor que a escola pública ... e eu acho que a universidade pública sabendo disso tem que gastar parte da sua gorda verba em educação superior para trabalhar para resolver esse problema tb ... não só ficar na boa como ela está atualmente

Okay, vão jogar pedras em mim agora, mas lá vai. Universidade não é para todos. Ponto. Administrador de empresa não precisa de universidade, precisa de curso técnico. Artista plástico não precisa de universidade, precisa de curso técnico (Historiador da arte é outra coisa). Operador de planilha de excel não precisa de universidade, precisa de curso técnico.

Por isso o sistema de admissão da universidade é meritocrático. Se você não pode ser engenheiro/médico/advogado/cientista/pesquisador, vai fazer outras coisas, que precisam "só" de curso técnico. Universidade não é assistência social. O problema é essa visão torta do brasileiro que "pra ser alguma coisa na vida precisa fazer universidade". Nem faculdade mais serve.

E pra resolver esse problema, só com educação de base. Reformar o ensino fundamental e o médio, ampliar a oferta de cursos técnicos de nível superior, não baixar o sarrafo da Universidade pra fazer um "papel social" que nem deveria existir. Universidade é um centro de geração de conhecimento e de formação de geradores de conhecimento. Se a pessoa não tem condições de se tornar um gerador de conhecimento, o trabalho pra ela é outro. Não por isso será menos digno.

Agora, se a questão é dar a todos as mesmas oportunidades para entrar na universidade, muita coisa tem que ser revista. Desde o próprio vestibular, porque tem muita gente que estuda nesses colégios-cursinho e passam no vestibular sem efetivamente aprender. pra isso temos que acabar com a mentalidade de estudar-pra-passar-na-prova-pra-passar-de-ano, de que o próprio Feynman reclamou quando ele esteve no brasil na década de 50. E adivinha como se resolve isso? Reformando a educação de base. Só que como o pellicer bem colocou, isso não dá voto porque só surte efeito daqui a 10, talvez 20 anos.

Mas baixar o nível dos alunos que entram na Unviersidade? Jamais. Isso vai destruir a Universidade.

Aí vem alguém e fala que a UNIP é Unviersidade e qualquer um que pagar entra. Aí eu pergunto qual a produção científica da UNIP. Pergunto qual é o fator de impacto médio dos periódicos em que a produção científica da UNIP é publicada. UNIP não é Universidade. É faculdade que usa uma brecha na definiçào legal de Unviersidade pra atrair as pessoas que acham que Faculdade é menos importante que Universidade e voltamos de novo à visão tyorta do brasileiro que precisa ser corrigida na educação de base...

Podem atirar pedras em mim também. Concordo com tudo.
"A ciência é mais que um corpo de conhecimento, é uma forma de pensar, uma forma cética de interrogar o universo, com pleno conhecimento da falibilidade humana. Se não estamos aptos a fazer perguntas céticas para interrogar aqueles que nos afirmam que algo é verdade, e sermos céticos com aqueles que são autoridade, então estamos à mercê do próximo charlatão político ou religioso que aparecer." Carl Sagan.

Offline Fabi

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 6.801
  • Sexo: Feminino
  • que foi?
Re: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas
« Resposta #173 Online: 29 de Maio de 2009, 13:12:23 »
Aí vem alguém e fala que a UNIP é Unviersidade e qualquer um que pagar entra. Aí eu pergunto qual a produção científica da UNIP. Pergunto qual é o fator de impacto médio dos periódicos em que a produção científica da UNIP é publicada.
Produção científica? O que é isso? É de comer?




...

 :hihi: To zoando. É que na verdade as pessoas não sabem pra que serve a produção cientifica, ou qual a utilidade prática. E já que não sabem então descartam, acham que não serve pra nada.

Mas um dia, se essa pessoa vir a ter um câncer e precisar fazer quimioterapia, e a quimioterapia já tiver evoluído a ponto de só agir em células cancerígenas, e essa pessoa for curada sem aquele sofrimento que o tratamento do câncer tráz. Essa pessoa não vai saber que na verdade a quimioterapia evoluiu porque teve cientistas trabalhando na nanotecnologia dentro das universidades, e que só foi possível porque tem pessoas que realmente sabem do assunto, questionando, achando problemas, fazendo testes, até que foi possível a nanotecnologia ser usada em medicamentos de quimioterapia.

Ou quando alguém tem alguma doença genética, como a esclerose múltipla por exemplo, e os cientistas conseguirem entender totalmente como essa doença funciona, e conseguir desenvolver medicamentos que impeçam a evolução dessa doença, ou que causem a remissão. E que só é possível se tiver pessoas brilhantes trabalhando nisso. E isso trás muitos benefícios, mais do que cotas já que com cotas pessoas menos qualificadas entram nas universidades, e pessoas menos qualificadas não fazem essas descobertas e esses avanços cientificos que beneficiam muitas pessoas doentes que muitas vezes não tem esperança de cura, ou de melhora.

E essas descobertas são mais importantes. Doenças não olham bolso e classe social.
Difficulter reciduntur vitia quae nobiscum creverunt.

“Deus me dê a serenidadecapacidade para aceitar as coisas que não posso mudar, a coragem para mudar o que posso, e a sabedoria para saber a diferença” (Desconhecido)

Offline SnowRaptor

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 17.962
  • Sexo: Masculino
Re: Cotas para universidade podem chegar a 60% das vagas
« Resposta #174 Online: 29 de Maio de 2009, 13:13:59 »
Cuidado com o declive escorregadio, Fabi, mas a idéia é por aí mesmo...
Elton Carvalho

Antes de me apresentar sua teoria científica revolucionária, clique AQUI

“Na fase inicial do processo [...] o cientista trabalha através da
imaginação, assim como o artista. Somente depois, quando testes
críticos e experimentação entram em jogo, é que a ciência diverge da
arte.”

-- François Jacob, 1997

 

Do NOT follow this link or you will be banned from the site!