Então porque não pedem que melhore a escola pública?
Muitas vezes ignorância -- acho que talvez a maioria das pessoas, ao ouvir ser sugerida a idéia de cotas, não vê seus problemas imediatamente, tem que parar para pensar um pouco nos possíveis problemas, em vez de apenas no que se esperaria de bom. Mas não é possível descartar também oportunismo. O que também não acho exatamente condenável, não sei. Acho muito honrado quem escolhe tentar uma vaga por fora das cotas, mesmo que pudesse se aproveitar delas, mas acho compreensível que a pessoa aproveite essa oportunidade para melhorar suas chances.
Danniel, eu acho que a marioria absoluta (dos que querem estudar... pq a grande maioria não quer estudar de forma alguma, nem na escola, nem na faculadade - pra esses, a particular tá ótima...), vê as cotas como "um jeitinho brasileiro" avalizado.
Eu acho condenável sim prefereir uma medida paleativa a brigar pela melhoria do ensino. E é isso que todos tem feito. Não se vê movimentos "pró-escola de qualidade".
É difícil saber mesmo, quase só temos como achar... acho que eu talvez seja mais otimista quanto a maioria...
De qualquer forma, alguns pontos a considerar:
- o que a gente costuma tomar conhecimento pela tv ou mídia não é necessariamente uma representação da vontade das pessoas de modo geral
- penso que é muito provável que a maior parte das pessoas seja sim favorável a melhor educação, independentemente de serem contrários ou favoráveis a cotas, mas também a maior parte das pessoas simplesmente não é ativista, e logo não chama ativamente atenção da mídia por uma opinião mais ou menos trivial como essa, nem a mídia vai muito atrás de algo assim
- populistas, manipuladores, esses sim, tendem a ser ativistas (não que todos ativistas sejam), vão tentar chamar atenção da mídia, e vão falar em nome de todo um grupo, como se fossem seus representantes escolhidos por unanimidade, quando na verdade agem por interesse próprio
Enfim, não estava de forma alguma defendendo os ativistas. Só acho que existem diferentes tipos de pessoas que podem dizer serem a favor de cotas e medidas parecidas, as pessoas comuns, que, talvez, acho que até provavelmente, estariam defendendo melhoria na educação básica em vez de cotas, se isso dependesse deles, se não estivessem só repetindo um "meme" lançado por ativistas/populistas com motivos escusos, que talvez em muitos casos nem pararam para analisar direito, ou, foram engabelados.
E do jeito que você fala, dá a entender que aluno de escola pública não consegue entrar em faculdade pública, o que é mentira. Se estudar consegue.
Agora, quantos deixam de fazer festa pra estudar? Quantos deixam de ter férias pra estudar?
Provavelmente uma boa parte deles, mas nem acho que sejam esses que estariam sendo beneficiados.
Sério? Não vi isso nos quase 25 anos de docência da minha mãe não...
Eu realmente não sei dizer exatamente, talvez seja novamente só otimismo ou ingenuidade minha até. Não acho que a vasta maioria das pessoas sejam só uns festeiros arruaceiros que não querem saber de nada. Dos conhecidos meus, acho que a maioria pode até não ser extremos "Caxias", mas também não são totalmente displicentes, sem qualquer interesse, e não acho que sejam excepcionais. Não lembro especificamente de alguém falar sobre ter deixado de ter férias para estudar, mas festas, é praticamente implícito, mesmo simplesmente desde antes de faculdade já tinha gente que fazia isso, quando tinha relativa menor importância.
E, no que se refere a cotas ou algo parecido, não acho que seriam (ou que deveriam ser, se as coisas fossem feitas de um modo ideal*) os festeiros/farristas os potenciais beneficiados, mas aqueles que se dedicam realmente. Aqui no fórum tivemos há algum tempo o
relato pessoal do Donatello, por exemplo, acho que pode ser encaixado nesse contexto.
* Acho que recentemente a maior parte das minhas mensagens deve ter o tema anti-cotas. Mas não acho uma idéia totalmente errada, em certos aspectos. O cerne da idéia, seria promover maior igualdade de oportunidades, o que por si só é bom. O principal problema que eu vejo, é a ineficiência quase que inerente a um sistema de cotas, como descrito principalmente pelo Sowell, conforme postei em diversas mensagens. Mas, também penso que isso poderia ser sanado, simplesmente se fosse constatado que um "excesso de qualificação" no vestibular não se correlaciona com um desempenho significativmanete melhor do que uma qualificação meramente suficiente.
Se isso é verdade, e talvez seja, então, acho que talvez fosse válido algo como um critério de pontuação diferente de acordo com a nível sócio-econômico. Penso que inclusive, isso talvez pudesse ter um efeito
positivo quanto a eficiência do processo seletivo, uma vez que, pode-se assumir que de modo geral "tirar 10" exige menos esforço quanto mais alto for o nível sócio-econômico; assim, talvez o "8" possa valer mais que um "10" em dedicação, esforço, dependendo da situação de quem tirar essa nota. É bem possível que quem suou muito para conseguir estudar em bibliotecas públicas, nas madrugadas e em todo tempo vago para tirar esse 8 acabe sendo também mais dedicado na faculdade do que quem teve maior tranqüilidade para estudar num cursinho pré-vestibular, sem necessariamente ter tido que se preocupar proporcionalmente tanto com outros aspectos da sua vida (como contas a pagar, emprego, comida) durante esse período.
Não quero de forma alguma colocar qualquer tom de asco playboyofóbico aqui, não se trata disso, de algum tipo de aversão ou inveja. Simplesmente acho que realmente "a barra está mais baixa" para o salto de quem tem melhores condições financeiras, e que talvez não fosse errado levar isso em consideração. Outro aspecto ainda é que, a eventual perda da vaga vai ter um impacto mais significativo quanto menores forem os recursos do candidato; quanto mais tranqüila for a situação financeira, menos dramático é ter que fazer outra prova.
Talvez isso tivesse até uma espécie de duplo impacto positivo. Não só ampliasse o acesso à faculdade para as camadas sociais menos favorecidas, mas suficientemente capazes e preparadas, como elevaria a barra para os mais abastados e os fizesse ir atrás de um desempenho realmente excepcional, em vez de apenas "suficiente", o que por sua vez, seria também um método de seleção dos excepcionalmente esforçados, em vez de comparativamente acomodados.
Acho que talvez as "cotas" aqui tivessem que ser meio "anti-cotas", até. Ou seja, em vez de algo como se ter que preencher 20% das vagas com alunos do ensino público ou determinada renda familiar, se teria isso como um
máximo para alunos, sob esses critérios, a ganharem esse "bônus" por "esforço pessoal" presumido.
Acho que esses que não querem saber de nada não passariam nem mesmo com cotas. Esse é o único ponto que me faz ficar quase pendente a favor das cotas, que seriam aqueles esforçados, mas cuja situação social/pessoal não permite se prepararem tanto quanto alguém que tivesse a vida financeira mais tranqüila, apesar de toda dedicação.
Danniel, os grandes favorecidos pelas cotas não são aqueles que trabalham durante o dia e estudam à noite. Serão sempre os que os pais não pagam mensalidade, alguns mesmo podendo, pelo simples fato de ter de graça. São os que poderão estudar um pouco mais se quiserem, pois tem tempo ocioso. Agora o ponto é... existem muitos, mas muitos alunos que estão em escola pública e cujos pais optaram por não investir em educação, mas gastar com outras coisas. Esses, cujos pais e eles próprios não se esforçam para ter uma educação melhor, é que serão os privilegiados. Ou seja, quem não valoriza a educação é que ganhará vaga na pública.
Pela minha experiência, os que se dedicam realmente, independente da origem, conseguem.
Sim, meio que nem questiono isso, o que eu disse aí talvez tivesse já o "meu" sistema de cotas ideal em mente, ou algo mais ou menos otimista, que presumisse que os critérios de seleção fossem ser ainda altos o suficiente para beneficiar aqueles que não ficaram "bitolados" na matéria do vestibular por não terem como fazer cursinho particular, mas ao mesmo tempo não baixa o suficiente para entrarem sem qualquer esforço os que não estão nem aí com nada.
Essa perspectiva mais pessimista é a que tenho, nesse caso, mas não sei, com sorte pode não ser bem assim e ser algo mais próximo daquilo que imagino como sendo o ideal. Pelos números, como "60% das vagas", acho improvável, de qualquer forma.
Principalmente considerando que sou até um tanto cético quanto aos vestibulares como avaliação de preparo -- mas não acho de maneira alguma que não devesse haver qualquer avaliação. Idealmente deveria ser algo que se correlaciona bem com o desempenho lá dentro.
Mas é muito difícil inferir isso... também não gosto, mas o vestibular acaba sendo a melhor opção de seleção.
Talvez... mas é uma coisa sobre a qual as pessoas acho que não pensam muito em alternativas... acho.... ouvi dizer que os métodos não-cotistas de avaliação americanos são melhores que o vestibular, mas nem sei como são, ou se seriam viáveis para o Brasil...
Falam como se aluno de particular não precisa estudar, que está automaticamente dentro da USP...
Não é bem assim, acho que é mais no sentido de que, deve ser, de modo geral, mais fácil, ao mesmo tempo em que perder a vaga seria uma perda comparativamente muito menos significativa.
Por que menos significativa?
Pôxa Danniel, principalmente em Sampa tem tanta família que deixa de se vestir pra poder pagar uma escola melhorzinha sonhando que os filhos alcancem a USP... para estes, perder por um cotista, cuja família simplesmente não quis pagar por escola, deve ser triste demais...
Sim, não disse que é simples e sem exceções, o melhor critério.... inclusive postei um tópico recente sobre os países em desenvolvimento terem cada vez mais alunos em escolas particulares, vindos de famílias pobres mesmo (impressão de deja vu aqui, acho que talvez tenha já comentado desse tópico com você numa questão semelhante...)
Talvez isso pudesse ser na maior parte do tempo sanado se o critério não fossea escola ser particular ou pública, mas sim a renda familiar. Talvez até um critério adicional pudesse levar em consideração quantos % da renda se gasta com educação? Não sei...
E pode parecer anedota, mas isso é muito comum... Do jeito que vocês falam até parece que na USP só tem rico... se tem, estavão em outro departamento... pq na biologia todo mundo tá sempre sem dinheiro...
Eu não acho isso não. Acho que esse tema tende a criar esse tipo de impressões polarizadas, de qualquer forma. De um lado os vagabundos aproveitadores, do outro os vagabundos aproveitadores com dinheiro... a realidade tem mais nuances.