Toda vez que ouço (ou, no caso leio) essa história de que "nunca existiu um comunismo verdadeiro" penso no argumento religioso "se fez algo errado, então não era um cristão verdadeiro".
É a velha falácia do falso escocês (Todo escocês adora açúcar. João nasceu na Escócia, mas odeia açúcar. Logo, João não é um escocês de verdade). Já vi esquerdista dizer que a visão de Marx é hoje obsoleta, e que o comunismo/socialismo evoluiu bastante nas últimas décadas (pelo menos em teoria), ou seja, para algumas pessoas até o próprio Marx já não é mais um comunista.
Não sou olavete, mas concordo com o OdC quando compara o marxismo à religião em sentido amplo (é claro que ele não vai comparar com o cristianismo). Quem erram são sempre os homens, que por algum motivo não entenderam ou distorceram a mensagem original, a doutrina é sempre perfeita e deve continuar sendo cultuada e lida até se compreender de forma "correta". Particularmente, digo que o marxismo tem até aspectos litúrgicos, pois quando tive aulas de sociologia jurídica, a professora era frígida ao falar dos demais autores, mas tinha orgasmos múltiplos ao explicar o pensamento de Karl Marx, sem nunca perder a chance de incitar o ódio aos latifundiários e ao agronegócio (bem parecido com cultos religiosos, onde se exalta uma divindade e declara-se guerra contra o inimigo dessa divindade).
Não é muito diferente de libertários, com também um livre-mercado "que nunca existiu", ao mesmo tempo em que isso não os impede sempre se vangloriar do que houver de bom em mercados que outros argumentariam ser permitidos por estados, ao mesmo tempo em que escapam sempre do que não der certo apontando a existência do estado como causa, uma vez que não há muitos exemplos de anarquia consolidada*. Mais os papos que colocam aqueles que consideram necessário o estado como "inimigos da liberdade", e etc. Também dizem que suas ideologias evoluíram e hoje o verdadeiro libertarianismo/economia austríaca não defende mais a renda mínima de Hayek e etc.
* Acho que o exemplo mais espantoso que já vi foram argumentações contra regulamentações ambientais, sendo justificadas por desastres ambientais na atividade de empresas, já que estas se mostraram ineficientes para impedir isso. É algo como argumentar, "ocorrem muitos crimes, então a lei e a polícia são ineficientes, vamos acabar com essas coisas", e não aumentar o contingente policial.