Acho que não podemos prosseguir...
Geo
ok.. sendo a mentira uma necessidade, você achá-la errada deve ser um resquício de um sentimento religioso. Para qualquer questão de cunho prático, a resposta seria "Eu minto", todos mentimos.
Não diria que ela é uma necessidade, e sim de que ela faz parte da natureza humana, de tal modo que ela acaba influenciando o comportamento individual e social.
Considerá-la errada pode ser o resultado de um resquício de sentimento religioso, de uma pressão da coletividade ou de um ideal. Sinceramente eu acho que estou mais próximo da terceira hipótese.
Veja, é necessária, pois não se vive sem ela. Não é simplesmente uma questão de retórica. Comece seu dia falando: Eu não vou mentir, e você fará papel de palhaço.
Sobre a terceira hipótese cabe uma boa observação: Ideal. Uma ideologia. Uma maneira de se interpretar a realidade através de um conjunto de valores e mecanismos pré-definidos, memes se quer, que não permite as pessoas pensarem por sí, apenas repetir o que ouvem.
Note que aqui não estou dizendo nada sobre trair ou não, estou falando da minha má e velha inimiga, que são essas ideologias que colocamos em nossa mente e saímos repetindo "é X porque é assim". A ideologia, como a religião, de uma certa maneira deixa as coisas inegociáveis e tira a efetividade da comunicação.
Se você têm um ideal e compara a atitude dos outros mediante a ele, a discussão será afetada.
Espero que aqui concordemos que mentir é normal e que não há sentido prático algum em buscar uma vida sem mentiras. Temos que escolhe-las, temos que lidar com elas, mas não associar "mentir é ruim" ou "quem mente é X"
Aí que entra o paradigma que havia falado: Esquecendo-se qualquer sentimento religioso (e utópico) mentir é algo tão esperado quanto necessário e os tipo de de mentiras aceitas variam de pessoa a pessoa. Certamente não serão aceitas as mesmas mentiras para todos os mentirosos, isto é, nós.
Até aqui há uma convergência entre os pensamentos da maioria dos foristas que debateram aqui nos últimos dias, ao menos.
Yeap. Mas reforça o que foi dito acima.
Se esquecermos mais uma vez um paradigma moral a priori, a frase "não contar toda a verdade no caso de você sair com outra pessoa" deveria ser analisada sob o mesmo aspecto lógico e argumentativo, sob o mesmo sistema de perdas e ganhos, do que qualquer outra afirmação, e não respondida com um "Oh é errado e pronto".
Sob o ponto de vista lógico eu tendo a concordar. Mas as emoções humanas, e seus desdobramentos, não são pautadas por aspectos lógicos e racionais, que permitam ignorar a formação a priori de cada indivíduo ao atribuir parâmetros para efeitos de comparação de benefício/custo, mas sim são produtos do caldo sócio-cultural que cada indivíduo (conjuge) esteve submetido.
Portanto a frase "Oh é errado e pronto" é aplicável para alguns e para outros não.
Mas não há outro ponto de vista válido para céticos fora a lógica, Geo.
Eu certamente concordo que os desdobramentos humanos não seguem uma sequência lógica, que nem sempre conseguimos fazer o que a lógica diz, mas ao menos julgar as situações de maneira isenta deveria ser possível para nós.
Isto é, ainda que eu saiba que eu posso ficar P da vida pela ocorrência de um evento, eu posso julgar que é justo/injusto que esse evento tenha ocorrido.
Para nós céticos, esse caldo cultural deve ser nosso primeiro alvo de questionamentos, nossos próprios memes são os mais gostosos de serem questionados.
Por exemplo, acredito que dei um argumento bom (radical mais bom) onde um homem procura outra mulher quando a sua não quer sexo, o cara quer, e ele gosta o suficiente da mulher para tomar a decisão de se divertir com outra, de uma maneira eventual nesse exemplo, e preservar o que têm de bom em sua vida em casal (não, as coisas não se resumem a sexo).
Aqui temos um exemplo interessante, pois o fato é que existe uma miríade de possibilidades de atitudes e relacionamentos conjugais.
Mas o que parece ser a questão central não é tanto o de admitir que todos nós já mentimos e provavelmente mentiremos, e sim o de saber como cada um avaliará o seu comportamento frente a uma possível rejeição do seu conjuge, caso este descubra que o seu par mentiu ou não forneceu a totalidade das informações.
Temos um bom exemplo não? Por algum motivo, esse exemplo chamou atenção para você como uma justificativa, simplesmente porque fez sentido para você. Fosse alguém com memes mais fortes, ele poderia ter dito "Ok, o relacionamento é sagrado, casou, casou" ou "separa-te puto, destrua teu lar, mas não minta!!!"
A questão é que você não concordou com meus argumentos anteriores não porque eles estivessem errados, mas sim porque a situação demonstrada não representava evidência/justificativa para você, pela sua maneira de ver a vida.
Se essa situação lhe faz sentido, aceite que várias outras situações fazem sentido para vários tipos de pessoas distintas, porque ... são distintas. Mas todos temos algumas coisas da vida que não queremos perder, que damos valor, e protegemos!! Ou escolhemos dar valor a um meme/dogma e seguí-lo fora de qualquer contexto.
Aqui é a escolha que temos que seguir. Questionar, ou julgar a priori.
Então, reforçando, não existe a possibilidade de se afirmar a priori que o cara que fez X é Y sem uma análise de contexto, ao menos que raciocinemos por dogmas.
Em princípio eu concordo. Mas, ainda assim, a maioria das pessoas dará valorações distintas para o ato de mentir, onde o ápice da escala estará ocupado pelas mentiras para ocultação de relacionamentos extra-conjugais. E acho que isto está impregnado na sociedade e nos indivíduos de tal modo, que a sua análise racional terá pouco ou nenhum efeito, a não ser como retórica.
Podemos prosseguir?
Sim!
Acho que foi respondido acima.
Podemos prosseguir?