Eu não estou preso a tradições.
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Mas, por que você me "pergunta"? Perguntas não vão lhe mostrar...
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Normalmente, pensa-se que é possível obter conhecimento fazendo-se perguntas e procurando por respostas. Talvez este seja o maior de todos enganos acientíficos.
Segue-se que a ciência prescinde de perguntas...
*A* ciência (evito, o máximo que posso, usar o artigo definido para não deixar fora de vista o caráter abstrato do conceito) não prescinde nem precisa de nada. Quem prescindiria de perguntas seria o cientista. Acho que deixei suficientemente claro o processo em que as perguntas é que mudam e a resposta se "mantém" (na realidade, ela, a resposta está "lá" sempre; a pergunta inicial é que não era nada) e não o contrário. Normalmente, quando alguém (que não pensa cientificamente) faz uma pergunta, a estabelece como algo estático, invariável, imutável de modo que alguma resposta deva, de alguma forma, adaptar-se a ela. Para realizar esse processo, é necessário degenerar a linguagem com que se formula tanto as perguntas quanto as respostas. Isso se chama filosofação. Sob essa perspectiva, a pergunta é fixa e a resposta, variável. Mas, no universo, aquilo que seria a resposta é que é fixo. O efeito disso é que, quando se faz ciência, não são respostas que devem "aparecer"; são perguntas que devem desaparecer.
No universo, não há perguntas. Perguntas são "produtos" unicamente mentais e, INAVARIAVELMENTE, deturpam a realidade.
Nietzsche já havia enxergado isso: "Contra o positivismo, que pára perante os fenômenos e diz:
‘Há apenas fatos’. eu digo: ‘Ao contrário, fatos é o que não há; há apenas interpretações’.”
Você fez uma grande confusão aqui. O que estou dizendo é o contrário disso. Fatos físicos são tudo o que há; interpretaçãos é que não existem mais que como puros efeitos ilusórios de (tentativa de) decodificação da realidade.
As perguntas sempre devem vir depois. Só então é possível fazer a "pergunta certa".
mas aí você se contradiz com as linhas acimas: as perguntas, entidades mentais, deturpam a realidade. E agora, num segundo momento, as perguntas já são bem vindas (?) Por que lançar mão daquilo que é uma distorção mental? (vixe, acabei de fazer uma pergunta...
e qual é o critério de delimitação entre as perguntas de origem mentais, as distorcidas, e a tal (sic) "pergunta certa"? (vixe, fiz outra pergunta...
Não me contradisse em nada, como já esclareci (espero que tenha conseguido agora) acima. Você é que inverteu ou entendeu invertidamente (espero que seja essa segunda possibilidade) o que eu disse.
Não existem critérios de delimitação. Não existem "perguntas de origem mental" (porque TODAS são; não há outra origem para perguntas). Como (espero) você deve ter observado, coloquei entre aspas a expressão "pergunta certa". Por que isso não existe também, de modo absoluto. Seria apenas o modo provisório de nos relacionarmos com uma dada resposta quando a temos.
Desse jeito, fazendo perguntas, não vou aprender o que seja ciência...
Nem por esse meio nem por nenhuma sequência lógica de procedimentos. Não existe definição mentalmente possível para a realidade.
Todo conhecimento científico não se adquire por outro caminho que não o que nos conduz à conclusão de que nossas perguntam deviam ter sido outras.
mas essa é a pergunta que não quer se calar: quais são as tais outras perguntas ("a pergunta certa") que leva à aquisição do conhecimento cientifico que não sejam de origem mentais?
Aqui vê-se claramente que você não percebeu nada do que eu disse. Não existe nenhuma "pergunta certa" que "leva à aquisição do conhecimento científico". A "pergunta certa" É o conhecimento científico. As perguntas desaparecem nele. Você quer um salto mágico para tal conhecimento, mas não existe, lamento. Por isso "perguntas não vão lhe mostrar..."
Não faça perguntas; olhe para a realidade porque, se você fizer perguntas, SEMPRE obterá respostas e, te garanto, isso não é nada profícuo.
a contemplação pacífica da natureza? mas por que castrar a mente, na busca do conhecimento?
"Contemplação pacífica da natureza" é para religiosos de alguns segmentos cujas mentes não são científicas. Esses indivíduos acreditam na transcendência de seus "espíritos". Estou falando de ciência aqui e estou supondo que você também está. Somos apenas máquinas que funcionam por regras naturais. Não podemos conseguir nada transcendente com essa nossa natureza. Não é que tenhamos que seguir as regras. Não temos essa escolha. Somos máquinas. Apenas funcionamos sob tais regras. Mas com as perguntas, queremos fugir delas, tanto quanto um budista quer fugir da realidade sem fazer pergunta alguma. Entende isso?
(...)
Um cientista formula perguntas, mas adapta elas às respostas e não o contrário. Mas, só cientistas conseguem fazer isso autonomamente e sem "riscos". Se você for capaz disso, será um cientista e saberá o que é ciência.
como é que é? os cientistas são a única classe de competentes que fazem a assepsia das boas perguntas? e de onde vieram as respostas se não das perguntas de origem mentais dos cientistas?
Espero que você já tenha podido perceber que não existem "boas perguntas". Cientistas são competentes em dispensar perguntas facilmente diante de fatos. Essa competência é o que os torna cientistas.
Observe bem a sua última pergunta. Você afirmou (peticionou o princípio) que respostas são criadas pelas perguntas, não encontradas por elas. Concluo que ainda está distante de entender que nem mesmo encontrar respostas é possível às perguntas.
Você é solipsista?
E saberá, sobretudo, que não se pode fazer essa pergunta e esperar uma resposta quando já se espera uma resposta.
Sem dúvida, isso não é fácil mesmo. Só para cientistas. Torne-se um prove-me que estou errado em pensar que só existem cientistas natos. Por favor!