Não estou dizendo que a teoria do menino só pode ser aceita provando que a tal "força" não existe, estou dizendo que para se ter certeza da sua hipótese seria necessária a experimentação.
Vejo que a questão ainda não foi esclarecida. Efetivamente, o menino não formulou "hipótese" alguma, apenas descreveu, *mais pormenorizadamente*, um fenômeno já observado, sem introduzir, no mesmo, nada mais; nenhuma hipótese extra; nenhuma "possibilidade" extra; nenhuma coisa que pudesse ter origem em sua própria mente. Só o fenômeno da queda existia e tudo o que o menino fez foi olhar para ele de perspectivas diferentes. Se uma tal "força (extra)", como você sugeriu, pudesse surgir da "união" de corpos (ou desaparecer na "separação" deles), não compete ao observador, a priori, introduzí-la no fenômeno (ainda que parcialmente observado e, de fato, todos os fenômenos sempre são observados, apenas, parcialmente). Em ciência, deve-se entender que há antipodal diferença entre "certeza" e ausência de necessidade comprobatória (o menino tinha total certeza de sua conclusão mas queria experimentar para confirmar o resultado, ou melhor, *para ver acontecer*). Um pensador científico *nunca* tem dúvida sobre uma conclusão óbvia, o que não o leva a dispensar a confirmação (desdobramento automático do método científico) da mesma. Ele *nunca* faz suposições que introduzam "possíveis propriedades extras" (estas, quando o *pensador mágico* o faz, vêm sempre de sua própria mente e não se encontram no fenômeno, a não ser, por uma improvável coincidência). Apenas trabalha com o que tem e é plenamente cônscio de que *nunca* "tem tudo" (tudo o que é necessário para descrever um fenômeno completamente). Se ele tiver que descobrir que sua observação é insuficiente para uma "descrição acertada" (e, consequentemente, "teorização acertada"), isto só ocorrerá *após* a experiência comprobatória. Até lá, o cientista (observador) mantém a *certeza* na obviedade de sua conclusão. Mas algo interessante acontece aí. Como "*a natureza* não joga dados" (como disse, com razão, Einstein), a descrição (e a teoria originada dela) do pensador científico (diferentemente da do pensador mágico) é, "por coincidência",... sempre aquilo que foi observado (em outras palavras, está sempre certa), nada mais. Nada pode ser melhor que isso, em ciência.
Já, para um pensador mágico, a experimentação, na verdade, nunca é suficiente (os filósofos, em sua loucura e infantil ignorância, chegam a descartá-la como útil ou necessária). Suas suposições e dúvidas sempre têem mais validade, para ele, que o fato observado. Ele quer saber tudo (até o que não vê -- quer a mágica) e, por isso, nunca sabe, essencialmente, nada. A única coisa que podemos colocar no lugar do que não vemos(observamos) é o que temos em nossa própria mente.
Tudo isto pode parecer muito óbvio e inocente, mas não nos esqueçamos de que foi esta atitude de projetar suas propriedades mentais sobre os objetos que levou Aristóteles às suas bestialmente erradas conclusões e que suas conclusões erradas perpetuaram-se por séculos emperrando todo o progresso da física até que surgisse um pensador científico, competente o bastante (Galileu, neste caso específico e em muitos outros -- todos os outros), para demolir a estrutura desse pensamento mágico com o "simples e banal" método científico (apenas um método *para* o pensador mágico "superar" o estorvo de seu próprio pensamento).
Você, HeadLikeAHole, embora pareça ter, agora, verificado a insustentabilidade (mesmo a priori) da sua hipótese, antes, queria inverter a ordem científica das coisas (até na sua escrita manifestou isso),querendo confirmar, na verdade, a "hipótese" *do* menino e não, de fato, a *sua* hipótese da *sua* "força" que, embora, de início, você não percebera era, para você, algo instintivamente certo e indiscutível. Só a descrição do garoto te fez questionar a si mesmo (mas, ainda assim, você resistiu enquanto pôde). O pensamento mágico, para o próprio pensador mágico, é imperceptível diretamente, o que acarreta impossibilidade de "mostrá-lo" ao seu pensador (diretamente). Trata-se de uma ilusão (até mesmo um pensador mágico sabe o que isso é). Aristóteles foi tão crasso nos seus erros por pensar magicamente (quase todos os humanos pensam dessa forma, mas o crime do estagirita foi assumir prerrogativas que só devem ser assumidas por um pensador científico), mas há quem o defenda alegando que ele "não experimentava" (como se isso fosse perdoável). Porém, o erro maior dele não foi não ter "experimentado" (de fato, é *impossível* não experimentar pois o simples ato de existir e viver com sentidos físicos é experimentação constante -- podemos experimentar, por exemplo, o que chamamos inércia com a própria locomoção de nossos corpos). Foi não ter se detido, *estritamente*, ao pouco (que sempre é muito quando não se observa com pensamento mágico) que observou e experimentou e ter projetado sua mente (filosofado) no universo. Se ele tivesse, apenas, observado como esse menino fez, toda a "história" da ciência teria sido outra.
A teoria do menino esta muito bem fundamentada do que a outra (inclusive por não precisar de explicões para a "força"), e seria natural escolhe-la mesmo no caso de não haver o teste definitivo.
Mais natural que "escolhê-la" deveria ser *concluí-la*. Qualquer um deveria concluí-la dessa forma. Por que todos não pensam como o menino do relato? Qual é o tipo de pensamento que eles têem para não chegar à mesma conclusão? Que tipo de pensamento é este que, desde antes de Aristóteles até Galileu, impediu "todos" de perceberem a realidade? Confusão interpretativa? É possível, realmente, que aceite-se isto como desculpa? Que confusão interpretativa tão poderosa seria essa, capaz de fazer seus "interpretadores" tão convictos da mesma ao ponto de jamais a questionarem e intentarem confirmá-la por experimentação, ao passo que a interpretação do menino, que apresentei, gerou, imediatamente, este ímpeto? Do menino, você duvidou. De Aristóteles, tenho certeza, você não duvidaria. Porque aquela "força" que você imaginou poder surgir (magicamente) da "união" de corpos, só a percebeu, por contraste, com a "hipótese" do menino e/ou com o conhecimento prévio de como, de fato, os corpos caem.
Não faria sentido eu ficar explicando todos os pormenores desta "força" seria somente mais um processo de imaginação, mas caso fosse provado que ela existisse então teriamos que estudá-la para responder as suas perguntas referentes a ela.
É claro que faria todo o sentido você explicar os pormenores desta "força" pois, veja, você não a observou no fenômeno. Simplesmente, a imaginou e a projetou no fenômeno, antecipadamente, como uma possibilidade real. A "força" é *sua*, não do fenômeno. *Tem* que explicar porque a imaginou. Esta é sua única chance de perceber o processo do pensamento mágico ocorrendo em sua mente. Seria só para contestar a teoria do menino? É claro que já sabemos que não. Você e todos que pensam magicamente (e que, por conseguinte, *repetem* sempre o mesmo erro aristotélico) projetam, instintiva e automaticamente, esta "força" nos graves. É, exatamente, esta "força" o empecilho que impossibilitou a abordagem correta do fenômeno da queda de corpos, de Aristóteles (e antes) até Galileu, e não a desculpa redentora das quedas das penas e folhas (que, reunidas em grandes chumaços ou fardos gerariam a tal "força" com a qual poderiam cair, juntos em sua cooperação voluntária, mais rapidamente). Esta "força" não é nova e nem é só sua. Todos os pensadores mágicos a imaginaram (e a imaginam) e depositaram nela uma fé tão intransigente que a consideraram óbvia demais para que fosse necessário testá-la. Observe que, pelas suas palavras, você ainda subentende apegar-se a ela, ainda que já a perceba como "só um processo de imaginação", tamanho o arraigamento.
Não se pode ter nada em mente (além das informações observacionais); nenhuma dúvida ou especulação antes da prova comprobatória. Qualquer dúvida ou especulação, neste sentido, é pensamento mágico e interfere, perniciosamente, até mesmo na apreensão do resultado da própria prova comprobatória.